Clóvis de Barros: a vida que vale a pena ser vivida

Clóvis de Barros, Professor(USP) e Palestrante
Clóvis de Barros, Professor(USP) e Palestrante

Administração e Gestão

15/12/2014

Entre graças, palavrões, citações ousadas e certa excentricidade à primeira vista ( e à todas as vistas), Clóvis de Barros filosofa sobre a vida e sobre o que o mundo espera de você na ótica de diversos pensadores ocidentais que mudaram a nossa maneira de ver e viver o mundo. Sua maneira de se expressar estimula a reflexão sobre dar um sentido a vida, sobre o que realmente vale a pena. Transpassando assuntos inerentes a carreira, família e realizações pessoais. Desde o início o estudioso deixa bem claro que essas questões só podem ser respondidas por cada um de nós, com base nas nossas experiências, prioridades e afinidades.


Clóvis começa a palestra com a pergunta: O que a vida tem de ter para valer à pena?


Ele informa que há quatro pontos de vista, que ele achara pertinentes durante sua saga no mundo da filosofia estudando a visão dos grandes pensadores da humanidade. Logo em seguida, faz uma breve observação sobre os gregos e a influência que eles exerceram na maneira ocidental de enxergar a vida. Com seus grandes pensadores, filósofos, estrutura social e cultura que transformou a trajetória do ocidente.


Sendo assim, Clóvis cita a ótica de Aristóteles que com seus dotes de botânica possuía uma visão de mundo baseada na observação da natureza. Naquela época reinava a percepção de que o mundo se encontra dentro do Cosmos, que a grosso modo é a ideia de que o universo é algo limitado e que pode ser definido e mapeado sem muitas mudanças no seu funcionamento e dinâmica . Portanto a visão de Aristóteles diante da vida, era baseada nessa percepção. E segundo ele, assim como toda semente de árvore possui a potencialidade dentro de si para ser uma grande e frondosa árvore (dadas as condições ideais, e sem graves adversidades), nós seres humanos também possuímos todo o potencial para sermos grandes ao nascermos e para isso é aperfeiçoemos nossas habilidades em busca da excelência. Para ele o seu talento é aquilo que o universo/cosmos quer que você faça, como se fosse a função que você veio desempenhar aqui na terra a fim de contribuir para o bom funcionamento das coisas.


Existem os mais variados tipos de pessoas no mundo, e cada um possui uma habilidade, alguma área que lhe atrai, e algo que o destaca dos outros independentes da área. Pessoas com talento para o desenho, costura, organização da casa, comunicação, jardinagem, escrita, leitura, dentre inúmeros outras habilidades natas que muitas vezes nos damos bem sem se dar conta de quando e de onde veio aquele interesse. Você simplesmente tem aptidão para aquilo. E segundo Aristóteles, após identificar suas aptidões é necessário aperfeiçoá-las até que se chegue a excelência.


Portanto para ele, todos nós podemos ser grandes em nossa área de domínio. Em suma, se você tem um talento, algo que lhe encha os olhos, e como Clóvis diz "algo que você faça e queira que aquele momento dure para sempre", invista. Corra atrás, acredite em você, seja aquilo que você sempre sonhou. Pois, para Aristóteles a vida só tem sentido, só é plena quando você exerce sua função no universo de maneira excelente, da melhor maneira possível. Para isso é necessário olhar para si, o auto conhecimento é o primeiro passo para identificar suas aptidões e desejos.

Passados alguns relatos sua própria vida, com flashs sobre sua infância, adolescência e o seu primeiro contato com aquilo que realmente o deixava realizado. Clóvis vai viaja alguns séculos no tempo, e chega ao homem que, segundo ele, para uns é Deus, mas diante da filosofia e da abordagem que ele usaria ali naquela palestra, é um dos maiores pensadores da humanidade. Esse homem foi Jesus Cristo.


Para Jesus Cristo, o sentido da vida estava no amor ao próximo. Amar aos outros como a si mesmo. Amor esse que encontra seu significado na palavra grega Ágape, que se trata de um amor puro, altruísta, geralmente utilizado para designar o amor entre membros da família ou que possuem uma afeição impulsionada pelo pertencimento a determinado grupo. Mas na bíblia ele ganha o sentido do amor de Deus perante a humanidade, um amor superior, que pode até ser praticado pelos seres humanos mas em um grau limitado de perfeição e plenitude.


Esse é aquele amor onde você não se contenta apenas com as sua própria felicidade, você só se torna pleno quando a sua felicidade se estende em proporcionar a felicidade para as outras pessoas. Então Clóvis cita o seu pai (que se iguala a tantos outros), que no mais puro dos sentimentos paternos sacrificou sua vida em um trabalho maçante para proporcionar ao seu filho uma vida melhor, oportunidades melhores, conhecimento e criou o melhor ambiente para que seu filho pudesse chegar aonde ele chegou. E certamente, conseguiu (um salve a todos os pais e mães que fazem da sua vida uma doação afim proporcionar a felicidade de seus filhos).


Obviamente não é o ideal que nos anulemos a fim de proporcionar a felicidade alheia, é importante que haja um equilíbrio. Mas explica aquele ditado "há mais prazer em dar do que em receber". O ser humano pode encontrar na doação de si, uma das maiores fontes de felicidade existentes. Então Clóvis cita não só como os pais fazem coisas inimagináveis para agradar suas crianças, mas também como pessoas que arriscam suas próprias vidas para salvar outras em catástrofes como: incêndios, tsunami, deslizamentos. É só procurar no Google e encontraremos inúmeros relatos do amor Ágape exercido em seu mais puro significado.


Uma visão surpreendente sobre o tema, é quando Clóvis estabelece uma relação entre nossas profissões e o amor Ágape. Ele inicia esse link com a profissão dele que é a de: professor. Que sem sombra de dúvidas é permeada por uma grande vontade de transmitir conhecimento e mudar vidas. E por ser tão mal remunerada, desrespeitada e até desvalorizada pela nossa sociedade é necessário uma pitada de ideologia e uma boa dose de paixão e amor ao próximo para continuar a lecionar. E assim ele cita outras profissões, até que se chegue a conclusão que toda profissão tem o propósito de fazer o outro feliz, resolver o problema de alguém. Você vende seu tempo, seu suor ao seu patrão em troca não só de dinheiro, mas em troca da sensação de ser útil, de ter feito sua parte dentro da sociedade, de ter contribuído para o progresso e satisfeito a necessidade de alguém.


Logicamente não é todo mundo que vê o trabalho ou a própria profissão dessa maneira, mas deveria. Na minha opinião, ter noção disso estimula que procuremos realizar as coisas da melhor maneira possível. Utilizar-se dos ensinamentos de Jesus pode fazer sua vida fazer sentido, e proporcionar-lhe diversas experiências boas em troca. Com o sorriso de seus filhos, gratidão de alguém que você salvou a vida, e até mesmo o elogio sincero de um cliente. Tem muito haver com fazer a diferença!
Em seguida Clóvis segue com sua linha de pensamento, se adiantando mais um pouco no tempo. Chegando até Baruch de Espinoza, filósofo ( e até agora na minha opinião o mais complexo de entender, para mim pelo menos) que fala da "potência de agir". Que no meu entendimento pode ter sua concepção com o termo "alto astral", "baixo astral" muito utilizado hoje em dia.


A potência de agir vem da ideia recente de que o universo é infinito (ao contrário do que se acreditava no tempo de Aristóteles), e que de que todos os seres são compostos de energia. Que em determinado momento se findaria ( a morte) iniciando um novo ciclo de troca de energia na natureza. Sendo assim a quanto mais baixa está nossa potencia de agir mais próximo da morte nós estamos, que é a ausência do potencial de agir. E quanto mais alto está seu potencial de agir, mais radiante e pleno você se sente. Daí vem o conceito de alegria, felicidade e de tristeza.


Após isso Clóvis ilustra com exemplos sobre o seu dia a dia a curvatura da sua potência de agir no decorrer do dia. Em plena ascensão desde o momento que ele acorda. Mas que é afetada por eventos externos, ou pessoas negativas que lhe roubam essa potência de agir. Daí está a importância de evitarmos pessoas chamadas de "vampiros de energia", aquelas que parecem ter o dom de acabar com o seu humor. Partindo dessa reflexão, Clóvis ressalta que a vida é feita de altos e baixos. E os momentos de alta são aqueles que te deixam mais próximo ou de fato feliz. Cabe a cada um de nós descobrirmos o que nos faz feliz, o que nos leva ao ápice da potência de agir.


E finalmente Clóvis chega ao ultimo grande pensador que seria abordado nesta palestra, que é Rousseau, um dos principais filósofos do iluminismo e possui uma forte relação com os ideais de liberdade disseminados em sua época. Para ele, o homem é fundamentalmente livre, e para que essa liberdade seja exercida de maneira plena é necessário que se saiba conviver em sociedade respeitando o espaço do outro. Aquela velha história de que o seu direito acaba quando começa o direito do outro. Dentre diversos exemplos da vida cotidiana citados por Clóvis que relata a inabilidade de determinados seres humanos de viver em sociedade (alguns escratológicos, eu admito), ele me fez refletir sobre respeitarmos o espaço do outro, não jogar lixo no chão, e não nos voltarmos apenas para os nossos próprios umbigos e contribuir para o progresso coletivo.


Enfim Clóvis conclui que para Rousseau, a vida ganha sentido quando se convive harmoniosamente dentro de uma sociedade com valores morais bem definidos. E um ser feliz é aquele que é fiel aos seus próprios valores, aquele que é fiel aos seus sentimentos (inteligência emocional). Uma pessoa fiel aos seus valores é aquele que cumpre com sua palavra, que cumpre com seus compromissos, que vive de acordo com aquilo que prega. O que culmina no ganho de confiança por parte das outras pessoas. E feliz daquele que é levado a sério, uma pessoa digna de confiança pode demonstrar seu potencial de maneira muito mais fácil e assim se tornar alguém notável, que atinge a excelência na sua missão na terra!


E assim ele finda a palestra com observações bem humoradas, profundas e que despertam aquela vontade de mudar. E no fim as concepções sobre uma vida bem vivida não são exclusivas entre si e muito menos possuem são fórmulas para uma vida feliz. Cabe a você decidir sua trajetória, reconhecendo suas aptidões e trabalhando-as, amando ao próximo e se doando, valorizando os momentos de felicidade e aprendendo com os de tristeza e sendo fiel aos seus princípios e valores. E acrescentando o seu tempero para tornar a sua vida única e satisfatória.


Ele finaliza a palestra desejando que tenha proporcionado felicidade a alguém, fazendo o que ele ama fazer. Obviamente a palestra foi muito mais do que escrevi, ela foi composta de sensações proporcionadas por aquele momento e essa é apenas uma percepção dentre tantas que tive diante das palavras dele. Com sua oratória cativante, ele me estimulou a pensar e seguir em frente, não me deu o caminho das pedras para o sucesso, mas certamente me proporcionou aquele gás para achar o meu caminho sem nunca desistir e sem esquecer o essencial.


Foi revelador, recomendo.

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Desire Queiroz dos Santos

por Desire Queiroz dos Santos

Formação: Administradora de Empresas pela UFMS (2014) MBA em Controladoria e Gestão - (2014 - 2016) Inglês: Nível intermediário pela Wizard (2012-2014) Experiências: - Call Center (Editora Abril) - Estágio em Marketing e Vendas (Brasil Revisões) - Estágio em Administração Pública (UFMS) -Iniciação Científica ( UFMS/CNPQ) - Estagiária em Gestão de Pessoas (Banco do Brasil)

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