04/03/2015
Se você acha que faltar água é problema do Nordeste e agora de São Paulo, ah, está de inocente na história do nosso país. Estamos em plena crise de água e saneamento, acumulando ralos de desperdício e gargalos de degradação. Somos 77 milhões sem abastecimento de água regular e de qualidade. Somos 114 milhões sem uma solução sanitária apropriada [60% da população]. Somos 8 milhões de brasileiros fazendo necessidades ao ar livre todos os dias. Os dados do informe da Organização das Nações Unidas [ONU], apresentados em setembro/14, refletem a desimportância do tema por aqui.Água é um recurso natural vital [ou vivemos sem água?], não produzimos alimentos sem água, sem água não são feitas as coisas que compramos. O planeta tem apenas 0,6% de água doce em sua superfície. No Brasil estão 12% de toda água doce do planeta, uma preciosidade sob nossos cuidados.
Vamos conversar sobre a Política Nacional de Recursos Hídricos? Não. Ah tá...
Falta de água não é um "privilégio" de São Paulo e nem é um problema que mereça ser tratado como munição de marketing eleitoral, tão pouco está suspenso do restante do país ou desconectado das questões econômicas e ambientais no mundo. A crise da água é mundial, agravada com o aquecimento do planeta e as mudanças climáticas, decorrentes de um modelo econômico insustentável que forja a sociedade de consumo e sua alienação [e nelas está baseado]. A estiagem no Sudeste e no Centro-Oeste tem relação com o desmatamento na Amazônia, a natureza não tem fronteiras. Culpar políticos, porque são filiados a um partido e não a outro, pelo problema de faltar água em Sampa é tão raso quanto o baixo nível do Cantareira. E é uma demonstração de como ignoramos políticas públicas que deviam estar em execução e com nossa participação.
A Política Nacional de Recursos Hídricos foi sancionada em 1997 [Lei 9.433], instituindo o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, com gestão participativa em todos os níveis, ou seja, responsabilidade de todos, dos poderes públicos, da iniciativa privada e da sociedade. Temos uma Política Nacional de Saneamento desde 2007 [Lei 11.445]. E ainda são problemas básicos para se enfrentar, em todo Brasil, a poluição das fontes de água por esgoto, resíduos de indústrias, da agropecuária e todo tipo de lixo, a degradação da vegetação nas margens, o desperdício na distribuição e no uso doméstico e industrial, a baixa captação de água das chuvas, o pouco reuso e a falta de noção do valor da água e de educação ambiental para o consumo consciente.
Devemos acreditar mais em cientistas e técnicos [e menos em candidatos e eleitos]. Temos que aprender a ler e considerar estudos e pesquisas [e não discursos de ocasião, como eleições e tragédias]. Precisamos entender que a crise da água é fato em nosso país e no mundo [e não uma arma de botar medo], que não se reduz a um Estado ou outro [muito menos conforme esse ou aquele partido] e que requer seriedade conforme a importância desse recurso natural para a vida de todos [independentemente de preferências políticas]. E está mais que na hora de seguir as leis, por que não?
Preferimos seguir "líderes políticos" no sentido contrário à sustentabilidade
Esquecemos que temos a Política Nacional de Meio Ambiente, das mais avançadas no mundo com sua gestão participativa, definida em 1981 por Lei [6.938]. Seria promotora de diálogos e de participação social, ó, faz tempo, não fosse engavetada na estupidez, massacrada no desrespeito, sufocada na política econômica baseada no crescimento custe o que custar e [a pá de cal] chafurdada na reles disputa pelo poder.Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.
Criativa de Eco Lógico Sustentabilidade, produto editorial de metodologia replicável, feito com amor, desde 2009, sem fins lucrativos [Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial 3.0 Brasil]. Profissional de Comunicação e Sustentabilidade, com Especialização em Gestão Ambiental. Expertise em Comunicação para Políticas Públicas Socioambientais.
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