14/01/2016
Por José Pio Martins
Em meados dos anos oitenta, fui secretário do Planejamento do município de Londrina, quando era prefeito o Dr. Wilson Moreira. O “velho”, como era chamado, tornou-se uma figura lendária na região. Mineiro, formado em Engenharia, empresário comercial, agricultor e pecuarista, era homem de moral irretocável e de grande sabedoria, apesar de ele mesmo se dizer um caipira.
Muitas ideias que hoje leio em autores norte-americanos, eu já tinha ouvido do Dr. Wilson. Lá em seu mundo de interior, longe dos holofotes e da fama, com sua fala mansa e modos simples, ele dizia coisas que, se tivessem sido publicadas, não ficariam nada a dever a certos gurus de administração.
Lembro que, quando um secretário começava a falar sobre a solução para algum problema, ele pegava uma folha, anotava quatro perguntas e dizia: “volte a seu gabinete, estude essas quatro perguntas e só retorne aqui quando tiver as respostas e suas justificativas”. As perguntas eram: a) Qual é concretamente o problema? b) O que precisa ser feito? c) Qual é o plano de ação? d) Quanto vai custar?
As perguntas acima faziam parte do método de planejamento do “velho”, e elas dizem respeito ao foco da situação (qual é concretamente o problema), às decisões (o que precisa ser feito), às soluções (qual o plano de ação) e aos recursos (quanto vai custar). Muitos autores inventam frases rebuscadas para dizerem a mesma coisa. O Dr. Wilson era um estudioso e vivia ensinando a nós todos, seus secretários. Por onde andasse, ele tinha o hábito de ensinar, e dizia que sua frustração era não ser professor.
Os que falavam demais, ele costumava censurar dizendo: “Falatório comprido é bom para sessão de brainstorming. Mas frente a um problema específico, precisamos ter foco, ser objetivos e pragmáticos”. Quando alguém queria dar uma opinião, ele perguntava: “Você conhece esse problema ou, pelo menos, se dedicou a estudá-lo?”. Se a resposta fosse “não”, ele dispensava o palpite.
Falando sobre gestão para estudantes do ensino médio, abandonei os gurus estrangeiros de nomes pomposos e lhes contei a história do Dr. Wilson: um menino pobre e franzino, que se tornou empresário bem-sucedido e prefeito aplaudido. Falei das ideias e teorias dele, muitas das quais estão por aí, ditas por gurus como se fossem novas e revolucionárias.
Os americanos são especialistas em usar expressões novas para embalar ideias velhas e teorias antigas ditas por algum filósofo ou algum escriba do passado. Respaldados por terem nascido nos Estados Unidos – nação admirável quando se trata de ciência, tecnologia e sucesso empresarial –, eles nos oferecem livros fantásticos, mas também nos enfiam obras requentadas e de baixa qualidade.
Nós brasileiros muitas vezes agimos como colonizados mentais, não conseguimos fazer distinção entre pérolas e lixo, tomamos como novo e verdadeiro tudo o que vem do exterior e deixamos de valorizar coisas boas que temos por aqui. Uma das razões é que o Brasil – nação fantástica, mas recheada de pobreza e maus exemplos – dificulta a credibilidade dos nativos daqui.
O Dr. Wilson faleceu em 2008, aos 84 anos, e deixou um exemplo de sabedoria e de retidão moral. Para quem se autoproclamava um caipira, ele era, na verdade, um homem notável. Pena que suas ideias não tenham sido registradas em livro.
*José Pio Martins é economista e reitor da Universidade Positivo.
Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.
Celso Maurício Hartmann
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