Se todos os trilhos desta vida fossem previsíveis, nunca nos surpreenderíamos com algum túnel escuro ou uma curva inesperada na condução dos nossos vagões. Muitas vezes, não existem placas que nos indiquem as sinuosidades e os percalços do caminho. Nos trilhos políticos do Brasil, nossos vagões de Ministérios e demais poderes estão descarrilhados e com as engrenagens duras, e urge a necessidade de algum tipo de óleo, com a viscosidade da diplomacia brasileira.
Ao assistir os telejornais, no momento em que debatem sobre a economia e a situação das bolsas de valores mundo afora, é possível notar que o verdadeiro objetivo dos administradores públicos é conseguir prever o futuro. São tantos os números, os indicadores, as altas e as quedas de ações, que creio que os investidores consigam adivinhar o que acontecerá ao nosso dinheiro no dia seguinte. Tenta-se de todo o modo – e a grosso modo, diga-se de passagem – antecipar o que ainda está por vir. Essa busca implacável de se conseguir prever ou definir, do próprio jeito, o destino só faz, na maioria das vezes, não se presenciar o presente, o agora, que é justamente o momento em que as necessidades reais se fazem presente.
Penso que a corrupção, em nosso sistema governamental, se incrustou de tal maneira nos emaranhados burocráticos que permeiam a gestão brasileira que parece muito ardil a tarefa de desenredá-la e descartá-la. Ao longo de nossa história como cidadãos, fomos acostumados a conviver com injustiças e tramoias em prol de poucos. No fim das contas, acabamos por nos parecer com nossos governantes, assim como dizem que os animais se assemelham aos seus donos. Também somos meros pedintes da vida. Porém, enquanto eles, os governantes, pedem favores e conselhos sobre qual conta na Suíça colocar seus dólares ou euros – aliás, nossos reais –, nós buscamos, em nossos mentores espirituais, sejam eles quem forem, esperanças de dias melhores, com o mínimo de dignidade à mesa, se possível.
De nada adianta o pensamento dos administradores estar voltado para o que ainda irá acontecer. Deveriam atentar, sim, ao que já está acontecendo, há muito tempo. Pessoas não passarão fome, estão passando. Crimes hediondos e sem motivo não acontecerão, estão ocorrendo nesse momento. O povo não ficará doente, os hospitais estão permanecendo lotados todos os dias. Meus professores sempre me precaveram quanto ao uso do gerúndio, mas eles que me perdoem, pois ao mesmo tempo em que infortúnios estão ocorrendo a cada minuto, outros estão sendo esquecidos. É como a locomotiva, que só é lembrada quando seu silvo se faz ouvir e sua fumaça aparece na curva que antecede a estação.
Que façamos diferente. Que sejamos diferentes. Que consigamos lembrar todos os dias que o trem que ocupamos já nos levou a muitos caminhos, melhores do que os que por ora percorremos. Contudo, perdeu-se dos trilhos em algum momento da jornada. Mas, tudo tem conserto. Sempre há aqueles dispostos a manter nossos vagões enfileirados como devem. Contudo, o carvão – leia-se dinheiro – que abastece a locomotiva da democracia é fornecido por nós mesmos. Somos os que passam fome, os que esperam horas, dias, meses, anos por um atendimento médico, os que morrem diariamente sem nem saber o porquê. E somos tão românticos e esperançosos que, não duvide, seríamos capazes de tracionar a punho nosso trem rumo a novos horizontes. E, por incrível que pareça, sempre achamos que vale à pena.
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por Juliano Lanius
Acadêmico de Turismo da Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul), atua há 10 anos no setor de Alimentos e Bebidas, especificamente bares e restaurantes. Foi relator da I Conferência Regional de Turismo da Região Central/RS e aluno-bolsista do "Projeto Educação para o Turismo", em Santa Maria/RS. Escreve sobre Turismo e A&B, além de crônicas sobre assuntos diversos.
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