O tecido linfoide e as respostas imunes iniciadas no trato gastrointestinal

O tecido linfoide
O tecido linfoide

Biologia

05/09/2012

 O epitélio presente no trato gastrointestinal é constituído de diversas especializações morfológicas e funcionais, uma vez que o lúmen intestinal - uma continuidade do ambiente externo - representa a maior via de entrada de moléculas e antígenos (McGhee et al., 1992; Brandtzaeg, 1985). As características peculiares do trato gastrointestinal não estão restritas apenas às funções digestivas, secretórias e absortivas, mas também estão presentes no sistema imune associado ao intestino (GALT).



Organizado em regiões conectadas entre si - sítios indutivos (placas de Peyer e folículos linfoides isolados) e sítios efetores (linfócitos intraepiteliais e lâmina própria), o GALT apresenta estruturas e populações celulares diversas (Elson, 1997). O contato estabelecido entre as células linfoides e não linfoides constituintes da parede intestinal com antígenos presentes no lúmen podem desencadear três principais eventos imunológicos - indução de uma resposta imune local que pode ser acompanhada, ou não, pelo desenvolvimento de imunização ou tolerância sistêmica.



A resposta imune local é caracterizada pela produção de Imunoglobulina A secretória (sIgA). A síntese e secreção dessa imunoglobulina - encontrada preferencialmente nas superfícies mucosas - são reguladas pela ação de citocinas específicas produzidas pelas células dos tecidos locais. Apesar da sIgA não ser capaz de induzir respostas inflamatórias, como ativação do sistema de complemento, a ação dela inclui a neutralização de antígenos inibindo a colonização ou penetração de micro-organismos, bem como a inativação de toxinas na parede intestinal, fenômeno descrito como "exclusão imune" (Challacombe; Tomasi, 1980; Swarbrick et al., 1979).


Em outras palavras: a importância da imunização local compreende a formação de uma barreira inicial que impede o acesso de antígenos ao organismo. Dessa forma, é uma resposta frequentemente desejada para o desenvolvimento de vacinas. A indução de imunização sistêmica através da via oral é um fenômeno raro (Faria; Weiner, 1999). Fato que pode ser observado, na prática, pelo número reduzido de vacinas orais disponíveis para os seres humanos - apenas contra poliomielite e rotavírus.



A estimulação da produção de anticorpos específicos e das respostas celulares no nível sistêmico exige protocolos especiais (Faria et al., 1993; Kantele; Makela, 1991; Peri et al., 1982), ou então, está associada a reações de hipersensibilidades ou respostas inflamatórias (Bartholomeusz et al., 1990; Van de Velde et al., 1991). Na verdade, o evento mais comumente observado através da administração oral do antígeno é o estabelecimento da tolerância oral. Um fenômeno imunológico caracterizado pela inibição da resposta humoral e celular, o que se mostra um obstáculo para o desenvolvimento de vacinas orais.

REFERÊNCIAS

Bartholomeusz RC, Labrooy JT, Davidson GP et al. Polymeric IgA antibody to gliadin in the serum of patients with coeliac disease.

J Gastroenterol Hepatol 1990; 5(6):675-681.

Brandtzaeg P. Research in gastrointestinal immunology. State of art.

Scan J Gastroenterol. 1985; 20:137-156.

Challacombe SJ, Tomasi TB. Systemic tolerance and secretory immunity after oral immunization. J Exp Med. 1980; 152:1459-1472. Elson CO. In defense of mucosal surfaces: regulation and manipulation of the mucosal immune system. In: Mechanisms in the patogenesis of enteric diseases. New York: Plenum Press; 1997. P.373-385.

Faria AMC, Garcia G, Rios MJC. Decrease insusceptibility to oral tolerance induction and the occurence of oral immunization to ovalbumin in 20-28 week-old mice. The effect of interval between oral exposure and rate of antigen intake in oral immunization. Immunol 1993; 78:147-151.

Faria AMC, Weiner HL. Oral tolerance mechanisms and therapeutic application. Adv Immunol. 1999; 74:153-264. Kantele A, Makela PH. Different profiles of the human immune response to primary and secondary immunization with Salmonella typhi Ty21a vaccine. Vaccine 1991; 9(6): 423-427.

MacGhee JR, Mestecky J, Dertzbaugh MT, Eldridge JH, Hirasawa M, Kiyono H. The mucosal immune system: from fundamental concepts to vaccine development. Vaccine. 1992; 10:75-78.

Peri BA, Theodore CM, Losonsky GA et al. Antibody contento f rabbit milk and serum following inhalation or ingestion of respiratory syncytial vírus and bovine serum albumin. Clin Exp Immunol 1982; 48(1):91-101.

Swarbrick ET, Stockes CR, Soothill JF. Absorption of antigen after oral immunization and the simultaneous induction of specific systemic tolerance. Gut. 1979; 20:121-125. Van de Velde H, Von Hoegen I, Luo W et al. B-cell surface protein CD27/Lyb-2 is ligant for CD5. Nature 1991; 351(6328): 662-665.

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Flávia Márcia Oliveira

por Flávia Márcia Oliveira

Possui doutorado em Bioquímica e Imunologia pela Universidade Federal de Minas Gerais (2003) e aperfeiçoamento em Saúde Pública. Atualmente é professora adjunta da Universidade Federal Sergipe. Tem experiência na área de Imunologia, Patologia e Saúde Pública.

Portal Educação

UOL CURSOS TECNOLOGIA EDUCACIONAL LTDA, com sede na cidade de São Paulo, SP, na Alameda Barão de Limeira, 425, 7º andar - Santa Cecília CEP 01202-001 CNPJ: 17.543.049/0001-93