O nome científico do peixe-boi-da-Amazônia, Trichechus inunguis
Biologia
16/04/2014
1.Introdução
Os Peixes-bois são mamíferos aquáticos herbívoros e passam a maioria do tempo se alimentando. Pertencem a Ordem Sirênia e tiveram um ancestral em comum que viveu no planeta há mais de 50 milhões de anos. Existem registros que já ocorreram mais de 12 gêneros e 36 espécies. Hoje em dia, existem apenas quatro espécies e todas são consideradas Vulneráveis de Extinção pela IUCN (2010) (CMA/ICMBio)
Uma das espécies conhecida como vaca de Steller, Hidrodamalis gigas, foi extinta apenas 27 anos após sua descoberta, tendo como causa principal de sua extinção a caça por náufragos. (CMA/ICMBio 2011)
A ordem dos Sirênios está dividida em duas famílias: A Dugongidae (dugongo e vaca marinha) e a Trichechidae (peixe-boi). A Dugongidae possui duas espécies: Dugong dugon (dugongo) encontrado no litoral africano e Hidrodamalis gigas (vaca marinha de Steller, extinta em 1768). (LIMA, 2003). Os membros da família Trichechidae possuem 3 espécies: Trichechus senegalensis (peixe-boi africano), Trichechus manatus (peixe-boi marinho), Trichechus inunguis (peixe-boi amazônico), sendo que a espécie Trichechus manatus ainda se subdivide em duas subespécies: Trichechus manatus manatus (Linnaeus, 1758), que ocorre na América Central e do Sul, e a Trichechus manatus latirostris (Harlam, 1824) que ocorre na América do Norte. No Brasil verifica-se que há a ocorrência de outra espécie que é o Peixe-boi Amazônico, Trichechus inunguis, o único peixe-boi de água doce do mundo.
As quatro espécies de sirênios no mundo estão vulneráveis a extinção (IUCN, 2010). No Brasil, embora protegidos por lei desde 1967 (Lei de Proteção à Fauna N? 5.197), somente a partir dos anos 80 foi criado o Projeto Peixe-Boi Marinho pelo IBAMA, a partir daí começaram a ser realizados os primeiros levantamentos de dados para conhecimento efetivo do peixe-boi: informações começaram a ser organizadas através de entrevistas a moradores, pesquisas de campo, o que possibilitou a determinar o status e vulnerabilidade do animal. A partir das informações coletadas, permitiu-se chegar à conclusão dos variados fatores que colabora para sua ameaça a extinção. São fatores como: caça indiscriminada comercial e para subsistência que ocorreu por muitos anos, sendo que para a subsistência ainda ocorrem em algumas áreas da Amazônia, alteração e destruição de seu habitat, emalhes, colisões com embarcações, ingestão de lixo, poluição sonora, mudanças climáticas, doenças e risco de problemas genéticos (ICMA/ICMBio), associado a estes problemas vem a lenta reprodução das espécies, em que a fêmea gera apenas um filhote a cada três anos, tornando-o assim, mais difícil em sua preservação. (LUNA, et al.)
O Plano de Ação para Conservação dos Sirênios do Brasil enumera uma série de providências necessárias e extremamente importantes para minimizar os impactos sobre as espécies e permitir a recuperação das suas populações.
O Centro de Mamíferos Aquáticos – CMA/ICMBio tem um papel de grande responsabilidade neste plano, tanto na execução, quanto na coordenação de sua implementação, comprometendo-se na execução de ações com o objetivo de eliminar a ameaça de extinção para os peixes-bois do Brasil.
Pelo exposto este trabalho teve como objetivo rever a literatura sobre a biologia e a captura destes mamíferos aquáticos visando conscientizar a população, principalmente técnicos, pescadores e estudantes.
2.REVISÃO DE LITERATURA
2.1. Ordem Sirênia
A ordem Sirenia (Figura 1) é formada por duas famílias, Dugongidae e Trichechidae, com apenas quatro espécies viventes: o dugongo (Dugong dugon), o peixe-boi marinho (Trichechus manatus), o peixe-boi-da-Amazônia (Trichechus inunguis) e o peixe-boi-africano (Trichechus senegalensis). Os sirênios são mamíferos de vida longa, baixa taxa reprodutiva e com ampla distribuição nas regiões tropicais (REYNOLDS & ODELL, 1991). No Brasil ocorrem duas das atuais espécies de Sirênios: o peixe-boi marinho e o peixe-boi-da-Amazônia.
2.2. Características Anatômicas e Fisiológicas do Peixe-Boi da Amazônia (Trichechus inunguis) e do Peixe-Boi Marinho ( Trichechus manatus)
2.2.1.Características Gerais do Peixe-Boi da Amazônia (Trichechus inunguis)
O nome científico do peixe-boi-da-Amazônia, Trichechus inunguis, é de origem grega, onde Trichechus, nome genérico dado por Linnaeus, em 1758, significa “ter cabelos”, uma vez que quando comparado a outros mamíferos aquáticos, tais como os cetáceos, que não possuem pelos, os peixes-boi apresentam pelos finos, longos e esparsos, espalhados pelo corpo. O nome inunguis, por sua vez, significa “sem unhas”, que é uma das características utilizadas para diferenciá-lo das outras espécies de peixe-boi. O peixe-boi-da-Amazônia é o menor dos peixes-bois e atinge no máximo três metros de comprimento e pode pesar até 450 kgs., seu corpo é largo e cilíndrico, sua prole nasce com aproximadamente 100 centímetros e peso em torno de 12 quilos (ROSAS, 1994). Embora se acredite que os machos sejam maiores e mais robustos do que as fêmeas, não existem dados que corroborem com esta hipótese.
O Peixe-Boi da Amazônia é o único sirênio exclusivamente de água doce, sendo endêmico dos rios da bacia amazônica, encontrado desde a Ilha de Marajó até as cabeceiras desta bacia; Colômbia, Peru e Equador (ROSAS, 1994).
2.2.2 Morfologia Externa do Peixe-Boi da Amazônia (Trichechus inunguis)
O peixe-boi da Amazônia apresenta corpo volumoso e fusiforme, sua pele é espessa com uma tonalidade que pode variar de cinza escuro a negra. Outra característica da espécie é a presença de manchas brancas ou rosadas na região ventral do corpo, porém esta característica não é encontrada em todos os indivíduos, o que torna possível uma identificação própria (figura 2) (ROSAS, 1994)
A cabeça deste Sirênio é pequena, localizada bem próximo ao corpo, esta se movimenta para todas as direções. Apesar de não possuir pálpebras para fechar os olhos, possuem um mecanismo em forma de esfíncter que os fecham. Sua visão é boa, com capacidade de distinguir cores, tamanhos e formas. Possuem boa audição e seus ouvidos são dois orifícios localizados em cada lado da cabeça. A boca possui lábios superiores amplos, com mobilidade na hora da alimentação, possuem pêlos que têm a função tráctil, e todos os dentes são molares (ICMBio, 2011).
O Sirênio amazônico apresenta uma nadadeira caudal com forma circular-achatada, dorso-ventralmente, as nadadeiras peitorais são compridas e flexíveis, não existindo a presença de nadadeira dorsal (BEST, 1992; ROSAS, 1994; DA SILVA, 2004).
Localizados na região axilar, atrás das nadadeiras peitorais, são encontradas as mamas. (BEST, 1992; ROSAS, 1994; DA SILVA, 2004).
2.2.3 Morfologia Interna do Peixe-Boi da Amazônia (Trichechus inunguis)
Com relação ao sistema digestório estes sirênios possuem em torno de seis a nove dentes por hemimandíbulas, tal substituição se dá por conta da presença de sílica encontrado nas folhagens, tendo em vista que este animal é exclusivamente herbívoro (alimenta-se de vegetação aquática). A sílica é um elemento que desgasta rapidamente os dentes, e por este motivo ocorre a contínua substituição da dentição (DOMNING HAYEK, 1984). A flutuabilidade deste animal se deve a presença de ossos densos, elevada porcentagem de gordura corporal, que contribui para o equilíbrio da temperara interna, além de possuir longos pulmões. Sua apinéia pode variar de 2 a 20 minutos e sua frequência cardíaca é bem variável de acordo com a situação do momento, chegando a 70 batimentos por minuto em caso de mergulho emergencial, e a 6 batimentos por minuto em condições de repouso. Porém estes batimentos vão se encontrar em torno de 30 a 40 batimentos por minuto (WHITE & FRANCIS-FLOYD, 1990).
A temperatura corpórea fica em torno dos 36 graus Celsius e as águas que habitam possuem temperatura em torno dos 27 a 29 graus Celsius (WHITE & FRANCIS-FLOYD, 1990).
Com relação ao sistema reprodutor, a abertura vaginal da fêmea fica próximo ao ânus e o pênis do macho próximo ao umbigo. A reprodução ocorre em épocas de maior abundância de alimentação (período de cheias dos rios) e durante cada gestação é gerada apenas uma única prole (RODRIGUES, 2001; RODRIGUES et al., 2003)
2.2.4 Características Gerais do Peixe-Boi Marinho (Trichechus manatus)
Encontrado no ambiente estuário e marinho, é um animal que ocupa áreas costeiras. O couro é áspero com coloração acinzentada (HUSAR, 1978). Apresenta unhas nas nadadeiras peitorais (HARTMAN, 1979).
Sua estrutura corporal é achatada e fusiforme, um exemplar adulto possui em torno de 350 centímetros de comprimento e 500 quilos de peso, sua prole nasce pesando aproximadamente 31 quilos e medindo 116 centímetros, segundo dados do IBAMA (Figura 3).
2.2.5. Morfologia Externa do Peixe-Boi marinho (Trichechus manatus)
Apresenta um corpo achatado dorso-ventralmente, com forma fusiforme, com uma pele áspera e de coloração marrom acinzentada e por todo o corpo são encontrados pêlos, que são inervados, possibilitando sensações vibracionais. Suas nadadeiras peitorais são providas de unhas e sua nadadeira dorsal em formato de pá, fornece propulsão e direcionamento a seus movimentos (HARTMAN, 1979; ODELL, 1982). A cabeça fica junto ao corpo e se movimenta em todas as direções (Figura 4).
Segundo Hartman, sua visão é pobre para percepção de profundidade, mas acurada para percepção de distâncias. Diferente dos outros mamíferos que possuem pálpebras, seus olhos abrem e se fecham com auxílio de um esfíncter, e atrás dos olhos são encontrados os orifícios auditivos, sendo sua audição a principal via sensitiva.
Estes animais apresentam um lábio superior flexível e desenvolvido. Os lábios são cobertos por estruturas chamados vibrissas, pêlos modificados que possuem papel sensitivo (MARCHALL et al, 2003).
2.2.6 Morfologia Interna do Peixe-Boi marinho (Trichechus manatus)
Com relação ao sistema digestório, estes animais apresentam os lábios superiores bilobulados, desenvolvidos e cobertos com resistentes cerdas que possuem como função a condução de alimento ao interior da boca, além de auxiliar a apreensão de alimentos. Suas placas córneas são queratinizadas e recobrem a região sinfisal da mandíbula e maxila. Apresentam constante substituição de sua dentição que é constituída unicamente por dentes molariformes. O estômago do peixe-boi marinho fica localizado a direita do plano mediano, com a seguinte característica, a existência de glândula cardíaca, que desemboca próximo ao esfíncter do cárdia, onde estão localizadas células secretoras. Seu intestino delgado pode medir 20 metros de comprimento e se estender até o ceco (BONDE et al., 1988).
Com relação ao sistema respiratório, possuem narinas na região dorso-cranial do focinho que apresentam dois orifícios nasais recobertos por tampões, que se abrem quando o animal vai a superfície para respirar. Os pulmões estão localizados em cada hemidiafragma na região dorsal da cavidade pleural. O peixe-boi marinho pode atingir 25 minutos de apinéia de mergulho (WHITE & FRANCIS-FLOYD, 1990).
Seu sistema circulatório mantém um ritmo de batimentos cardíacos em torno de 40 batimentos por minuto podendo decair para os oito batimentos por minuto em casos onde o animal encontra-se dormindo ou mergulhando. O peixe-boi é um animal sensível a baixas temperaturas (abaixo 20 graus Celsius) e mantém sua temperatura corpórea em torno de 34,5-36,0ºC (PIMENTEL, 2006).
O sistema genital masculino e feminino se encontra na porção caudal da cavidade abdominal. Machos apresentam os testículos no interior cavidade abdominal, próximo aos rins, não possuem glândula bulbo uretal e o pênis encontra-se na cavidade prepucial no interior da cavidade abdominal, emergindo pela abertura urogenital, quando ereto (BONDE et al, 1998).
Localizado na base de cada nadadeira peitoral encontra-se um par de glândulas mamária. Nas fêmeas adultas os ovários encontram-se envoltos por uma cápsula, o útero é bifurcado e a vagina é ampla e longa, localizada próximo ao ânus. A taxa de reprodução dentro da espécie é baixa, sendo o intervalo entre partos de 2 a 5 anos, com período gestacional de 13 meses e a maturidade sexual alcançada entre 3 e 4 anos de idade (BOND et al., 1988) (Figura 5).
O sistema esquelético é formado por um esqueleto axial completo composto pelo crânio e duas mandíbulas fusionadas; 3 ossos hióides; 46-54 vértebras (C6, T17-19, LSC23 a 29); 17-19 pares de costelas, sendo usualmente 3 verdadeiras, 13 falsas e 1 flutuante; o esterno e 7-9 pares de ossos chevrons fixados por cartilagens a superfície ventral das primeiras 7-9 vértebras caudais, os quais aumentam a área de inserção da musculatura caudal (BONDE et al., 1988).
O esqueleto apendicular consiste de 2 ossos pélvicos vestigiais, e 2 nadadeiras peitorais, formada por escápula, úmero, radio, ulna, 7-8 ossos do carpo e cinco dígitos com a seguinte fórmula falangeana (I:2, II:3, III:3, IV:3, V:2-3) (Bonde et al., 1988) (Figura 6).
2.3 A Filogenética do Peixe-Boi
As Ordens Sirenia, Proboscidea, Hyracoidea e Tubulidentada juntas formam a denominada Super Ordem Paenungulata. Estas ordens não parecem ser derivadas de uma origem comum como os ungulados, porém poderiam ser os primeiros da linhagem dos mamíferos placentários (DE JONG et al 1981).
As relações filogenéticas entre os membros dessa super ordem Paenungulata foram estudadas utilizando-se a sequência de análises de aminoácidos da proteína ∝ A, que ocorre exclusivamente nas células do cristalino da lente dos olhos dos vertebrados (DE JONG & ZWEERS 1980).
Os resultados deste estudo sugerem que os peixes-bois possuem uma relação mais próxima com os hyraxes (Hyracoidea) que com os elefantes (Proboscidae) (DE JONG & ZWEERS, 1980). Porém atualmente é aceito que os sirênios têm descendência do mesmo ancestral que os elefantes devido evidências morfológicas, tais como a redução dos membros posteriores e a presença de molares nos peixes-bois atuais, que em alguns aspectos, assemelham-se aos dos elefantes (HARTMAN, 1969).
Não se sabe ao certo os passos da evolução dos sirênios, porém acredita-se que eles originaram-se no Velho Mundo (Eurásia e/ou África) cerca de 55 milhões de anos atrás, na Época do Eoceno (REYNOLDS & ODELL 1991).
Evidências fósseis sugerem que os sirênios do velho mundo atingiram a América do Sul na Era do Eoceno ou Oligoceno, mais de 35 milhões de anos atrás (O’Shea 1994). Aparentemente foram os dugonguídeos os primeiros sirênios a ocuparem a região do Caribe. Até o início da época do Pleoceno, aproximadamente 5 milhões de anos atrás, alguns triquequídeos estavam isolados na bacia Amazônica, originando o atual Trichechus inunguis, e outros migraram para a região do Caribe, alcançando a América do Norte (O`SHEA, 1994).
No Caribe, os triquequídeos obtiveram mais sucesso, expulsando os dugonguídeos desta região por competição e expandindo-se para a América do Sul (ROSAS & PIMENTEL, 2001). Esses peixes-bois que invadiram o Caribe deram origem a duas espécies modernas, o Trichechus manatus e o Trichechus senegalensis. Esses animais alcançaram seu pico de diversidade e abundância durante o Mioceno (5 a 25 milhões de anos atrás), devido a condições climáticas diferenciadas (REYNOLDS & ODELL, 1991).
2.4 - . O Ciclo Biológico Natural do Peixe-Boi da Amazônia e Marinho
2.4.1 Alimentação do Peixe-Boi da Amazônia (Trichechus inunguis)
O peixe-boi da Amazônia tem sua distribuição, abundância e a biologia relacionados com as modificações sazonais de cheias e vazantes que acontecem na região e consequentemente à disponibilidade de alimento. A presença de quedas d`água e locais com corredeiras é um fator que limita sua distribuição pela bacia amazônica. O peixe-boi da amazônia está presente em todos os sistemas de drenagem do Rio Amazonas, mas sua ocorrência é em lugares de águas calmas e/ou lagos com vegetação aquática, onde permanecem por longos períodos alimentando-se (BEST, 1984).
Ainda segundo Best (1984), os peixes-boi da Amazônia movem-se entre lagos e rios, retornando para a mesma área de várzea durante a enchente e a cheia, mostrando assim, um suposto grau de fidelidade por uma determinada área. Durante a vazante deslocam-se para os lagos mais profundos onde permanecem protegidos durante toda a estação da seca. As áreas de alimentação dos peixes-boi da Amazônia podem ser claramente identificadas com a presença de macrófitas aquáticas “pastadas” chamada popularmente de “comidia” (CANTANHEDE, A. 2009) (Figura 7).
O peixe-boi é o único mamífero aquático, que se alimenta exclusivamente de produtores primários (gramíneas marinhas), ou seja, são tidos como consumidores oportunistas herbívoros. Alimentam-se de plantas aquáticas ou terrestres, vasculares ou não, ricas em celulose, que exigem degradação microbacteriana. No entanto, não são animais ruminantes (HARTMAN 1979, REYNOLDS & ODELL 1991).
Os peixes-boi gastam entre 6 a 8 horas do dia se alimentado e, neste período, eles consomem cerca de 4 a 11% do seu peso corporal diariamente, em sessões alternadas com repouso (HARTMAN, 1979, PALUDO, 1998-a). A quantidade de comida consumida diariamente em condições naturais não é conhecida. Animais em cativeiro comem entre 30 até 50 Kg de vegetação todos os dias, entre frutas, legumes e verduras. No entanto, é difícil comparar um animal selvagem com um cativo, uma vez que a alimentação em cativeiro é largamente exótica e variada (HUSAR, 1977). As sessões de alimentação de um adulto duram, normalmente, entre 30 e 90 minutos. Já os filhotes se alimentam por períodos mais curtos do que os adultos, em torno de 30 minutos, e as sessões são esporádicas (HARTMAN, 1979). O alimento leva cerca de sete dias para atravessar todo o tubo digestivo e ao longo desse processo é assimilado entre 40 a 80% do alimento, tratando-se de uma excelente eficiência digestiva (REYNOLDS & ODELLl, 1991).
2.4.2 Alimentação do Peixe-Boi Marinho (Trichechus manatus)
Poucas referências caracterizam os itens alimentares da dieta para Trichechus manatus no Brasil. A ocorrência de Halodule sp. é citada por Silva et al. (1992) para o Estado da Paraíba. Lima (1999) identificou que o principal alimento encontrado no trato intestinal dos peixes-boi foi o capim-agulha, Halodule wrightii (Figura 8). Em Pernambuco, extensos bandos desta espécie ocorrem no entorno da Ilha de Itamaracá, sendo grandes quantidades coletadas para alimentação dos animais mantidos em cativeiro, no Centro Mamíferos Aquáticos - CMA (BDT, 1999; Viana et al., 2000).
Devido à grande quantidade de areia ingerida durante a alimentação e por causa do alto conteúdo de silicatos das plantas, existe um rápido desgaste dos dentes, o que acarreta uma substituição cíclica da dentição. Os filhotes de peixe-boi já nascem com os molares e pré-molares, porém só começam a se desgastar, quando a alimentação do animal é quase completamente de vegetais. Logo, esses dentes serão substituídos, durante toda a vida. Os novos dentes são formados e nascem na parte traseira da fileira de dentes. À medida que são desgastados, os dentes caem da parte frontal e toda a fileira se move para frente. A taxa média de movimento dos dentes é muito próxima de 1mm por mês (DOMNING & MARGOR, 1978). Essa substituição cíclica da dentição do peixe-boi marinho é um fato, às vezes, comparado à substituição de dentes em elefantes. Porém essa combinação de movimento horizontal com suplemento dentário aparentemente sem limite, não é encontrada em nenhum outro mamífero, nem mesmo nos outros sirênios (DOMNING & MARGOR, 1978).
Em pesquisas realizadas por Paludo (1998 a), no Sagi - RN, foram coletadas 29 espécies de algas, das quais 7 eram algas verdes (Família Chlorophiceae), 17 algas vermelhas (Família Rhophiceae) e 5 algas pardas (Família Phacophiceae). Percebeu-se a preferência pelas algas vermelhas. A confirmação da preferência alimentar dos peixes-bois por essas algas vermelhas foram feitas na Base do Projeto Peixe-Boi em Barra de Mamanguape- PB, com animais mantidos em semicativeiro. Habitualmente neste habitat, os peixes-boi semicativos consomem folhas de mangue dispersas na água do estuário, tais como Rhizophora mangle e Avicenia schaweriana. No entanto, as algas vermelhas testadas (Gracilaria domiguensis, Gracilaria cornea, Acantophora spicifera e Hypnea musciformes) tiveram um boa aceitação (Paludo, 1998-a). As entrevistas que foram realizadas com moradores do litoral do Amapá indicam as espécies siriúba (Avicenia nitida), aninga (Montrichardia arborescens), patura (Spartina brasiliensis), junco (Eleochois intustincta) e aguapé (Eichormia crassipes) como itens alimentares (BEST & TEIXEIRA, 1982 apud PALUDO, 1998 a).
Atualmente, a alimentação dos peixes-boi adultos mantidos em cativeiro, na Base de Itamaracá - PE, é exclusivamente o capim-agulha (Halodule wrightii), uma fanerógama marinha encontrada em grandes quantidades no litoral nordestino. Diversas outras dietas já foram adotadas, cada uma delas com uma diversidade de vegetais e frutas nativas, porém nenhuma dessas dietas era comum a esses animais em ambiente natural, não possuindo, assim, o mesmo valor nutricional (ICMBio, 2008).
2.4.3.Reprodução do Peixe-Boi da Amazônia (Trichechus inunguis)
A reprodução do peixe-boi da Amazônia é fortemente associada ao ciclo hidrológico da região. A cópula e os nascimentos ocorrem quando as águas começam a subir, entre dezembro e junho, e o pico de nascimentos se dá entre fevereiro e maio. Nesse período, as plantas aquáticas e semiaquáticas usadas pelos animais na sua alimentação são abundantes, fornecendo às fêmeas alimentação suficiente para repor a demanda nutricional e energética necessária para o estágio final da gestação e para os primeiros meses de lactação (BEST, 1982).
A produção de macrófitas aquáticas na região amazônica é intensamente afetada por essa variação do nível da água, onde a maioria das plantas aquáticas crescem nas épocas de enchentes e cheias dos rios, e durante as épocas de vazantes e secas, estas plantas secam, são levadas para o canal do rio, ou se modificam para uma forma terrestre (JUNK; HOWARD-WILLIAMS, 1984). Sendo assim, segundo Best (1982), é o fator indicador como sincronizador da sazonalidade reprodutiva das fêmeas de peixe-boi da Amazônia de vida-livre, portanto, aparentemente o Trichechus inunguis é a única espécie que realmente apresenta sazonalidade reprodutiva (BEST, 1982).
2.4.4.Reprodução do Peixe-Boi Marinho (Trichechus manatus)
Diferente do peixe-boi amazônico, o peixe-boi marinho não apresenta uma estação reprodutiva bem definida (ROSAS & PIMENTEL, 2001). Alguns estudos já foram realizados no Brasil com objetivo de determinar a época de acasalamento entre os animais desta espécie. Um deles foi realizado entre novembro de 1985 e setembro de 1991, no estuário do rio Mamanguape localizado no município de Rio Tinto-PB. Este estudo constatou que o aparecimento de grupo sociais, a incidência de fêmeas com filhotes a partir do mês de outubro e o encalhe de um filhote recém-nascido (coloração preta com vestígios de cordão umbilical) no mês de dezembro/1989, acrescidos dos registros de 4 filhotes recém-nascidos no litoral do nordeste, todos deste período, indicam que a reprodução da espécie ocorre nos meses de verão (outubro a março). Considera-se a disponibilidade de alimentos, a variação de temperatura e a pluviosidade da região como fatores determinantes na presença sazonal dos grupos sociais. Acredita-se que a Barra de Mamanguape seja um local impresso na memória coletiva da população de peixe-boi, pois eles habitam essa região como um sítio importante para os rituais de reprodução, nascimento e criação dos filhotes, num típico comportamento tradicional (SILVA, et al 1992).
O Trichechus manatus é um animal semi-social, formando grupos apenas no período de acasalamento e a maturidade sexual desses animais é alcançada por volta dos 4 a 5 anos, porém a maioria das fêmeas procriam entre 7 e 9 anos (HARTMAN, 1979).
Esses grupos, que ocorrem no período de estro da fêmea, ou seja, na época de acasalamento, são importantes, pois possibilitam a identificação do ciclo reprodutivo, a fase do ciclo que se encontram, se é ou não sazonal, se existe preferência de local para acasalamento, a identificação da época de nascimento de filhotes, entre outras coisas (PALUDO, 1998 a).
Durante a cópula, outros machos costumam ficar dos lados e acima da fêmea. Períodos de inatividade sexual são intercalados com períodos de intensas atividades. A cópula é breve e ocorre na posição abdômen/abdômen e mais raramente, em águas rasas, na posição lado/lado. Os intervalos entre uma cópula e outra duram, em alguns casos, menos que 1 minuto e os abraços copulatórios entre 15 e 30 segundos (HUSAR, 1977, HARTMAN, 1979).
Os peixes-bois marinhos são animais com movimentos lentos e não agressivos, a competição dos machos até acasalar-se com a fêmea aparenta ser o único estímulo à agressão. Tais colisões se tornam mais intensas de acordo com o aumento da intensidade sexual. Ao longo do percurso, o macho mais forte e agressivo é provavelmente o mais próximo durante o período receptivo da fêmea, portanto, será o primeiro a inseminá-la (HARTMAN, 1979). Os machos são bastante ativos sexualmente e não se limitam apenas às fêmeas que estão no estros, cortejando, também, as fêmeas subadultas tanto quanto fêmeas lactantes, ou seja, amamentando seus filhotes (RONALD, et al. 1978).
Os peixes-bois possuem uma baixa taxa reprodutiva, nascendo geralmente um filhote em um período de gestação de 13 meses. O comportamento de um parto natural de um peixe-boi fêmea em habitat natural ainda não foi testemunhado. Isso ocorre provavelmente porque próximo ao parto, as fêmeas permanecem quietas e isoladas no raso até darem a luz. O filhote nasce na água e até que tenha estabelecido seu ritmo respiratório, a mãe o puxa para a superfície em suas costas e, em seguida, mergulha-o repetidamente. Depois de poucas horas, o filhote já vai à superfície respirar sozinho (HARTMAN, 1979).
O intervalo entre uma gravidez e outra varia aproximadamente entre 2,5 e 3 anos. As fêmeas geram um filhote por vez, sendo raro o nascimento de gêmeos (HARTMAN, 1979, REYNOLDS & ODELL, 1991).
O diformismo sexual em peixes-bois não é evidente, por isso é necessária a visualização da região ventral do animal para determinar o sexo do mesmo. Nas fêmeas, a abertura urogenital é localizada próxima ao ânus, enquanto no macho a abertura urogenital é localizada cerca de 40 a 90 centímetros do ânus, ou seja, próximo ao umbigo (REYNOLDS & ODELL, 1991, ROSAS & PIMENTEL, 2001).
2.4.5. Comportamento do Peixe-Boi da Amazônia (Trichechus inunguis) e do Peixe-Boi Marinho (Trichechus manatus).
Em estudos realizados em vida livre, na Flórida, Hartman (1979) observou que os peixes-boi são animais solitários e moderadamente sociais. Suas agregações foram observadas em refúgios de águas quentes durante o acasalamento. Ainda Hartman (1979), determinou que a única associação forte seria aquela entre a fêmea e o seu filhote. Todas as outras associações, com excessão da manada em época de acasalamento, seriam fracas, efêmeras e imprevisíveis.
moderadamente sociais. Suas agregações foram observadas em refúgios de águas quentes Os grupos observados por ele formavam-se e desagregavam-se ocasionalmente, e a constituição deles variava com respeito ao sexo, número e idade dos indivíduos. Ele observou também que esses animais, quando se encontravam em grupo, mostravam facilitação social. Segundo Wilson (apud REYNOLDS, III 1981), a facilitação social é um comportamento padrão iniciado ou aumentado devido à presença ou ações de outro animal, onde as atividades de vários indivíduos sincronizam-se no mesmo ritmo ou frequência. A facilitação social é clara em comportamentos de alimentação, repouso e deslocamento. Reynolds (1981), porém, ao observar a mesma espécie, concluiu que tais indivíduos têm a tendência de permanecer em grupos. Ao estudar os peixes-boi em cativeiro, Rosa, fez uma análise de seus padrões comportamentais e sugeriu tratar-se de animais sociais. Por sua vez Linhares (2001) observou o comportamento dos peixes–bois em cativeiro, verificando a presença de associações entre os indivíduos e dando ênfase às condutas de corte, contato e agonísticas. Segundo Sousa Lima (1999), os peixes-bois em cativeiro apresentaram um alto contato intraespecifico. Os peixes-bois estudados por Hartman (1979) não apresentaram uma hierarquia social reconhecível, territorialidade ou dominância, nem outro fator que determinasse agressividade entre os indivíduos.
O comportamento dos sirênios e a sua distribuição são influenciados por dois importantes aspectos da sua fisiologia: a nutrição e o metabolismo (St. AUBIN & LOUNSBURY, 1990). Fatores físicos e ambientais, tais como a salinidade, a temperatura, a profundidade, a correnteza e a disponibilidade de vegetação são fatores determinantes na distribuição de Trichechus manatus (LEFFEBVRE, et al. 2001)
A presença de predadores, a atividade humana, a ausência de locais apropriados para descanso e interação com outros indivíduos (reprodução, cuidados com animais jovens) são outros fatores que podem restringir a presença de peixes-boi em uma determinada área (OLIVEIRA-GOMEZ & MELLINK, op cit.). Os peixes-boi parecem silenciosos quando estão sozinhos ou em grupo, e vocalizações audíveis ao ser humano são emitidas em situações de medo, aborrecimento e diversão. A comunicação entre mãe e filhote também é feita através de vocalizações (REYNOLDS, 1978). Hartman (1979) afirmou que a frequência dos sons emitidos em águas turvas é maior, e que os peixes-boi são capazes de reconhecer um ao outro pelas variações de tom, frequência e timbre de vocalizações individuais. A emissão de sons parece variar com a idade, já que jovens vocalizam mais vezes que os adultos em condições de estresse, conservando a tendência de filhotes de chamar a mãe repetidamente.
Os peixes-boi podem ser considerados como espécies-sentinela do ambiente costeiro-marinho. Por definição as espécies-sentinela apontam mudanças que ocorrem no ambiente, podendo ser este fato considerado como um importante papel ecológico. Espécies-sentinela proporcionam conhecimentos como forma de facilitar respostas antecipadas a condições potencialmente danosas, permitindo um manejo mais efetivo dos recursos (BONDE, et al. 2004)
No Brasil, os esforços para incrementar o conhecimento sobre as áreas de ocorrência e habitat frequentados pelo peixe-boi foram realizados através de levantamentos de campo a partir de 1980. Albuquerque & Marcovaldi (1982), e posteriormente Lima et al. (1992) identificaram algumas áreas de ocorrência significativa para a espécie, Barra de Mamanguape-Paraíba e região costeira do Sagi na divisa da Paraíba com o Rio Grande do Norte foram algumas delas. Paludo (1998) realizou um vasto estudo nesta última região, onde obteve uma estimativa do tamanho da população, estabeleceu épocas de nascimento, apontou a importância da área como local de alimentação e reprodução, concluindo que o número de animais se mantém estável nesta região. A autora notou que um dos fatores determinantes para a ocorrência do peixe-boi é a presença de arrecifes cobertos de algas marinhas, e que a maior diversidade e biomassa foram de algas vermelhas. Os animais permaneceram em praias de alta energia, na zona de arrebentação, a profundidades de 0,4 m a 3,8 m, variando a distância da praia de acordo com o nível da maré.
A temperatura das águas costeiras da região Nordeste do Brasil mantém-se praticamente constante ao longo do ano, variando entre 24°C e 30°C, portanto, na faixa ideal para permanência do peixe-boi. Sendo assim, os animais na costa brasileira não sofrem com os sintomas da síndrome do frio que afeta a população do Atlântico Norte.
Lima et al. (1992), consideraram que a temperatura não seria um fator limitante da ocorrência do peixe-boi, e afirmam que existe preferência de Trichechus manatus por locais calmos, como os canais formados entre os arrecifes e a praia, chamados localmente de mar de dentro, e praias protegidas que ocorrem entre os Estados de Sergipe e Paraíba. Já nas praias expostas, os processos dinâmicos são mais intensos, com formação de ondas constantes, onde os estuários seriam os ambientes mais abrigados, e que proporcionariam condições ecológicas ideais para abrigar o peixe-boi. Os ambientes calmos do interior do estuário funcionariam como berçários para os nascimentos e primeiros cuidados parentais. A permanência na zona de arrebentação faz com que os animais levantem mais a cabeça, facilitando sua visualização. Animais solitários e fêmeas com filhotes foram avistados em poças de maré formadas entre a praia e os arrecifes. É reconhecido que o peixe-boi marinho no litoral brasileiro habita águas costeiras e possui estreita relação com estuários de rios como Mamanguape/PB (Figura 9) (Borobia & Lodi, 1992), Timonha/PI-CE (LIMA, 1999) , Camaratuba/PB, Parnaíba/PI, Real e Fundo/BA-SE (ALBUQUERQUE & MARCOVALDI, op cit.).
3. Entendendo os Motivos da Ameaça de Extinção
3.1 Trichechus Inunguis (Peixe-Boi da Amazônia)
O Peixe-Boi-da-Amazônia é o mamífero aquático mais caçado do país, embora em intensidade bem menor do que no início do século passado (Figura 10).
A exploração comercial do peixe-boi amazônico vem desde a época da colonização européia, mais precisamente no século XVI. Em 1658, devido ao comércio mantido pelos holandeses com os índios do Brasil no território do Amapá, enviava-se a cada ano mais de 20 navios com carne e gordura de peixe-boi (Best 1985).
Existem registros de produção de 3.873 arrobas (59 toneladas) de carne de peixe-boi seca e 1.863 barris (260 toneladas) de gordura, entre os anos de 1776 a 1778, retirado de aproximadamente 8.500 animais mortos na bacia Amazônica (BEST, 1985, FERREIRA, 1993 apud LUNA, 2001). Não se sabe ao certo se essa carne era industrializada, salgada ou seca ao sol, porém é indiscutível que os colonizadores portugueses tenham ensinado aos índios e aos seus descendentes o processo. Sabe-se que era bastante comum a preparação da carne do peixe-boi em mixira, na qual a carne podia ficar conservada na própria gordura por um período mais longo. Como a de tartaruga, a manteiga era ótimo combustível e esplêndido condimento, sendo consumida pelas tropas e enviadas para o Reino (PEREIRA, 1954). O couro do peixe-boi, mais espesso e resistente do que o couro de boi e de búfalo, por exemplo, era usado para fabricar polias de grande durabilidade e resistência, mangueiras usadas nas locomotivas e que substituíam vantajosamente as fabricadas na Inglaterra e Estados Unidos, chicotes, entre outros objetos (PEREIRA, 1954, REEVES, et al. 1992). Dados mostram que o comércio do peixe-boi movimentava bastante dinheiro no Brasil. Entre 1935 e 1954 ocorreu a mais destrutiva exploração dos tempos recentes. Estima-se que de 80 até 140 mil peixes-boi amazônicos foram mortos durante este pequeno período de 20 anos. Não incluindo aqueles mortos para a subsistência de algumas populações, (BEST, 1985, REEVES, et al. 1992).A caça do peixe-boi amazônico é contínua e dados estatísticos mostram que em 1985, sete toneladas de peixe-boi amazônico foram capturadas, duas toneladas em 1986 e mais duas toneladas para 1987 (BOROBIA, 1991 apud LUNA, 2001). Em 1996 e 1997 foram registrados 655 animais mortos, em1998, 475 e em 1999, um total de 199 (LAZARINI, 2000 apud LUNA, 2001).
A caça indiscriminada pela crença popular de que possui 7 carnes diferentes, para obtenção de óleo, couro e até mesmo carne, o peixe-boi foi quase exterminado antes que sua caça fosse proibida. Em algumas cidades do interior do Amazonas, o peixe-boi ainda é uma carne altamente apreciada e abatida, apesar da proibição do IBAMA. (htpp://www.saudeanimal.com.br). O consumo de sua carne é uma tradição na Amazônia (Figura 11), sendo uma fonte de proteína animal do ribeirinho. A captura intencional é na maioria das vezes para fins de subsistência, mas ainda existe a caça para comercialização e as capturas incidentais em redes de espera ou malhadeiras (DA SILVA, et al. 2008). Além do uso tradicional do arpão na caça desse mamífero aquático, uma nova prática de uso de redes de espera, especialmente tecidas para capturar peixes-boi, está surgindo em várias localidades da Amazônia. Em alguns mercados da região o valor de sua carne é inferior ao valor da carne bovina, principalmente por se tratar de comércio ilegal, onde existe a necessidade de rápida comercialização.
De acordo com informações obtidas por meio de pescadores com experiência na caça de peixe-boi, o alvo preferencial são as fêmeas prenhas ou paridas porque são mais gordas e fornecem maior quantidade de banha, disponibilizando ainda o filhote, que também é consumido. A captura das fêmeas paridas e o emalhe de filhotes em redes de pesca (malhadeiras de malha grande) têm sido uma das ameaças enfrentadas pela espécie nas últimas décadas (ICMBio, 2011).
Segundo o ICMBio, além da caça, o peixe-boi-da-Amazônia enfrenta ainda a destruição e a degradação ambiental causadas pelo aumento do tráfego de embarcações em certas áreas, como por exemplo, os grandes cargueiros no rio Trombetas e Amazonas (Figura 12), e pelas atividades petroquímicas, com a exploração e transporte de óleo e gás entre Coari e Manaus. Outras ameaças ao ambiente aquático que afetam diretamente o peixe-boi são o incremento do setor hidroviário aumentando a ocupação humana na Amazônia e a demanda por proteína animal; as atividades impactantes das mineradoras e do garimpo; a contaminação por agrotóxicos e fertilizantes e os programas agropecuários em larga escala, como o plantio de soja na Amazônia e a criação de búfalos em áreas de várzea.
Algumas iniciativas têm sido desenvolvidas para manter e reabilitar peixes-boi órfãos em cativeiro. O Laboratório de Mamíferos Aquáticos (LMA) do INPA em Manaus, o Centro de Pesquisas e Preservação dos Mamíferos Aquáticos (CPPMA), ligado a Manaus Energia S.A., em Balbina, e mais recentemente o Centro Mamíferos Aquáticos/ICMBio, em Belém, têm resgatado e reabilitado em cativeiro filhotes órfãos de peixe-boi-da-Amazônia.
3.2 Trichechus manatus (Peixe-Boi Marinho)
O peixe-boi marinho é a espécie de mamífero aquático mais ameaçada do Brasil (LIMA, 1997, LUNA, 2001). A caça predatória desde a colonização do Brasil diminuiu severamente a abundância do peixe-boi marinho. A demorada reprodução (a fêmea gera um filhote a cada três anos), a docilidade, a movimentação lenta, e a crescente destruição de seu hábitat, agravam a situação e tornam mais difícil a sua conservação. (ICMBIO/MMA)
Além da caça indiscriminada, também são responsáveis pela iminente ameaça de extinção da espécie: a morte acidental em redes de pesca (OLIVEIRA, et al. 1990); a intensa degradação do hábitat; o assoreamento dos estuários e a grande concentração de barcos.
3.2.1 Caça Indiscriminada (caça de subsistência)
A caça em larga escala pode reduzir rapidamente o tamanho de uma população se não houver regulamentação adequada. Estas características devem ser analisadas em conjunto, por exemplo, espécies de grande porte que ocupam áreas maiores tendem a uma densidade populacional pequena, exemplo que pode ser extrapolado para o peixe-boi, considerado uma espécie susceptível de extinção.
No litoral da Região Norte do Brasil, os ecossistemas litorâneos encontram-se muito conservados e o principal problema de ação antrópica ainda é a captura intencional com arpão, correspondendo a 86% das capturas (LUNA, 2001 e 2010) (Figura 13). Alguns caçadores chegam a planejar e programar a caça em associação com as fases da lua ou em determinadas épocas do ano, quando há maior ocorrência do animal (REVISTA BIOTEMAS, 21 de março de 2008).
Verificou-se que o uso do arpão é ensinado de pai para filho e é um hábito tradicional e cultural do ribeirinho. O uso deste artefato, que totalizou 86,38% das capturas, contra os 13,62% da soma dos outros métodos, foi praticado de duas maneiras: em 102 casos, ou 43,40%, o caçador aguardou o peixe-boi no mutá (espécie de jirau colocado em locais de alimentação do peixe-boi), e em 101 (42,98%) esperou na canoa, em locais próximos de onde os peixes-bois geralmente se alimentavam. (Revista Biotemas, 21, março de 2008)
Há relatos de caçadores sobre a tática de capturar primeiro o filhote para atrair a mãe e capturá-la também. Segundo eles “o filhote berra pedindo ajuda à mãe, que permanece ao seu lado tentando ajudá-lo”, o que, devido ao instinto materno, torna a mãe mais vulnerável. Por vezes matam os filhotes, e outras vezes os deixam em liberdade, mas estes acabam morrendo posteriormente, pois não sobrevivem sem as mães. Esta tática ameaça gravemente a espécie, pois o caçador não mata apenas dois animais, mas elimina uma fêmea da natureza, que provavelmente teria mais filhotes, e um indivíduo que ainda não procriou. (Revista Biotemas, 21, março de 2008)
Em uma evolução histórica das artes de captura do peixe-boi marinho, observa-se que a caça com o arpão, principal forma de captura da espécie, praticamente não ocorre mais no litoral nordestino. O motivo alegado pelos caçadores ainda vivos é o desinteresse dos filhos na caça ao peixe-boi, principalmente dado à dificuldade de ser encontrado algum hoje em dia. Além disso, a necessidade de muita paciência e coragem para um pescador arpoar um animal grande e forte como o peixe-boi, desestimulou a caça. As principais localidades onde foram encontrados típicos caçadores de peixe-boi marinho são: Rio Fundo/SE, Pajuçara – Maceió/AL, Ipioca/AL, Rio Goiana/PB, Rio Abiaí/PB, Barra do rio Mamanguape/PB e Barra do Cunhaú/RN.
Todas as mortes de peixes-boi com bomba foram intencionais e registradas somente no litoral sul do Rio Grande do Norte, todas há mais de 20 anos. Em Barra do Cunhaú/RN, os peixes-boi, atualmente, só são avistados do lado externo dos arrecifes, passando em frente a desembocadura do rio. Os últimos três peixes boi avistados dentro do rio foram mortos por um pescador com um pedaço de dinamite, e, desde então, os animais não mais adentraram no rio. (Natural Resources .v.1-n.2.agosto de 2011)
3.2.2.Morte Acidental em Redes de Pesca
A quantidade de animais capturados acidentalmente que são liberados é muito pequena. Uma vez que o animal ficou preso em seu instrumento de pesca, geralmente o pescador o mata (Figura 14). Acredita-se que com campanha de conscientização efetiva com as comunidades ribeirinhas, as capturas acidentais seguidas de morte do animal diminuirão, pois, em não se tratando de caçadores de peixe boi, será mais fácil discipliná-los e orientá- los para liberar o animal vivo (ICMBio, 2011).
Os currais, pesca do tipo armadilha, são utilizados no litoral do Ceará e Pernambuco. Nessa armadilha, geralmente, os animais entram e ao se alimentarem das algas fixadas às madeiras do curral, ficam presos acidentalmente e são mortos intencionalmente a pauladas ou facadas. Há também as redes e malhas como grande causa de morte acidental de peixes-boi. No nordeste as principais causas de morte do peixe-boi marinho devem-se à presença constante de redes de nylon, tanto as de emalhar (caçoá, caçoeira) como as de arrasto (tresmalho, camaroneira). Nos casos de rede de emalhe, a maioria dos animais morrem afogados e, nas redes de arrasto, são levados na rede até a praia (tresmalho) ou para o barco (camaroneiras) e mortos a pauladas, facadas ou tiros. O incremento das redes de nylon no litoral nordeste ocorreu nas últimas duas décadas e cresce a cada ano, tornando-se comum as redes de emalhe serem colocadas transversalmente aos canais, camboas e barretas entre os arrecifes, locais frequentados pelos peixes-boi (ICMBio, 2011). Num trabalho recente (OLIVEIRA, et al), é descrito que as capturas acidentais e intencionais por rede de emalhe e arrasto são as principais causas atuais de mortalidade da espécie nesse litoral.
Outra grande ameaça às pequenas populações de peixes-boi na costa brasileira é o elevado número de encalhes de filhotes em regiões já identificadas do Rio Grande do Norte e Ceará. Lima (1999) sugere que a falta de acesso das fêmeas prenhas ao interior dos estuários que servem de abrigo, seria a causa de nascimento dos filhotes em locais sujeitos ao constante batimento de ondas, causando o desgarre da mãe. Os filhotes desgarrados não têm condições de sobreviverem sozinhos, vindo a encalhar na praia, pois relatos confirmam que após nascerem os neonatos são guiados pela mãe para aprender a respirar, podendo inclusive ter dificuldades para nadar.
Para uma espécie com taxa reprodutiva lenta e que tem um vínculo mãe-filhote tão estreito, esta realidade pode ser um fator agravante ao processo de extinção na qual a espécie se encontra. A região entre o litoral sul do RN (praia do Sagi) e norte do CE (praia do Iguape) não possui muitos estuários, nem regiões abrigadas por recifes de barreiras (LIMA, op cit.), este fato pode ser o indicativo do grande número de encalhes nestas áreas.
3.2.3. A Intensa Degradação do Habitat
A perda de habitat tem sido considerada por muitos pesquisadores, como a maior ameaça à sobrevivência da maioria das espécies de vertebrados (GROOMBRIDGE, 1992 apud PRIMACK & RODRIGUES, 2001). Este é um fenômeno mundial e a preocupação aumenta quando voltamos o olhar para o meio aquático, onde o próprio ambiente dificulta a classificação das espécies e suas fragilidades.
Segundo dados do IBGE (2002 apud Marins et al., 2004), a densidade demográfica pode aumentar em alguns Estados litorâneos. No Ceará, 48,9% da população vive na região costeira.
O crescimento populacional acarreta o uso cada vez mais indiscriminado dos recursos naturais. Os impactos ao ambiente marinho e costeiro são provocados principalmente pela ocupação rápida e desordenada da faixa costeira (Geo, 2002). Dentre os principais fatores podemos destacar: destruição de ecossistemas, desmatamento e ameaças à biodiversidade terrestre e marinha, elevação dos níveis da poluição provocada pelo lançamento de rejeitos sólidos e líquidos no solo, nos cursos e corpos d’água e no mar, degradação do litoral pela intensa retirada de areia, mangues e vegetação, pela erosão terrestre e marinha e pela destruição de paisagens; redução na disponibilidade de água doce em função do aumento da demanda, utilização excessiva das reservas de água do subsolo e subterrânea, e rebaixamento do lençol freático; poluição por esgotos domésticos e industriais.
Em relação especificamente ao peixe-boi marinho, outras ameaças impedem o acesso dos animais a importantes áreas de alimentação, reprodução e suprimento de água doce: projetos de carcinicultura, assoreamento dos estuários e a grande concentração de barcos motorizados, principalmente lagosteiros (IBAMA, 2001).
O peixe-boi está inserido na categoria “risco extremamente alto de extinção na natureza em futuro imediato”. Em grande parte, esse alto risco acontece devido às inúmeras ameaças que o ambiente em que vivem vem sofrendo ao longo de suas áreas de ocorrência.
3.2.4. Grande Concentração de Barcos
Outro fator importante que provavelmente afugenta o peixe-boi dos ambientes estuarinos e do próprio rio é a concentração de barcos motorizados nas margens, formando portos pesqueiros improvisados. O conjunto de tais fatores impedem o acesso dos peixes-boi à nichos importantes para alimentação, reprodução e suprimento de água doce. O aumento do tráfego de embarcações motorizadas em áreas utilizadas para alimentação, descanso e reprodução pelos peixes-boi marinhos tem não só afugentado estes animais, mas resultado em potenciais casos de colisões (Figura 15). Sendo assim, o aumento do tráfego de embarcações, e a falta de normativas e de fiscalização que assegurem a efetiva proteção de determinadas áreas, representam um risco direto para a conservação dos peixes-boi marinhos no litoral Nordeste do Brasil (BORGES, J.C.G. et al.). 4. Os Esforços para a Obtenção da Reprodução em Cativeiro
O primeiro peixe-boi nascido em cativeiro foi nos Estados Unidos, no Miami Sea-Aquarium, em 1975 (REYNOLDS & ODELL, 1991).
Na base da Ilha de Itamaracá - PE existem animais que foram resgatados encalhados ou resgatados de cativeiros inadequados e que, por terem sido criados presos não se adaptariam ao ambiente natural. Estes animais permanecem nesta base, onde possuem espaço, água, alimentação e cuidado médico veterinário adequados. O acasalamento de machos e fêmeas pode ocorrer naturalmente nos oceanários desta base, uma vez que esses animais são mantidos em tanques comuns (CMA/ICMBio 2002). Prova disso é o que aconteceu com um peixe-boi chamada “Xica”, que passou 32 anos dos seus 44 em cativeiro, 28 deles na Praça do Derby em Recife - PE. Baseado na Portaria n° 1.522 do IBAMA, de 19 de dezembro de 1989, que não permite a manutenção de espécie ameaçadas de extinção em cativeiro, a não ser para estudos científicos, o procurador da República, Alex Miranda tomou a decisão de que, “Xica” sairia da Praça do Derby e iria para o oceanário na Ilha de Itamaracá. Tal transferência ocorreu em agosto de 1992. O tanque que “Xica” ficava na Praça do Derby era pequeno e raso, o que desencadeou sérios problemas na coluna vertebral, hipertrofia muscular e uma cicatriz no dorso causada por uma queimadura solar, além do baixo peso (PAIVA, 1999). Apenas quatro anos depois da transferência, “Xica” já havia ganhado peso o suficiente e apresentava-se em condições favoráveis de procriar. Em dezembro de 1996, deu à luz ao primeiro filhote de peixe-boi marinho da América Latina nascido em cativeiro, uma macho chamado “Chiquito”. Tal nascimento foi bastante comemorado, pois além de ser o primeiro filhote, também demonstrava que “Xica” estava recuperada dos maus tratos que sofreu (PALUDO, 1998).
Na Ilha de Itamaracá também vivem “Sereia” e “Netuno”, que foram resgatados encalhados no litoral nordeste do Brasil e, em 1996, se acasalaram. A reprodução teve sucesso e, em março de 1997, ocorreu um acontecimento raro: o nascimento das gêmeas, denominadas “Carla” e “Sheila” (PALUDO, 1998 a, PAIVA, 2002).
A reprodução em cativeiro proporciona novas oportunidades de estudos sobre o comportamento animal em cativeiro e representa, também, uma outra fonte de animais para serem reintroduzidos com a finalidade de repovoamento do litoral (PALUDO, 1998 a).
A reprodução em cativeiro exige enormes esforços, embora, o peixe-boi da Amazônia é uma espécie que sobrevive bem em cativeiro, a sua reintrodução no ambiente natural é um desafio, porque esses animais ficam muito tempo em tanques e é muito difícil ensinar a eles o funcionamento do sistema hidrológico da região e adaptá-los a uma nova vida, na natureza (ICMBio 2011). 5. Instituições que se dedicam a preservação do Peixe-boi da amazônia (Trichechus inunguis) e ao Peixe-boi marinho (Trichechus manatus).
5.1 Preservação dos Sirênios
Historicamente, os peixes-bois vêm sendo explorados tanto para subsistência como comercialmente. A captura indiscriminada e em grande escala para o uso comercial foi a principal razão da redução populacional dessa espécie somada a baixa taxa reprodutiva o que limita a habilidade desta espécie de se restabelecer rapidamente, já que uma fêmea leva mais de 6 anos para atingir a maturidade sexual e se reproduz somente a cada três anos (CANTANHEDE, A. 2008).
O peixe-boi da Amazônia, embora protegido oficialmente no Brasil, está classificado como espécie em ‘perigo de extinção’ desde 1967 (Lei de proteção da fauna, nº 5.197), ainda sofre pressão da caça comercial e de subsistência em toda a Amazônia (Colares, 1991; Rosas, 1994).
A espécie marinha de peixe-boi consta na Lista Oficial de Espécies da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção (IBAMA, 1989), sendo classificada na categoria “vulnerável” – alto risco de extinção na natureza a médio prazo – na classificação da International Union for Conservation Nature – IUCN (2207).
O Grupo de Trabalho Especial de Mamíferos Aquáticos (GTEMA) foi criado com o intuito de elaborar um plano global de pesquisa e conservação pra os mamíferos aquáticos que ocorrem no Brasil, que culminou com a criação do Plano de Ação para Mamíferos Aquáticos do Brasil (IBAMA, 2001), que classificou a espécie como “em perigo crítico de extinção” – risco extremamente alto de extinção na natureza em futuro imediato.
5.2. - Centro Nacional de Pesquisa, Conservação e Manejo de Mamíferos Aquáticos – CMA/ICMBio.
Em 1980 o Governo Federal, preocupado com o status do peixe-boi em território brasileiro, criou o Projeto Peixe-Boi Marinho, pelo Instituto Brasileiro para o Desenvolvimento Florestal (IBDF), já extinto, sendo hoje o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), objetivando obter informações sobre a situação da espécie. Levantamentos constataram o desaparecimento da espécie no litoral do Espírito Santo e da Bahia, sendo a divisa entre os Estados da Bahia e Sergipe o ponto meridional da distribuição atual da espécie (ALBUQUERQUE & MARCOVALDI, 1982). Diante destas informações criou-se a primeira Base de Proteção e Pesquisa do Projeto Peixe-Boi, localizada no município de Rio Tinto, Barra de Mamanguape – PB, local onde era comprovada a presença de indivíduos residentes (ALBUQUERQUE & MARCOVALDI, 1982). Em 1989 a espécie foi citada na Lista Oficial de Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção (Portaria IBAMA n? 1.552 de 19.12.89), enfatizando a importância de obter mais informações sobre a ecologia e status destes animais, aliadas a trabalhos de Educação Ambiental junto às populações ribeirinhas.
Em busca de ampliar os esforços na conservação dos sirênios, em 1990 criou-se o Centro Nacional de Conservação e Manejo de Sirênios – Centro Peixe-Boi/IBAMA, localizado na ilha de Itamaracá – PE (Portaria IBAMA n? 544 de 26.04.90), que possibilitou um maior conhecimento sobre anatomia, fisiologia e comportamento da espécie. Mais tarde, com o aumento no número de encalhes de filhotes órfãos, fez-se necessária à construção de estruturas físicas apropriadas para reabilitação destes animais, surgindo assim em 1998 o Centro Nacional de Pesquisa, Conservação e Manejo de Mamíferos Aquáticos – CMA/IBAMA (Portaria IBAMA n? 143-N, de 22.10.98)
O Centro Nacional de Pesquisas e Conservação de Mamíferos Aquáticos-CMA coordena, executa e promove estudos, projetos e programas de pesquisa e manejo de mamíferos aquáticos, atuando principalmente sobre as espécies ameaçadas e migratória. Sua missão é ser um centro de excelência no desenvolvimento de pesquisas que possibilitem o conhecimento necessário à conservação dos mamíferos aquáticos, bem como dos ambientes dos quais estes dependem (CMA/ICMBio 2011)
Em 2007 foi criado O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio, órgão ambiental do governo brasileiro instituído pela lei 11.156, de 28 de agosto de 2007. É uma autarquia vinculada ao Ministério do Meio Ambiente e integra o Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama). Assim sendo, a partir de 2007 o CMA/IBAMA passou a ser uma unidade especializada do ICMBio, sendo denominada CMA/ICMBio (Figura 16)
Com a criação do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio coube a esta Instituição atribuições federais relativas à proposição, implantação, gestão, proteção, fiscalização e monitoramento das Unidades de Conservação (UC) criadas pela União, além de fomentar e executar programas de pesquisa, proteção, preservação e conservação da biodiversidade. Aos Centros Especializados do ICMBio (CMA, CEMAVE, TAMAR, CENAP, CPB, CEPAM, CEPTA, CNPT, dentre outros) compete produzir o conhecimento necessário à conservação da biodiversidade, do patrimônio espeleológico e da sócio-biodiversidade, associada a povos e comunidades tradicionais, por meio da pesquisa científica, do ordenamento e da análise técnica de dados, assim como executar as ações de manejo para conservação e recuperação das espécies constantes das listas oficiais nacionais de espécies ameaçadas, para conservação do patrimônio espeleológico e para uso dos recursos naturais nas unidades de conservação federais de uso sustentável. O desafio é fazer com que haja uma interação entre os dois - Unidades de Conservação e Centros de Pesquisas. Os Centros possuem o conhecimento em temas específicos e para obter sucesso na atribuição de conservação da biodiversidade Aos Centros Especializados do ICMBio (CMA, CEMAVE, TAMAR, CENAP, CPB, CEPAM, CEPTA, CNPT, dentre outros) compete produzir o conhecimento necessário à conservação da biodiversidade, do patrimônio espeleológico e da sócio-biodiversidade, associada a povos e comunidades tradicionais, por meio da pesquisa científica, do ordenamento e da análise técnica de dados, assim como executar as ações de manejo para conservação e recuperação das espécies constantes das listas oficiais nacionais de espécies ameaçadas, para conservação do patrimônio espeleológico e para uso dos recursos naturais nas unidades de conservação federais de uso sustentável. O desafio é fazer com que haja uma interação entre os dois - Unidades de Conservação e Centros de Pesquisas. Os Centros possuem o conhecimento em temas específicos e para obter sucesso na atribuição de conservação da biodiversidade
Foram criadas algumas Unidades de Conservação, tendo como espécie-bandeira os peixes-boi. Estas tem a finalidade de proteger uma área de grande relevância para a espécie, consequentemente protegendo a diversidade biológica daquela área (CMA/ICMBio, 2011).
O Centro de Mamíferos Aquáticos (CMA) tem parcerias com algumas Unidades de Conservação, desenvolve trabalhos de reabilitação, soltura e monitoramento de filhotes de peixes-bois órfãos resgatados, além de desenvolver também medidas sócio-ambientais nas comunidades locais. Este trabalho é realizado com as duas espécies de sirênios que ocorrem no Brasil: o peixe-boi-da-amazônia (RESEX Tapajós - Arapiuns/PA e Mamirauá/PA) e o peixe-boi marinho (APA da Barra do Rio Mamanguape/PB e APA Costa dos Corais/AL) e tem como objetivo devolver à natureza os animais que teriam vindo à óbito caso não houvesse ação do CMA/ICMBio e parceiros institucionais com resgates, reabilitação e soltura, aumentando a quantidade de peixes-bois nos locais de soltura, com uma melhor genética das populações. (Figura 17)
Historicamente, as libertações de animais cativos no local são relativamente recentes. Até o ano de 2011 aconteceram dois tipos de solturas:
1) Reintroduções imediatas de filhotes encalhados em praias quando ainda é possível localizar a mãe nos arredores do ambiente.
2) Libertação de animais do cativeiro da APA de Mamanguape após reabilitação e readaptação:07 espécimes de Trichechus manatus sendo, 05 machos e 02 fêmeas.
As respostas dos animais libertos no ambiente da Unidade mostram-se positivas e reforçam a continuidade dos trabalhos de reabilitação e libertação para garantir o futuro desses espécimes, em seu ambiente natural, protegido e conservado para as futuras gerações (CMA/ICMBio, 2011)
5.3. Unidades de Conservação com Ocorrência das Espécies
5.3.1. Trichechus manatus – PEIXE-BOI MARINHO
O grande desafio das unidades de conservação é atender, de fato, aos propósitos para os quais foram criadas. Tendo como objetivos básicos proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais (CMA/ICMBio, 2011).
ESTADOS
AL
PARQUE MUNICIPAL MARINHO PARIPUEIRA
AL/PE
ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL COSTA DOS CORAIS
AP
ESTAÇÃO ECOLÓGICA MARACÁ JIPIOCA
PARQUE NACIONAL CABO ORANGE
RESERVA BIOLÓGICA LAGO PIRATUBA
MA
RESERVA EXTRATIVISTA CURURUPU E QUILOMBO TREXAL
PA
RESERVA EXTRATIVISTA MÃE GRANDE DE CURUÇÁ, MARACANÃ, MARINHA DO SOURE, SÃO JOÃO DA PONTA E CHOCOARÉ MATO GROSSO
PB
ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL BARRA DO RIO MAMANGUAOE
ÁREA DE INTERESSE ECOLÓGICO: MANGUEZAIS DA FOZ DO RIO MAMANGUAPE
PI/MA/CE
ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL DELTA DO PARNAÍBA
Unidades de Conservação.
Fonte: modificado de CMA/ICMBio (2011).
5.3.2. Trichechus inunguis – PEIXE-BOI DA AMAZÔNIA
ESTADOS
AC
PARQUE NACIONAL: Serra do Divisor
AM
ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL: Margem Direita do Rio Negro, Margem Esquerda do Rio Negro, Parintins Nhamundá e Lago Ayapuá
ESTAÇÃO ECOLÓGICA: Juami-Japurá e Jutaí-Solimões
FLORESTA NACIONAL: Pau Rosa, Jatuarana, Humaitá, Mapiá-Unauiní e Purus
PARQUE NACIONAL: Anavilhanas e Jaú
PARQUE ESTADUAL: Serra do Araçá, Nhamundá e Rio Negro
RESERVA DE DESENV. SUSTENTÁVEL: Piagaçu-Purus, Lago Tupé, Amanã e Mamirauá
RESERVA EXTRATIVISTA: Baixo Juruá, Médio Juruá, Catuá-Ipixuna e Rio Jutaí
REFÚGIO DE VIDA SILVESTRE: Sauim-Castanheira
AP
RESERVA BIOLÓGICA: Lago Piratuba
PA
ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL: Arquipélago do Marajó e Rio Tapajós
ESTAÇÃO ECOLÓGICA: Jari
FLORESTA NACIONAL: Caxiuanã, Tapajós, Saracá-Taquera, Altamira e Mulata
PARQUE ESTADUAL: Monte Alegre
PARQUE NACIONAL: Amazônia
RESERVA BIOLÓGICA: Rio Trombetas
RO
RESERVA EXTRATIVISTA: Tapajós-Arapiuns
RR
ESTAÇÃO ECOLÓGICA: Maracá, Caracaraí, Niquiá e Cuniã
Unidades de Conservação.
Fonte: modificado de CMA/ICMBio (2011).
CONCLUSÃO
Apesar de compreender que hoje em dia a caça diminuiu bastante e que a conscientização das populações aumentou devido aos vários planos e ações desenvolvidas pelo governo e, sabendo que existem diversas leis que visam a proteção do peixe-boi e seu habitat, o processo legal é longo, complexo e controverso. É necessária ainda, uma grande interação dos cidadãos nos locais de ocorrência da espécie, bem como dos legisladores estaduais e federais responsáveis pela elaboração e implementação da legislação pertinente. As agências federais de meio ambiente devem tornar efetivas as punições ao desrespeito às legislações que regulamentam os aspectos relativos aos ecossistemas e às espécies que nele habitam.
Os projetos de educação e informação ambiental são instrumentos facilitadores e de mobilização de diferentes segmentos dentro das sociedades, que visam a seu envolvimento nas ações de gerenciamento dos ecossistemas, enfatizando sua importância na qualidade de vida dos habitantes das comunidades. Podem ser citadas diversas ações que visem promover a interação entre o ser humano e seu habitat: (a) capacitação para formação de agentes multiplicadores; (b) apoio a iniciativas propostas pelas comunidades para criação de espaços para expressão de idéias com a promoção de discussões, fóruns, oficinas, exposições e cursos; (c) implementação de projetos adequados às especificidades regionais, valorizando a identidade cultural e o conhecimento empírico de comunidades tradicionais sobre as questões do meio ambiente.
Os projetos de conservação dos peixes-bois no Brasil têm promovido ações que visam à geração de alternativas sócio-econômicas para que as comunidades participem ativamente do processo, tornando-as responsáveis e participativas nas questões relacionadas à conservação do meio ambiente e das espécies que nele dependem.
Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.
por Carlos Eduardo Airoza de Oliveira
Pós Graduação (em curso) em Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável - UNISUAM
Graduado em Ciências Biológicas. UNISUAM, conclusão 2007.
2014 - INEA
Controle de zoonose em conjunto com a Prefeitura de Niterói e Fiocruz.
Atualmente desenvolvendo o Projeto de Levantamento Faunístico do Caminho de Darwin como Pesquisador.
Inglês - Fluente
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Sustentabilidade no dia a dia: orientações para o cidadão - FGV - 12hs
Sustentabilidade, um valor para a nova geração: orientações para o professor - FGV - 15hs
Planejamento Ambiental - Amazônia Cursos - 20hs
Prática de Observações de Aves - Amazônia Cursos - 20hs
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