Entrevista Maestro João Carlos Martins, por Josane Peer, Presidente da APACESP
O maestro João Carlos Martins é uma legenda da música clássica no Brasil
Cotidiano e Bem-estar
29/04/2013
João Carlos Martins « O povo tem bom gosto. Falta oportunidade! » « A gente corre, corre atrás de um sonho, e quando a gente percebe, o sonho está correndo atrás da gente! »
O verso otimista é de um poeta das mãos, consagrado pianista brasileiro, que foi proibido de tocar piano pelos médicos, mas que insiste, usando um dedo e a outra mão.
Entrevista à Josane Peer
O maestro João Carlos Martins é uma legenda da música clássica no Brasil, reconhecido em todo o mundo, tendo dirigido e acompanhado orquestras nos Estados Unidos e Europa.
Sobre ele, o New York Times escreveu, "o maestro Martins viveu uma vida de fama, o desafio de tenacidade, e um triunfo suficiente para encher um livro de memórias animada".
Tema de um filme na Alemanha, projeto de outro no Brasil com o ator Rodrigo Santoro representando seu papel, o maestro enfrentou uma doença nas mãos, com os médicos aconselhando-o a deixar de tocar piano. Não desistiu e continua a tocar com um dedo e outra mão.
Hoje dirige uma entidade em São Paulo, que trabalha para popularizar a música erudita no Brasil.
Ele recebeu o diretor da APACESP (Associação dos Produtores e Agentes Culturais de SP), Josane Peer, para uma conversa informal sobre sua vida, a arte e a realidade, sempre de o ponto de vista do eterno otimismo.
O que falta fazer para que o nosso povo tenha mais bom gosto musical em todo o País?
Maestro: O nosso povo tem ótimo gosto musical, o que falta é acesso à música de qualidade. Em todas as apresentações que fiz, desde teatros, até periferias e pequenas cidades do interior do Brasil, a receptividade do público com a música clássica foi espetacular, o que me leva a crer que não se trata de mau gosto, mas sim de falta de oportunidade.
Como se despertou para a arte e a música em particular. Como foi a iniciação e formação?
Maestro: Foi através de meu pai, que tinha o sonho de ser pianista, mas não pode realizá-lo. Desde cedo eu e meus irmãos tivemos contato com a arte em geral. Comecei meus estudos de pianos aos oito anos e seis meses, depois já estava ganhando um concurso. Lembro-me de que houve uma época em que tivemos sete pianos em casa, sendo três de cauda!
Qual foi o momento mais importante de sua carreira e o mais difícil? Maestro: Até hoje o momento mais importante da minha carreira é aquele que entro em palco, não importa aonde. O mais difícil foi quando os médicos me disseram que eu não poderia mais tocar piano. Ainda bem que não acreditei e continuo tentando!
O senhor venceu mesmo um problema grave de doença. Já pensou ou escreveu um livro sobre esta superação, pois penso que isto seria uma lição de vida para milhões de pessoas?
Maestro: Na verdade este livro já foi escrito há alguns anos atrás. Chama-se “O Milagre das Mãos”, que infelizmente está esgotado.
Como vê a gestão cultural pública no Brasil, a nível de ministério e secretarias municipais e estaduais de SP?
Maestro: Acho que sob muitos aspectos a gestão pública cultural tem melhorado, pois o acesso às artes em geral e à música em particular, tem aumentado, mas ainda há muito o que ser feito.
Como vê o processo de formação, informação, atuação, conscientização e organização do músico brasileiro atualmente?
Maestro: Estamos num período em que acredito que muita coisa vai mudar, já que agora é obrigatório o ensino da música nas escolas. Isto sob o aspecto da formação do músico – temos excelentes profissionais, mas ainda são poucos os educadores para suprir a demanda em virtude desta nova legislação. Sob o aspecto profissional precisamos fortalecer a categoria e entidades representativas para maior defesa dos direitos dos músicos profissionais.
Qual a opinião a respeito do músico independente no país, haja vista que, nos EUA e Europa, este cenário é muito forte e consolidado, enquanto que aqui é tido como incipiente a nível de desenvolvimento em todos os setores da produção, mercado e distribuição?
Maestro: Também estes setores estão em transição desde o advento da internet e das formas de divulgação da música em geral. Hoje não é só através das grandes gravadoras que é possível divulgar o trabalho musical, e acho que nem mesmos estas grandes companhias descobriram ainda como será daqui pra frente.
E em cima deste aspecto, se é possível do músico e artista brasileiro em geral, viver exclusivamente do seu trabalho sem que ter que depender da indústria fonográfica e da grande mídia?
Maestro: Como já disse, acho que o quadro está mudando muito e rapidamente, e fica muito difícil fazer alguma previsão, mas como sou um otimista incorrigível, acho que a tendência é melhorar.
Qual o papel que a Música e a Arte pode desempenhar no processo de formação, educacional, cultural, social tanto no aspecto individual e coletivo? E aproveitando fale sobre o Projeto da Fundação “Ponte da Música”.
Maestro: Para esta resposta vou repetir uma frase do grande compositor brasileiro Villa- Lobos: “Não é um povo inculto que vai julgar as artes, mas sim as artes é que mostram a cultura de um povo”.
Qual o conselho às pessoas que pretendem inserir-se no universo musical e artístico?
Maestro: Não desistir. A gente corre, corre atrás de um sonho, e quando a gente percebe o sonho está correndo atrás da gente.
Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.
por Josane Peer
Josane Peer Poeta,Compositor,Músico e Jornalista e Agente Cultural
* Membro da Academia de Artes de Cabo Frio- RJ- ARTPOP
* Membro da Academia de Letras Y Artes de Valparaiso- Chile- ALAV
*Membro da Acadêmia de Letras e Ciências de Rio das Ostras-RJ-ALACRO
* Membro da Associação Internacional Poetas Del Mundo-
Entidade com sede no Chile
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