O despertar de uma amizade

Cotidiano e Bem-estar

24/04/2014

Eu sou o seu amigo. Você é a minha amiga. Conhecemo-nos num tempo remoto, onde as palavras valiam mais do que o dinheiro. E o dinheiro sequer comprava uma fruta.

Você é meu amigo e eu sou sua amiga, desde tempos em que a falsidade existia, mas não era algo prioritário. Conheço-lhe desde o momento em que a sociedade se preocupava com as pessoas, onde as ditas-cujas sequer pensavam apenas no seu “eu” e a bondade e a amizade predominava.

Você é meu amigo? E eu sou sua amiga? Pois é, tempos modernos, preocupações unilaterais onde você só se importa consigo e eu tentando resgatar a sua amizade.

Você se foi, eu me fui. A amizade cedeu o lugar ao egocentrismo e foi tirar férias em algum lugar bem distante e frio.

Você me conhece? E eu? Eu lhe conheço?

A nossa amizade se foi para algum lugar. Cansou-se de tanto individualismo, egocentrismo e se enterrou ao pé de uma árvore bem distante, irrigada com a água abundante do rio; esperando por novas pessoas de corações puros, preocupando e respeitando um ao outro...

Numa bela tarde, uma pessoa encontrou aquele local. Sentiu-se enternecida e energizada com aquelas vibrações passadas. Esperou por algum tempo para ver se algo mais acontecia naquele lugar.

Mas, nada aconteceu. Cansou-se de esperar e estava quase indo embora até que avistou uma vareta jogada um pouco atrás do caule da árvore. Nesse mesmo instante, teve uma ideia...

Aproximou-se então das margens do rio, cujo local havia um pouco de areia. Escreveu letra por letra até concluir a frase. Depois a olhou por completo e foi embora.

Momentos mais tarde, quase ao anoitecer, apareceu uma rapariga para nadar no rio... Quando colocou um dos pés sob a água, pisou em algo liso e caiu de tal maneira que pode ver aquelas palavras escritas na areia:

“Estive aqui procurando por você, meu amigo, mas você ainda não havia chegado. Procure-me e me encontrarás o mais próximo possível”.

A rapariga ficou encafifada com a frase, olhou ao redor e não encontrou mais nada. Tomou o seu banho e depois se sentou na raiz da árvore. Caiu no sono. Acordou algumas horas depois com o barulho de gritos e latidos.

A voz era de um rapaz, que tinha mais ou menos a sua idade, e os latidos do seu cachorro. O cachorro tentava sair da correnteza do rio. E o rapaz gritava:

“Ei, segura ele, por favor! Ele é o meu melhor amigo!”

A garota conseguiu agarrar o cachorro que passava num trecho do rio quase perto da árvore onde ela estava. Agarrou-o e trouxe para próximo da árvore. O cachorro, de tamanho mediano, estava cansado e deitou-se próximo das escritas. O rapaz se aproximou e viu que a frase ainda estava lá. E disse à garota:

“Eu escrevi essas frases para que o meu cachorro conseguisse sentir o meu cheiro, mas nunca imaginei que encontraria uma amiga aqui, que mesmo não me conhecendo, salvou o meu amigão peludo. Agradeço-lhe pela ajuda!”

E, a partir de então, começaram a conversar e a conversar... Quando se deram conta, já eram bem velhinhos e sempre estiveram um do lado do outro, até mesmo no dia em que o cachorro se foi para o céu, e o seu corpo foi enterrado próximo daquela árvore para que assim ele pudesse, mesmo estando nessa imensidão azulada, auxiliando duas pessoas desiludidas encontrar a verdadeira amizade, enfim o verdadeiro sentimento fraterno.

Eu era o seu amigo e lhe perdi. Desiludido fui embora para um lugar qualquer e lá encontrei um outro alguém...

E eu não era o seu amigo e nem você era a minha amiga. Conhecemo-nos num tempo remoto, onde as palavras já não valiam mais nada e o dinheiro comprava tudo.

Você não era o meu amigo e nem eu a sua amiga, desde tempos em que a falsidade era prioridade para uma sobrevivência social. Conheci-lhe no momento em que a sociedade se preocupava apenas com o dinheiro e sequer conhecia o amor e a amizade ao próximo.

Você não era meu amigo? E eu não era a sua amiga? As situações não mudaram, mas Alguém colocou-lhe em meu caminho e inspirou a fé de que um dia esse amigo aparecerá no meio da adversidade...

Não éramos amigos, mas passamos a ser. Ficamos próximos, nesse tempo finito. Aproveitando cada minuto que Ele nos concedeu... E fomos além, e muito além nos encontramos e cultivamos aquilo que não foi cultivado!

Você me conhece? E eu? Eu lhe conheço?

Talvez...

Joyce C. L. Gomes
18 de maio de 2013

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Joyce Cristina Leme Gomes

por Joyce Cristina Leme Gomes

Professora da Rede de Ensino de Poá, Graduada em Letras. Participou do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica com a pesquisa "Trajetória de campanhas do Fusca e o seu impacto sobre o consumidor". É voluntária na área de Comunicação na Instituição Cultural Sem Fins Lucrativos Associação Cultural Opereta . Atualmente desenvolve vários blogs.

Portal Educação

UOL CURSOS TECNOLOGIA EDUCACIONAL LTDA, com sede na cidade de São Paulo, SP, na Alameda Barão de Limeira, 425, 7º andar - Santa Cecília CEP 01202-001 CNPJ: 17.543.049/0001-93