O Pedestal da Ciência

Cotidiano e Bem-estar

07/05/2014

Mesmo com múltiplos avanços científicos e tecnológicos à disposição, vivemos num ambiente de Cientificismo[1], onde para a maioria das pessoas, Ciência, é uma espécie de “ente superior”, dona absoluta da verdade. E o Cientista do imaginário popular normalmente uma figura de jaleco branco, deslocado, fora da realidade, trabalhando em criações mirabolantes isolado em seu laboratório.

A maioria das pessoas acredita que o processo científico se dá de forma separada do social. A nossa sociedade endossa o uso das tecnologias disponíveis, de acordo com suas necessidades imediatas ou de outras criadas em nome do conforto, comodidade, comunicação rápida e pouco reflete sobre seu papel frente aos avanços científicos-tecnológicos. Assim, urge a necessidade de promover maior interação entre Ciência e Sociedade, sobretudo nas decisões quanto ao que de fato é relevante para ser aplicado no dia- a - dia.

Um exemplo dessa interação necessária entre Ciência, Tecnologia e Sociedade que vemos em movimento nos nossos dias são as questões em torno do que se alude a Sustentabilidade. Crescimento econômico com responsabilidade social implicam em práticas mais zelosas de consumo e exploração dos recursos naturais disponíveis. A relação homem – natureza, toda a problemática ambiental, aquecimento global, fontes de energias limpas e mais baratas: ética e moral se encontram como nunca em decisões e ações que podem definir o futuro do planeta. Busca-se o chamado Desenvolvimento Sustentável que abrange três pilares (social, econômico e ambiental) e há uma grande expectativa das soluções científico – tecnológicas que podem ser oferecidas.

Nossa sociedade hoje ratifica sua participação nas decisões referentes ao uso dos avanços científicos principalmente pelo poder embutido no ato de comprar, onde a última decisão cabe ao consumidor. Por essa razão, cada vez mais empresas se abrem para ouvir se público, especialmente nas redes sociais, já que vivemos numa sociedade notoriamente consumista.

Mas essa forma é insuficiente, pois segue a lógica de mercado como mediadora que, por visar essencialmente o lucro, não trata de questões mais profundas como a utilização de determinados medicamentos , tratamentos médicos e outras novas questões que surgiram no campo científico que impactam o modo de vida da população e suas concepções mais arraigadas, envolvendo outros campos complexos da vida humana. Por exemplo, os avanços na área da Genética. Nesse assunto há muito o que avançar no diálogo ciência-sociedade , pois há impactos em valores que necessitam de extrema reflexão ética, moral, religiosa.

A retomada da interação entre Filosofia e Ciência é uma caminho para ajudar na promoção do diálogo que se faz imperioso , pois segundo Whitehead (2006,237p.): “A filosofia em conjunto enfatizou o espírito, e assim esteve fora de contato com a ciência durante os últimos dois séculos”, e as novas demandas sociais não podem mais caminhar separadas. Faz muito sentido que tiremos a Ciência do pedestal que a coloca como detentora de um saber superior, do seu status de poder e que sejam rompidas as barreiras culturais colocadas pela própria sociedade, que possui uma educação científica deficiente, assaz pobre no que se refere à sua ligação com a Ciência.

REFERÊNCIAS:

WHITEHEAD, Alfred North. A Ciência e o mundo moderno. Editora Paulus. São Paulo. 237p.

[1] Cientificismo: doutrina dos que consideram os conhecimentos científicos como definitivos, onde tudo pode ser explicado pela Ciência.