Considerações atuais sobre a escolha do tênis para treinamento/ atividade física
Escolha do tênis para treinamento
Educação Física e Esporte
30/11/2011
Todo praticante de atividade física, desportistas e atletas, que façam da corrida ou caminhada seu instrumento de condicionamento, devem se preocupar com o uso correto do tênis. Correm riscos de lesões se algumas questões não forem observadas adequadamente.
O avanço tecnológico nos últimos anos com a indústria dos calçados permite adequar o tipo de pisada e, principalmente, a biomecânica da marcha e da corrida, ao tênis, permitindo não só a prevenção de lesões, mas também melhor eficiência do movimento produzindo, assim, um melhor rendimento.
Faz-se necessário, porém, apontar algumas características fundamentais para às quais o atleta/desportista deve estar atento.
1) Biomecânica
É comum que as lesões por sobrecarga sejam provocadas por uma combinação de fatores intrínsecos e extrínsecos. Dentre os fatores intrínsecos, posso destacar: desalinhamento do pé (pé plano, hiperpronação, pé cavo, tíbia vara, geno valgum, geno varum, patela alta, anteversão da cabeça femoral); discrepância de comprimento dos membros inferiores; fraqueza muscular; flexibilidade reduzida; composição e tamanho corporal; sexo e tipo de pé.
O fator extrínseco mais considerável é à força de reação do solo (FRS). No caso da corrida, o contato do pé com o solo, produz uma elevação muito aguda das forças verticais de reação que certamente se constituem, no fator mais importante para as lesões por sobrecarga. Neste sentido, os tênis para treinamento/atividade física são construídos objetivando dar suporte funcional ao pé, evitar movimentos rotacionais excessivos e evitar forças excessivas em geral.
Assim são observados alguns princípios: Limitar as forças de impacto durante o apoio (amortecimento), dar suporte ao pé durante o apoio médio (estabilização) e conduzir o pé durante a fase final de apoio (orientação). Posso afirmar que os principais objetivos em relação à biomecânica do calçado são, de maximizar o rendimento, prevenir lesões e controlar sobrecarga no aparelho locomotor. Destacarei a seguir alguns procedimentos importantes que devem ser observados na escolha do tênis específico.
2) Avaliar pisada: Continua sendo fundamental para a escolha do tênis. Os modelos são adaptados em função das características dos pés e da pisada. Um dos modelos de avaliação encontrado, prático, rápido, porém pouco funcional, pois não avalia dinâmica da corrida, são localizados nas lojas especializadas em tênis esportivo trata-se dos “SCANS”. Uma avaliação correta deve-se observar o tipo de pisada, angulação dos joelhos e quadril, se possui retro-pé valgo ou varo e, observar através de imagens onde está sendo exercida uma maior pressão.
Outro exame interessante para avaliar a dinâmica da marcha e da corrida, é a baropodometria, exame extremamente funcional que permite observar em vários ângulos o movimento articular e, sobretudo as pressões exercidas sobre cada parte do pé, em função da força de reação do solo. Mas, a maioria da população não tem acesso a este tipo de avaliação, neste caso, recomenda-se o teste do “pé molhado”. Neste teste, a pessoa deve pegar um jornal ou cartolina, molhar o pé e, em seguida, pisar no jornal. Apenas será observado o arco do pé. Em geral, existe compatibilidade do pé cavo com a pisada supinada e do pé plano com a pisada pronada.
Tipos de pisadas:
a) Neutra: Inicia o contato com o solo do lado externo do calcanhar e, então, ocorre uma rotação moderada para dentro, terminando a passada no centro da planta do pé. Calçado ideal, entre amortecimento e estabilidade.
b) Supinada (subpronada): A pisada inicia no calcanhar do lado externo e se mantém o contato do pé com o solo do lado externo, terminando a pisada entre o 4º e 5º metatarso (dedinho do pé). Pé supinado é, em geral, muito rígido. Calçado ideal, aumento do amortecimento e da flexibilidade.
c) Pronada: Aquela em que a pisada também se inicia do lado externo do calcanhar, ou algumas vezes um pouco mais para a parte interna, para então ocorrer uma rotação acentuada do pé para dentro, terminando a passada perto do hálux (dedão do pé). A pronação é um problema de hipermobilidade. Calçado ideal, menos flexível, mais estabilidade, e controle do movimento (retropé).
3) Como usar o tênis adequadamente: A indústria utiliza principalmente, EVA (acetato vinil etileno), P.U(poliuretano), MoGo (uma liga plástica), SPEVA, SOLYTE e o X10 (carbono), entre outros, na confecção da entressola do tênis (parte do tênis, onde de fato se exerce as maiores pressões). Este material é deformado de acordo com as pressões exercidas na marcha e na corrida.
A tecnologia atual permite que se use o tênis no dia seguinte com um breve intervalo de tempo, para o tênis se “recuperar” das pressões exercidas durante o treino. Quem corre todos os dias, a relevância da aquisição de um segundo modelo deve ser considerada especialmente para treino longo, outro para treino de intensidade, por exemplo. Quem pratica caminhada ou corrida com o propósito de melhorar a saúde ou a qualidade de vida, não deve se preocupar com isso.
4) Amortecimento ou estabilidade? O tema é polêmico e requer algumas reflexões. A grande justificativa das indústrias que fabricam tênis é exatamente o amortecimento como sendo o diferencial na escolha do calçado. Entretanto, estudos recentes nos mostram que é a ESTABILIDADE a característica mais importante na escolha do tênis para o treinamento ou atividade física, no que se refere à prevenção de lesões, funcionamento biomecânico correto dos membros inferiores e a performance. E assim, deve ser dada preferência se o indivíduo não for um supinador excessivo ou um pronador excessivo, usar tênis da categoria ESTABILIDADE. Veremos abaixo como os tênis são divididos por categorias.
5) Como escolher o tênis em função de sua pisada: Estes são divididos pelas seguintes categorias:
a) Controle do Movimento (pronadores excessivos): São os mais rígidos. Geralmente, são mais pesados, mas muito duráveis, e têm solado plano para oferecer maior estabilidade e suporte. Você deve preferir este tipo de tênis caso tenha um grau de pronação muito acentuada.
b) Estabilidade (pronadores leves a moderados, corredores neutros e supinadores leves a moderados podem optar por tênis desta categoria): Estes tênis possuem uma boa estabilidade, sem deixar de lado o amortecimento. Apresentam solado semi-curvo. Em geral a grande maioria de atletas e ou desportistas vão se enquadrar nesta categoria.
c) Amortecimento. (Supinadores moderados a severos): Tem como principal objetivo amortecer o impacto com o solo. Os supinadores, que normalmente têm o pé mais rígido, encontrarão aqui os modelos mais adequados. Solado curvo ou semicurvo para estimular os movimentos dos pés.
d) Performance (competição): são tênis mais leves indicados para as competições ou até mesmo treino de intensidade.
e) Trilha: Tracking, caminhadas em montanhas, terrenos arenosos e etc.
6) Quando devemos trocar de tênis: Devemos considerar que as deformações ocorridas devido às forças de reação do solo, variam de acordo com a tecnologia empregada no tênis, material utilizado, e até mesmo as compensações biomecânicas. Com isso, estima-se que em geral, um tênis vá ter sua eficiência biomecânica compensada, e um bom amortecimento prevenindo assim as lesões, dependendo do modelo, entre 500 e 800 km de uso. Acima disto, o tênis perde muito sua eficiência biomecânica e não é garantido que o tênis tenha sua função preservada.
A durabilidade, então, dependerá do modelo, da tecnologia empregada, dos materiais utilizados na confecção do tênis e das características biomecânicas da pisada em função da marcha e da corrida. Quanto ao preço, os bons modelos, com variação de recursos tecnológicos, giram em torno de R$250,00 a R$550,00. E a durabilidade será, sem dúvida, maior, naqueles modelos de maior investimento tecnológico, ou seja, paga-se mais, mas em compensação, o desgaste do material é menor é o tênis, certamente durará mais tempo.
7) Principais Lesões por supinação e pronação excessivas: Todo movimento de pronação e supinação ocorre na articulação subtalar (tálus e calcâneo), abaixo da articulação do tornozelo, e assim, consideramos como fisiológico o movimento de pronação e supinação da articulação subtalar. A biomecânica da marcha ou corrida inicia-se com pressão na parte externa do calcâneo, portanto em leve supinação, terminando com pressão maior em nível do Hálux (dedão do pé), com leve pronação.
As lesões ocorrerão quando a supinação e pronação forem EXCESSIVAS na articulação subtalar, e daí a necessidade de um modelo de tênis que minimize o impacto, estabilize a articulação subtalar, sendo adequada a um determinado tipo de pisada.
Dentre as lesões por supinação e pronação EXCESSIVAS, destaco:
Lesões por supinação excessiva: • Entorses por inversão do tornozelo.
• Síndrome do estresse tibial medial (canelite).
• Tendinite dos fibulares.
• Síndrome do atrito no trato iliotibial.
• Bursite trocantérica.
• Fratura por estresse do 5º metatarso (fratura de Jones).
• Neuroma de Morton
Lesões por pronação excessiva:
• Fratura por estresse do navicular.
• Fratura por estresse do 2º metatarso (fratura de March).
• Joanete.
• Fasciíte plantar.
• Tendinite do tibial posterior.
• Tendinite do Tendão de Aquiles.
• Síndrome do estresse tibial medial (canelite).
• Dor na parte medial do joelho.
• Subluxação do cubóide.
• Síndrome do túnel do tarso. 8) Conclusão:
Na hora de escolher um modelo de tênis, não deixe de considerar os aspectos aqui levantados. Desta forma, seu rendimento estará melhorando na medida em que as lesões estejam sendo prevenidas. As grandes marcas Asics, Mizuno, Adidas, Nike, e que já foram absolutas em termos de tecnologia, hoje, recebem a concorrência de outras marcas. Portanto, não deixe de fazer uma avaliação na hora de escolher um tênis adequado às suas características biotipológicas. Assim, observando este aspecto, o atleta/desportista estará dando salto de qualidade no seu planejamento, respeitando princípios fundamentais que, hoje, norteiam o desenvolvimento da preparação física no Brasil e no Mundo, que é, a maximização da performance diminuindo o risco de lesões.
Bibliografia:
Entrevista do autor: http://www.youtube.com/watch?v=e2ccGQQqxt4
COHEN,M. & ABDALLA, R.J. Lesões nos esportes.Rio de Janeiro, Revinter, reimpressão 2005.
SMITH, L. K WEISS E. L. e LEHMKUHL L. D. Cinesiologia Clínica de Brunnstrom. 5ª ed. São Paulo, Manole, 1997.
PRENTICE, W . E. e VOIGHT, MICHAEL ,L. Técnicas em Reabilitação Musculoesquelética. Porto alegre.artmed, 2003.
Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.
por Marcelo Luiz de Souza
Graduação:Educação Física e Fisioterapia.
Pós - Graduação lato sensu:Educação Física Escolar, Neurociências e Fisioterapia do Esporte.
Maestría en Educación con Especialidad en Educación Superior
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