Preparação da Equipa Nacional A para Campeonato do Mundo 2014
Articulação entre o treino dos clubes e da seleção
Educação Física e Esporte
03/09/2012
Iniciou-se recentemente a preparação da seleção nacional de futebol para a fase de apuramento do Campeonato do Mundo. Abre-se mais um ciclo de esperança em que, a qualidade dos nossos atletas, a ambição, a experiência vivida e o saber-estar do novo selecionador nacional, permitem perspectivar os melhores resultados. Inicia-se também um ciclo em que algumas naturais tensões surgirão entre os diferentes modelos de preparação seguidos pelos clubes e o modelo a adoptar pela selecção nacional. Serão essas tensões inevitáveis? A que se devem? Poderá a seleção nacional seguir um modelo autónomo? Em que circunstâncias? Abordaremos sumariamente estas questões.
Dupla gestão da forma desportiva
Para além de fatores de natureza extra desportiva, que não cabem no âmbito desta reflexão e que, muitas vezes, são os mais determinantes, apontaremos dois, de natureza estritamente técnica, susceptíveis de condicionar o rendimento desportivo dos atletas.
A) Utilização pela seleção de um modelo de gestão da forma desportiva diferente do utilizado pelos clubes
A1) Diferentes objetivos quanto à forma desportiva: Os mesmos atletas vão ter de participar simultaneamente em dois quadros competitivos diferentes e vão ser dirigidos por duas equipas técnicas com objetivos e metodologias de intervenção, consequentemente, também diferentes. No clube, disputam um longo e ininterrupto campeonato, o que pressupõe a necessidade de se estabilizar o estado de adaptação dos atletas a um nível não muito elevado, para permitir manter esse rendimento durante toda a época desportiva. É aquilo a que chamo patamar de rendimento. Na seleção, durante toda a fase de apuramento, os atletas irão disputar um conjunto de jogos dispersos, que alternam com os jogos realizados pelos seus clubes. Pretende-se que cada atleta se apresente em todos eles com o máximo rendimento possível. Cada jogo é decisivo, pelo que a Equipa Técnica Nacional tentará, logicamente, que todos os atletas se apresentem nas melhores condições. Utilizará todas as possibilidades que lhe permite o escasso tempo de preparação de que dispõe, para alcançar esse objetivo. Se dispuser de pelo menos 10 dias de preparação (os atletas jogam pelos seus clubes no Sábado ou no Domingo e vão representar a seleção na segunda 4ª Feira) é possível ter um rendimento acrescido no dia do jogo se se proceder a uma adequada intensificação da carga de treino nos primeiros cinco dias de preparação. A Equipe Técnica Nacional está a utilizar um instrumento de intervenção que os treinadores dos clubes usam habitualmente, sempre que têm um encontro de particular importância para a consumação dos seus objetivos. Sendo assim, parece que não existem quaisquer problemas.
Contudo, a grande dificuldade reside no seguinte fato: Não é possível sujeitar constantemente os atletas a subidas de rendimento sem prejudicar a durabilidade da sua forma desportiva. Quantas mais vezes esta situação ocorrer, seja no clube ou na seleção, maior poderá vir a ser a quebra desses atletas no final da época. É menos oneroso do ponto de vista biológico, estar adaptado, isto é ter um rendimento desportivo estabilizado, que estar constantemente a introduzir alterações ao seu estado de adaptação. Quando o jogo da seleção se realiza na 4ª Feira imediatamente a seguir ao último jogo do clube, não é tecnicamente possível aumentar o rendimento dos atletas. Pode ocorrer uma descida de rendimento, se o treino for demasiado intenso, o que não permite que se realize uma recuperação completa. Os atletas só se poderão apresentar com o estado de adaptação que possuíam no seu clube, não existindo, portanto, uma grande sobrecarga para além de realização de mais um jogo.
B) Eventual utilização pela seleção formas de trabalho diferentes das utilizadas em alguns dos clubes. Um dos problemas técnicos que qualquer treinador nacional de desportos coletivos tem de enfrentar tem a seguinte caracterização: - tem ao seu dispor um grupo de atletas oriundo de muitos clubes que utilizam formas de trabalho diferentes. - todos eles têm de ser treinados conjuntamente para realizarem um jogo no mesmo dia. Na seleção há que encontrar formas de trabalho que não sejam muito afastadas das que os atletas estão habituados. É sabido que, independentemente da intensidade do treino, basta este ser diferente do habitual para que possa produzir um grande desgaste em alguns atletas. Se, por exemplo, atletas que no seu clube treinam sempre no relvado, realizarem sprintes na mata ou num campo pelado, poderão vir a ter dores musculares e articulares devido à dureza do piso; atletas que façam na seleção um trabalho de musculação para grupos musculares que não costumam solicitar, ou que utilizem cargas muito diferentes das habituais, terão certamente problemas de recuperação, o que poderá diminuir o seu rendimento na seleção e posteriormente no seu clube.
Este problema poderá ser facilmente ultrapassado se forem observados os seguintes princípios: - Toda a preparação deverá ser realizada no relvado, utilizando unicamente formas de trabalho específicas do futebol e para as quais todos os atletas estão perfeitamente adaptados. - Há que conhecer em pormenor não só o estado de treino de cada atleta mas também os meios e métodos de treino utilizados no seu clube, para complementar, sempre que isso seja considerado necessário, a sua preparação com exercícios individualizados idênticos aos seguidos no seu clube. Estes princípios são tanto mais verdadeiros quanto menor for o tempo de preparação.
Uma nota de esperança todas as afirmações que fizemos anteriormente referem-se exclusivamente à situação que habitualmente se vive durante a fase de apuramento, em que o tempo de preparação para cada jogo não ultrapassa habitualmente os 10-15 dias. A preparação para uma fase final do campeonato do Mundo prolonga-se por um período superior a um mês, o que permite que todos os atletas se possam adaptar aos mesmos métodos de treino, perdendo, consequentemente, o seu anterior estado de adaptação. Tenho a convicção e a esperança de que serei obrigado a voltar a este tema quando Portugal conseguir a qualificação para a fase final do campeonato da Europa. A atual geração de jogadores e treinadores justifica amplamente essa consagração. Que a sorte não nos abandone e que não surjam, entretanto, muitas forças de bloqueio. Oxalá.
Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.
por Nelson Carvalho
CEO da Empresa - Flower Anatomy; CEO da empresa - Sim Doutor; Administracao e Coordenacao - PainCare Clinicas de Dor; Diretor Tecnico - Corpore Care Clinica do Exercicio; Master em Motricidade Humana; Especialista em Metodologia do Treino; PgD Fisiologia do Exercicio; PgD Nutricao Desportiva; Tec. Especialista em Medicina Fisica e Reabilitacao; Membro do ACSM; Cedula profissional IDP/ProCAFD 23292
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