Aplicabilidade do Modelo de Verkhoshanski para a área Fitness

Treinamento físico
Treinamento físico

Educação Física e Esporte

20/09/2012

Introdução
Programas de treinamento físico são importantes para o sucesso de objetivos diversos em salas de musculação, bem como em outros ambientes (Gomes, 2002). A elaboração dos programas deve obedecer ao que a comunidade científica entende por princípios do treinamento que são: princípio da individualidade biológica, princípio da adaptação, princípio da assimilação compensatória, princípio da sobrecarga, princípio da continuidade e princípio da especificidade. Os 2 modelos de treinamento que são norteadores para tanto é o Modelo Clássico de Matveev e o Modelo de Verkhoshanski.

O Modelo Clássico de Matveev foi considerado um marco na organização do treinamento físico e esportivo por elaborar programas de treinamento divididos por etapas, gerando a curva clássica de volume x intensidade. A profissionalização dos esportes gerou um problema para esse modelo, pois os atletas e equipes passaram a ter uma quantidade maior de competições durante uma temporada, surgindo necessidade de modificação deste modelo, já que com ele só é possível atingir um pico de performance por programa. Então surge o Modelo de Verkhoshanski, organizando o treinamento físico e esportivo por mesociclos e microciclos, permitindo mais de um pico de performance por temporada.

O praticado em salas de musculação não segue o 2º modelo supracitado, gerando grande preocupação devido a falta de sucesso dos programas, por não considerar os princípios do treinamento acaba atingindo o chamado ´´platô``, limitando o desenvolvimento e frustrando os praticantes.

Todo esse contexto sensibilizou o autor deste estudo e esta temática passou a ocupar agenda de atividades.

Objetivo geral
Demonstrar a aplicabilidade do modelo de Verkhoshanski para a área fitness.

Metodologia
a) Tipo de Estudo
Para analisar a aplicabilidade do modelo estudado para a área fitness foi realizado um estudo de caso. Por estudo de caso entende-se estudo profundo de maneira que permita seu amplo e detalhado conhecimento (GIL, 2002).

b) Local do estudo
O local escolhido foi uma sala de musculação situada nas dependências da área comum do condomínio residencial, na Avenida Armando Ítalo Setti 417, na cidade de São Bernardo do Campo – SP. c) Seleção da amostra
A amostra foi composta por um indivíduo adulto, do sexo masculino, fisicamente ativo, praticante de musculação e que, de acordo com o mesmo, teve dificuldades em sustentar melhor condicionamento físico decorrente do “platô” estabelecido pelos programas utilizados.

d) Obtenção de dados
Foi realizada aferições de massa corporal, estatura e teste de aptidão física, no período pré e pós-desenvolvimento do programa de treinamento.
A aferição da massa corporal foi obtida em balança da própria sala de musculação referente ao programa. A aferição da estatura foi obtida por meio de fita métrica do tipo “trena”, com posicionamento do indivíduo de costas para a marcação métrica, descoberto e descalço.

O teste de aptidão física aplicado foi composto por avaliação de força máxima, avaliação de resistência de força e avaliação de VO2 máximo. A avaliação de força máxima foi aplicada na sala de musculação supracitada, utilizando o material disponível para tanto (goleira, barra de aço inoxidável, anilhas, banco regulável e presilhas) e composta pelos exercícios de Supino Reto e Agachamento.

A avaliação de resistência de força foi composta pelo exercício Tração na Barra Fixa e assim como a avaliação de força máxima foi aplicado na sala de musculação referente à pesquisa, e por último a avaliação de VO2 máximo composta pelo teste de corrida de 12 minutos (Cooper) aplicado em pista demarcada situada em parque público de esportes. Para os exercícios Supino Reto e Agachamento o indivíduo foi orientado a executar três tentativas de 1 RM levantando a maior carga possível, com intervalo de cinco minutos entre as tentativas.

Para o exercício Tração na Barra Fixa o indivíduo foi orientado a executar três tentativas para o máximo de repetições possíveis, com intervalo de cinco minutos entre as tentativas. Para o exercício Corrida de 12 minutos (Cooper) o sujeito foi orientado a correr e/ou caminhar a maior distância possível em um tempo total de 12 minutos e para esse exercício foi permitido apenas duas tentativa. Foram consideradas as melhores marcas.

Para a aplicação dos testes e para o desenvolvimento do programa o indivíduo foi submetido a exame cardiológico, permitindo a prática de atividade física através de atestado expedido pelo cardiologista.
e) Análise dos dados
Os dados obtidos foram comparados entre o começo e o final do programa, seguindo o mesmo padrão na aplicação do teste de aptidão física.

f) Aspectos éticos
O indivíduo adulto responsável legal pelos seus próprios atos, foi orientado sobre a pesquisa, entendendo ser de cunho acadêmico e assinou um termo de consentimento, concordando em servir de amostra e tornar público os dados constituintes no estudo.

Resultados e discussão
O indivíduo submetido ao programa de treinamento físico apresentou modificações em sua massa corporal total, bem como em seu condicionamento físico. Apresentou redução da massa corporal de 4,498% (- 4,3kg), aumento de força máxima nos exercícios Supino Reto de 35,483% (+ 22kg) e Agachamento de 30% (+ 18kg), aumento de resistência de força no exercício Tração na Barra Fixa de 100% no número de repetições (+ 2 repetições) e aumento de VO2 máximo em 18,918 % ( + 7,77 ml (kg.min)-1 ).

Com esses resultados é possível debater sobre a elaboração de programas de treinamento. Podemos observar conflitos entre estudos que separam o programa de treinamento por segmentos ou abordando questões como quantidade adequada de séries e repetições sobre um determinado exercício, com finalidade de alteração na composição corporal e com finalidade de alteração de força (KRAEMER, 2006).

Segundo Stoppani, J. (2008), há diversos modelos de programas de treinamento como os chamados Superséries, Séries Compostas, Trisséries, entre outros como meios de otimizar o treinamento, no entanto não possui esclarecimentos suficientes para a utilização.

Além do aspecto conflitante entre os estudos é necessário verificar se os programas elaborados mantêm o indivíduo prosperando em suas condições físicas, pois, conforme diz Marx, J.O. et al (2001), ocorre efeito denominado platô após 24 semanas de treinamento nesses sistemas.

Os programas de treinamento para serem designados eficientes devem obedecer aos itens que a comunidade científica denomina de princípios do treinamento físico e evitar o efeito platô, o que não é notável em grande parte dos estudos.
Considerações finais
O presente estudo aponta o modelo de treinamento de Verkhoshanski aplicado na área fitness como possibilidade real de superar programas que não seguem princípios de treinamento e periodização. Futuros estudos embasados nesta metodologia, com maior duração, desenvolvidos com outras populações e com variação de gênero, idade, condições clínicas, etnia, entre outros, são necessários.

Referências
1- BORIN, J.P. ; GOMES, A.C. e LEITE, G.S. Preparação Desportiva: Aspectos do Controle de Carga de Treinamento. Revista da Educação Física/UEM, 2007, v.18, n.1,p97-105. Disponível em: http://eduem.uem.br .
2- BOMPA, T.O. Periodização. Teoria e metodologia do treinamento,
4ª edição ed. Phorte: Guarulhos, 2002.
3- MATVEEV, L.P. Metodologia e treinamento: Treino desportivo,
ed. Phorte: Guarulhos, 1997.
4- OLIVEIRA, B. ; LUÍS, A. ; SEQUEIROS, S. ; DA, J.L. ; DANTAS, M. e HENRIQUE, E. Estudo Comparativo Entre o Modelo de Periodização Clássica de Matveev e o Modelo de Periodização por Blocos de Verkhoshanski. Fitness & Performance Journal, 2005, v.4, n.6, p358-362. Disponível em: http://redalyc.uaemex.mx.
5- GIL, A.C. Como elaborar projetos de pesquisa, 4.edição ed. Atlas: São Paulo, 2002.
6- BORIM, J.P. ;PRESTES,J. e MOURA,N.F. Caracterização, Controle e Avaliação: Limitações e Possibilidades no Âmbito do Treinamento Desportivo. Revista de Treinamento Desportivo, 2007, v.8,n.1, p06-11. Disponível em: www.treinamentodesportivo.com.br .
7- MARINS, J.C.B. e GIANNICHI. Avaliação e Prescrição de Atividade Física: Guia Prático, 2ª edição ed. SHAPE: Rio de Janeiro, 1998.
8- FLECK e KRAEMER. Fundamentos do Treinamento de Força Muscular, 3ª edição ed. ARTMED, 2006.
9- JIM STOPPANI. Enciclopédia de Musculação e Força, ed. ARTMED, 2008.

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Henrique Stelzer Nogueira

por Henrique Stelzer Nogueira

Professor de Pós-Graduação (FMU, Estácio de Sá, UNIFAE e USCS); Pesquisador; Personal Trainer.

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