A ergonomia nos espaços asilares: o caso de uma ILPI no município de Itaguaí

Idosos precisam praticar exercícios físicos
Idosos precisam praticar exercícios físicos

Educação Física e Esporte

02/03/2013

1. Introdução
A população idosa brasileira tem crescido rapidamente nas últimas décadas. De acordo com dados do IBGE (2007), os idosos no Brasil somavam 19 milhões, e em 2020 estima-se encontrarem-se no número de 31,8 milhões. Contudo, questões ligadas à qualidade de vida ainda são um problema para indivíduos nesta etapa da vida, já que os mesmos geralmente são induzidos a institucionalização por seus familiares, e tais espaços nem sempre estão em condições adequadas para recebê-los.

A limitação do espaço físico das habitações, as dificuldades de dedicação permanente aos idosos, e a inserção da mulher no mercado de trabalho, motivam os familiares a colocá-los em instituições de longa permanência para idosos, as ILPIs, excluindo-os do convívio sócio-afetivo e familiar. Somados a tais problemas detectados que são motivadores de danos consideráveis ao grupo citado, entendemos que mais uma variante pode ser acrescentada, que é a mínima ou inexistente preocupação com as questões de cunho ergonômico quando da escolha da nova habitação, a qual os idosos irão residir.

Nesta perspectiva, percebe-se a relevância da realização de um estudo, baseado no ponto de vista ergonômico, direcionado ao trato com os indivíduos de terceira idade em institucionalização, como elemento chave para a prevenção de potenciais transtornos que a negligência neste campo específico do saber tecnológico, pode acarretar ao individuo idoso.


2. Metodologia
O estudo foi realizado em uma Instituição de Longa Permanência para Idoso- ILPI Localizada no Município de Itaguaí – RJ, que atende a um total de 15 mulheres idosas de baixo poder aquisitivo. A observação se deu em um período de três meses, e foram analisadas as instalações onde se restringe a instituição, bem como a dinâmica de utilização do ambiente por parte da comunidade idosa atendida e dos funcionários que ali desempenham suas funções. Para operacionalização do estudo, utilizou-se do método de Análise Ergonômica do Trabalho de acordo com Santos apud Drumond et all (2005).

3. Resultado e discussão
A ILPI conta com um espaço físico de quatro quartos destinados as idosas, um quarto de enfermeiros, uma sala de jantar, cinco banheiros (um de visitantes e funcionários e quatro destinados às idosas), cozinha, capela e um pátio interno central.

Na entrada da instituição, há escadas sem barras de apoio, que limitam o deslocamento das idosas, e em especial das que possuem deficiências físicas. Seria essencial realizar a troca das escadas por rampas dotadas de barras de apoio lateral e revestidas de material antiderrapante, permitindo o deslocamento das idosas com maior autonomia. Neste sentido, corroboramos com Farias Guimarães e Simas (2005), quando afirmam que é necessário que o ambiente institucional seja adequado ao atendimento requerido frente às necessidades e limitações funcionais dos indivíduos, de forma a garantir-lhes conforto, segurança e independência para realizar suas atividades quotidianas. Neste sentido, percebeu-se através das falas dos enfermeiros, que a referida falha tem trazido transtornos osteomusculares aos mesmos, que , encarregados de transportar os idosos, manifestam constantemente dores de coluna e membros superiores.

Observou-se que as portas dos banheiros estão voltadas para dentro dos quartos, e que algumas são estreitas, contrariando o que é recomendado pelo MS, que exige que portas de banheiros de instituições asilares tenham no mínimo 80 cm de largura, devendo as mesmas serem voltadas para a área externa e não para dentro de qualquer outros cômodos, afim de que sejam evitados acidentes, e a impossibilidade de pronto auxilio aos idosos.

Foram analisados ainda a inobservância referente à manutenção de vasos sanitários soltos, falta de reparos elétricos, e de revestimentos. A respeito dos banheiros, observou-se alguns elementos de segurança implantados, como barras de segurança dispostos para o uso de vasos sanitários, lavatórios e box, piso antiderrapante e azulejamento total das paredes dos banheiros, todos laváveis e de cores claras, como previsto pelo Ministério da Saúde, e ainda, a presença de cadeiras próprias para o banho de pessoas idosas dependentes. De acordo com o Estatuto do Idoso (2003), no que se refere a habitação, instituições que acolhem idosos devem obrigatoriamente manter padrões de habitação compatíveis com suas necessidades. Deste modo, fica claro que instituições ou mesmo domicílios particulares que objetivam o cuidado de idosos, obrigam-se a fornecer a essa população instalações adequadas.

Analisando os dormitórios, constataram-se que os mesmos possuem dimensões físicas maiores do que as preconizadas pela portaria 810/89, onde o mínimo seria de 5m quadrados de área de dormitório, e a exigência de um máximo de quatro leitos por dormitório é atendida na instituição. O referido espaço é totalmente revestido de azulejos e pisos, entretanto os mesmos não são antiderrapantes, e possuem pontas salientes e alguns estão soltos, podendo ocasionar acidentes. Essa inadequação foi encontrada também nos corredores da instituição, onde foram observados alguns acidentes oriundos dessas inconformidades.
Questões relativas à iluminação, ventilação e limpeza dos espaços são satisfatórias, pois tanto a iluminação artificial e natural, e a circulação do ar são beneficiadas em todos os ambientes, dadas a presença de janelas de grandes dimensões.

Ao analisar as cadeiras disponibilizadas as idosas, percebeu-se que se tratavam de assentos inadequados, de material plástico, leves e sem pés antiderrapantes, que frequentemente deslizavam quando as idosas tentavam sentar-se, ou levantar-se sem o auxílio dos cuidadores. Tal constatação sugere-nos que a ergonomia não interfere somente em questões práticas da vida do individuo idoso, como também intervém de forma significativa quando preconiza a adoção de praticas que mantenham sua saúde, física, social e psicológica.

Dentre os aspectos positivos observados na instituição, destaca-se a presença de extintores de incêndio na porta de entrada e próximo às portas dos quartos e cozinha, e encontramos ainda nos corredores, um telefone localizado em local de fácil acesso, tendo afixado uma lista de telefones úteis como dos bombeiros, clínicas médicas, policia, defesa civil entre outros, onde percebeu-se o cuidado com questões de ordem de segurança local.

Destaca-se a presença de barras de apoio nos corredores e rampas em alguns pontos, que facilitam o acesso do idoso ao pátio, lugar que possibilita o banho de sol, e ainda o desfruto da beleza do pequeno jardim localizado e dos pássaros que ali são mantidos. Esse pátio mantido pela instituição tem forte influência no desenvolvimento psicossocial dos idosos que nela habitam, já que a presença de animais e de um jardim dentro da instituição os remete a um sentimento de convívio em ambiente familiar amenizando a falta da família de origem. Em conversa mantida com os responsáveis pela instituição percebeu-se a ciência quanto as inadequações encontradas, e que as correções necessárias estariam sendo executadas, a medida em que fossem disponibilizados recursos, que nem sempre são bastante, em se tratando de instituições de cunho filantrópicos como é o caso da ILPI avaliada.
4. Considerações Finais
De acordo com os dados obtidos, concluímos que de forma geral, adaptações fazem-se necessárias para que sejam oferecidas uma melhor qualidade de vida para o público institucionalizado cabendo à comunidade, profissionais e governos trabalhar em rede, buscando melhorar os padrões dessa e de outras instituições asilares que estão incorrendo em falhas, ou que até mesmo ignoram o que é previsto pela legislação. Neste sentido entende-se que a fiscalização mais intensa procedente dos órgãos competentes nesses espaços, garantiria ao ancião todo o suporte de que ele necessita conforme redigido no Estatuto do Idoso.


Referências
DRUMOND, A. C. de F. et al. Ergonomia: um estudo de caso das posturas de trabalho utilizadas por um repositor de mercadorias em um supermercado – Viçosa-MG. In: Revista OIKOS. V.16. nº1. 2005. pp. 101-113.

ESTATUTO DO IDOSO. Disponível em http://www.serasa.com.br/guiaidoso/107.htm. Acesso em 21 Nov. 2012.

FARIAS, S. F.; GUIMARÃES, A. C. A.; SIMAS, J. P. O ambiente asilar e a qualidade de vida do idoso. A Terceira Idade, v. 16, n. 33, p. 55-68, 2005.

IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Dados preliminares da população no Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, 2007.

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 810/89. Disponível em: http://www.mp.ba.gov.br/atuacao/cidadania/legislacao/idoso/portaria_810_89. asp Acesso em 12 nov 2008.

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Agnes de Oliveira da Silva

por Agnes de Oliveira da Silva

Bacharel em Economia Doméstica pela UFRRJ, exercendo atividades de desenvolvimento humano, inserção social e geração de renda no projeto éfeito de papel: Implantação de polo artesanal nos CAPS - RJ, (Projeto financiado pela PETROBRAS).Tenho experiência em desenvolvimento de trabalhos em ergonomia e qualidade de vida, educação alimentar.

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