Os esteroides anabolizantes e a sociedade

Mal uso de esteroides gera efeitos colaterais bem críticos
Mal uso de esteroides gera efeitos colaterais bem críticos

Educação Física e Esporte

30/07/2013

Quantas vezes já ouvimos a expressão “esteroide anabolizante” ao longo de nossa vida? Até pouco tempo atrás, ouvíamos dizer que se tratava de uma droga, que estava relacionada ao doping e ao atleta, e que isso nada tinha a ver com nossas vidas, ou seja, esta era uma realidade muito distante de nós. No entanto dizem por aí que esta droga anda trazendo preocupação a pais e professores, mas que o bom mesmo é que deixa nossos músculos bem fortes. Mas o que realmente são os esteroides anabolizantes?

Uma série de reações químicas rege nosso corpo compondo o que chamamos de metabolismo. Dentre essas reações existem as que formam moléculas (anabolismo), e as que quebram moléculas (catabolismo). Sendo assim metabolismo nada mais é que a soma dos processos anabolizantes e dos processos catabolizantes, em nosso organismo. O anabolismo, como dito anteriormente, é o conhecido como o processo de síntese de moléculas. No caso dos esteroides anabolizantes, a síntese favorecida é a de moléculas de proteína, que compõem os músculos.

Com estes termos esclarecidos podemos agora dizer que os esteroides anabolizantes são hormônios derivados de hormônios presentes em nosso organismo. A palavra esteroide significa óleo sólido, sendo sua origem grega e latina.

Por muito tempo soube-se que a virilidade e a força do homem, bem como dos animais, originava-se de hormônios e das gônadas (testículos). E por isso muitos homens, buscando obter mais destes atributos, ingeriam testículos de boi, por exemplo. Mas com o passar dos anos, melhorias técnicas e científicas abriram caminho para a extração do hormônio masculino responsável por estes efeitos, a Testosterona.

Quando atua no organismo, a testosterona provoca dois tipos de efeitos intimamente ligados que são o efeito anabólico e o efeito androgênico. O efeito anabólico já foi visto, mas o que seria efeito androgênico? O prefixo “andro” significa homem, logo, o efeito androgênico é responsável pelo aparecimento das características masculinas primárias e secundárias. Quando crianças, meninos e meninas não apresentam grandes diferenças corporais. A partir da adolescência, devido à excreção endógena deste hormônio, os meninos passam a ter diferenças mais visíveis das meninas, como a voz, pelos, e músculos.

Pouco tempo após sua extração, foi possível sintetizá-lo em laboratório. Em seguida modificações foram introduzidas na molécula para potencializar os efeitos chegando finalmente aos esteroides anabolizantes de hoje em dia. Vale lembrar que ainda não foram sintetizados esteroides 100 % anabolizantes. Existe sempre uma porcentagem, mesmo que pequena, de efeitos androgênicos.

Inicialmente os esteroides anabolizantes foram sintetizados com a finalidade de uso médico e terapêutico para o tratamento de pacientes pós-operatórios ou no caso de doenças como hipogonadismo, que leva a uma redução hormonal do organismo, câncer de mama, insuficiência renal, osteoporose e desnutrição por exemplo.
Mas devido aos seus efeitos anabólicos, o medicamento disseminou-se entre atletas de alto nível que procuravam melhorar seus desempenhos. Esse efeito anabólico é o aumento de volume e de massa dos músculos, ou seja, o estímulo para a síntese de proteínas (músculos) e de tecidos (ossos e órgãos), que influencia consideravelmente o metabolismo do usuário.
Mas por que ocorre esse aumento tão rápido de músculos? O músculo é composto por feixe de fibras responsáveis pela contração e relaxamento muscular. Seu crescimento ocorre a partir de uma lesão na fibra muscular que é restaurada através da síntese proteica, sendo feita uma fibra mais grossa (volume e massa).

Os esteroides apenas aceleram o processo de síntese proteica, mas primeiramente o músculo deve sofrer a lesão, ou seja, deve-se realizar alguma atividade física como a musculação. Até então tudo bem, então qual é o problema? A questão está na diferença entre o tempo de crescimento dos músculos e o tempo de adaptação de ligamentos e tendões, tecidos (colágeno) responsáveis pela tração dos movimentos. Sem eles não haveria movimento algum.

A má orientação em relação ao uso dos esteroides anabolizantes, tanto pelo excesso de tempo ou pelo excesso na dose administrada, pode levar a lesões nestes tecidos. A capacidade de força, velocidade e resistência do músculo são de fato aumentadas, mas muito acima do que tendões e ligamentos suportam. Muitos são os casos de atletas de alto nível que sofrem lesões graves por este motivo, comprometendo sua carreira profissional no esporte que praticam.

Os problemas não param por aí. O fígado também pode ser muito prejudicado pelo uso inadequado destes hormônios sintéticos. Sabe-se que o fígado é o responsável pela metabolização de tudo o que é ingerido e injetado. Sendo o maior órgão do corpo humano, o fígado pesa aproximadamente de 1,5 Kg e fica localizando-se ao lado direito, na parte superior da cavidade abdominal, protegido pelas costelas. São realizadas mais de 500 funções importantes em nosso organismo por esse órgão, sendo que algumas das principais são: desintoxicação de toxinas químicas produzidas pelo organismo e de toxinas externas ao organismo, filtragem mecânica de bactérias, síntese de gorduras e secreção biliar.

Praticamente todos os esteroides anabolizantes causam lesões no fígado. A lesão mais comum entre os usuários é chamada de hepatite colestática, onde ocorrem deformações na estrutura do fígado devido ao aumento da oxidação pela ausência de enzimas antioxidantes. Nessa situação, a regeneração do fígado é possível caso o usuário interrompa o ciclo imediatamente. No entanto, existem casos em que o usuário não interrompe o ciclo e adenomas (tumores benignos) e carcinomas (tumores malignos) começam a surgir, impedindo a regeneração do órgão.

Outro fator importante que pode afetar não só o fígado, mas o organismo todo é a via de administração do medicamento. Existem também produtos orais que acabam sendo piores, pois passam pelo fígado duas vezes, uma na digestão e uma na metabolização. Mas os mais comuns são os esteroides injetáveis. Com estes deve-se ter maior atenção pelo risco de transmissão do vírus HIV e outros tipos de doença ao compartilhar agulhas de injeção do medicamento.

É importante entender que os esteroides anabolizantes são medicamentos e por isso devem ser administrados por um médico. Antes de iniciar qualquer tipo de tratamento com qualquer medicamento, consulte um médico. No caso dos esteroides anabolizantes, consulte um endocrinologista, pois ele dirá se é necessário ou não a ingestão de esteroides além da sua produção natural. A automedicação é muito perigosa, além de ser irresponsável.

Se mesmo com prescrição e acompanhamento médico ocorrem problemas de variadas origens, imagine o que não poderia ocorrer com a automedicação? Somos livres nas nossas escolhas, mas a liberdade só pode ser plena quando usada com o conhecimento das consequências. E você já escolheu?

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Luis Felipe Baumotte Osorio

por Luis Felipe Baumotte Osorio

Bacharel e Licenciado em Química pela Universidade de Brasília (UnB). Atualmente bolsista CAPES do curso de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Química (PGQu) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

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