Carreira de jogador de futebol, uma profissão peculiar

Educação Física e Esporte

03/12/2013

Quantas vezes ouvimos algum jogador ou qualquer outra pessoa envolvida com o futebol dizer: “futebol é uma área diferente”. E como meros mortais, que acordamos cedo para a luta diária, nos dá certa indignação e vontade de bradar aos quatro ventos..."queria eu ser jogador...".

 

Pensamos logo nos status e mordomias que ser um atleta profissional de sucesso gera, como dinheiro, reconhecimento público, outras facilidades, etc.

 

Mas ao analisarmos todos os lados da questão, podemos entender que ser atleta profissional, e especialmente neste caso, jogador de futebol, é mesmo diferente. A área é diferente da maioria, como trabalhar em hospitais, escritórios, comércios e indústrias.

 

Fora as raras exceções, para se tornar um jogador de futebol, você inicia o processo cedo. Ainda criança ou na adolescência você já está treinando diariamente, investindo tempo e dinheiro, fora o fato de deixar de curtir como a maioria do pessoal da mesma idade.

 

Enquanto todos da faixa etária estão pensando no vestibular, que é somente o início de um processo longo de carreira e que pode ser adiado conforme a necessidade de cada um, para o aspirante a jogador esta faixa de 17 a 20 anos é o limite para se tornar profissional ou não.

 

Imagina a tensão e pressão familiar, dos amigos, empresários, de todos que os cercam. Se tudo der certo, e você se tornar profissional, lutará para estar entre os apenas 20% que recebem mais que 2 salários mínimos, segundo as pesquisas recentes divulgadas.

 

E torcerá fortemente para não se lesionar gravemente, precipitando um término melancólico de carreira. Ainda correrá risco de jogar em clube que não paga o salário em dia, algo corriqueiro nesta área.

Se também passar ileso por isso, ainda terá que se concentrar bastante, deixando a família, filhos, esposa, para ficar enfurnado com o time 2, 3 dias seguidos.



Mas o cenário ainda pode piorar...o grande vilão do jogador de futebol é o tempo. Ele não para!



Um profissional “comum” que inicie a faculdade entre os 17 e 25 anos, deverá terminar o curso entre 22 e 30 anos. Nesta faixa de 30 anos, você é um estagiário, assistente, analista, coordenador ou gerente. Ou seja, está em pleno desenvolvimento de carreira, fazendo planos, especialização e crescendo. Nesta mesma faixa de idade, o jogador já está em decadência física, produtividade geralmente não é a mesma, já é chamado de veterano e sempre sendo questionado se está pensando em parar.



Isso mesmo, enquanto o “profissional comum” está em plena produtividade, na faixa dos 30 anos, o jogador está pensando o que fazer nos próximos 50 anos de vida que o aguarda.



Ele não conseguiu conciliar os estudos com a carreira, com as concentrações, com as mudanças constantes de cidades e país. Não pôde ter preparo técnico e acadêmico e já é “velho” na sua carreira, enquanto todos estão no auge nas outras áreas. Você tem somente cerca de 15 anos para acumular dinheiro suficiente para viver mais 50 ou 60 anos, ou começar uma nova carreira.



Olhando por esse prisma, o jogador tem uma carreira na qual luta contra o tempo, risco diário de lesões, calote dos clubes, salário baixo e falta de boa estrutura. Mesmo assim é chamado de mercenário quando estuda propostas para trocar de clube. Ora, todo profissional deseja bons contratos e condições ideais de trabalho, mas o jogador de futebol não pode??



Ele não só pode como deve, até porque quando e se passar por problemas, nem torcedores nem os clubes o ajudarão. Não assumirão em seu nome os seus compromissos e obrigações financeiras.



E aí, é ou não uma área diferente??