Resposta Termorregulatória ao Exercício Prolongado com Crianças

Descobrir se crianças realmente sofrem mais com os efeitos do calor
Descobrir se crianças realmente sofrem mais com os efeitos do calor

Educação Física e Esporte

18/04/2014

FLAVIA FELIPE GERALDI, RODRIGO VICENTE SILVA. Resposta Termorregulatória ao Exercício Prolongado em Crianças em Ambientes Quentes. Esap – Instituto de Estudos Avançados e Pós-Graduação / Univale – Faculdades Integradas do Vale do Ivaí. Monografia de curso de pós-graduação Lato Sensu em Ciências do Exercício Físico – Treinamento e Personal. Umuarama. 2009.



RESUMO


Nosso organismo age de diversas formas a fim de manter o bom funcionamento das funções vitais; isso se dá pela homeostase. Em lugares onde o clima está com temperatura elevada, ele tende a se adaptar, fazendo com que controle a temperatura interna, para que evite o superaquecimento. Levando isso em consideração, o seguinte trabalho irá abordar esse mecanismo em crianças. Para tanto foi realizado um levantamento bibliográfico, em que os estudos mostram que as crianças tendem a produzir mais calor metabólico do que os adultos por diversos motivos, e quando expostas a ambientes com temperaturas extremamente elevadas durante a prática de exercícios físicos, pode ocorrer um aumento demasiado de sua temperatura interna. Portanto, torna-se de suma importância aos profissionais da educação física entender como ocorre a termorregulação em crianças, para se evitar maiores complicações durante a prática de exercícios físicos.


1. INTRODUÇÃO


O clima subtropical presente na região sul do país caracteriza-se por ser quente e úmido durante grande período do ano. O verão costuma ter temperaturas bem elevadas, além de ser chuvoso em todo o estado. Os termômetros chegam comumente a valores superiores a 35°C no oeste/noroeste. As altas taxas de calor influenciam o funcionamento normal do organismo, que enfrenta dificuldades significativas para se manter em equilíbrio.


Nosso organismo produz uma série de reações fisiológicas visando a homeostase para um perfeito funcionamento. Temperaturas elevadas impõem ações do mecanismo de defesa do organismo buscando a termorregulação, para amenizar o superaquecimento interno. A regulação da temperatura é realizada para que o corpo mantenha constante sua temperatura interna. Essa temperatura interna aumenta se o organismo produzir mais calor do que a perda (POWERS; HOWLEY, 2000). Durante os exercícios físicos, nosso metabolismo é acelerado, o que acarreta mais ainda o aumento da temperatura corporal.


Assim, para que a temperatura corporal não se eleve demasiadamente, faz-se necessário eliminar o calor que é produzido pela prática de exercícios físicos, pois o aquecimento corporal por exercícios juntamente com o calor ambiente pode sobrecarregar o sistema cardiovascular que além de irrigar sangue para a musculatura esquelética, precisa-se de sangue para levar o calor até a pele para provocar a evaporação, principal sistema de controle da temperatura corporal. O ajuste do fluxo de sangue dos órgãos internos para a superfície do corpo (pele) em exercícios em temperatura ambiente elevada representa a capacidade do corpo em perder calor (ROBERGS; ROBERTS, 2002).

Complementando a ideia, Powers; Howley (2000) dizem que quando o corpo precisa perder calor, o sistema circulatório, que armazena muito calor, é ativado para que aumente o fluxo sanguíneo cutâneo e ocorra a dissipação de calor para o ambiente.


Alguns estudos dizem que as crianças produzem mais calor metabólico do que os adultos durante o exercício físico, assim sendo, precisam, também, perder mais calor para evitar o aumento da temperatura interna. Além disso, possuem uma maior facilidade de troca de calor com o meio, pois possuem maior superfície corporal (proporção área/massa) (CAMPOS, 2000). Consequentemente, a perda de calor em ambientes frios e o ganho de calor nos quentes parecem ser mais acelerados em crianças.


Diante de tais afirmações, surge um problema. Será a criança menos tolerante do que o adulto em situações de exercício prolongado em ambientes quentes? O seguinte trabalho tem como hipótese que, ou as crianças produzem mais calor durante o exercício e tem menor capacidade de dissipar calor que um indivíduo adulto, ou que a termorregulação em crianças é tão eficiente quanto nos adultos.



1. 1 OBJETIVOS

1. 1. 1 Geral:



Identificar as diferenças termorregulatórias de crianças durante exercício prolongado em ambientes quentes quando comparadas com indivíduos adultos.



1. 1. 2 Específicos:


• Descobrir se crianças realmente sofrem mais com os efeitos do calor durante exercícios físicos;
• Compreender as peculiaridades do mecanismo de termorregulação infantil.



1. 2 JUSTIFICATIVA

A função do mecanismo de termorregulação é manter uma temperatura ideal, que não comprometa o funcionamento das funções básicas do organismo, para que não haja danos à saúde. A prática de exercícios em ambientes muito quentes promove uma competição entre a pele e os músculos, fazendo o coração trabalhar muito mais para tentar suprir os dois sistemas. Levando em conta que estamos situados em uma região geográfica onde o calor é acentuado, e que, muitas das práticas de atividades físicas realizadas com crianças acontecem em ambientes quentes, pretende-se levar informações, a respeito da termorregulação infantil, aos profissionais de Educação Física que trabalham com este público, para que desempenhem melhor sua prática profissional.
2 METODOLOGIA

Foi realizado um levantamento bibliográfico no período de julho a setembro de 2009, na Biblioteca da Universidade Paranaense, onde foram coletados dados de livros e periódicos que abordavam o tema Termorregulação Corporal. Utilizou-se o banco de dados virtual scielo (www.scielo.org) para busca de artigos utilizando-se os seguintes termos: termorregulação, crianças e calor, tendo como critério de seleção: data de publicação, idioma e material citando a termorregulação corporal. Esse levantamento foi feito de forma exploratória e com análise qualiquantitativa dos dados.




3. REVISÃO DE LITERATURA


3. 1 EQUILÍBRIO TÉRMICO



A resposta termorregulatória pode ser entendida como a maneira cuja qual o corpo se adapta à temperatura do ambiente e ao aumento do metabolismo durante a prática de atividade física. O corpo humano necessita de que a temperatura do corpo se mantenha constante, porém, a prática de qualquer atividade física provoca o aumento da temperatura corpórea. A elevação da temperatura corporal aumenta a velocidade das reações químicas intracelulares, o que resulta em maior liberação de calor pelo organismo (GUYTON; HALL, 1997).


De acordo com Powers; Howley (2000) cerca de 70-80% da energia despendida no exercício físico é representada na forma de calor, e durante um exercício intenso, isso pode resultar numa grande carga ao organismo. Aragón-Vargas et al. (1999) complementam a ideia afirmando que durante o exercício físico, a musculatura produz grande carga de calor que deve ser eliminado para o ambiente, caso contrário pode haver um aumento da temperatura central. McArdle et al. (1998) ainda dizem que a temperatura central corporal normalmente sobe se o ganho de calor ultrapassa a perda, como o que acontece durante um exercício intenso em um ambiente quente e úmido.


Durante a atividade muscular, as reações químicas do metabolismo energético produzem ganhos de calor corporal consideráveis, sendo o metabolismo aumentado até 20 a 25 vezes acima dos níveis de repouso, como concordam Robergs; Roberts (2002) relatando que durante o exercício a temperatura interna sofre alterações devido ao metabolismo, temperatura externa (ambiental) e eficiência do mecanismo de evaporação. E seguindo o mesmo pensamento, Guyton; Hall (1997) relatam que somando o exercício com extremos de temperatura do meio ambiente, a temperatura corporal sofre grande variação, uma vez que os mecanismos termorreguladores não são 100% perfeitos, o que faz com que a temperatura retal possa aumentar para 38,3 a 40ºC quando o corpo produz calor excessivo durante exercícios intensos.

 
O calor resultante do metabolismo é liberado pelos músculos esqueléticos ativos e levado do centro do corpo para a superfície (CARTER III et al., 2007). Enfatizando, Nadel (1998) diz que grande parte do calor resultante do trabalho dos músculos esqueléticos é transferida para o organismo pela circulação venosa, fazendo a temperatura interna se elevar, promovendo reflexos para que ocorra um aumento da transferência do calor interno para a pele e consequentemente, para o meio ambiente. Ou seja, quando há aumento do calor interno, o sangue aquecido vai para a periferia, onde os vasos se dilatam, induzindo um equilíbrio térmico através de um aumento da taxa de sudorese. A maior parte da produção de calor no organismo ocorre nos órgãos, principalmente fígado, cérebro, coração e músculos esqueléticos durante a prática de atividades físicas. Esse calor é direcionado dos órgãos e tecidos mais profundos para a periferia. Como resultado, a intensidade do resfriamento corporal é determinada praticamente por dois fatores (1) velocidade de transmissão de calor do centro do corpo para a pele e (2) velocidade com que o calor é perdido da pele para o meio (GUYTON; HALL, 1997).


O elevado calor latente de evaporação da água faz da sudorese um ótimo processo de perda de calor, especialmente em ambiente seco, diz Braz (2005). Aragón-Vargas et al. (1999) explicam que a sudorese é uma resposta fisiológica que, através da secreção de água na pele para a evaporação, tem a função de limitar o aumento da temperatura interna, tentando dissipar eficientemente o excesso de calor para o ambiente. McArdle et al. (1998) ainda menciona que o sangue aquecido é direcionado para a periferia mais fria, através da dilatação dos vasos periféricos, se o calor interno se torna excessivo, podendo produzir 3,5 litros de suor por hora em ambiente quente durante o exercício. Robergs; Roberts (2002) ainda complementam dizendo que o aumento da transpiração e do fluxo sanguíneo para a pele é proveniente do aumento da produção de calor durante o exercício, podendo ocorrer desidratação (2 a 3 litros de suor por hora) se realizado em ambientes quentes e úmidos.


De acordo com Braz (2005), as temperaturas central e a do hipotálamo são muito próximas. O hipotálamo é o responsável pela regulação da temperatura (cerca de 37ºC+- 1ºC), sendo ativado por receptores térmicos na pele e por modificação de temperatura do sangue próximo a ele. As alterações da temperatura ambiental são captadas pelos receptores térmicos cutâneos que transmitem a informação sensorial ao hipotálamo e ao córtex, desencadeando reações fisiológicas para a dissipação ou conservação do calor (MCARDLE et al., 1998). Ele funciona aumentando a perda de calor quando a temperatura interna aumenta e vice-versa. É o hipotálamo que estimula as glândulas sudoríparas e inibe o tônus vasoconstritor normal da pele, aumentando o fluxo sanguíneo cutâneo, para que ocorra a perda de calor por evaporação, complementa Powers; Howley (2000). Reforçando ainda mais, Guyton; Hall (1997) dizem que a grande eficiência na condução de calor interno para a pele é resultante da alta velocidade do fluxo sanguíneo.
3. 2 PERDA DE CALOR


O corpo absorve calor de radiação solar e de objetos mais quentes que ele. Inversamente, o calor deixa o corpo pelos mecanismos de radiação, condução, convecção e vaporização (evaporação), tais como explicados abaixo:

I - Radiação: Normalmente o ser humano emite calor para o meio ambiente, porém, em dias quentes, essa permuta torna-se inversa e o corpo absorve energia térmica radiante quando a temperatura ambiente ultrapassa a temperatura da pele.


II - Condução: Segundo McArdle et al. (1998) é a transferência direta de calor de uma molécula para outra. Uma pequena quantidade de calor movimenta-se por condução dos tecidos corporais profundos para a superfície que é mais fria, envolvendo o aquecimento do ar e superfícies mais frias que têm contato com a pele.


III - Convecção: O calor é transmitido para as moléculas do ar ou água que estão em contato com o corpo. É o movimento de gás ou líquido que retira o calor de uma região ao se distanciarem da fonte de calor. Sua eficácia depende da velocidade com que o ar (ou água) próximo ao corpo é trocado após ter sido aquecido.


IV - Evaporação:
É a principal forma de troca de calor durante o exercício. Segundo Powers; Howley (2000) o sistema nervoso estimula as glândulas sudoríparas a secretar suor sobre a pele quando a temperatura corporal aumenta demasiadamente. A evaporação do suor faz com que o calor seja perdido para o meio ambiente reduzindo a temperatura da pele. McArdle et al. (1998) ainda diz que o calor passa ininterruptamente para o ambiente a partir da vaporização da água das vias respiratórias e da superfície cutânea. Ocorre um esfriamento na pele conforme o suor evapora e, em seguida, a pele esfriada esfria o sangue que foi deslocado para a superfície, e assim, o sangue periférico esfriado retorna para captar mais calor nos tecidos mais profundos.


Ou seja, a água vaporizada pelas vias respiratórias e pele transfere continuamente calor; as glândulas sudoríparas secretam grande quantidade de suor, e sua evaporação exerce o efeito de esfriamento. Assim, a pele esfriada resfria o sangue desviado dos tecidos internos para a superfície.


O calor resultante do metabolismo durante o exercício é perdido para o ambiente através da pele por convecção, radiação e evaporação. Essa dissipação do calor por convecção e radiação é mínima quando o indivíduo se encontra em ambientes quentes, e o excesso de calor é dissipado pela evaporação do suor, caso contrário, haverá um aumento brusco da temperatura central como explica Guyton; Hall (1997) ao dizer que enquanto a temperatura da pele estiver mais elevada que a do meio ambiente haverá dissipação de calor por radiação e por condução. Porém, se a temperatura do ambiente ultrapassar a da pele, o corpo ganhará calor por radiação e condução e, a única forma que o organismo encontra para a liberação de calor é por evaporação. Assim, qualquer fator que limite a evaporação eficaz, provocará uma elevação da temperatura corporal.


As altas temperaturas do ar e alta umidade, a baixa movimentação do ar próximo à pele, as radiações solar e de superfícies quentes comprometem a dissipação do calor da pele para o meio ambiente, afirma Carter III et al. (2007). A evaporação passa a representar um papel mínimo na perda de calor, quando se soma a alta umidade ao ambiente quente, podendo ocorrer uma hipertermia progressiva, sugere Nadel (1998). Da mesma forma, McArdle et al. (1998) acredita que quando há aumento da temperatura ambiente, a evaporação proporciona o único meio de dissipar o calor, pois o corpo passa a ganhar calor por condução, convecção e radiação.


Consequentemente, o ritmo de transpiração aumenta proporcionalmente ao aumento do calor e ainda complementa dizendo que em ambientes com temperaturas elevadas, o fator mais importante na determinação da taxa da perda de calor por evaporação é a umidade. Se ela estiver elevada, a taxa de evaporação é reduzida, pois a pressão do vapor ambiente e a da pele úmida se aproximam, porém a transpiração continua e forma gotas sobre a pele, e o suor apenas não esfria a pele, e assim também explica Nadel (1998) ao dizer que se a umidade relativa do ar está elevada, consequentemente a pressão do vapor de água do ambiente será pequena, diminuindo a taxa de evaporação. Powers; Howley (2000) concordam afirmando que a umidade relativa próxima de 100% limita a evaporação, sendo o resfriamento através desta mais efetivo em ambiente com baixa umidade.
Em suma, exercícios em ambiente quente e úmido reduzem a capacidade de o corpo perder calor por radiação, convecção e evaporação, o que acarreta um aumento da temperatura central e da transpiração, se comparado ao mesmo exercício em um ambiente moderado. Além disso, Robergs; Roberts (2002) complementam a ideia ao afirmar que a combinação ‘calor pelo exercício e estresse térmico’ pelo meio ambiente pode causar hipertermia, com consequências como complicações cardiovasculares, do sistema nervoso central e do sistema motor e até a morte. Durante um dia muito quente e úmido, o praticante de atividade física pode facilmente desenvolver uma condição denominada intermação (hipertemia), quando ocorre a elevação da temperatura pelo interior do organismo, e o mecanismo da sudorese não consegue eliminar o calor. Se a essas condições somar-se o excesso de roupas, a temperatura corporal pode facilmente atingir 41ºC a 42ºC, podendo destruir células teciduais, como as do cérebro, surgindo sintomas como fraqueza, exaustão, cefaleia, tontura, náuseas, sudorese profunda, confusão, marcha cambaleante, colapso e inconsciência (GUYTON; HALL, 1997).


3. 3 EXERCÍCIOS NO CALOR


Um dos riscos trazidos por temperaturas extremamente elevadas é o chamado estresse pelo calor. É uma situação que pode produzir graves danos ao organismo humano a partir do momento que vários órgãos deixam de funcionar corretamente sob estas elevadas temperaturas do corpo.


A prática de exercícios físicos em ambientes quentes provoca alterações no sistema cardiovascular, tais como a competição pelo suprimento de sangue entre a pele e os músculos ativos, diminuição no débito cardíaco e aumento da frequência cardíaca.


Para McArdle et al. (1998), quando se pratica exercícios físicos em climas quentes, o sistema cardiovascular se divide em duas funções: levar oxigênio para o metabolismo energético muscular, ao mesmo tempo em que transporta o calor metabólico resultante do exercício, dos tecidos profundos para a periferia. Além disso, o volume de ejeção é geralmente mais baixo no calor, fazendo a frequência cardíaca aumentar; já o débito cardíaco máximo e o VO2 máx. reduzem.


Outra reação do organismo ante ao estresse térmico é a desidratação que pode dificultar a perda de calor e prejudicar a função cardiovascular. Várias horas de intensa transpiração podem exaurir as glândulas sudoríparas incapacitando a regulação da temperatura. Além disso, conforme a desidratação aumenta, o volume de plasma é reduzido, o que faz com que o fluxo de sangue na periferia e a velocidade de transpiração diminuam, dificultando a termorregulação. Somando-se a isso, a desidratação pode acarretar a elevação da frequência cardíaca, reduzir o VO2máx. e a capacidade de se exercitar. A frequência cardíaca sobe devido à redução do volume central de sangue, e consequente queda no volume de ejeção. Muitas vezes essa queda não é compensada com um aumento proporcional da frequência cardíaca, reduzindo o débito cardíaco e a pressão arterial (MCARDLE et al.,1998).


González-Alonso (apud Aragón-Vargas et al., 1999) concorda explicando que a desidratação juntamente com estresse pelo calor prejudica o desempenho físico, pois o sistema cardiovascular é impossibilitado de manter o mesmo débito cardíaco. A queda do débito cardíaco é resultante da redução do volume de ejeção, devido à diminuição do volume sanguíneo e do volume ventricular diastólico para um patamar não balanceado pelo aumento da frequência cardíaca, complementa Coyle (apud Aragón-Vargas et al.,1999).
3. 4 TERMORREGULAÇÃO PEDIÁTRICA


Em geral, acredita-se que a criança seja menos tolerante do que o adulto em situações de exercícios realizados em ambientes quentes (ROWLAND, 2008). Tal fato é explicado por Campos (2000) ao afirmar que, durante o exercício físico, crianças produzem mais calor, resultante do metabolismo, do que os adultos, considerando, inclusive, as diferenças de massa corporal. Assim, para evitar que a temperatura interna aumente demasiadamente, a criança precisa perder mais calor corporal enquanto se exercita. Isso é, também, o que sugere Rowland (2008), dizendo que durante o exercício, crianças produzem mais calor em relação à sua massa corporal do que os adultos, porém isso é compensado, pois possuem uma maior área de superfície corporal relativa, perdendo mais facilmente calor para o ambiente. No entanto, isso pode ser prejudicial em ambientes com temperaturas muito elevadas, uma vez que uma maior área de superfície corporal relativa facilita também o ganho de calor.


De acordo com Rowland (2007), alguns estudos consideram a termorregulação infantil menos efetiva do que a de adultos, sendo menos tolerante em exercícios em ambientes quentes, devido a alguns fatores, tais como, maior área de superfície corporal relacionada à massa, maior demanda metabólica relacionada à massa corporal, baixa aclimatização ao calor, e uma redução do rendimento cardíaco em certa taxa metabólica comparada aos adultos. Sugere-se que a maior área de superfície corporal relacionada à massa seja desvantajosa em condições climáticas muito quentes, quando a temperatura ambiente ultrapassa a da pele, favorecendo a absorção do calor ambiente para o corpo.


McArdle et al. (1998) também afirma que as crianças tem uma relação bastante grande entre a área superficial e a massa (peso/volume), ou seja, uma maior superfície externa por unidade de peso corporal, o que faz com que elas tendam a sofrer esfriamento mais rapidamente que os adultos durante o estresse pelo calor. Ou melhor, dizendo, em virtude de uma área de superfície corporal relativamente maior que a dos adultos, a criança perde calor por convecção com maior eficiência, porém, em temperaturas muito altas, o quadro se inverte (Rowland, 2008).


“A velocidade de troca de calor com o meio é maior nas crianças do que em adultos, uma vez que possuem maior superfície corporal por unidade de massa corporal. Assim sendo, não só a perda de calor em ambientes frios, mas também o ganho de calor em climas muito quentes são mais acelerados em crianças, aumentando o risco de complicações.” (LAZZOLI, et al., 1998).


Acrescentando, McArdle et al. (1998) diz que mesmo possuindo maior número de glândulas sudoríparas ativadas pelo calor por unidade de área cutânea, durante o estresse térmico pelo calor, crianças costumam apresentar menor ritmo de transpiração e uma temperatura central mais elevada do que os adultos. Rowland (2008) explica que meninos em idade pré-púbere dependem mais da perda de calor por convecção na pele, uma vez que, apresentam uma taxa de suor com o exercício mais baixa do que a dos homens, e precisam manter a estabilidade térmica durante o exercício.


Campos (2000) ainda acrescenta que quando comparadas aos adultos, as glândulas sudoríparas, nas crianças, formam suor numa taxa menor e são menos vulneráveis às variações da temperatura corporal. A criança tem o início da sudorese mais tardiamente (em maiores taxas de trabalho relativo que o adulto) e a mesma ocorre em menor quantidade. Seguindo tal pensamento, Bar-Or (apud Aragón-Vargas et al., 1999) diz que as crianças têm menor taxa de sudorese por área de superfície corporal e por glândula sudorípara, o que gera maior aumento da temperatura interna conforme ocorre a desidratação. Tais características das crianças devem resultar em fadiga precoce e inferioridade na termorregulação em ambientes excessivamente quentes (ROWLAND, 2008).
Ou seja, ao se exercitar em temperatura alta, a criança tem mais dificuldade de dissipar o calor através de evaporação, sendo a convecção e a radiação mais facilitadas, devido à maior vasodilatação periférica (CAMPOS, 2000), porém, se a mesma estiver se exercitando em um ambiente muito quente, passa a ganhar calor por convecção e radiação, o que interfere negativamente na termorregulação, como explica Rowland (2008) citando que o equilíbrio térmico para crianças é difícil de ser mantido em altas temperaturas, pois elas suam menos e dependem de uma perda de calor por convecção pouco eficiente, uma vez que a área de superfície corporal relativa à massa corporal nas crianças é maior, fazendo com que o fluxo de calor se direcione ao corpo, e não o inverso. Como consequência, a criança tende a ter prejuízo no desempenho e no mecanismo de termorregulação, pois sente menos sede que o indivíduo adulto, o que gera desidratação e redução da volemia (LAZZOLI et al., 1998).


“O efeito mais sério da prática de exercícios em ambientes quentes ocorre devido a uma hipovolemia progressiva (um volume sanguíneo abaixo do normal), acompanhado de uma desidratação.” (Nadel, 1998)


E assim também conclui Sinclair (2007), dizendo que as respostas termorregulatórias das crianças diferem das dos adultos por diversas adaptações morfológicas e fisiológicas que acontecem durante o crescimento e maturação. Quando a temperatura ambiente ultrapassa a da pele, crianças pré-púberes são sujeitas a um influxo de energia térmica, do ambiente para o corpo, estando em desvantagem quando se exercitam em ambientes quentes e úmidos. Além disso, as crianças podem precisar de maior tempo para a aclimatação ao calor e redução do nível de exercícios, em comparação com os adultos (MCARDLE et al., 1998).



4. CONCLUSÃO



Quando comparadas aos adultos, as crianças produzem mais calor metabólico durante o exercício e possuem uma área de superfície corporal relativamente maior (CAMPOS, 2000; ROWLAND, 2008). O fato de possuírem uma maior relação entre a área superficial e a massa faz com que percam calor mais eficientemente, porém, inversamente, também absorvam calor mais rapidamente em ambientes com temperaturas muito altas (LAZZOLI, 1998; MCARDLE, 1998; ROWLAND, 2008). Além disso, durante o estresse pelo calor, as crianças costumam transpirar em menor taxa que indivíduos adultos, fazendo com que sua temperatura interna também aumente em maior proporção (MCARDLE, 1998; ROWLAND, 2008; CAMPOS, 2000; BAR-OR, apud ARAGÓN-VARGAS et al., 1999).


Consequentemente, o excesso de calor ambiental somado a maior produção de calor metabólico nas crianças, faz com que sua temperatura interna aumente demasiadamente, e este calor precisa ser dissipado para que não ocorra nenhuma complicação maior. Porém, o fato de transpirarem menos que os adultos dificulta o esfriamento por evaporação, e as temperaturas muito elevada induzem as crianças a ganharem calor do ambiente, já que possuem maior área de superfície corporal relativa.


Dessa forma, pode-se concluir que as crianças são menos tolerantes ao calor do que os adultos, quando expostas a ambientes com temperaturas extremamente quentes durante a prática de exercícios físicos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


CAMPOS, Maurício de Arruda., Musculação: Diabéticos, Osteoporóticos, Idosos, Crianças, Obesos. Rio de Janeiro: Editora Sprint, 2000, 169 p.


MCARDLE, Willian D. et al., Fisiologia do Exercício: Energia, Nutrição e Desempenho Humano. 4ª Ed. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan S. A., 1998.


ROBERGS, Robert A. e ROBERTS, Scott O., Princípios Fundamentais de Fisiologia do Exercício para Aptidão, Desempenho e Saúde. São Paulo: Phorte Editora, 2002, 489 p.


POWERS, Scott. K. e HOWLEY Edward. T., Fisiologia do Exercício: Teoria e Aplicação ao Condicionamento e ao Desempenho. 3ª Ed. São Paulo: Editora Manole, 2000, 505 p.


ROWLAND, Thomas W., Fisiologia do Exercício na Criança. Tradução: Maria Salete Tilelli. Barueri, São Paulo: Editora Manole, 2008. 295 p.


GUYTON, A. C. e HALL, J. E., Tratado de Fisiologia Médica. 9ª Ed. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan S. A., 1997, 864 p.


LAZZOLI, José Kawazoe et al., Atividade física e saúde na infância e adolescência. Revista Brasileira de Medicina do Esporte. Vol. 4, N. 4 – Jul/Ago, 1998.


ARAGÓN-VARGAS L. F. et al. Atividade Física no Calor: RegulaçãoTérmica e Hidratação. Documento Suplementar de Apoio ao Consenso, Cidade do México, Fevereiro 1999. Gatorade Sports Science Institute / Brasil, São Paulo, 2001.


BRAZ, José Reinaldo Cerqueira. Fisiologia da termorregulação normal. Revista Neurociências. Vol.13, N. 3 – Jul/Set, 2005.


NADEL, Ethan. R. Limitações impostas pela prática de exercícios em ambientes quentes. Gatorade Sports Science Exchange. Gatorade Sports Science Institute / Brasil, São Paulo, Nº 19 – Set/Out, 1998.


CARTER III, Robert. et al. Doenças Provocadas pelo Calor. Gatorade Sports Science Exchange. Gatorade Sports Science Institute / Brasil. Nº 51 – Out/Nov/Dez, 2007.


ROWLAND, Thomas. Thermoregulation During Exercise in the Heat in Children:
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SINCLAIR, Wade H. et al. Pre-pubertal children and exercise in hot and humid environments: A brief review. Journal of Sports Science and Medicine. Townsville, Australia. N 6, p. 385-392, 2007.

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Flavia Felipe Geraldi Homem

por Flavia Felipe Geraldi Homem

Formação em Educação Física (Licenciatura Plena)- Universidade Paranaense 2008 Especializada em Ciências do Exercício Físico , Treinamento e Personal - Esap - Instituto de Estudos Avançados e Pós-Graduação / Univale - Faculdades Integradas do Vale do Ivaí

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