12/10/2014
Se pensarmos de uma forma antropológica, o ser humano vive constantemente carente de novas motivações. Nossas relações; sejam afetivas, profissionais ou meramente casuais são mantidas e motivadas por estímulos. Ao visualizar esta perspectiva dentro das salas de musculação, visualizamos ainda certa pobreza na forma de visualizar estes estímulos.
Muito se discute nas faculdades sobre os princípios e variáveis do treinamento esportivo, sobre técnicas biomecânicas, porém no momento de promover as alterações nos treinos, a maior parte dos profissionais ainda se sente presos ao aumento da carga como única forma de evoluir o “ganho” muscular.
Vamos voltar ao início... Desde sempre sabemos que o corpo humano é uma máquina incomparável, capaz de se adaptar a estímulos estressores. De uma maneira bem didática, a partir do momento que você começa a colocar carga em um determinado músculo, gerando micro lesões no tecido muscular, seu organismo começa a agir de tal forma que seu músculo se adapte ficando mais forte para que na próxima sessão de treinamento e você não sofra mais com a sobrecarga daquele exercício. Porém quando damos uma continuidade muito prolongada em uma sessão de treinamento, a tendência é gerar uma estabilização do desempenho (aquela fase em que você não vê mais resultado). Isto também ocorre quando o estímulo alterado é apenas o peso a ser erguido.
A evolução do treinamento físico no Brasil passa muito pelas lendas das escolas de Educação Física do Exército. Um dos trabalhos mais lembrados destas instituições era a montagem de um programa de treinamento que contemplasse um número absurdo de exercícios, como por exemplo, duzentos. Invariavelmente, estes trabalhos tornavam-se relativamente simples por uma mera combinação de alguns poucos exercícios somados e uma pequena (quase imperceptível) variação postural ou tempo de execução, lembrando a todos que cada exercício gera um ganho único, diferenciado. Após isso, temos ao final da década de 70 a obra prima criada por Manoel Tubino, “Metodologia Científica do Treinamento Desportivo”, onde a base de um treinamento com alterações constantes periodizadas e com estimulações diferentes finalmente encontrava seus alicerces.
Nos dias atuais, só para citar tipos diferentes de treinos, falemos sobre duas formas diferentes de estimular os músculos. O chamado treinamento Tensional se caracteriza pelo uso de cargas elevadas, intervalos maiores e com menos repetições em cada série. Quando trabalhamos com altas cargas, o aluno não conseguirá realizar muitas repetições. Porém, a tensão muscular é muito grande. Isso significa que esse tipo de estímulo faz com que a força máxima seja aumentada. Devemos destacar que o estímulo tensional (cargas elevadas) não tem uma influência direta no processo hipertrófico. Porém, músculos mais fortes conseguem trabalhar, posteriormente, mais repetições de forma intensa. Quando realizamos uma sessão de treinamento Tensional, o descanso deve obrigatoriamente ser elevado, porque precisamos restaurar as reservas energéticas para uma próxima série. Dependendo do período de treino e nível do praticante, os intervalos nesse tipo de proposta podem chegar a 5 minutos. Esse intervalo longo se faz necessário porque, como as cargas são realmente muito elevadas, devemos descansar para que haja recuperação quase que completa das reservas energéticas, pois, sem isso, não será possível executar uma série com a carga necessária.
Já o denominado treinamento Metabólico se caracteriza pelo uso de cargas menores (quando comparamos com o treino Tensional), intervalos mais curtos, e com mais séries e repetições. Porém, a carga usada é apenas é apenas um pouco menor que a usada no treinamento Tensional. Nestes, trabalhamos com mais repetições. Isso porque, quanto mais repetições, maior será a tensão muscular. Isso significa que maiores serão as chances de abalo muscular - favorecendo o processo de reparação tecidual e, consequentemente, aumento de secção muscular. Nos treinos Metabólicos, os intervalos são bem menores (ficam entre 30 segundos a 1 minuto). Isso se deve ao fato de que, quando realiza uma série com carga significativa, mas com um tempo limitado de recuperação, o praticante irá iniciar uma nova série com limitação energética, desencadeando um estímulo para que o músculo estriado seja capaz de aumentar suas reservas energéticas (reserva de ATP / Glicogênio / Creatina), aumento da vascularização, entre outros aspectos. E isso favorece o crescimento muscular (aumento da secção transversa).
Aumentar a intensidade do treinamento pode ser a primeira coisa a se fazer para que um maior (ou diferente) estímulo seja colocado. O aumento das cargas, a realização do treino sempre em repetições máximas, o respeito pelos intervalos entre as séries e principalmente a realização do exercício com a melhor execução possível é de suma importância para se chegar a um resultado harmonioso e pleno. Então quando uma melhora na intensidade for alcançada o volume (quantidade) poderá ser aumentado através do aumento do número de exercícios, diminuição dos intervalos, aumento do número de séries bem como o aumento na frequência semanal. É fato que existe uma interdependência entre volume e intensidade, portanto lembre-se que quanto maior for um deles, menor será o outro, então tome cuidado com treinos com alto volume porque a intensidade pode ficar prejudicada e intensidade é um fator crucial para quem busca resultados consistentes.
Por isso, relembro a todos que peso, número de séries, velocidade de execução, número de exercícios, tempo de treinamento por dia, frequência semanal, tipos de exercícios a serem utilizados são apenas algumas variáveis que podem ser manipuladas de acordo com as fases de treinamento, aptidão física e características físicas de cada praticante, a fim de obter melhores resultados e deixar do lado de fora da sala de musculação a maior inimiga do pleno desenvolvimento: a monotonia. Bons e variados treinos a todos!
*Publicado na Revista Flex & Fitness número 2, 2014
Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.
Professor com Licenciatura plena em Educação Física pelo IPA-RS, Mestre em Ciências Aplicadas a la Actividad Física e el Deporte pela Universidad de Córdoba (Espanha), Especialista em Cinesiologia pela UFRGS, filiado a IFBB, filiado a Federação Esportiva de Levantamento de Peso do RS (FELP-RS), Coordenador Pedagógico do Centro Estadual de Treinamento Esportivo do RS (CETE-RS).
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