Exercício Físico Infantil: A Relação Entre O Jogo E A Criança

Os participantes procuram a melhor maneira de organizar a sua equipe para conseguir vencer o jogo.
Os participantes procuram a melhor maneira de organizar a sua equipe para conseguir vencer o jogo.

Educação Física e Esporte

06/05/2015

Quando pensamos em uma situação real de jogo, podemos observar diversos processos e interações complexas ocorrendo. Num jogo infantil, verificamos em um primeiro momento a organização inicial do grupo e esta configuração vai se modificando e se compondo à medida que as necessidades individuais e do grupo vão aparecendo.
A palavra "jogo" não é um conceito científico "stricto sensu". É possível que por isso mesmo alguns pesquisadores procurassem encontrar algo de comum entre as ações mais diversas e de diferentes aspectos denominadas com a palavra jogo.
Huizinga (1980) enxerga o jogo como elemento da cultura humana. Aliás, levando esta visão ao extremo, ele propõe que o jogo é anterior à cultura, visto que esta pressupõe a existência da sociedade humana, enquanto que os jogos são praticados mesmo por animais.
“A existência do jogo não está ligada a qualquer grau determinado de
civilização ou a qualquer concepção do universo”. (HUIZINGA, 1980).
Algumas regras são colocadas e as crianças têm a necessidade de se organizarem de acordo com elas, mas isto não irá determinar especificamente a disposição das crianças dentro da quadra e assim o grupo interage através de um processo de aprendizagem.
Com o decorrer da brincadeira, entretanto, alguma ordem poderá ser estabelecida. Os participantes procuram a melhor maneira de organizar a sua equipe para conseguir vencer o jogo. O estudo do jogo tem sido abordado por diversas áreas. Teóricos da psicologia e educação física procuram cada vez mais utilizar o jogo para observar as mudanças no comportamento de crianças.
A análise do jogo comporta vários níveis: biomecânico, fisiológico, social, cultural, afetivo e cognitivo. Devido à sua complexidade devemos analisar o jogo por diferentes prismas.
De acordo com Debrun (1996), se partirmos de um organismo humano, que visa consciente ou inconscientemente a se reestruturar para enfrentar desafios, ou seja, passar de determinado nível de complexidade (corporal, intelectual, existencial) para um nível de complexidade maior, poderemos observar processos de aprendizagem auto-organizada.
A auto-organização é, portanto, uma propriedade importante a ser explorada dentro deste novo paradigma, desde que estamos falando em sistemas complexos, em constante mudança.
É na própria fascinação, na intensidade e paixão que residem as características fundamentais do jogo. Aparentemente descartável, torna-se necessidade imperativa quando o prazer por ele provocado cria essa necessidade. Com elementos estéticos a ele relacionados.
As maneiras como as crianças se organizam durante um jogo e estabelecem relações podem representar, de fato, um fenômeno de aprendizagem não dirigida. O objetivo deste estudo foi o de analisar o processo de auto-organização, emergente em um grupo de crianças durante o jogo da queimada.
Dessa forma, sendo elemento de cultura, retransmissor e ao mesmo tempo recriador desta e principalmente, encerrando em si mesmo sua significação, Huizinga coloca o jogo acima do racional e mensurável; coloca-o como função da cultura, do mais primitivo ao mais sofisticado grau.
As atividades lúdicas são fundamentais para o desenvolvimento da criança de forma social e emocional. A construção do jogo e a função clara de cada um nele faz com que a criança ou adolescente se sinta incluído em um grupo, fazendo que este melhore a autoestima e confiança no desenvolvimento de habilidades, respeitando sempre os limites individuais.
Introduzir e integrar o aluno às atividades lúdicas possibilitará uma integração que possibilitará o usufruto da cultura corporal de movimento que deve ser plena, além de afetiva, social, cognitiva e motora. Para isso, não basta aprender habilidades motoras e desenvolver capacidades físicas, aprendizagem esta necessária, mas não suficiente.
Se o aluno aprende os fundamentos técnicos e táticos de um esporte coletivo, precisa também aprender a organizar-se socialmente para praticá-lo, precisa compreender as regras como um elemento que torna o jogo possível, aprender a respeitar o adversário como um companheiro e não um inimigo, pois sem ele não há competição esportiva.
Preparar a criança para a prática de atividades lúdicas e esportivas é muito complexo, pois é necessário despertar uma visão crítica do sistema esportivo profissional. É necessário fornecer informações políticas, históricas e sociais para que ele possa analisar criticamente a violência, o doping, os interesses políticos e econômicos no esporte.
É preciso preparar o cidadão que vai aderir aos programas de exercícios. Num processo de longo prazo devem ser despertados motivos e sentidos para práticas corporais, favorecer o desenvolvimento de atitudes positivas para com elas, levar à aprendizagem de comportamentos adequados à sua prática, levar ao conhecimento, compreensão e análise de seu intelecto os dados científicos e filosóficos relacionados à cultura corporal de movimento.
É preciso levar em conta que atividade corporal é um elemento fundamental da vida e que uma adequada e diversificada estimulação psicomotora guarda estreitas relações com o desenvolvimento cognitivo, afetivo e social da criança.

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Colunista Portal - Educação

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