LAZER: Pressupostos teóricos

O lazer é fundamental para a vida social
O lazer é fundamental para a vida social

Educação Física e Esporte

03/06/2015

O lazer é fundamental para a vida social dos seres humanos. Apesar de poucas pessoas conhecerem o real significado dessa palavra, o lazer é um direito constitucional por que é considerado essencial e, por ser essencial, deveria ser oportunizado a todos o usufruto desse direito. Etimologicamente a palavra lazer provém do verbo francês loisir, que tem origem por sua vez, na forma infinitiva latina de licere, que significa o que é permitido. O francês loisir deu origem à expressão inglesa leisur, que se utiliza tecnicamente para significar tempo livre. (DUMAZEDIER, 1979).


De acordo com alguns estudiosos, o lazer apresenta conceitos diferenciados. No dicionário Aurélio (2002) a palavra designa a atividade que se prática no tempo livre. Apesar do que se pensa, o lazer não é uma palavra de fácil definição devida a sua polissemia, existindo várias formas de interpretá-lo. Cada autor apresenta seu ponto de vista para a formulação de um conceito consolidado ou definição, tentando diminuir as ambiguidades e mostrando que é fácil vivenciar o lazer, porém, é difícil defini-lo.


Os conceitos estabelecidos neste trabalho estão de acordo com esses autores. A professora Cristiane Gomes, a qual embasará todo o contexto histórico do lazer; o sociólogo francês JoffreDumazedier; o professor Nelson Carvalho Marcellino e o professor Vitor Andrade de Melo, todos estes autores consolidados e de referência que estuda a temática do lazer. Estes autores contribuirão nas definições mais atuais e aceitas no meio acadêmico.


O surgimento do lazer é ainda uma questão polêmica entre os teóricos do campo. De acordo com Gomes (2003) existem duas correntes que dividem as opiniões sobre a sistematização do surgimento do lazer. Na primeira corrente estão os autores que consideram que o lazer existia nas sociedades mais antigas e que sempre existiu (DE GRAZIA, 1966; MUNNÉ, 1980; MEDEIROS, 1975). Do lado oposto, os autores que consideram o lazer como um fenômeno moderno, das sociedades urbano-industriais (DUMAZEDIER, 1979; MARCELLINO, 1983; MELO; ALVES JUNIOR, 2003;).


No histórico do lazer há todo um contexto cultural, social e urbanístico de configuração do lócus à qual ele é inserido, principalmente nas cidades, desde a antiguidade. O lazer não pode ser interpretado como um fator exclusivo da modernidade, datada no começo da Revolução Industrial do Século XVIII, mas um fenômeno que sempre acompanhou a humanidade deste os primórdios.


Para alguns autores essa especulação do lazer está ligada em virtude das transformações decorrentes dos processos de industrialização, que levaria à rígida e nítida delimitação do trabalho, o qual passou a ser classificado em tempo de trabalho e em tempo de não trabalho, sendo este último considerado também como tempo livre, ou seja, o tempo onde o lazer estaria inserido.


Gomes (2004) procura analisar os diversos sentidos atribuídos às palavras e conceitos associados a lazer como SCHOLE, OTIUM e LICERE – da Antiguidade Clássica à Modernidade, tendo como ponto de partida o modo de vida e as ideias construídas na Grécia Antiga.


Nas sociedades mais antigas há elementos históricos para pensarmos a existência do lazer nesses períodos
: as olimpíadas, as competições, as encenações poéticas na Grécia; os banhos, os banquetes, as festas, as representações teatrais, as corridas de carros e os combates de gladiadores em Roma; e os feriados religiosos, os jogos, os cantos, as festas, as comemorações e os carnavais na Idade Média, onde o “Sagrado (sério e oficial)” e “Profano (cômico e risonho)” se encontravam.

Para Gomes (2004), o surgimento do lazer pode ser muito amarrada à origem histórica de palavras relacionadas ao lazer e seus significados (otium, schole, licere) e isso estaria dificultando e até mesmo impedindo, de certa forma, uma análise mais densa sobre o passado do lazer.


Todo embasamento de Gomes nos mostra o lazer na linha da história, acompanhado as terminologias até adquirir sua posição atual.


Partimos para conceitos formulados pelos autores da segunda linha de pesquisa do lazer, que são JoffreDumazedier, Vitor Andrade de Melo, Edmundo de Drummond Alves Junior e Nelson Marcellino.


O conceito do sociólogo JoffreDumazedier é um dos mais requisitado no meio acadêmico para definir o lazer.



O lazer é o conjunto de ocupações às quais o indivíduo pode entregar-se de livre vontade, seja para repousar, seja para divertir-se, recrear-se e entreter-se ou, ainda, para desenvolver sua informação ou formação desinteressada, sua participação social voluntária ou sua livre capacidade criadora após livrar-se ou desembaraçar-se das obrigações profissionais, familiares e sociais. (DUMAZEDIER, 2000, p.34).


No conceito de Dumazedier ele destaca as três funções do lazer: descanso, divertimento/recreação e entretenimento; e de desenvolvimento. “O descanso libera-se da fadiga. Neste sentido o lazer é o reparador das deteriorações físicas e nervosas provocadas pelas tensões resultantes das obrigações cotidianas e, particularmente, do trabalho”. (DUMAZEDIER, 2000, p. 32).


Ele coloca o descanso como uma forma de liberar as tensões do dia a dia, assim o indivíduo volta renovado para a sua jornada de trabalho. Seria uma forma de lazer que revigora e prepara o dia a dia da cidade.


A segunda função, do divertimento, recreação e entretenimento é vista ligada ao tédio, à vida cotidiana. A sua postura quanto a isso é de o trabalhador fica sempre naquela rotina do dia a dia da cidade, sem experimentar lugares novos, atividades novas, enfim, sem novas experiências.


Daí a busca de uma vida de complementações, de compensação e de fuga por meio de divertimento e evasão para um mundo diferente, e mesmo diverso, do enfrentado todos os dias. A ruptura poderá levar a atividades reais, baseadas em mudanças de lugar, ritmo e estilo (viagens, jogos e esportes) ou então a recorrer a atividades fictícias, com base na identificação e na projeção (cinema, teatro, romance, […]). (DUMAZEDIER, 2000, p. 33).
A terceira função é o desenvolvimento que trata da ação praticada pelo corpo, uma maior participação social e mais livre. Praticar o desenvolvimento da personalidade, as atividades que os indivíduos praticam por ser do seu gosto, por livre e espontânea vontade, sem qualquer imposição da sociedade.


A função de desenvolvimento pode criar novas formas de aprendizagem voluntária, a serem praticadas durante toda a vida e contribuir para surgimento de condutas inovadoras e criadoras. Suscitará, assim, no indivíduo permite sair de suas obrigações profissionais, comportamentos de livres escolhas que visem ao completo desenvolvimento da personalidade, dentro de um estilo de vida pessoal e social. (DUMAZEDIER, 2000. p. 34).


Marcelino, outro estudioso do lazer, coloca uma contraposição à ideia de lazer apresentada por Dumazedier. Sua definição revela muito o contexto da cultura da sociedade.


A cultura –
compreendida no seu sentido mais amplo – vivenciada (praticada ou fruída) no “tempo disponível” o importante, como traço de escolha, é o caráter “desinteressado” dessa vivência. […] a “disponibilidade de tempo” significa possibilidade e opção pela atividade prática ou contemplativa. (MARCELINO, 2000. p. 31).


Por último, Vitor de Andrade de Melo, afirma que lazer é um fenômeno moderno, surgido com a artificialização do tempo de trabalho, sendo uma manifestação típica do modelo de produção fabril desenvolvido a partir da Revolução Industrial. Melo também aponta o lazer como sendo um campo de tensões, pois ele vê o tempo livre como sendo uma conquista das classes trabalhadoras.


O lazer, numa suposta escala hierárquica de necessidades humanas, seria menos importante que a educação, a saúde e o saneamento, com certeza todas essas dimensões humanas são fundamentais, mas por que seria o lazer menos importante? Além disso, existe a relação direta entre lazer e saúde, lazer e educação, lazer e qualidade de vida, as quais não podem ser negligenciadas (MELO e ALVES JUNIOR, 2003. p. 29).


Melo coloca em pauta a transdisciplinaridade do lazer perante às necessidades sociais instituídas por lei a todos, condições que não podem sair de pauta dos administradores públicos para manter o funcionamento do Estado.





Referências


DE GRAZIA, S. Tiempo, trabajo y ócio. Madrid: Editorial Tecnos, 1966.


DUMAZEDIER, Joffre. Sociologia empírica do lazer. São Paulo: Perspectiva: SESC, 1979.


_____________, J. Lazer e cultura popular. São Paulo: Perspectiva, 2000.


GOMES, C. L. Significados de recreação e lazer no Brasil: reflexões a partir da análise de experiências institucionais (1926 – 1964). Tese (Doutorado em Educação) – Universidade Federal de Minas Gerais, 2003.


MARCELINO, N. C. Lazer e Humanização. Campinas: Papirus, 1983.
_. Políticas públicas setoriais de lazer. Campinas: Autores Associados, 2000.




MEDEIROS, E. B. Lazer: necessidade ou novidade?Rio de Janeiro: Sesc, 1975.


MUNNÉ, F. Psicossociología del tiempo libre: um enfoque critico.México: Trilhas, 1980.


Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Daniel da Silva Tavares

por Daniel da Silva Tavares

Graduado em Gestão Desportiva e de Lazer pelo IFCE, Especialista em Educação Especial na Perspectiva Inclusiva e Antropologia, pos graduado em Psicopedagogia Institucional e Clinica, Aperfeiçoamento em Deficiência Intelectual, Autismo e Neuroliguística, Transtornos Globais do Desenvolvimento e Atendimento Educacional Especializado- AEE, professor de AEE pelo governo do Estado - CE e pesquisador.

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