A educação física na educação de jovens e adultos

A educação física na educação de jovens e adultos
A educação física na educação de jovens e adultos

Educação Física e Esporte

30/07/2015

A EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS


1. INTRODUÇÃO


Atualmente, o cenário encontrado na Educação de Jovens e Adultos (EJA), no que diz respeito à prática da Educação Física, é muito restrito. A lei que rege as diretrizes e bases da educação brasileira, ao mesmo tempo em que torna a oferta da Educação Física obrigatória durante toda Educação Básica (Ensino Fundamental e Ensino Médio), deixa claro que a prática é facultativa para os educandos que tenham prole, ou que tenham idade superior a trinta anos, ou que cumpram jornada de trabalho igual ou superior a seis horas diárias, ou que estejam obrigados à prática de educação física (BRASIL, 1996). Casos, estes, que atingem grande parte dos alunos que frequentam a modalidade de ensino Educação de Jovens e Adultos – ainda que o perfil do público atendido tenha se modificado bastante, tornando-a muito mais de jovens do que de adultos no Ensino Fundamental.


2. DESENVOLVIMENTO

O fato de torná-la facultativa para alguns alunos (lembrando que até o ano de 2003 também era facultativa aos cursos ofertados no período noturno) deve-se, principalmente, por a Educação Física, em seu contexto histórico, ser erroneamente associada à simples prática de esportes para competição e jogos para recreação. Enraizando, ainda mais, o (pré) conceito de que a Educação Física, principalmente para jovens e adultos que estudam no turno inverso ao trabalho, é desnecessária e tratando-a com desprezo quanto a sua importância no âmbito da melhoria da saúde, na integração social dos discentes e no conhecimento da sua maior ferramenta: o próprio corpo.


Embora a Educação Física esteja durante toda sua história diretamente ligada ao corpo humano, basicamente em seus processos fisiológicos e anatômicos que o rodeia, ela deve ser entendida como um processo mais amplo da Educação. Infelizmente, a sociedade tem negado a pessoa como um todo, como sendo o corpo humano e a mente agindo e interagindo de forma única.


O corpo humano tem sido tratado apenas como uma ferramenta que deve produzir trabalho e gerar renda. Desde pequenos somos condicionados a priorizar as ciências humanas, que supostamente desenvolvem o intelecto, como sendo as únicas essenciais para o desenvolvimento humano. Exemplo disto é uma das afirmações filosóficas mais famosas da história: “Penso, logo, existo”, dita pelo filósofo René Descartes pela primeira vez em 1637 em seu livro O Discurso do Método, descartando completamente o corpo como fator para a existência, deixando de lado os outros fatores que formam o ser humano (corpo, sentimentos, emoções, etc.).


Em contraponto à afirmativa de Descartes, a Educação Física vem, além de ser a ciência que estuda o corpo humano e seus movimentos, contemplar o ser humano em sua plenitude, não deixando de lado os sonhos e pensamentos de cada um, além da contribuição social que cada indivíduo pode trazer. Seguindo este conceito talvez a afirmativa do filósofo devesse ser “Penso, sinto, ajo e interajo, logo, existo”, aplicando uma conotação mais digna ao ato de existir. Deste modo, a Educação Física vai de encontro à visão dicotomizada do ser humano, passando a abordá-lo em uma visão holística, ou seja, sendo a soma, ou melhor, a interação do corpo, mente e tudo que cerca o próprio ser humano.

A Educação Física em uma proposta curricular para a Educação de Jovens de Adultos deve tratar o indivíduo em seu todo, não limitar-se somente às performances que o corpo pode desempenhar. Todavia, não é necessário excluir os jogos esportes e movimentos das aulas de Educação Física, com isso o próprio nome da profissão já não teria mais sentido, o importante é perceber que, através destas atividades, podemos alcançar objetivos muito maiores, contemplando o ser humano em sua plenitude ou até mesmo os mais simples, como o conhecimento do próprio corpo e sua utilização como forma de expressar-se.


Na EJA e em todas as modalidades educacionais, a Educação Física tem um caráter relacional com o educando, trazendo atividades que são do interesse do aluno e que tenham por finalidade principal o seu pleno desenvolvimento no âmbito físico, cognitivo, profissional, social e afetivo, tornando-o um ser humano melhor. Deve, ainda, ser uma ferramenta de luta contra a discriminação e exclusão social de qualquer tipo, transformando e beneficiando, também, a sociedade.


3. CONCLUSÃO

A Educação Física pode também ir ao encontro da abordagem da saúde renovada, buscando se interar sobre o que o discente já conhece e o estimulando – a partir daí – à adoção de hábitos saudáveis não só dentro da instituição de ensino, mas por todo o seu cotidiano e se estendendo ao longo de toda a sua vida. Uma vida fisicamente ativa pode diminuir os níveis de ansiedade e evitar psicopatologias mais graves, como a depressão, por exemplo, principalmente em adolescentes, que estão atravessando uma fase de difíceis decisões, com muitas responsabilidades e desafios pela frente e que chegam ao Ensino Noturno, muitas vezes, desestimulados devido aos sucessivos fracassos durante a fase escolar.


Portanto, a Educação Física, mais do que obrigatória, tem se mostrado necessária ainda que não seja tratada com relevância por algumas esferas do sistema de ensino brasileiro, que a trata com desprezo ou, no mínimo, percebe, equivocadamente, como um método de melhora de aptidão física através de exercícios que exigem esforço do corpo humano. A Educação Física, num conceito maior de educação, deve abordar o corpo humano como um todo, explorando todos seus limites e suas possibilidades. Não ater-se somente aos aspectos físicos, mas, também, cognitivos, afetivos e sociais, para que possa tornar todo ser humano melhor com ele mesmo, contribuindo, assim, para uma sociedade melhor.

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Patrick da Siveira Gonçalves

por Patrick da Siveira Gonçalves

Graduado em Educação Física pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (2011). Pós-graduado em Psicomotricidade e Supervisão Escolar pela Univ. Cândido Mendes - RJ (2014). Atualmente sou professor de educação física da Prefeitura Municipal de Esteio e Prefeitura Municipal de Nova Santa Rita. Tenho experiência no Ensino Regular, na Educação de Jovens e Adultos e na Educação Social

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