28/08/2009
O presente artigo teve como objetivo realizar um estudo, através de uma revisão de literatura, do esporte adaptado como um fator de inclusão e qualidade de vida para o deficiente físico. Mais especificamente objetivou-se analisar a literatura a respeito do tema; realizar uma análise sobre os benefícios que o esporte traz ao deficiente físico e conhecer as políticas governamentais sobre o assunto. A metodologia utilizada foi do tipo exploratória, utilizando-se como instrumento de coleta de dados a pesquisa bibliográfica. Conclui-se o presente artigo enfatizando-se que o esporte adaptado só traz benefícios aos portadores de deficiência, sendo que se podem destacar os aspectos da inclusão social e da melhoria da qualidade de vida, como os principais.
Muito ainda deve ser feito no Brasil, para que haja mais oportunidade de inclusão do deficiente no universo esportivo. O projeto “Paraolímpicos do Futuro” pode ser considerado um divisor de águas, o início de uma nova era para o esporte adaptado no Brasil.
Autores: André Luiz Ianoski; Gustavo Levandoski.
Artigo de revisão da Unicamp
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O esporte adaptado caracteriza-se como uma grande oportunidade para que o indivíduo com necessidades especiais possa desenvolver uma atividade física, deixando de lado o sedentarismo e o isolamento social.
Um aspecto importante a ser abordado, é que além das limitações impostas pela deficiência, o indivíduo com necessidades especiais pode sofrer ainda, com outros problemas decorrentes da falta de estruturas físicas dos centros urbanos não adaptados para as condições individuais básicas de mobilidade necessárias para vida cotidiana, onde muitas vezes dificultam ou impedem a realização da prática de exercícios físicos. Em conseqüência disto o sedentarismo, por exemplo, pode ser o causador de uma grande quantidade de complicações e problemas de saúde como obesidade, diabetes e hipertensão arterial.
Breve Histórico do Esporte Adaptado
Segundo Reis (apud ARAÚJO, 1998), o advento do esporte adaptado se deu logo após a I Guerra Mundial, devido à necessidade de reinserção na sociedade de pessoas deficientes, em sua grande maioria, vítimas da guerra. Em 1944, o Sir Ludwig Guttamann, neurologista e neurocirurgião alemão acreditava que o esporte possuía a fórmula para motivar e diminuir o tédio da vida desocupada de um deficiente físico, mas acabou descobrindo muito mais. Fez com que o mundo se organizasse, mostrando que todas as pessoas com algum tipo de deficiência poderiam praticar atividades físicas e esportivas (ROSADAS, 1989). A intenção do médico era a de introduzir a atividade esportiva como incentivo à reabilitação dos deficientes. Os resultados foram positivos e a atividade física adaptada logo evoluiu para um nível de competição. Assim, em 1948 foram realizados os primeiros jogos para deficientes, evento paralelo às olimpíadas que eram realizadas em Londres.
Em 1952 foi criado o Comitê Internacional dos Jogos de Stoke Mandeville, vindo posteriormente a se tornar a Federação Internacional de Esportes em Cadeira de Rodas de Stoke Mandeville (ISMWSF). Atualmente, esta entidade é a responsável pela organização e realização de eventos mundiais direcionados aos atletas cadeirantes.
No ano de 1960, foram realizadas as primeiras paraolimpíadas, com a participação de 23 países e 400 atletas portadores de deficiência. (BRAZUNA e CASTRO, 2002). Em 1989, foi fundado o Comitê Paraolímpico Internacional (IPC) na Alemanha. Atualmente o IPC é a única entidade internacional responsável pela organização e realização de eventos esportivos que envolvam mais de uma deficiência
O Esporte Adaptado no Brasil
Segundo Silva citado por Brazuna & Castro (2002), no Brasil, o esporte para pessoas com deficiência teve seu início com o atleta Sérgio Seraphin del Grande, portador de paraplegia. Este atleta, após uma experiência vivida nos Estados Unidos, onde fora realizar um tratamento de reabilitação. Em 1958 foi o responsável pela fundação da primeira instituição do gênero no Brasil, o Clube dos Paraplégicos de São Paulo (CPSP).
Conforme Severino Neto (2006), Sérgio Seraphim Del Grande pode ser considerado, como um dos maiores nomes do esporte paraolímpico brasileiro. Outro exemplo a ser citado é o do atleta Robson Sampaio de Almeida, que no mesmo ano de 1958, fundou o “Clube do Otimismo” também voltado para a prática do basquetebol sobre rodas. Em 1959, o CPSP e o Clube do Otimismo realizaram o rimeiro jogo de basquetebol em cadeira de rodas entre equipes brasileiras. A partir de então, o foi crescendo no país, porém lentamente e em locais isolados, direcionado aos grandes centros, fato que se observa até hoje em dia. Segundo Brazuna e Castro (2002), a primeira participação brasileira em paraolimpíadas se deu no ano de 1972, na 4ª edição da competição, na Alemanha. Participando de apenas uma modalidade, a bocha. Somente em 1976, no Canadá foram conquistadas as primeiras medalhas brasileiras em paraolimpíadas, também na modalidade de bocha. Já no ano 2000, nos jogos paraolímpicos de Sidney foram conquistadas 22 medalhas, sendo 6 de ouro, 10 de prata e 13 de bronze, colocando o Brasil na 24ª posição geral dos jogos. A participação do Brasil nas paraolimpíadas de Atenas em 2004 caracterizou-se como a maior delegação brasileira em Jogos Paraolímpicos, sendo 98 atletas de 13 modalidades que conquistaram 33 medalhas: 14 de ouro, 12 de prata e 7 de bronze. Essa foi a maior campanha do Brasil no evento, pois a melhor marca anterior tinha sido feita em 1984, quando os brasileiros conquistaram 28 medalhas. Segundo Severino Neto (2006), a Lei AGNELO/PIVA, como é conhecida a lei n.º 10.264/01, representa o grande diferencial da história paraolímpica brasileira. Ela tem assegurado a condição fundamental de trabalho, permitindo a formulação e o desenvolvimento de um planejamento estratégico que está contribuindo, de forma incontestável, para sua consolidação e expansão em todo o país. Ainda assim, observando-se a evolução do desporto adaptado no Brasil podese inferir que o crescimento quantitativo é limitado. Poucos são os investimentos realizados no intuito de incentivar o esporte adaptado, podendo-se perceber poucas iniciativas, principalmente do setor privado para a atividade.
O Esporte Adaptado como fator de Inclusão e Qualidade de Vida
Em estudos realizados por Wheeler, Steadward, Legg, Hutzler, Campbell e Johnson em 1999, em relação à iniciação ao esporte adaptado, buscaram descobrir quais os aspectos de incentivo eram mais importantes para o ingresso nos esportes para portadores de deficiências, utilizando-se de quatro categorias, sendo: reabilitação, oportunidade social, recrutamento e continuidade no esporte(BRAZUNA & CASTRO, 2006). Segundo Levandoski & Cardoso (2007), praticar uma atividade física com o objetivo inclusão social, além de amenizar alguns dos problemas de saúde, são estratégias que proporcionam ao indivíduo, uma tentativa de superação das barreiras ocorridas pelos acidentes físicos.
De acordo com a literatura, os estudos apontam dados relatando os aspectos da reabilitação e a oportunidade de inclusão social, ilustrando vários exemplos de pessoas que, através de grandes esforços, através do esporte, conseguem superar a deficiência e o preconceito. Entretanto, são necessários incentivos para que esses indivíduos iniciem alguma atividade esportiva, como meio de inclusão e qualidade de vida, nesse caso, o esporte, sem dúvida, é uma grande saída (SENATORE, 2007).
Em estudo de Levandoski & Cardoso (2007) com atletas de basquetebol em cadeira de rodas da cidade de Florianópolis, os autores relatam de que neste grupo os atletas em sua maioria são portadores de poliomielite, e que estes atletas, quando comparados aos lesionados medulares e amputados, apresentam mais dificuldade na busca de atividades esportivas, para inclusão social, amenização de problemas de saúde ou manutenção física. Ainda, consideraram que esta resposta pode ser explicada, pelo fato de que os lesionados medulares e amputados já praticavam atividades física antes do acometimento do trauma, e ainda teriam maior facilidade no acesso de informação e ao retorno de prática dos exercícios físicos devido ao maior nível escolar. Segundo Ravache (2006, p. 59): “a escolha de uma modalidade esportiva pode depender em grande parte das oportunidades que são oferecidas aos portadores de deficiência física, da sua condição sócioeconômica, das suas limitações e potencialidades, da suas preferências esportivas, facilidade nos meios de locomoção etransporte, de materiais e locais adequados, do estímulo e respaldo familiar, de profissionais preparados para atendê-los, dentre outros fatores.” Assim, nota-se um conjunto de fatores dos quais depende a inclusão do deficiente no universo esportivo. São necessários então, diversos esforços do poder público e da iniciativa privada para que haja a possibilidade de inclusão e desenvolvimento do deficiente físico no universo esportivo. De acordo com Araújo (1998), em países de primeiro mundo, os atletas deficientes conseguem reconhecimento internacional no esporte adaptado em um curto espaço de tempo. Percebemos que as técnicas utilizadas, as rotinas de treinamento e a infra-estrutura, fazem com que os atletas consigam atingir altos níveis de rendimento. No Brasil a história é um pouco diferente. Atualmente, vemos iniciar um trabalho com apoio do governo federal através de suas políticas públicas, como o projeto “Paraolímpicos do Futuro”. Na última edição dos jogos Para- Panamericanos no Rio de Janeiro no ano de 2007, pôde-se observar que através dos resultados obtidos pelos atletas brasileiros, fortalecendo e apoiando na divulgação de mais oportunidades para incentivar o esporte para pessoas portadoras de necessidades especiais, desde os primeiros anos escolares. Segundo Severino Neto (2006), presidente do Comitê Paraolímpico Brasileiro: “no contexto atual de escola inclusiva, na qual alunos com e sem deficiência estudam juntos, o Paraolímpicos do Futuro vem preencher importante lacuna: apresentar à comunidade acadêmica o esporte adaptado, torná-lo ferramenta de integração e, ainda, garimpar futuros talentos”. Com este projeto do governo federal, pretende-se que a comunidade acadêmica passe a olhar com outros olhos a realidade do esporte para deficientes físicos no Brasil, como fator de inclusão e melhoria na qualidade de vida desses indivíduos como pessoas normais apesar de sua deficiência.
Conclusão
De acordo com o que foi abordado neste estudo, podemos considerar que o esporte adaptado vem sendo bem direcionado e comandado por suas lideranças políticas, que priorizam a realização da atividade física primeiramente como meio beneficiador para a saúde física, psicológica e afetivas além de destacar o fator da inclusão social e da qualidade de vida destas pessoas.Observando a rotina dos atletas do esporte adaptado, pode-se inferir que um dos resultados mais positivos do esporte para o portador de deficiência seja a construção de uma identidade de atleta, ao invés da identidade de pessoa deficiente. Para o portador de deficiência, é muito gratificante ser reconhecido primeiramente como um atleta, do que como uma pessoa que está sempre necessitando de cuidados especiais.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao revisor anônimo os comentários que permitiram clarear os diferentes aspectos deste trabalho que foram despercebidos durante sua elaboração.
REFERÊNCIAS
ABRADECAR (2002) Organização do desporto. Disponível em: <http://www.abradecar.gov.br> Acesso em 21 jun. 2007.
ARAÚJO, P. F.
BRAZUNA, M. R.; CASTRO, E. M.
GUTTMANN, L.
LEVANDOSKI, G; CARDOSO, A. S.
LIANZA, S.
RAVACHE, R. Atletismo para deficiente físico. In: VERÍSSIMO, A. W.
ROSADAS, S. C.
ROSADAS, Sidney Carvalho.
SENATORE, Vaniton. Palestra sobre “
SEVERINO NETO, V. O futuro mais que presente. In: VERÍSSIMO, A. W.
SOUZA, P. A.
Desporto adaptado no Brasil: origem, institucionalização e atualidade. Brasília: Ministério da Educação e do Desporto/INDESP, 1998.A trajetória do atleta portador de deficiência física no esporte adaptado de rendimento: uma revisão da literatura. Disponível em: <http://www.rc.unesp.br>. Acesso em 28 ago. 2007.Lesionados medulares: tratamento global e investigação. Barcelona: Editorial JIMS, 1981.Atletas de basquetebol em cadeiras de rodas da cidade de Florianópolis: uma análise descritiva das lesões dos praticantes. In: 6° Fórum Internacional de Esportes. Anais em CD, Florianópolis,jun. de 2007.Medicina de reabilitação. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1985.Atletismo paraolímpico: manual de orientação para professores de educação física. Brasília: Comitê Paraolímpico Brasileiro, 2006.Educação Física para deficientes. Rio de Janeiro: Ateneu, 1986.Atividade Física Adaptada e Jogos esportivos para deficientes: Eu posso. Você duvida? Atheneu. Rio de Janeiro – São Paulo, 1989.O Esporte Adaptado”. In: 6° Fórum Internacional de Esportes. Florianópolis, jun. de 2007.Atletismo paraolímpico: manual de orientação para professores de educação física. Brasília: Comitê Paraolímpico Brasileiro, 2006.O esporte na paraplegia e tetraplegia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1994.1
Graduado em Educação Física UEPG2
Especialista em Atividade Física e Saúde UFPR.3
Autores Correspondência
André Luiz Ianoski
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Mestrando em Ciência do Movimento Humano, CEFID/UDESC.andreianoski@hotmail.comGustavo Levandoski
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