05/01/2011
INTRODUÇÃO
Um pátio, uma simples área ao ar livre, com ou sem material, pode virar um mundo do faz-de-conta, um mundo mágico, um passeio pela floresta encantada, mundo das fantasias, fadas, lobos, ursos, bonecos, entre outros seres imaginários, possibilitando momentos do brincar de maneira criativa, prazerosa, produtiva, estimulante, educativa e lúdica. Isto para que seja possível aprender, brincando.
A Educação Física Escolar é uma área de atuação fundamental para trabalhar o desenvolvimento motor, cognitivo e afetivo-social de crianças de maneira interdisciplinar e integrada com áreas como a pedagogia e/ou a psicologia. Conforme Brito (1997) a Educação Física deve estar integrada ao currículo escolar, tomando cuidado em ajustar as atividades em relação à idade dos alunos, sendo que o profissional da área deve assumir sua responsabilidade no processo educacional e pedagógico. Para consolidar essas afirmações, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN, 1998) afirmam que:
Em relação ao âmbito escolar, a partir do decreto n.º 69.450, de 1971 a Educação Física passou a ser considerada como “a atividade que, por seus meios, processos e técnicas, desenvolve e aprimora forças físicas, morais, cívicas, psíquicas, e sociais do educando”.(PCN – Educação Física, 1998, p.21).
Na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) 9394/96, no inciso I do art. Vinte e um, Brito (1997) cita a obrigatoriedade da Educação Física no Ensino Básico, formado pela educação infantil, ensinos fundamental e médio. Por isso, o objetivo do presente trabalho foi compreender a importância da Educação Física Escolar, para crianças de 0 a 5 anos de idade, identificando se há a presença do profissional de Educação Física em todos os CEINF´s da Rede Municipal de Campo Grande, no Estado de Mato Grosso do Sul.
Além da LDB e do PCN, as Diretrizes Curriculares para a Educação Infantil, também descrevem sobre a importância da Educação Física na escola:
É relevante sua contribuição aos educadores de outros componentes curriculares, pois seu programa caracteriza-se pela continuidade de experiências de movimentos, destinados a ajudar a criança a adquirir habilidades motoras e conceitos, desenvolvendo sua capacidade de agir de forma alegre e efetiva em todas as experiências de vida, quer seja social, mental ou física. Na atividade extraclasse, o professor também desenvolve o gosto pelo saber, não se limitando apenas à prática física. Sua atuação deve valorizar os movimentos do corpo, respeitando-se as características individuais, as necessidades dos alunos, as possibilidades de desenvolvimento, as habilidades psicomotoras, utilizando jogos e brincadeiras alegres que exercitem todo seu corpo, pensando também no portador de necessidades educativas especiais que pode participar e se beneficiar de programas dos mais diversos possíveis. Por isso, os programas de atividades motoras devem conter desafios aos alunos, permitir a participação de todos, respeitar suas limitações, propiciar autonomia e, sobretudo, enfatizar o potencial no domínio motor. (Diretrizes Curriculares para a Educação Infantil, da Secretaria Municipal de Educação Campo Grande/MS– Educação para Todos, 2003, p. 35).
Assim, é necessário verificar a presença efetiva do profissional de Educação Física nos Centros de Educação Infantil, considerando o brincar e o desenvolvimento motor como fator decisivo na aprendizagem infantil. Isto é confirmado no Parecer 27/2007 CLN 10/4/2007, que considera que a Educação Infantil, na Educação Básica, possibilita a aplicação da democracia e a formação de um cidadão, usando de técnicas diferentes das tradicionais.
A Educação Infantil passa por momentos de avanços, devido ao melhor entendimento do universo infantil, a criança passa a ser compreendida como ser culturalmente determinado, que necessita de cuidados, educação e presença formadora para o seu pleno desenvolvimento.
Os CEINF´s (inicialmente intitulados Creches) eram locais onde apenas se cuidavam das crianças para que seus pais pudessem trabalhar, hoje, apesar desses lugares ainda cuidarem (uma necessidade da infância), assumiu também um papel educativo e formativo. Assim, precisam promover uma base para o desenvolvimento individual e social da criança, repensando as práticas pedagógicas de todas as áreas do conhecimento e inserindo as mesmas no processo educativo, tornando crianças mais saudáveis e felizes.
Através das vivências, de explorar o brincar, a criança descobre seu corpo e desenvolve seu crescimento cognitivo, motor e afetivo-social. Se a criança não tem a brincadeira inserida em seu cotidiano, tira-se a sua liberdade e uma de suas formas de aprendizagem, uma vez que o brincar é uma linguagem da infância, porque a maioria das crianças tem privação de espaço e atenção para brincar. Segundo Freire (1994, p. 161) “brincando a gente tem espaço para aprender”.
As atividades de brincar e jogos permitem a ludicidade e a variedade dos movimentos humanos, onde estes adquirem aptidões, habilidades e capacidades. Essas atividades fazem parte da Educação Infantil e em seus aspectos específicos, deve ser trabalhada por Professores de Educação Física, cabendo a eles esse compromisso e responsabilidade.
O jogo e a brincadeira infantil devem ser vistos como uma atividade criativa, marcada pela cultura com interferência daqueles que se relacionam com a criança (Kishimoto, 1996, p. 15). É a partir deste entendimento que deve estar embasada a Educação Infantil, com o intuito de resgatar a imaginação e a ludicidade para o aprendizado e desenvolvimento da criança.
A criança tem conhecimento de ações motoras, mas quando estimulada e consciente sobre isso, poderá entender o que se passa no seu corpo e a tudo a sua volta, conquistando e consolidando a motricidade para o seu desenvolvimento intelectual e corporal.
A Educação Física tem seu papel no ensino de movimentos respeitando as individualidades da criança, o estímulo à liberdade e à criatividade individual, onde o professor deve aplicar atividades de acordo com a faixa etária, considerando a evolução física e psíquica do aluno, como um ser integral. (Freire, 1994).
Assim, para melhor entendimento sobre o papel do Professor de Educação Física na Educação Infantil, foi realizada uma pesquisa de caráter qualitativo, descritivo exploratória, utilizando pesquisa bibliográfica, por literaturas específicas sobre o desenvolvimento de crianças entre 0 a 5 anos de idade e Leis Educação Física Escolar na Educação Infantil, além de pesquisa de campo com aplicação de questionário, respondido pela Diretora de Gestão e Assistência à Criança da Secretaria de Assistência Social (SAS), responsável por todas as unidades dos CEINF´s.
De acordo com o questionário aplicado, bem como da observação, foi constatado que não há a presença do Professor de Educação Física nos CEINF´s do município de Campo Grande/MS, apenas nos CRAS (Centro de Referência de Assistência Social). Estes ficam ao lado dos CEINF´s (as construções das unidades Escola, CEINF e CRAS são uma ao lado da outra), mas um não faz parte do outro, uma vez que as atividades desenvolvidas são totalmente independentes.
A entrevista mostrou que não existe previsão para uma regulamentação, com meta para a contratação do profissional nas unidades, e nem regulamentação municipal quanto à presença ou não do Professor de Educação Física nos CEINF´s, e que as leis e normas estabelecidas pela LDB 9394/96 não estão sendo respeitadas.
O CRAS atende crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos, oferecendo atividades dirigidas à comunidade, como dança, artesanato, informática, atendimento ao Projovem (Programa Nacional de Inclusão de Jovens), atividades com o profissional de Educação Física, entre outros cursos. As crianças e adolescentes frequentam o CRAS em um período e no outro estão na escola. O Professor de Educação Física responsável pelas atividades do CRAS não é vinculado ao CEINF, até mesmo porque as aulas de Educação Física naquele espaço, são oferecidas apenas para alunos maiores de 6 anos de idade, que participam das atividades em período alternado com o ensino regular na escola. Já os alunos dos CEINF´s ficam em período integral na unidade, e o professor de Educação Física não faz parte do quadro curricular do mesmo, como explicitado na entrevista. Os Centros de Educação Infantil do Município de Campo Grande, MS, não conta com a presença dos profissionais de Educação Física, mesmo essa presença estando garantida em lei e referenciada por vários autores aqui citados sobre a necessidade do trabalho de qualidade dos professores de Educação Física para contribuir no melhor crescimento e desenvolvimento das crianças.
A ausência do profissional nas unidades de Educação Infantil precisa ser refletida para que haja consciência da necessidade de atividades motoras (abrangendo também outros aspectos) na infância, orientada por profissionais da área específica, para que essa presença seja efetivada e não fique apenas em leis e documentos.
Espera-se com os profissionais de Educação Física a valorização de atividades, como música, jogos, brincadeiras, entre outras propostas que possam ser realizadas com as crianças. Dessa maneira, haverá melhor possibilidade da criança aprender e realizar trocas afetivas e significativas para o seu desenvolvimento.
A partir desse entendimento, faz-se necessário uma breve compreensão sobre a infância, suas características, necessidades e potencialidades, como compreensão necessária a todos que trabalham com criança, como será apresentado a seguir.
1. A INFÂNCIA E A NECESSIDADE DO BRINCAR, DA ATIVIDADE FÍSICA E DA LUDICIDADE
Um momento, um instante de meninice, divertir-se infantilmente, entreter-se, brincar, agitar-se, movimentar o corpo, jogar, um mundo lúdico e de atividades físicas que surgem naturalmente, faz parte da infância, um universo que deve ser considerado e respeitado, pois os adultos muitas vezes, acabam por se esquecer de tudo isso no decorrer de sua vida. A criança é um ser humano capaz de criar, aprender e ter autonomia, através de estímulo, orientação e educação plena. A forma correta de fazer isso compete ao adulto, este então deve conhecer a infância. (Freire, 1994).
Na vida adulta assumem-se novos papéis e responsabilidades, no trabalho, nos compromissos e muitas vezes a ludicidade natural do homem é deixada de lado. Isso não deve impedir que os adultos deixem de compreender e respeitar o universo infantil, sendo necessário participar da vida das crianças.
As atividades oferecidas à criança para o movimento, para o desenvolvimento físico, social e psicológico, devem ser de maneira lúdica, fazendo do brincar um meio para ensinar, respeitando e adequando à linguagem da criança, ao seu gosto, necessidades e ao interesse individual de cada uma. Além do prazer pelo movimento corporal devem-se integrar os cuidados com a saúde e com a higiene, considerando assim a criança como um ser integral.
Sheridan (1990) aborda a brincadeira no desenvolvimento da criança como um momento significativo, onde adapta seu comportamento em relação àqueles com quem convive. A brincadeira é componente necessário na aprendizagem, por possibilitar experimentações, descobertas e resolução de problemas. Na linguagem e socialização, o brinquedo serve como um recurso pedagógico para seu desenvolvimento, podendo estabelecer um elo do meio em que ela vive com o mundo.
A brincadeira torna-se mais importante quando consegue relacionar cognição, cultura e educação, principalmente por alterar parte do padrão comportamental (Kishimoto, 1996). A brincadeira tem como objetivo oferecer à criança o momento de explorar, organizar, aprender, ensinar, cooperar, socializar, compreender melhor o mundo, seus limites, o respeito, a disciplina, entre outros, como auxílio à interação. Para isso é importante conhecer as crianças, seus gostos, necessidades, vontades e maneiras de agir. A criança é capaz de surpreender sempre, com sua inteligência, esperteza e criatividade, isso pode ser explorado através da ludicidade, que é a linguagem da infância.
Freire (1994), diz que dentro de um brinquedo, o professor pode desenvolver várias atividades, dependendo do contexto e do tema que escolher para a aula, podem-se provocar na criança, reflexões sobre espaço, tempo, quantidades, classes, entre outros.
Através do ato de brincar a criança pode aprender a ganhar, a perder, opor-se, expressar e satisfazer suas vontades e desejos (de ordem afetiva, relacionada à estima ou a realização de objetivos), negociar, pedir, recusar, compreende que precisa viver em grupo respeitando regras e opiniões contrárias. Brincando educa sua sensibilidade, seus esforços e tentativas, o prazer que atinge quando consegue finalizar uma tarefa (montar um quebra-cabeça ou pegar o colega), sente-se realizada por atingir uma meta. A brincadeira desafia a criança e a leva a atingir níveis de realização acima daquilo que ela pode conseguir normalmente. (FERREIRA, s/d)
Os objetivos da Educação Física na Educação Infantil são objetivos educacionais como qualquer outra disciplina, e alguns deles são: desenvolvimento psicomotor, esquema corporal, coordenação motora, qualidades físicas, percepção espacial, percepção temporal, expressão corporal e ritmo, respeitando sua etapa de desenvolvimento, e contribuindo para que seja integral, agregando à alfabetização, integração, socialização e uma compreensão de mundo de maneira que possa dialogar com todos, tornando-se crítico, criativo e autônomo.
Gallardo (1998. p. 59) explica o desenvolvimento infantil e suas etapas referentes às habilidades para cada faixa etária:
Bebês de 4 a 12 meses: primeiras habilidades motoras, integração gradativa dos movimentos reflexos com os voluntários. O conjunto desses movimentos voluntários amplia-se, especialmente os de manipulação simples como empurrar, puxar, carregar ou transportar e as primeiras formas de locomoção rastejar, engatinhar, locomover-se sentado e andar com apoio.
Criança de 1 e 2 anos de idade: apresenta como principal característica a exploração do andar. Outras ações motoras começam a se desenvolver na seqüência: subir – descer; saltar – cair e lançar – rebater. Nessa idade a criança amplia a descoberta e a conquista do mundo à sua volta integrando os movimentos dos membros superiores com os inferiores, andar, apalpar, mexer, subir, descer, aproximar, afastar e outras ações motoras ganham novos contornos e nuances. (GALLARDO,1998, p. 59)
Nessa etapa é preciso ter cuidado para não apressar o ritmo, forçar o andar independente, sempre estar em sintonia com a criança (ritmo, adequação dos recursos e do tipo de atividade, respeito às diferenças, consideração de um determinado padrão motor como uma referência, e não como uma obrigação imperiosa de algo a ser conquistado). A criança tem uma maturidade cognitiva para sua idade, já apresenta alguns de seus movimentos fundamentais, os de necessidade do ser humano e aproxima mais do controle corporal, sendo necessário estimular, apresentar desafios e problematizações.
Criança de 2 a 4 anos de idade: início das habilidades fundamentais, estágio marcado pela exploração dos movimentos que fornecem experiências no sentido de aumentar o controle corporal, a criança precisa experimentar diversas possibilidades no andar, marchar, correr, lançar e receber, subir e descer, saltar e cair: intensa atividade exploratória. (GALLARDO,1998, p. 71)
É fundamental neste momento, a utilização de recursos ou meios à sua disposição como: contos, músicas, danças, brincadeiras, dramatizações, máscaras, disfarces, entre outros. A criança já apresenta melhor domínio corporal, está preparada para descobertas e mais exploração de movimentos.
Criança de 4 a 5 anos de idade: estágio elementar de execução dos movimentos fundamentais, são capazes de brincar com outras crianças por um período maior de tempo, são mais colaboradoras e responsáveis, ocorre a descoberta de novas formas de utilizar as habilidades motoras, chegando em um estágio mais maduro de execução das ações motoras. Apresenta-se neste momento, disposta a trabalhar em grupo, aberta a novos conhecimentos, a novas regras, como em jogos, e assim desenvolver seu senso de cooperação e responsabilidade. (GALLARDO,1998, p. 75)
Essas são algumas considerações importantes para melhor entender o desenvolvimento evolutivo da criança e para assim poder programar experiências de aprendizagem. Para tanto, o professor de Educação Física deve sempre, estudar, observar e acompanhar o nível de desempenho de cada uma das crianças, adequar às atividades de acordo com a faixa etária, potencializando as habilidades vistas na criança. Cabe ainda ao profissional com formação na área da cultura corporal, identificar quais as atividades lhe dizem respeito mais especificamente, em que momento ou contexto apresentá-las e quais competem a outro profissional (Gallardo, 1998).
As aulas de Educação Física não podem resumir-se à recreação, mesmo quando voltadas à ludicidade, permitindo desenvolver aspectos cognitivo, afetivo-social e motor de maneira integral, de maneira que o desenvolvimento seja recebido da melhor maneira pelas crianças.
O aspecto lúdico é importante, entretanto, as aulas devem ser organizadas com uma metodologia adequada, com conteúdos programáticos e objetivos de acordo com um bom planejamento (Mello, 2001). Kishimoto, Pinazza e Oliveira-Formosinho (2007), afirmam que deve existir “uma pedagogia de infância que valorize a atividade e a participação da criança e considere o brincar como essencial no plano curricular e metodológico”.
O movimento não se relaciona apenas ao desenvolvimento motor e cognitivo, mas também às atividades de pensar, resolução de problemas, criatividade, criticidade e outras habilidades importantes para a vida da criança, são intrínsecas às atividades de Educação Física (Metzner, s/d).
Portanto, a Educação Física é responsável pelo estudo e aplicação do movimento humano, pode ser também meio de promoção humana, visando aprendizagem e saúde, uma educação de corpo inteiro, já que o movimento como conhecimento é indispensável na formação de qualquer pessoa, não podendo ser retirada de qualquer processo pedagógico sério e comprometida com as questões sociais, mas depende também da concepção que o professor adotar em sua prática pedagógica (Oliveira, 1992).
As nossas crianças devem ser capazes de andar, correr, trepar, saltar, saltitar, girar, arremessar, receber, rebater, chutar, quicar e equilibrar-se, socializando-se. Conhecer e identificar as partes do corpo, conhecer o espaço frente e trás, dentro e fora, perto e longe, alto e longe, sob/sobre, em volta, levantar/abaixar, aberto e fechado. Atividades que proporcionem a utilização de materiais, transportar materiais, compreender os cuidados com higiene e saúde, percebendo-se como ser social produtor de cultura e participante no e com o mundo.
Os movimentos e as possibilidades devem ser vivenciados e explorados da melhor maneira possível. Não se pode negar o conhecimento do movimento e as habilidades, de maneira que conheçam, compreendam e até possam desenvolver-se posteriormente de forma específica através dos esportes (dança, luta e as várias modalidades esportivas).
O desenvolvimento dos movimentos é um processo do educar, considerando a cultura e condições sociais em que a criança vive, além dos aspectos biológicos e psicológicos de cada um.
Com isso, a Educação Física assume um papel extremamente importante e significativo na Educação Infantil, uma vez que a educação das crianças está “assegurada” na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei N. 9.394), bem como políticas educacionais para a Educação Infantil. Para Piaget (1983, apud Catunda 2005, p.46) “toda bagagem cognitiva” deve ser “estruturada através da ação sobre o objeto de conhecimento”. Assim, através da vivência corporal, a criança desenvolve suas capacidades cognitivas, e através do corpo a criança expressa seus sentimentos e suas emoções.
3- CARACTERIZAÇÃO DO CEINF
Fatores como a crescente urbanização e a necessidade da mulher-mãe, ir ao mercado de trabalho para contribuir com a sobrevivência da sua família, ou mesmo para a realização profissional, fazem com que as mesmas busquem um ambiente seguro para deixar seus filhos desde muito cedo. As mães, então, são levadas a buscar um local fora do ambiente familiar, assim surgindo às creches.
Ferreira, Amorim e Vitória (s/d), relatam que em diversos países, como no Brasil, a creche desempenhou, através dos anos, atividades com caráter predominantemente assistencialista e filantrópico de combate à pobreza e à mortalidade infantil, envolvendo situações de grande miséria e desestruturação familiar. No início, a maioria das creches dava maior atenção à guarda e cuidados físicos da criança, e não à educação e à busca de um adequado desenvolvimento global.
Com o passar dos tempos e a percepção da necessidade de que a criança não necessitava apenas de cuidados, mas também de um ambiente didático/pedagógico que propiciasse sua compreensão de mundo e sua formação, surgiram os CEINF´s (Centro de Educação Infantil).
Estes visam oferecer uma resposta sócio-educativa para crianças, promovendo atividades pedagógicas e de recreação, entre outras, buscando em sua proposta, contribuir desta forma, para a formação de cidadãos conscientes, dignos, honestos, participativos, éticos, em vista da promoção e inclusão social, sem deixar de lado, os cuidados básicos e necessários da infância. Assim, educação e cuidado devem sempre andar lado a lado a partir das novas propostas.
Os CEINF´s em Campo Grande/MS, atendem crianças com idades entre 6 meses e 5 anos de idade, a maioria localizada em bairros rodeados por outros bairros menores e igualmente desprovidos de infra-estrutura. Na maioria das vezes, suas famílias se encontram em situação de pobreza ou vulnerabilidade social e econômica atrelada à falta de qualificação profissional e baixo nível de escolaridade, em muitos casos.
O Parecer 27/2007 CLN 10/4/2007, assume “o objetivo de favorecer o desenvolvimento da criança e integrá-la de forma atuante nas instituições educativas e na sociedade”. Assim, fica claro o papel das instituições de Educação Infantil, que, devem cumprir esse papel de educar, cuidar, desenvolver e ter o aprendizado de forma flexível e de qualidade.
Além da LDB 9394/96, o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil mostra que houve mudanças no que diz respeito às questões legais, conforme explicitado:
A conjunção desses fatores ensejou um movimento da sociedade civil e órgãos governamentais para que o atendimento às crianças de zero a seis anos fosse reconhecido na Constituição Federal de 1988. A partir de então, a Educação Infantil em creches e pré-escolas passou a ser, ao mesmo tempo do ponto de vista legal, um dever do Estado e um direito da criança (artigo 208, inciso IV). O estatuto da Criança e do Adolescente, de 1990, destaca também o direito da criança a este atendimento (BRASIL, 1998, p.11).
O texto acima traz que a criança é legalmente vista como cidadã e com direitos, assim pode e deve freqüentar a Educação Infantil em creches, como direito adquirido.
Para a garantia de conceber a criança cidadã e inseri-la como parte integrante da sociedade, a Educação Infantil necessita buscar uma proposta de trabalho que considere a importância dos conhecimentos sociais. Desse modo, as crianças começam a frequentar as creches, em carga horária integral e dividida pela faixa etária (com necessidades e características diferenciadas).
De acordo com a LDB:
Art. 29º. A Educação Infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade.
Art. 30º. A Educação Infantil será oferecida em:
I - creches, ou entidades equivalentes, para crianças de até três anos de idade;
II - pré-escolas, para as crianças de quatro a seis anos de idade.
Art. 31º. Na Educação Infantil a avaliação far-se-á mediante acompanhamento e registro do seu desenvolvimento, sem o objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao ensino fundamental. (LDBEN, 1996)
Também surgem as questões voltadas aos profissionais da Educação Básica, de acordo com o artigo 62 da LDBEN/1996, que estabelece:
A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação, admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na Educação Infantil e nas quatro séries do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade Normal. (LDBEN, 1996)
Percebe-se então, a necessidade de profissionais capacitados que atendam as necessidades de cuidado, bem como a didática pedagógica para a formação da criança, e parte-se na busca desses profissionais.
É dever do Estado, oferecer ensino de qualidade, selecionar pessoas que tenham uma formação específica, um conhecimento dessa área, entender das fases das crianças, aplicação de conteúdo em suas aulas, para assim estar inserido nesse meio das crianças, necessitando de uma formação para este trabalho, qualificados para atender e compreender as características, necessidades e potencialidades da infância, dentro de suas especificidades.
O espaço que essas crianças passam um bom tempo de sua vida deve ser o mais acolhedor, seguro, um ambiente alegre e lúdico, ter bons educadores, boa merenda, o melhor local possível, pois fica boa parte de seu dia longe do seu ambiente familiar.
Segundo a Diretoria de Gestão a Assistência à Criança da SAS, a maioria dos CEINF´s está apropriada de acordo com a fundamentação teórica e legislação à infância, em relação à adequação dos espaços, à segurança, alimentação, espaços de riscos, materiais adequados, brinquedos e o lúdico.
Os CEINF´s devem oferecer um espaço adequado e um aprendizado de qualidade, com profissionais capacitados para atender às necessidades das crianças, trabalhando suas potencialidades. É necessário conhecer e lutar por um espaço onde, muitas vezes, as crianças passam maior parte do tempo.
A função da Educação Física na Educação Infantil tem como alguns objetivos, o desenvolvimento de atividades motoras, um melhor desenvolvimento das habilidades básicas, afetivos, autonomia e auto-estima, orientadas pelos mesmos, trazendo atividades lúdicas que envolvam as crianças nas aulas, onde além de exercitar o corpo podem também exercitar a mente através da brincadeira do prazer de jogar e brincar, reduzindo também o nível de stress e monotonia, mudando seu cotidiano, pois a criança está submetida a ficar no CEINF por até dez horas diárias.
Autor: Bruna Morais Barbosa
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