Os benefícios da TV Digital Interativa para o e-Learning
Educação
01/01/2008
Rodney Ramos Martins
Por definição, TV Digital corresponde ao meio de transmissão efetuado através do espectro digital de radiodifusão televisiva de alta definição de vídeo e som. É um conceito totalmente técnico que está associado exclusivamente à digitalização do sinal. No dia 2 de dezembro de 2007, quando a TV aberta brasileira estrear oficialmente sua transmissão digital em São Paulo (embora esta estréia seja para poucos), é bom se preparar para o que virá quando existir a interatividade incorporada aos aplicativos para TV Digital.
A TV Interativa existe há bastante tempo (desde os anos 1950), possibilitando uma interatividade em que o usuário participa ativamente do conteúdo televisivo por intermédio de outros meios de comunicação (carta, telegrama, telefone, Internet). Já na TV Digital Interativa o controle remoto é a principal característica: ele permite ações que vão desde uma simples seleção do programa a ser visto até a possibilidade de se escolher a câmera para assistir a um evento esportivo. Todas essas alternativas já existem nas TVs pagas, no entanto, há muito que desenvolver neste contexto, por exemplo, o acesso a aplicativos que proporcionem comércio através da TV (t-Commerce), conteúdo de serviço público (governo eletrônico) e aplicativos voltados à aprendizagem em distância (t-Learning).
Essa interatividade provoca uma mudança de paradigma em que o telespectador ganha a condição de ser um elemento atuante, que tem o poder de personalizar a sua programação. Vamos encontrar no controle remoto a possibilidade de filtrar as informações de acordo com nossa necessidade, desejo e tempo.
No Brasil, o desafio das interfaces da TV Digital Interativa é apresentar ao telespectador que nunca teve contato com um computador a possibilidade de interagir com os conteúdos de forma amigável, sem que isso seja um problema para assistir ao programa desejado. À medida que o telespectador se inserir neste universo interativo, os aplicativos podem assumir novas possibilidades mais complexas de inserção de conteúdo.
"Nenhuma forma cultural significativa brota plenamente realizada. Há sempre um período de gestação em que as divisões em diferentes gêneros, convenções ou tipos de meios são menos definidos". (JOHNSON, Steven. Cultura da Interface. Rio de Janeiro: Editora Jorge Zahar, p. 34).
Todas as interfaces voltadas para a TV Digital Interativa devem ter um argumento bem definido e ser um atrativo que foque público-alvo e desenvolva nele um interesse para explorar o conteúdo do programa interativo. A navegação dentro desse conteúdo deve ser clara e intuitiva, de forma que o usuário possa reconhecer de maneira imediata o link para retornar, avançar ou obter mais informações.
As narrativas utilizadas para a TV Digital proporcionam uma estrutura de navegação similar ao que temos hoje em uma hipermídia e podem ser definidas em quatro classes:
- Navegação pela tela: é a forma mais utilizada atualmente em web sites e aplicativos de hipermídia. Corresponde a um menu de opções que aparece no decorrer da narração, permitindo ao usuário a escolha da sua direção através da seleção de um item dentro do menu.
- Navegação física: corresponde à navegação dentro de um ambiente onde temos objetos que proporcionam caminhos diferentes a serem seguidos. Esses elementos clicáveis (pelo controle remoto) possibilitam uma nova direção da narração.
Esse recurso permite, por exemplo, para t-Learning, um aplicativo em que aluno deverá tomar decisões relacionadas ao aprendizado. O final do aplicativo será baseado nas suas escolhas, possibilitando a apresentação de erros comuns relacionados ao objeto de aprendizagem.
- Sondagem ou votação: proporciona uma interação mais sociável, uma vez que fazemos parte de uma comunidade que pergunta, responde. Assim, sentimos de acordo com a opinião do grupo maior. Tipicamente, a sondagem exige alguma discussão, uso de uma rede de comunicações. Esta abordagem ganha com o conhecimento e a experiência coletiva dos telespectadores, mas sofre da diluição do individual, no entanto, pode ser uma excelente ferramenta para aplicativo de t-Learning.
A navegação física e a sondagem ou votação proporcionam uma imersão do usuário e a aplicação do real propósito da TV Digital Interativa, que é a quebra de paradigma do telespectador passivo para um atuante, modificador, criador de conteúdo.
- Interfaces tangíveis: correspondem a outros canais de entrada (inputs) que podem ser ligados à TV para aumentar o nível de realidade dos aplicativos para TV Digital. É a utilização de hardwares acopladas à TV simulando o mundo real, como volantes, manches de avião, luvas e óculos de simulação de realidade virtual para explorar um aplicativo da TV Digital.
t-Learning
Esses conceitos de narrativas aplicadas à TV Digital Interativa irão potencializar as estratégias diferenciadas para aumentar a audiência. Surgirão aplicativos voltados à publicidade, entretenimento e educação a distância, que terão de se adaptar a esse novo conceito de interatividade, narrativa e personalização do conteúdo, essa nova roupagem de educação a distância que denominamos de t-Learning.
Dessa forma, existe um conjunto de fatores a considerar para dimensionar a abrangência no t-Learning no Brasil:
- A televisão está à disposição de um vasto número de indivíduos;
- A televisão já faz parte da experiência cotidiana das pessoas;
- As pessoas tendem a confiar no conteúdo que recebem através da tela da televisão;
- A quantidade audiovisual do conteúdo televisivo proporciona uma experiência mais rica para o utilizador.
A TV Digital Interativa apresenta uma flexibilidade e se potencializa pela possibilidade de interação, no entanto, temos que avaliar a sua capacidade de resposta aos principais problemas gerados por um contexto educacional. Levando isso em consideração, para ser efetivo em um projeto de t-Learning, é preciso fazer algumas perguntas:
- Como desenvolver uma forma ativa no indivíduo?
- Como tornar os conteúdos acessíveis de uma forma não presencial e que cada pessoa vá assistir e interagir em momentos diferentes, sem que perca as suas capacidades e características pedagógicas?
- Como impedir que o uso do "entretenimento" da televisão não seja um obstáculo à sua capacidade de formar?
- Como integrar sistemas de suporte à informação num conteúdo de TV Digital Interativa?
O caminho natural levará ao surgimento de sistemas de gestão de conhecimento aplicados à tecnologia da TV Digital Interativa semelhantes aos sistemas de LMS, mas aplicados ao t-Learning.
As possibilidades são amplas, e os conceitos aqui apresentados vão sofrer adaptações conforme as experimentações voltadas à realidade brasileira. O t-Learning poderá ganhar parcerias com outros nichos televisivos, como entretenimento e publicidade, e poderá gerar dados para sistemas de Gestão Empresarial, entre inúmeras outras possibilidades.
Com o sistema de TV Digital definido no país, o próximo passo é o desenvolvimento de conteúdos de aplicativos interativos. Planeje bem as possibilidades: quem estiver na vanguarda vai ganhar espaço no mercado, se atualizar. Resumindo, vale a pena!
*É bacharel em Tecnologia e Mídias Digitais com
especialização em Design de Interfaces pela PUC-SP,
desenvolvedor da pesquisa “TV Digital Interativa e as novas possibilidades de interfaces”
(em conjunto com a SKY e com a Escola do Futuro-USP), desenvolvedor de interfaces para
ambientes de e-Learning da MicroPower e professor de Design da Microlins.
Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.
por Colunista Portal - Educação
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