Educação a Distância - Modalidade de Ensino para Grandes Distâncias / Desigualdades

Educação

01/01/2008

   
Gislaine Brasil Ribeiro Gontijo
Pós-Graduação "lato sensu" em Psicopedagogia
Mestranda em Educação


RESUMO:
Os cursos de educação a distância têm, ao longo de sua história, cumprido o seu papel sócio-cultural, político e pedagógico de atender a um número significativo de pessoas da nossa sociedade que, por razões de diferenças e desigualdades sociais, não conseguem chegar aos meios universitários para se graduarem. Esses cursos têm características próprias e, na atualidade, contam com as últimas conquistas da tecnologia que permitem interações entre o aluno e o professor e entre alunos, além de facilitar a veiculação de uma proposta de ensino de qualidade. Projeto Veredas, pioneiro em Minas Gerais, é um exemplo dessa afirmativa.

PALAVRAS-CHAVE:
Educação a distância, ensino-aprendizagem, novas tecnologias, aluno, professor-tutor.



INTRODUÇÃO


O tema “Educação a Distância” é desenvolvido, neste artigo, pelo relato de parte do seu desenvolvimento histórico, realçando-se sua importância num país onde as dimensões territoriais são muito grandes, da mesma forma que as diferenças e as desigualdades sociais o são.

Pontua-se, como característica essencial dessa modalidade de ensino, o fato de o aluno e o professor não se encontrarem juntos, face a face, como na situação usual de sala de aula.

Enfatiza-se como a contribuição dos avanços, não só tecnológicos, na área da comunicação, têm possibilitado novas e eficazes formas de interação e de aprendizagem. O reconhecimento de sua viabilidade tem-se ampliado e sua utilização tem sido aceita e aplicada nos grandes centros universitários do mundo inteiro, inclusive no Brasil. Cada vez mais, também vão sendo vencidas a restrições que os educadores faziam ao seu uso.

Finalmente, um relato de experiência recente nessa modalidade de ensino/aprendizagem, encoraja alguns e propicia reflexões aos preconceituosos.

Hoje, diante de tantos recursos, será que uma educação de qualidade só é possível no mundo real?



OBJETIVO

O presente artigo tem por finalidade mostrar como os cursos de Educação a distância vêm cumprindo, ao longo dos anos, o seu papel sócio-cultural, político e pedagógico, oportunizando formação de qualidade a uma parcela significativa da sociedade, que por diferentes motivos não pode cursar a modalidade presencial de educação.

Carece ser pensada, ainda, sua importância em países como o nosso, em que as dimensões territoriais são muito grandes e tantas as desigualdades econômicas.



DESENVOLVIMENTO


Ao se falar em Educação a Distância não se fala de algo novo, inusitado. Nos anos 50, era comum ter-se notícias de cursos por correspondência. No ir e vir da comunicação da época – os correios – as pessoas procuravam, por correspondência, melhorar sua formação ou sua habilidade pessoal. Era uma busca de melhora profissional, de atualização. Era, também, uma necessidade de se manter, fazendo frente à concorrência do mercado. A aprendizagem se fazia em serviço.

Entre os cursos de que me recordo agora, posso citar o de professora de corte e costura, o de montador e reparador de rádios, o de eletricista, o de fotógrafo, o de desenho, o de línguas, o de mágico. Todos esses e tantos outros visavam habilitar pessoas que buscavam atualizar-se e aprofundar os conhecimentos ligados ao seu campo de trabalho, por isso lhes davam maior segurança para se manterem frente a profissionais concorrentes. Eram oferecidos pelo Instituto Universal Brasileiro – São Paulo, na década de 50 e funcionam até hoje. No Brasil, é a primeira modalidade a distância de que se tem notícia.

Na época, e eu não diria que hoje é muito diferente, esses cursos eram vistos de forma preconceituosa. A sociedade se recusava em aceitá-los como sendo uma forma diferente de se fazer educação.

Um pouco mais à frente, ou melhor, alguns anos depois, em diversos lugares do mundo, criaram-se universidades que, utilizando a modalidade a distância, conseguiram que vastos setores da população, até então marginalizados dos sistemas convencionais ou formais, pudessem ter acesso aos estudos universitários. Entretanto, persistiram a incredulidade, a suspeita ou a simpatia embora os campos temáticos de formação tivessem mudado e por trás existisse um aparato universitário respondendo pela seriedade da proposta.

Indagava-se acerca dos meios que davam suporte à transmissão dos conteúdos.

Como resposta a essas indagações, observava-se que os graduados da Fern Universitat alemã, os da Open University Britânica, os da Universidade Aberta venezuelana e tantas outras unidades acadêmicas competiam por postos de trabalho do mesmo modo que os alunos egressos das universidades convencionais.

Caminhando um pouco mais no tempo, contamos agora com os recursos tecnológicos como a Internet, as teleconferências e outros veículos que permitem o foro, a reunião e o debate de pessoas.

Os discos compactos são o suporte da última geração de guias para o aluno, com orientações para estudar e com atividades ou outras propostas que acompanham os programas de educação a distância. Os professores comunicam-se com seus alunos e os alunos, entre si, comunicam-se através do correio eletrônico. Será que a denominação Educação a distância não precisa ser mudada? Talvez seja a hora de voltar a defini-la.

A educação a distância, com características próprias tem, na atualidade, como foi exposto anteriormente, condição de utilizar como veículo para a comunicação as últimas conquistas da tecnologia: livros, discos compactos, vídeos ou transmissões de televisão, que permitem interações e a veiculação da proposta de ensino com agilidade e qualidade. Contudo, o valor da proposta, mesmo quando adota os últimos desenvolvimentos da tecnologia, continua residindo, como qualquer outra proposta educacional, na qualidade dos conteúdos e em suas propostas para o ensino.

É importante esclarecer que, para se ter um bom programa de estudos para a educação a distância, precisam-se prever:
            - conteúdos atualizados e enfoques novos, conceitos relevantes de um campo do conhecimento que suscitem ou desenvolvam polêmicas e reflexões;
           - um corpo docente preocupado com a compreensão dos estudantes, estejam eles em um espaço público ou no espaço virtual;
           - docentes preocupados com a pesquisa em seu campo, bem como no método que venha a favorecer os processos de aprendizagem;
           - um ensino a distância, da mesma forma que o ensino presencial, tem por trás um grupo de docentes que se dedicam à pesquisa e escrevem os programas, os guias de estudo, as atividades, os textos e indicam bibliografias complementares. Também uma equipe de apoio que cuida dos aspectos tecnológicos da elaboração dos materiais.

É esse trabalho de qualidade que proporciona a qualidade do programa ou do projeto. Se, além da qualidade do material fica assegurada, efetivamente, a relação do aluno cursista com o seu professor/tutor através de encontros mensais, e-mail, fax, correio, telefone e outras formas de comunicação, hoje possíveis, e se as dúvidas, os questionamentos, as perguntas dos estudantes são, não só respondidas, mas estimuladas a acontecer, estamos falando de educação. E é educação no seu verdadeiro sentido político, e dialógico, como diria Paulo Freire, permitindo, não obstante as distâncias, os isolamentos e as dispersões geográficas, a dialogicidade, a aprendizagem, a ressignificação de histórias de vida e de práticas pedagógicas.

Considero oportuno o recorte da obra de Linhares (2001:p.37) onde ele se expressa a respeito da educação contemporânea e as novas tecnologias.

    “ o impacto das transformações de nosso tempo obriga a sociedade, e mais especificamente os educadores, a repensarem a escola, a repensarem a sua temporalidade”.

Mais adiante ele continua:

    “Vale dizer que precisamos estar atentos para a urgência do tempo e reconhecer que a expansão das vias do saber não obedece mais a lógica vetorial. É necessário pensarmos a educação como um caleidoscópio, e perceber as múltiplas possibilidades que ela pode nos apresentar, os diversos olhares que ela impõe, sem contudo, submetê-la à tirania do efêmero”.

Achamos oportuna as citações acima porque estamos escrevendo sobre um ensino que, entre outros recursos, utiliza, como veículo para a comunicação, as últimas conquistas da tecnologia. Esteja o aluno a doze quilômetros de distância e outro a quatrocentos, receberão as propostas e orientações de forma similar e no mesmo espaço de tempo. O distante ficou perto.

Finalmente, como afirma Letwin (1997:p. 9),

    ... “na virtualidade tais encontros são possíveis. Talvez tenhamos que dar um outro nome para a educação a distância, visto que hoje ela já não se define pela distância. O que seguramente não vamos mudar é sua definição de educação e a busca de produzir um bom ensino, do mesmo modo que em qualquer outra proposta educativa”.



RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA NA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: PROJETO VEREDAS – FORMAÇÃO SUPERIOR DE PROFESSORES

No início de 2002, fomos convidadas a ingressar na equipe de tutores que estariam operacionalizando o Projeto Veredas – uma modalidade de ensino a distância – no estado de Minas Gerais. Esse projeto – como parte importante da Escola Sagarana – é pioneiro em Minas e é uma iniciativa da Secretaria de Estado da Educação, preocupada com a melhoria da qualidade do ensino da escola pública e com a valorização do profissional da educação. A parceria com Instituições de Ensino Superior viabilizaria a aplicação desse Projeto, simultaneamente em todas as regiões do Estado, uma vez que essas Instituições já possuíam, em seu quadro de pessoal, docentes com experiência no ensino e na pesquisa, fator importante para a garantia do nível de qualidade do curso. Além do mais, o Estado estaria democratizando as oportunidades de formação superior de um grande número de professores que, até então, não haviam tido acesso ao ensino universitário.

O Projeto Veredas foi cuidadosamente preparado para os professores dos anos iniciais do Ensino Fundamental que estão em exercício, permitindo que possam acompanhar o curso sem se afastarem de suas Escolas e do convívio com os seus familiares.

O material de ensino foi elaborado por especialistas de renome no Estado e no País, nos diferentes conteúdos curriculares, requisito indispensável para assegurar sua qualidade. Esse material está sendo escrito em linguagem simples, mas sem aligeiramento, e prevê atividades que permitam aos professores relacionar teoria e prática e ressignificar sua prática pedagógica. Apesar de ser ministrado na modalidade de educação a distância, cada professor cursista não está só, pois além de ter colegas com os quais encontra a cada mês, em reuniões coletivas, para estudar, trocar idéias e partilhar experiências, tem um tutor que o acompanha, estimula-o em seu trabalho e o ajuda a superar as dificuldades que, certamente, acontecem.

O Projeto tem um “Portal” que foi organizado para que os professores cursistas possam comunicar-se com seus tutores e colegas via e-mail. À disposição das comunicações existem, também, fax e telefones, que atendem regiões em que o acesso aos computadores ainda não é possível, uma vez que sabemos das desigualdades regionais. Estamos, neste final de 2002, vivenciando o segundo módulo do Projeto Veredas, com relativo sucesso.

Como tutora, manifesto minha esperança e crença em que ele venha colaborar para a superação de parte dos problemas da educação pública em Minas Gerais. Quanto aos professores cursistas, o estar dentro do Projeto tem colaborado como detonador de reflexões, pesquisas, descobertas, sendo que a mais significativa é a descoberta de si mesmo, de se perceber autor, ressignificando a vida profissional e, conseqüentemente, a pessoal.

O Projeto Veredas tem o reconhecimento da UNESCO, o que é, sem dúvida, um aval da sua qualidade.



CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por tudo que consideramos anteriormente, podemos dizer que a educação a distância é uma modalidade de ensinar e aprender altamente democrática, pois iguala as oportunidades de acesso ao saber, ao conhecer e fomenta a educação permanente. Portas se abrem para muitos, cria-se a possibilidade do aprendizado sem fronteiras e em diversos níveis para um grande número de interessados, independente do espaço e tempo.

Outro fator a considerar é que essa modalidade de educação favorece e incentiva o desenvolvimento da autonomia do sujeito em seu processo de aprendizagem, pois lhe dá condições de gerenciar com responsabilidade e liberdade seus estudos e pesquisas enquanto recebe das agências formadoras material de qualidade, orientações precisas, apoio na resposta às sua dúvidas e questionamentos e retorno às avaliações em processo. Essa autonomia, por sua vez, propicia o encorajamento e eleva a auto-estima, abrindo ao sujeito condições de se perceber capaz de realizações nos níveis pessoal e coletivo.

Entretanto, não podemos deixar de aqui registrar o nosso pesar com notícias sobre cursos a distância onde o aluno paga a terceiros pela realização de suas tarefas. Diria que são pessoas despreparadas para o enfrentamento da vida, apóiam-se na mentira e revelam mau caráter. Infelizmente, desse risco não estamos livres. E nos vem o seguinte questionamento: a quem pensam enganar? Aos coordenadores dos cursos, à sociedade ou a eles mesmos? Será que não percebem que atitudes como essas responsabilizam a eles próprios pelas suas incompetências? Como vão lidar com seus concorrentes no “round” social? Esse lado “frágil” da educação a distância pode ocorrer. Há poucos dias, no noticiário da mídia, falava-se de firmas que aceitam encomenda de trabalhos a serem apresentados em cursos universitários. Na verdade, os inescrupulosos existem e sempre existiram, mas são minoria. Exemplos de outro nível é o que devemos estar enfatizando, como é o caso do Projeto Veredas – SEE/MG e os cursos promovidos, desde os anos 50, pelo Instituto Universal Brasileiro, em São Paulo que tem uma história de eficiência, além de tantos outros cursos no mundo inteiro que têm como suporte Universidades de renome, em grandes centros urbanos. Na verdade, não é a modalidade da educação que deixa a desejar, mas as pessoas. As fraudes podem acontecer também em cursos de modalidade presencial. Sendo assim, o que temos pela frente é um novo desafio: discutir valores éticos e morais em nossa sociedade.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

LITWIN, Edith. (org.) Tecnologia Educacional – política, histórias e propostas. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.

NÓVOA, Antônio (org.). Os professores e a sua formação. Lisboa, Portugal: Publicações Dom Quixote Ltda, 1995.

___________________. Concepções e práticas de formação contínua de professores. In:Formação Contínua de Professores: Realidades e Perspectivas. Aveiro: Universidade de Aveiro, 1991.

Projeto Veredas – Formação Superior de professores. Curso a distância. Secretaria de Estado da Educação de Minas Gerais. Belo Horizonte, 2002.

SEVERINO, A. J. Metodologia do Trabalho Científico. 21 ed. São Paulo: Cortez, 2000.

SILVA, Mozart Linhares da. A urgência do tempo: novas tecnologias e educação contemporânea. In: ____ (org.) Novas Tecnologias: educação e sociedade na era da informática. Belo Horizonte: Autêntica, 2001, p. 11-38.

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


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