Doença de Alzheimer versus Marcadores Biológicos

A Doença de Alzheimer
A Doença de Alzheimer

Enfermagem

25/01/2013

Resumo

Esta revisão bibliográfica tem por objetivo identificar o processo de evolução bioquímica e fisiológica da doença de Alzheimer. A doença de Alzheimer ocorre num processo neurodegenerativo, em que há intensa perda da capacidade cognitiva e diminuição da memória. As placas senis e os emaranhados neurofibrilares são alterações desencadeadas pelas proteínas beta-amilóide e tau. Este levantamento bibliográfico foi realizado no período de fevereiro a outubro de 2012, utilizando-se artigos científicos referentes ao tema citado com publicações dos anos de 2007 a 2011. O conhecimento adquirido com esta revisão literária servirá para auxiliar no diagnóstico da doença, através de resultados de exames, sinais e sintomas apresentados.

Introdução

O envelhecimento é um processo normal de alteração relacionado com o tempo, começa com o nascimento e prossegue durante toda a vida. A medida que a população idosa aumenta, o número de pessoas que vivem em uma faixa etária muito avançada também aumentará. Os profissionais de saúde serão desafiados a idealizar estratégias que abordem a maior prevalência dessa doença dentro da população idosa.(1) Em 1970, a pirâmide etária brasileira exibia forma típica de um país subdesenvolvido. No ano 2000, porém, a base havia-se estreitado e o topo se alargado. As modificações da estrutura etária confirmam as mudanças no comportamento reprodutivo da população brasileira e revelam uma tendência demográfica para as próximas décadas: o Brasil terá deixado definitivamente de ser um país jovem em 2025.

O envelhecimento pode ser analisado a partir dos pontos de vista cronológico, biológico, psíquico, social e funcional. Senescência é a fase da vida de um indivíduo sadio, com 60 anos ou mais, não-doentia, sem distúrbios de conduta, esquecimentos importantes e perda do controle de si mesmo – em outras palavras é o velho sadio. Senilidade é o envelhecimento patológico, em que o idoso perde a autonomia e independência para as atividades de vida diária (AVD).(3)

A estrutura e a função do sistema nervoso modificam-se com o avançar da idade, e uma redução no fluxo sanguíneo cerebral acompanha as alterações no sistema nervoso. A perda de células nervosas contribui para uma perda progressiva da massa cerebral, e também estão reduzidos a síntese e o metabolismo dos principais neurotransmissores. A função mental é ameaçada pelos estresses físicos ou emocionais.(1)

Neuropatologia Da Doença De Alzheimer

A doença de Alzheimer é uma doença neurodegenerativa que se caracteriza pela depleção de acetilcolina (ach), pela redução da colina-acetiltransferase e dos receptores nicotínicos de ach. Essa redução ocorre na fenda sináptica dos neurônios corticais, especialmente dos lobos temporal, parietal, do hipocampo e do núcleo basal de Meynert. As margens corticais são mais comprometidas desde o início, ao passo que outras áreas como o córtex motor, visual ou auditivo, são poupados até as fases mais avançadas: Há redução do número de neurônios e de sinapses, e duas alterações que marcam a doença: as placas senis e os emaranhados neurofibrilares. As principais hipóteses que buscam explicar a morte neuronal nas doenças neurodegenerativas estão na tabela abaixo. (4)(5)

• Estresse oxidativo

• Morte celular programada

• Agregação de proteínas

• Distúrbio na degradação de proteínas

• Disturbio mitocondrial
       

Na DA, a presença do peptídeo beta-amilóide e que será comentado a seguir – pode ser um desencadeante de estresse oxidativo (com formação de espécies reativas de oxigênio e nitrogênio) que, por sua vez, é fator importante para ocorrência de injúria mitocondrial. A falência mitocondrial que se segue – que também parece ocorrer por ação tóxica direta do peptídeo beta-amilóide – levaria a perda sináptica e morte celular.

Na doença de Alzheimer são duas as principais proteínas que formam agregados: a proteína ou peptídeo beta-amilóide, e a proteína tau. A proteína beta-amilóide é um fragmento de proteína precursora amiloide, sendo composta por 42 aminoácidos, é mais amiloigência do que a proteína original, pois tem a característica de agregação proteica na parte extracelular dos neurônios. Sendo assim, seu acumulo resultara na formação de fibras amiloides gerando as placas senis.(6) A tau é uma proteína que desempenha um papel na formação e estabilização dos microtúbulos nos neurônios, ela precisa ser fosforilada para se ligar aos microtúbulos, e a sua hiperfosforilação inibe a ligação aos microtubulos. Consequentemente os microtubulos reduzem seu tamanho e os filamentos da proteína tau agregam-se no citoplasma formando emaranhados (7). Atualmente existe a hipótese que se baseia na cascata amiloide, ou seja, o acumulo do beta amiloide cerebral que desencadearia uma série de eventos que culminaria na morte neuronal e precipitação de proteínas, mediante a formação das placas amiloidais e dos emaranhados neurofibrilares (8). Esses mecanismos determinam o processo de atrofia cerebral, inicialmente em áreas mesiais do lobo temporal, como hipocampo e córtex entorrinal – áreas associadas ao processamento da memória recente – e atrofia do núcleo de Meynert, bem como dos núcleos septais, prosencéfalo basal. Estes núcleos são responsáveis pela produção de acetilcolina, um neurotransmissor mediador da atividade cognitiva. Progressivamente, o processo neurodegenerativo acomete todo o córtex cerebral, determinando o declínio das demais funções cognitivas, além de distúrbios de comportamento.(9)

Este estudo foi realizado a partir de uma oportunidade, sendo incentivado pelo orientador, com o objetivo de descrever os principais biomarcadores da Doença de Alzheimer.

Objetivos
Identificar a partir de uma revisão de literatura o processo de evolução bioquímico e fisiológico da doença de Alzheimer.

Metodologia
Este trabalho trata-se de uma revisão bibliográfica, que tem como finalidade observar o processo de evolução bioquímico e fisiológico da doença de Alzheimer. Através de livros, artigos e manuais publicados entre 1994 a 2011, encontrados através de palavras-chave como: Doença de Alzheimer; Proteína Beta-Amilóide; Marcadores biológicos. A pesquisa descritiva e bibliográfica registra e correlaciona fatos ou fenômenos (variáveis) sem manipulá-los. Esta pode assumir diversas formas, dentre as quais se destaca a pesquisa documental, na qual são investigados documentos, objetivando descrever as mudanças bioquímicas da doença de Alzheimer. Este trabalho de levantamento bibliográfico foi realizado no período de fevereiro a novembro de 2012 e , serão utilizados artigos ciêntificos referentes a Proteina Beta Amilóide e Tau, e a formação das placas senis e emaranhados neurofibrilares. Diante disto, foram selecionados e analisados 50 artigos retirados das bases de dados ciêntificos Medline, Lilacs e Scielo, com publicações entre os anos de 2006 a 2011. Dentre esses 50 artigos, foram utilizados apenas 20 para a elaboração do trabalho, sendo 18 escritos em língua portuguesa e 2 em língua inglesa. Destas publicações utilizou-se as de maior relevância com o tema em questão, elaborando-se núcleos temáticos, cujo foco principal é “Marcadores Biológicos da Doença de Alzheimer”.

Desenvolvimento
Envelhecer pressupõe alterações físicas, psicológicas e sociais no indivíduo. Tais alterações são naturais e gradativas. É importante salientar que essas transformações são gerais, podendo se verificar em idade mais precoce ou mais avançada e em maior ou menor grau, de acordo com as características genéticas de cada indivíduo e , principalmente, com o modo de vida de cada um.A alimentação adequada , a prática de exercícios físicos, a exposição moderada ao sol, a estimulação mental, o controle do estresse, o apoio psicológico, a atitude positiva perante a vida e o envelhecimento são alguns fatores que podem retardar ou minimizar os efeitos da passagem do tempo. Hoje em dia, com o avanço farmacológico, a melhoria nas condições de vida e a maior preocupação com a prevenção de doenças com boa alimentação, exercícios físicos, como caminhadas e outras atividades, o envelhecimento está acontecendo em idade mais avançada.(11)

Estudos mostram que os seres humanos vão viver cada vez mais e não apenas o número de idosos tende a crescer, mas também o número de muitos idosos, denominados integrantes da quarta idade, pessoas com mais de 85 anos. O segmento idoso cresce em todos os países. No Brasil, os idosos representam um contingente de quase 15 milhões de pessoas.(12)

O processo de envelhecimento demográfico vem distorcendo a forma tradicional da pirâmide. Em 1950, a base da pirâmide da população formada pelo grupo de 0 a 4e anos correspondia a maior participação relativa no total da população. Em 2000, o traçado geométrico já apresentava mutações em consequencia do estreitamento da base da pirâmide e alargamento das faixas etárias mais avançadas.As projeções demográficas para 2050 indicam profunda transformação na estrutura etária da população brasileira.(13)

O processo de transição demográfica da população brasileira e mais especificamente da paulista, com queda acentuada da fecundidade para níveis inferiores ao da reposição e aumento progressivo da sobrevivência nas idades mais elevadas, esta provocando rápida mudança na estrutura etária da população. Segundo projeções da Fundação Seade, a participação das faixas etárias mais jovens, no total da população paulista, está se reduzindo, enquanto a daquelas mais idosas vem se expandindo rapidamente.(13)

Doença De Alzheimer
Quanto maior a idade maior a incidência de desenvolver doenças neurodegenerativas, e uma dessas é a Doença de Alzheimer. Nela ocorre uma intensa perda da capacidade cognitiva, com diminuição de memória, trazendo também outros sinais e sintomas como dificuldade de comunicação, apatia, depressão e agitação/agressividade. Seu diagnóstico definitivo ainda hoje depende do exame histopatológico do cérebro post mortem. Em vida, o diagnóstico da DA provável é baseado na exclusão de outras causas de demência realizados por meio de avaliações clínicas e neuropsiquiátricas.(14)

 Os métodos de diagnósticos utilizados atualmente são a aplicação de testes de avaliação cognitiva para avaliar o estado mental onde podemos citar o Mini-Mental de Folstein; Eletroencefalografia,exames laboratoriais (hemograma, ureia, creatinina, T4 livre, TSH, albumina,TGO,TGP,Gama-GT, Vitamina B12 e Calcio), análise do líquido cefalorraquidiano (LCR); Tomografia e Ressonancia Magnética de crânio(15). Os biomarcadores com maior potencial de aplicação clínica, são os do peptídeo beta-amilóide(AB42) e da proteína Tau (total e fosforilada)(16). O peptídeo AB1-42 é derivado de uma precursora amilóide pela segmentação da mesma por enzimas denominadas secretases.A ENE (enolase neurônio específica) é uma enzima dimérica composta de subunidades alfa, beta e gama.e suas isoformas são sintetizadas por neurônios e tecido neuroendócrino.(17)

Proteina Precursora Amiloide (Ppa)
O peptídeo beta-amilóide é produzido a partir da degradação metabólica da proteína PPA. Essa proteina tem característica típicas de crescimento e desempenham funções importantes na transdução de sinais e na estrutura de neurônios. A PPA secretada exerce efeitos neurotróficos e neuroprotectivos, em diversos tipos de células. Ela pode ser localizada em sua forma imatura no retículo endoplasmático e em sua forma matura no complexo de Golgi. Sua mutações são conhecidas como causas da manifestação da DA idade precoce(18). Atualmente são relatadas 20 diferentes mutações de troca de aminoácidos no gene da PPA e mais de 800 polimorfismos descritos em introns (regiões não codificantes do RNA-m), além de 11 éxons (regiões codificantes do RNA-m) sendo sete de troca de aminoácidos(19). A terapêutica atual da DA está baseada em três pilares: melhorar a cognição; retardar a evolução da doença; atenuar os sintomas e alterações comportamentais.(20)


Considerações Finais
A identificação do processo de evolução bioquímica e fisiológica da Doença de Alzheimer é de extrema importância para o auxílio no diagnóstico da DA, porque através de exames como coleta de líquor e exames complementares de diagnóstica, eletroencefalograma, e laboratoriais é possível visualizar alterações nos biomarcadores, que são a proteínas Beta-Amiloide e Tau. Essas alterações são fatores desencadeantes que progressivamente contribui no processo degenerativo do sistema nervoso, resultando na atrofia cerebral, e paralelamente ocorre a perda das funções cognitivas e distúrbios de comportamento.

Através desta pesquisa bibliográfica foi observado o seguinte: Os biomarcadores beta-amilóde e tau, são evidenciados nos exames de liquor e contribuem para o diagnóstico do Alzheimer. Embora ocorra divergência de opiniões quanto a sua aplicabilidade e variabilidade de resultados. Entende-se também que: Quanto mais precocemente forem realizados os exames e supostamente for diagnosticado a doença, melhores são as condições para o tratamento. Atualmente sabemos que o diagnóstico da doença de Alzheimer só é confirmado no exame histopatológico do cérebro post – mortem, mas ao surgirem sinais e sintomas comuns de doenças neurodegenerativas poderá ser estudado um método de exames preventivos, assim como são feitos os exames de marcadores tumorais para o câncer, poderá ser feitos exames preventivos com o biomarcadores do sistema nervoso com o objetivo de averiguar com brevidade a possibilidade do desenvolvimento da DA. Uma vez que existe influência genética sobre a doença de Alzheimer através da mutação do gene da proteína precursora amiloide. E também devido a inversão da pirâmide etária, o numero de idosos está cada vez maior e isso aumenta proporcionalmente a incidência de doenças neurodegenerativas gerando um aumento no gasto para a saúde pública.

Havendo a possibilidade de detectar essas alterações, surge a esperança de realizar tratamentos não só paliativos mas também tratamentos preventivos evitando assim a degeneração celular do sistema nervoso.


 Referências Bibliográficas
1. BRUNNER E SUDDARTH – Tratado de enfermagem médico-cirúrgica; 10 ed; vol.1; Guanabara Koogan; 2005; RJ; p. 200-203

2. Pirâmides etárias da população; Site www.uol.com/atlas; acessado em 12/04/12.

3. VONO,ZULMIRA ELISA: Enfermagem gerontológica – atenção a pessoa idosa; Editora Senac São Paulo; 1ª edição 2007; p. 14

4. NITRINI, RICARDO; Demências enfoque multidisciplinar – das bases fisiopatológicas ao diagnóstico e tratamento – Fisiopatologia da Doença de Alzheimer ; Editora Atheneu; Rio; 1ª edição 2011;cap.20; p.143-148

5. HUEB, Thiago Ovanessian; Doença de Alzheimer; Revista Brasileira de Medicina; Edição Nov. 07;V.64; N.11; p.515-517

6. BARROS, AC, et al/Revista Psiquiatria Clinica, V.36;nº 1; São Paulo 2009; Influência genética sobre a doença de Alzheimer de início precoce.

7. TIEDEMAN, M, et al/Revista Patient Care; V.16; nº176; 2011; Doença de Alzheimer: opções de tratamento actuais e desenvolvimento futuros

8. ALVES, T.C.T.F./Revista Psiquiatria Clinica, V.43(2); 102-103,2007 – PET do amiloide cerebral e da proteína tau no transtorno cognitivo leve

9. AZEVEDO, P.G/ Revista CEFAC, São Paulo – Linguagem e memória da doença de Alzheimer em fase moderada.

10. LAKATOS, E.M., Fundamentos de metodologia cientifica, São Paulo, Editora Atlas S.A., 2005

11. ZIMERMAN, G. I., Velhice – aspectos biopsicossociais, Editora Artmed, 2000; p.28

12. CORTE, B.; Envelhecimento e velhice: um guia para a vida; Editora Vetor, São Paulo, 2006; p.243

13. www.seade.gov.br/produtos/spdemog/abr2010/spdemog - abr2010.pdf acessado em 11/09/12 as 23:43hs.

14. MARCOS A.PRADO, et al/Revista USP, São Paulo, nº 75;p.42-49, set/nov. 2007

15. NITRINI, RICARDO – Arq. Neuropsiquiatria 2005, 63(3-A) 713-719; Diagnóstico da doença de Alzheimer no Brasil

16. DINIZ, B.S.O/ Revista Psiquiatria Clinica, 34(3);144-145;2007

17. DIMAS, L.F.E PUCCIONE SOHLER, Bras. Patol. Med. Lab.;V.44; nº 2; p. 97-106; abril 2008; Exame do liquido cefalorraquidiano: influência da temperatura, tempo, e preparo da amostra na estabilidade analítica

18. OLIVEIRA, P.H.P.S, http://hdl.handle.net/10773/3128; 2009

19. LUCATELLI, J.F, et al/ Rev. Psiq. Clin.,2009; 36(1); 25-30

20. VIEGAS,F.D.P. et al/Rev. Virtual Quim. Vol.3; nº4;p.286-306; Doença de Alzheimer: caracterização, evolução e implicações do processo neuroinflamatório.

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Gabriela Bautista

por Gabriela Bautista

Enfermeira cardiovascular, pós graduada em Informática em Saúde, graduada pela Universidade Nove de Julho. No âmbito profissional atuo em unidades de internação adulto e infantil, centro cirúrgico, centro obstétrico, unidades de terapia intensiva, pronto socorro, educação continuada e hemodinâmica.

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