Relevância da Malária na região Norte do Brasil com ênfase no estado de Rondônia

Incidência da malária na região Norte do Brasil
Incidência da malária na região Norte do Brasil

Enfermagem

06/03/2013

A malária ou paludismo é uma doença infecciosa aguda ou crônica causada por protozoários parasitas do gênero Plasmodium, transmitidos pela picada do mosquito do gênero Anopheles fêmea.


A malária é reconhecida como grave problema de saúde pública no mundo, ocorrendo em quase 50% da população, em mais de 109 países e territórios. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a estimativa é de 300 milhões de novos casos e 1 milhão de mortes por ano, principalmente em crianças menores de 5 anos e mulheres grávidas do continente africano.


No Brasil, existem três espécies de Plasmodium causadores da malária: Plasmodium falciparum, Plasmodium Vivax e Plasmodium malariae. Em 2006 foram registrados cerca de 540 mil casos da doença no país. Mais de 99% dos casos se concentraram na região amazônica, a qual é composta pelos estados: Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins, onde as condições socioeconômicas e ambientais favorecem a proliferação do mosquito causador.


RONDÔNIA

No estado de Rondônia, o histórico da malária está intrinsecamente ligado à ocupação do território e reporta à época do descobrimento do Brasil, com relatos de inúmeras epidemias da doença, muitas vezes responsáveis pelo fracasso de grandes empreendimentos, como o ocorrido durante a construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, em 1903, sendo inviabilizada em consequência da dizimação de centenas de trabalhadores pela malária.


Outro fato foi a construção da BR 364 (Rodovia Cuiabá-Porto Velho), em 1944, criada para ligar a Amazônia Ocidental ao Centro-Sul do país, no qual foram registradas várias epidemias.


Nas décadas de 80 e 90, a exploração mineral desordenada do ouro e da cassiterita trouxe desequilíbrio ecológico e social, culminando um dos maiores desastres sanitários do estado, que em 1988 registrou 278.408 casos de malária, atingindo uma incidência parasitária anual de 290,4 casos da doença para cada mil habitantes.


O grande potencial hidrelétrico de Rondônia, fez com que o estado estivesse, em 2006, mais uma vez incluído em um megaprojeto da construção de duas usinas hidrelétricas que juntas terão capacidade de gerar 6.900 megawatts de energia. O surgimento de áreas devastadas, a ocupação desordenada de cidades, deslocamento de populações para áreas receptivas para a doença devido do futuro enchimento da represa, aumento da demanda dos serviços de saúde e a alteração da dinâmica dos criadouros com o represamento de água fez com que o Poder Público e o Empreendedor elaborassem um plano de ação pra controle da malária, que minimizassem esses problemas impedindo assim a ocorrência de uma nova grande epidemia.

Uma das condições para que o Empreendimento Hidrelétrico do Rio Madeira se instalasse em Porto Velho era que o empreendedor investisse financeiramente na região de influência da usina como forma de compensação dos agravos que possivelmente seriam desencadeados com sua implantação.

Segundo o Projeto Básico Ambiental- PBA, elaborado pelo empreendimento, conforme as Diretrizes Técnicas exigidas pelo órgão fiscalizador IBAMA, os recursos deveriam ser aplicados nos seguintes itens: construção e manutenção de laboratórios e pontos de apoio para malária; aquisição e manutenção de meios de transportes terrestres e fluviais; aquisição e manutenção de equipamentos e insumos; realização de atividades de educação em saúde e mobilização social e, capacitação de recursos humanos, totalizando um montante de R$ 5.581.803,65.

Ainda segundo o PBA as obras, com início em Dezembro de 2008, terão duração aproximada de sete anos e as atividades de monitoramento e controle vetorial culminarão 05 anos após o enchimento do reservatório.

A Secretaria Municipal de Saúde apresenta publicamente dados que demonstram que o número absoluto de casos de malária no Município de Porto Velho apresentam tendência de redução, desde 2007. Segundo dados do Ministério da Saúde registraram-se consecutivamente, de 2006 a 2010, 36.550, 33.312, 22.271, 20.216 e 23.423 casos de malária, mesmo a população tendo apresentado crescimento gradativo, neste período, revelando a eficácia das atividades realizadas para minimizar os possíveis impactos causados pela instalação de um empreendimento hidrelétrico.

O número de casos da doença é menor do que o identificado no período anterior à instalação do empreendimento. Comparando-se os dados de 2010 com o mesmo período de 2007, observa-se uma redução de 29,68%, em todo o município de Porto Velho, tanto na área urbana quanto rural.

Analisando o registro de casos na terceira região, que compreende o distrito Jaci Paraná, e a localidade de Nova Mutum Paraná, observa-se um acréscimo de 206,97% em 2010, em relação ao mesmo período de 2008.

Na quarta região (Ponta do Abunã) e na sexta região (área de influência direta da UHE Jirau), em 2010 quando comparado ao mesmo período de 2008, houve redução de 9,6% e 3,90%, respectivamente.

A sétima (distrito União Bandeirantes), oitava (Projeto Joana D’arc) e nona (Rio Pardo) a redução alcançou em 2010 comparado ao ano de 2008, respectivamente, a 11,35%, 45,63% e 35,89%.

Com relação às áreas de influência indireta da usina: a 1ª (Porto Velho zona Urbana) e 5ª região (Baixo Madeira) a. redução foi de 0,65% e 36,38%, respectivamente. Entretanto, a 2ª região (Porto Velho zona rural) houve um acréscimo de 5,58%, no ano de 2010 em relação a 2008.

Pelo exposto, infere-se que em 2010 quando comparado a 2008, houve redução da doença nas 1ª, 4ª, 5ª, 6ª, 7ª, 8ª e 9ª região, enquanto a 2ª e 3ª região apresentou acréscimo.
Ressalta-se que no eixo principal de influência da usina (3ª, 4ª, 6ª e 7ª região) foram instalados 7.200 Mosquiteiros Impregnados de Longa Duração (MILDs) que segundo dados divulgados no site (http://www.energiasustentaveldobrasil.com.br) na 3ª região, houve uma redução de 46,3% no primeiro semestre de 2011. Na quarta, sexta e 7ª região, a redução no primeiro semestre de 2011 foi de 39,9%, 37% e 52,3%, respectivamente.

Do Índice Parasitário Anual (IPA) de malária, por ano no Estado de Rondônia, segundo dados publicados pelo Ministério da Saúde na Norma Técnica n° 94/DSAST/SVS/MS/2012, de 30 de Maio de 2012, considerando o período de 2007 a 2011, sendo 2007 o ano de concessão da Licença Prévia (licença que aprova a viabilidade ambiental do projeto e autoriza sua localização e concepção tecnológica) emitida pelo IBAMA à usina, houve redução de 64,54% dos casos de malária no estado de Rondônia.

Sobre os resultados do monitoramento e controle da malária, registrou-se redução no número de casos de 2010 para 2011 de 18%, em algumas áreas críticas de Jacy Paraná a redução foi de 45% dos casos de 2011 comparando com 2010. Conforme pode-se observar no gráfico acima, houve aumento dos casos registrados de 2009 para 2010, no entanto, com a implantação de medidas de controle, como por exemplo a instalação dos Mosquiteiros Impregnados e os trabalhos de educação em saúde, em 2011 houve queda considerável no registro de casos positivos.

Ressaltando, definitivamente, que ações para estruturação dos serviços de saúde, aquisição de equipamentos e insumos, capacitação de profissionais de saúde para notificação e manejo da enfermidade e orientação e mobilização da população, são sim, capazes de controlar o vetor e reduzir o número de novos casos de malária a cada ano.

REFERÊNCIAS:


BRASIL, 2008. Ministério da saúde. Secretaria de Vigilância em saúde. Diretrizes técnicas para o plano de controle da malária.


BRASIL, 2010. Ministério da Saúde. Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica – SIVEP – Malária. IBGE, Projeto UNFPA/IBGE (BRA/4/P31A) – População e Desenvolvimento

ENERGIA SUSTENTÁVEL DO BRASIL, 2008. Projeto Básico Ambiental. Atendimento das condicionantes da Licença Prévia n 251/2007.

RONDÔNIA, 2010. Prefeitura do Município de Porto Velho. Secretaria Municipal de Saúde. Plano Municipal de Saúde.

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Nayana Santana Soares

por Nayana Santana Soares

Enfermeira da Fundação de Hematologia e Hemoterapia do Estado de Rondônia. Atualmente compõe também a equipe de Auditora Interistituscional TCE-RO/MPC/MPE. Possui graduação em Enfermagem pelo INSTITUTO DOCTUM DE EDUCAçãO E TECNOLOGIA LTDA (2006) e Título de Especialista em ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE DA FAMÍLIA.

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