03/04/2013
O emprego do jaleco além de ser uma vestimenta recomendado para os profissionais de saúde como uma das barreiras de proteção na prevenção de contaminação por agentes infecciosos, principalmente aqueles que trabalham em áreas com riscos variáveis e complexas, também reduz significativamente o risco de acidente ocupacional.
Infelizmente esse tradicional equipamento de proteção para profissionais da saúde e para quem trabalha no campo da pesquisa, cujo uso deveria ser dentro do seu local de trabalho como laboratório ou ambiente hospitalar, passa a ser utilizado fora desses ambientes como uma marca que transmite respeito e traz valor a pessoa que usa. Ao mesmo tempo em que o jaleco é considerado um acessório de proteção para o profissional o seu mau uso passa ser um veículo de transmissão de doenças.
PUCCINI (2011, p. 3044) em uma das suas pesquisas direcionada à infecção hospitalares, relembra que meado do século XIX o médico Ignaz Semmelweis, de origem húngara e ideias questionadoras e meio conservador círculo de colegas em Viena, comprovou a hipótese de que as doenças graves (doenças infecciosas na época não se conhecia a existência de microrganismos) eram decorrentes de procedimentos terapêuticos, foi por muitas vezes alvo de zombarias e até perseguido.
Bactérias multirresistentes, que podem provocar doenças como faringite, otites, pneumonia, tuberculose e até mesmo a morte, são carregadas para lugares públicos e retornam das ruas para consultórios médicos, odontológicos, enfermarias e salas de cirurgia nos jalecos dos mais diversos profissionais da saúde. Essa negligência profissional, na maioria das vezes acontece por arrogância ou por desconhecimento de alguns conceitos básicos de microbiologia (CARVALHO et al., 2009, p. 307).
Locais como restaurantes e lanchonetes perto de hospitais, laboratório de análises clínicas, consultório odontológico, clínica cirúrgica e veterinária de várias cidades observa-se, diariamente, médicos, enfermeiros, odontólogos e outros profissionais de saúde paramentados com seus aventais de mangas compridas, gravatas, estetoscópio nos pescoço e até mesmo vestimentas específicas para área cirúrgicas que seria restrita somente para seus ambientes de trabalho e que estão presente nestes ambientes públicos (CARVALHO et al., 2009, p. 357).
Mesmo com a Norma Regulamentadora NR-32 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) que restringe o uso do jaleco fora do local de suas atividades laborais, ainda é muito comum o descumprimento dessa regra entre os profissionais da saúde.
O professor Adjunto da Universidade Federal do Rio de Janeiro e chefe do Laboratório de Microbactérias do Instituto de Microbiologia Paulo de Goes Rafael Silva Duarte, em janeiro de dois mil e doze aponta que os micro-organismos patogênicos podem ser depositados em tecidos de jalecos por diversos meios (mão, secreções, contaminação ambiental) e não são eliminados em período curtos, permanecendo viáveis por períodos prolongados. O mesmo também afirmou que Mycobacterium tuberculosis, por exemplo, o agente etiológico da tuberculose permanece viável no tecido de algodão 50 dias como comprovaram por experimentos em seu laboratório (RIBEIRO e SEVERIANO, 2012).
As Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS) são consideradas em todo mundo como um importante problema de saúde pública por comprometeres a segurança e a qualidade assistencial dos pacientes em instituições de saúde, levando ao prolongamento do período de internação (OMS, 2009; HAUTEMANIÈRE et al., 2011 apud SILVA, 2011 p. 17).
Estudos relacionados com a origem das infecções hospitalares tem demonstrado que em certos casos este problema não pode ser evitado/prevenido mesmo com todas as precauções adotadas, como é o caso de pacientes imunologicamente comprometidos, sendo a infecções de origem da sua própria microbiota. Já em relação à questão da existência das infecções que podiam ser evitadas, exige da equipe da saúde e das instituições, responsabilidade, ética, técnica e social no sentido assegurar os serviços e os profissionais a prevenção das infecções hospitalares (PEREIRA, 2005, p. 252).
A contaminação microbiana de uniformes e jalecos brancos surge durante atendimento clínico em contato com o paciente, e do usuário para o uniforme. Neste caso, o uso rotineiro pelo profissional de saúde no contato com pacientes faz com que esses acessórios se tornem colonizados por bactérias patogênicas. Esta questão foi confirmada em uma pesquisa na qual foi demonstrado que os jalecos brancos de estudantes de medicina são mais susceptíveis de estarem bacteriologicamente contaminado em pontos de contato frequente, como mangas e bolsos. Os principais microrganismos identificados foram os que estão presente na pele incluindo o Staphylococcus aureus. Para alguns pesquisadores, a limpeza dos jalecos realizada pelos estudantes, foi correlacionada com a contaminação bacteriológica, onde apenas uma parte desses estudantes lavava os seus jalecos esporadicamente (CARVALHO et al., 2009, p. 358)
Embora a responsabilidade das infecções seja relacionada também a estrutura organizacional que envolve políticas governamentais, institucionais, administrativas, interpessoais e Intersetoriais no trabalho, o envolvimento profissional é o grande foco para a falta de conscientização na adesão as medidas de controle de Infecção Hospitalar (IH).
Vários pesquisadores relatam que uniformes dos profissionais de saúde, incluindo, os jalecos, quando em uso torna-se progressivamente contaminados com bactérias provenientes de usuários, de pacientes e de ambientes clínico. Alguns acessórios que ficam em contato direto com os jalecos dos profissionais de saúde como crachás de identificação, colares e brincos usados por muitos profissionais também podem estar contaminados com microrganismos patogênicos que poderiam ser transmitidas aos pacientes.
Um dos membros da comissão de biossegurança do centro de saúde da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e chefe do Laboratório de Microbiologia de Alimentos do Instituto de Microbiologia Professor Paulo de Goes (IMPPG) Marco Antônio Lemos Miguel, alerta que além da importância da lavagem das mãos, a proibição do uso do jaleco fora do ambiente de saúde é importante, pois fecha umas das portas por onde microrganismo extremamente perigoso pode ter acesso à comunidade. Esse pesquisador relata que estudos realizados demonstram que as bactérias causadoras de infecções hospitalares podem permanecer até 17 semanas no jaleco, e o número dessas bactérias patogênicas não se reduz durante a jornada de trabalho como de 8 horas de um profissional de saúde. Esses microrganismos muitas vezes são resistentes a antibióticos causando grande dificuldade no tratamento do paciente, aumenta o custo e os riscos de morte (RIBEIRO e SEVERIANO, 2012).
A consequência desta negligência profissional, especialmente dos profissionais da área da saúde em relação à segurança do paciente e da comunidade, tem demonstrado falha nas campanhas de conscientização dos profissionais e da população. Esse problema deve ser rotineiramente trabalhado, passando os profissionais a serem notificado e por último punidos pelo o estabelecimento empregador.
REFERÊNCIAS:
http://portal.anvisa.gov.br/
CARVALHO, Carmem Milena Rodrigues Siqueira et al. Aspectos de biossegurança relacionados ao uso do jaleco pelos profissionais de saúde: uma revisão da literatura. Texto contexto – enferm., 2009, vol.18, n.2, p. 355-360.
PEREIRA, Milca Severino et al.. A infecção hospitalar e suas implicações para cuidar da enfermagem. Texto Contexto Enferm, 2005. jun., v.2, n. 14, p. 250-257.
PUCCINI, Paulo de Tarso. Perspectivas do controle da infecção hospitalar e as novas forças sociais em defesa da saúde. Ciênc. saúde coletiva, 2011, vol.16, n.7, p. 3043-3049.
RIBEIRO, André e SEVERIANO, Luana. Por que e como deve ser punido o uso do jaleco fora do ambiente de trabalho. Olhar Vital – UFRJ. Ed. 275, jan. 2012. Disponível em <http://www.olharvital.ufrj.br/2010/index.php?id_edicao=275&codigo=4>. Acesso 02 abril 2013.
SILVA, Marlene das Dores. Caracterização epidemiológica dos microrganismos presentes em jalecos dos profissionais de saúde de um hospital geral. 2011. Tese (Mestrado em Enfermagem) – Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Minas Gerais, 2011, p. 102.
Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.
Graduada em enfermagem farmácia pela Universidade Estácio de Sá, sempre em busca de novos conhecimentos e desafios possui pós graduações em Saúde Pública, Urgência e Emergência que contempla a sua área como enfermeira e mais recentemente pós graduada em Biotecnologia Farmacêutica pela Universidade de Coimbra (Portugal). Colunista e tutora do Portal Educação, desempenhou função como colunista.
UOL CURSOS TECNOLOGIA EDUCACIONAL LTDA, com sede na cidade de São Paulo, SP, na Alameda Barão de Limeira, 425, 7º andar - Santa Cecília CEP 01202-001 CNPJ: 17.543.049/0001-93