Prescrição médica na Síndrome Policitemia e Hiperviscosidade (SPH), a sangria terapêutica, comumente denominada hemodiluição normovolêmica, é prática muito comum nas unidades de internação cardiológica.
A SPH constitui um aumento patológico no volume de eritrócitos circulantes, isto é, superior a dois desvios padrão acima do valor normal para a idade, segundo Brugnara (1998) citado por Rocha et Al (2006, p. 113).
Sua indicação “é baseado em fatores médicos e visa tratar ou prevenir os sintomas de uma carência de capacidade de transporte de oxigênio através do sangue.” (GUIDELINE, 2011, p.47).
Nestes casos, para a indicação de sangria, são admitidos valores diferentes para o hematócrito, adotando-se o valor superior a 65% como diagnóstico de policitemia associado a hiperviscosidade (Rocha et Al, 2006, p. 113). Entretanto, para Ângulo et Al (1999, p.292) sua indicação “somente se justifica se o hematócrito for superior a 70%”, sugestivo de complicações, tal como o acidente vascular cerebral.
A policitemia que ocorre nas cardiopatias congênitas, classificada como secundária, é consequência de uma hipóxia crônica gerada pela existência de shunt intra-cardíaco, desviando o sangue desoxigenado da câmara direita para a câmara esquerda, misturando sangue venoso e arterial. Esta, por sua vez, estimula a produção de glóbulos vermelhos, numa tentativa de compensação, para aumentar a oferta de oxigênio dos tecidos. Como ônus, há um aumento proporcional da viscosidade sanguínea que, por sua vez, dificulta o fluxo sanguíneo causando lentidão no transporte de oxigênio desde o coração até os capilares.
A sangria terapêutica caracteriza-se pela coleta de um determinado volume do sangue total concomitantemente à administração de volume por intermédio de solução compatível com as características do plasma sanguíneo. Visa, “a redução artificial da contagem de eritrócitos no sangue, por diluição com fluidos cristalinos ou coloidal.” (GUIDELINE, 2011, p.342).
Durante e após o procedimento, faz-se necessário a monitorização multiparamétrica do indivíduo com vistas à avaliação contínua da sua hemodinâmica. Com a redução na viscosidade ocorre vasodilatação e, consequentemente, um aumento no débito cardíaco (Maia et Al, 1991, p. 101). Ainda como afirmam, Maia et Al (1991, p. 101) “uma vez que o aumento do débito cardíaco compensa a queda na resistência periférica total, a pressão arterial e a frequência cardíaca se mantém estáveis.”
Na técnica, é desejável a punção venosa de ambos os membros superiores, visto que, em um membro, realiza-se a sangria, enquanto no outro, a infusão da expansão desejável (Maia et At, 1991, p. 102). Contudo, nem sempre é possível fazê-lo, dada a viscosidade sanguínea, requerendo uma alternativa mais dolorosa, tal como a punção arterial.
A literatura remete que as venóclises para retirada e reposição de sangue devem coincidir em volume e velocidade. Isto é, todo o sangue a ser desprezado, deve assim sê-lo, no mesmo tempo e na mesma proporção de quantidade, em que será administrado o volume, daí a nomenclatura hemodiluição normovolêmica.
Estima-se que a porcentagem máxima de sangue a ser manipulado numa sangria equivale a 10% do volume sanguíneo total do indivíduo, sendo este, calculado a partir do peso corporal do mesmo (Maia et Al, 1991, p. 102). Assim, havendo indicação de maior retirada de volume, programa-se novo procedimento, tão logo possível. Para tanto, ao término de cada procedimento requerer-se-á nova dosagem de hematócrito para confirmar eficácia, ou não, do tratamento.
Maia et Al (1991, p. 102) indicam o repouso, pós hemodiluição, restrito ao leito, pelas próximas 48 horas, com repouso relativo até o sétimo dia.
Este procedimento tem sido usado por muitos anos em cardiologia. Entretanto, muitas questões relativas à sangria terapêutica ainda são baseadas em hábitos e experiências pessoais, ou seja, são raras as práticas baseadas em evidências. (GUIDELINE, 2011), devendo ser reconhecida sua importância também em cardiopediatria, frente às especificidades do paciente pediátrico.
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