MORBIDADE HOSPITALAR NOS IDOSOS ATENDIDOS NO MUNICÍPIO DE ARCOVERDE - PE
É sabido que os idosos consomem mais dos serviços de saúde.
Enfermagem
07/01/2015
INTRODUÇÃO
A população idosa, que é considerada aquela com 60 anos ou mais de idade, OPAS (2005), cresceu de forma significativa no Brasil, aumentando em cerca de cinco vezes o seu número, que em 1960 era de 3 milhões, para 14 milhões de indivíduos idosos no ano de 2000 no país. Neste sentido, há expectativa, que em 2020, o número de pessoas vivendo na terceira idade chegue em torno de 32 milhões, fazendo com que o nosso país ocupe o sexto lugar mundial em população idosa (LIMA-COSTA; VERAS 2003). No Estado de Pernambuco, a expectativa de vida ao nascer está em torno de 67 anos, pouco abaixo da região nordeste (69 anos), chegando a 71 anos para as mulheres IBGE (2006).
De acordo com Hein e Aragaki (2012), o aumento no número de idosos deve-se basicamente à redução da taxa de natalidade e ao aumento da expectativa de vida, proporcionada por inúmeros avanços tecnológicos em diversos campos científicos. Maués et al. (2007) afirma ainda, que no último século ocorreram transformações significativas nas condições socioeconômicas e de saúde da população brasileira e, consequentemente, na sua estrutura demográfica, levando a alterações na estrutura da pirâmide etária da população, ocasionando o seu envelhecimento.
Segundo Lourenço et al. (2005), com o aumento expressivo dessa população, ocorre grande impacto nos serviços de saúde. Tendo em vista, que os idosos utilizam com maior frequência estes serviços em comparação à população mais jovem, em virtude dos problemas de saúde peculiares apresentados por esta faixa etária.
Sendo assim, Veras et al. (2008), concorda que o Brasil teve grande mudança no seu perfil de morbidade e mortalidade, principalmente nos últimos trinta anos, que até então, era comum de uma população jovem, para um panorama caracterizado por patologias bastante complexas e dispendiosas, características das faixas etárias mais avançadas.
Góis e Veras (2010), complementam ainda que, o perfil de cronicidade das doenças, bastante comum na terceira idade, além de levar a um alto grau de incapacidade nesses indivíduos, que consomem mais os serviços de saúde, as internações hospitalares são mais onerosas e acontecem por período de tempo prolongado que em outras idades mais jovens.
Dentre as morbidades hospitalares mais comuns em pessoas idosas, de acordo com Lima e Costa et al., apud Jobim; Souza; Cabrera (2010), estão as relacionadas ao aparelho circulatório e respiratório, respectivamente. Sendo a doença cardíaca, a principal causa de morbidade e de mortalidade nos idosos, com destaques para o infarto agudo do miocárdio, alterações no eletrocardiograma, insuficiência cardíaca congestiva e angina (MOSS apud JOBIM; SOUZA; CABRERA 2010).
Conforme Lourenço et al. (2005), na maioria das vezes, os prestadores de serviços de saúde estão despreparados para atender tal público de maneira eficiente, de forma que possa causar repercussões eficazes à saúde deste grupo. Em virtude dessa problemática, em busca de uma assistência mais qualificada, o Ministério da Saúde, incluiu a saúde do idoso, entre as suas prioridades, promulgando uma política de assistência a saúde do idoso que abranja a capacidade funcional, que envolva um cuidado holístico, o qual deve englobar atenção multidimensional. (BRASIL, 2006)
Neste contexto, em que houve o incremento do número de idosos no país, consequentemente das internações em hospitais, este trabalho teve a intenção de verificar quais as principais causas de morbidade para internamento hospitalar nas pessoas compreendidas na faixa etária de 60 a 69 anos de idade assistidas pelo sistema público de saúde no município de Arcoverde, Pernambuco, através da coleta e averiguação de dados secundários, disponíveis no DATASUS, referentes ao quadriênio de 2008 a 2011, tendo em vista que os dados dos anos subsequentes, até a presente data, apesar de estarem acessíveis para consulta, estão passíveis de alterações a qualquer momento, pelo Ministério da Saúde, em virtude do processamento dessas informações, além de que, o período de tempo pesquisado é suficiente para possibilitar uma boa noção da real situação epidemiológica no grupo observado na atualidade.
Metodologia
O estudo foi desenvolvido com base documental descritiva, dentro de uma abordagem censitária e quantitativa. Estudo censitário porque abrangeu o levantamento de dados de um determinado grupo populacional e, de acordo com Bervian e Cervo (2002), os estudos documentais (de informações de arquivos) visam obter maiores informações sobre um tema, enquanto o estudo descritivo observa, registra, analisa e correlaciona os fatores ou fenômenos sem manipulá-los, trabalhando sobre dados ou fatos colhidos da própria realidade.
O estudo foi realizado no município de Arcoverde – PE, o qual pertence a VI Gerência Regional de Saúde, localizado a 256 km da capital Recife. Ocupa a 22ª posição em número de população do interior do Estado de Pernambuco, com população residente estimada em 68. 793 habitantes IBGE (2010).
A população desse estudo foi constituída de idosos entre a faixa etária de 60 a 69 anos de idade, os quais foram assistidos nos serviços de hospitalização no município de Arcoverde pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
A série analisada constituiu de dados oficiais coletados do DATASUS/Ministério da Saúde. O Critério de seleção do banco de dados obedeceu a Classificação Internacional das Doenças – CID 10, para as morbidades de internações hospitalares na população idosa de 60 a 69 anos de idade no período de 2008 a 2011, onde foram utilizadas as variáveis sexo, idade, tempo médio de permanência de internação, taxa de mortalidade e gastos com a internação, o que permitiu um melhor levantamento dos dados que foram constatados.
Para a criação do banco de dados, utilizou-se a planilha eletrônica do programa Microsoft Excel 2010. O banco de dados foi convertido em gráficos, nos quais constam os valores.
Os dados de cada variável foram revisados procurando-se identificar potenciais erros, para tanto, foi efetuada revisão manual, os erros identificados foram corrigidos.
O trabalho não foi submetido ao Comitê de Ética, pois, tratou-se de dados secundários, existentes na internet, nos bancos de dados dos sistemas de saúde, e que estão disponíveis para domínio público nos sites do Ministério da Saúde. No entanto, os pesquisadores usaram dos preceitos éticos, para a divulgação de dados fidedignos, os quais retratam o real panorama de saúde da população pesquisa.
Resultados
No município de Arcoverde, os idosos compreendidos na faixa etária de 60 a 69 anos de idade foram responsáveis por 1.704 (6,51%) dos internamentos hospitalares no período de 2008 a 2011, em comparação a população com outros grupos etários 24.460 (93,49%).
Deste total, as três doenças mais prevalentes no mesmo período, na faixa etária pesquisada foram respectivamente, as doenças do aparelho circulatório, com 405 (23,8%) de internamentos hospitalares, doenças do aparelho digestório, com 293 (17,2%) casos de internação e doenças do aparelho respiratório, compreendendo 194 (11,4%) das hospitalizações.
Fonte: Ministério da Saúde – Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS).
Ainda para este grupo etário, somente estes três grupos de patologias mais frequentes juntas, foram responsáveis por mais da metade das morbidades hospitalares nestes idosos, chegando a um total de 892 (52,4%) de internamentos, contra 812 (47,6%) dos internamentos para todos os demais grupos de doenças segundo a classificação do CID 10.
No quadriênio 2008-2011 houveram pequenas oscilações para as três morbidades mais comuns, havendo variação mais significativa para as patologias do aparelho circulatório 138 (25,7%) dos casos de internamento no ano de 2008 em relação às demais enfermidades nos outros três anos subsequentes. No mesmo ano, as doenças do aparelho digestório e respiratório representaram 91 (16,9%) e 60 (11,2%) do total de internações, respectivamente, sendo os demais grupos de doenças do CID 10 responsáveis por 247 (42,2%) dos internamentos hospitalares.
No ano de 2009, as doenças relacionadas ao aparelho circulatório representaram 84 (22,1%) dos internamentos da população enquadrada na idade de 60 a 69 anos de idade, enquanto as doenças digestórias 64 (16,8%) e respiratórias 40 (10,5%). Enquanto os internamentos dos outros grupos de doenças tiveram um somatório de 192 (50,6%) no mesmo período.
Conforme observado no ano de 2010, os internamentos hospitalares, exceto as doenças dos sistemas circulatório, digestivo e respiratório, representaram 218 (52%) das morbidades, enquanto as taxas de ocorrência dos agravos do sistema circulatório somaram um total de 87 (20,7%), ao mesmo tempo, que as patologias dos sistemas digestório e respiratório, representaram respectivamente 72 (17,2%) e 42 (10,1%) do número total de internações hospitalares.
Em 2011, pode-se perceber que de todas as morbidades hospitalares para a faixa etária estudada, as quais representaram 176 (45,2%) dos internamentos, a prevalência dos agravos de origem circulatória, foi responsável por 96 (24,6%) das morbidades, as patologias que envolveram o sistema digestório acometeram 66 (16,9%) e 52 (13,3%) desses idosos foram acometidos por enfermidades do aparelho respiratório.
Fonte: Ministério da Saúde – Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS).
Em relação à média de dias de permanência hospitalar para o grupo das três enfermidades mais prevalentes, observa-se que as mulheres permanecem por um tempo mais prolongado de internação que o sexo masculino para as mesmas patologias. Nas doenças do aparelho circulatório, os homens possuem uma média de permanência de 7,7 dias, enquanto o sexo feminino, para o mesmo grupo de doenças, tem uma média de internação que varia em torno de 10 dias.
Quando os agravos são relacionados aos distúrbios do aparelho digestório, percebe-se que a média de permanência de dias de internação é bastante reduzida para ambos os gêneros, se comparadas com as outras duas causas mais comuns de morbidade hospitalar citadas neste estudo. Ao tempo que as mulheres requerem cerca de 3,9 dias de internação, os homens necessitam de aproximadamente 3,1 dias.
Na comparação da média de dias de permanência por enfermidades do aparelho respiratório, também há disparidade na diferença de dias de internamento nosocomial entre os dois sexos. Os idosos masculinos ficaram no ambiente hospitalar para tratamento da patologia em média por um período de 6,8 dias, divergindo das idosas que permaneceram na média de 8,3 dias.
Fonte: Ministério da Saúde – Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS).
As taxas de mortalidade foram bastante variadas, de acordo com cada grupo de doenças. Nas enfermidades do aparelho circulatório, a mortalidade foi elevada para ambos os gêneros masculino e feminino, variando respectivamente em 10,29% e 10,43%, com uma diferença percentual de apenas 0,14%.
Doenças do aparelho digestório, apesar de ter grande prevalência, apresentaram taxa de mortalidade pouco elevada para os dois gêneros, embora, acometendo com maior frequência, as mulheres, com taxa de óbito de 3,45%, em comparação com 2,03% nos homens.
Para as patologias que envolvem o aparelho respiratório, houve grande diferença na taxa de mortalidade masculina e feminina, à qual mostrou-se aumentada para a primeira população, com percentual de 14,46%, enquanto nas mulheres, houve uma mortalidade significativamente menor, com taxa de 9,91%.
Fonte: Ministério da Saúde – Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS).
Os internamentos hospitalares foram em todos os casos, onerosos para o sistema de saúde pública. A maior parte do dinheiro gasto com as internações desses idosos, foram com as doenças do aparelho circulatório, sendo a internação das idosas mais dispendiosa custando o equivalente a R$ 175.040,08, enquanto que com os homens, R$ 130.043,75 no quadriênio 2008-2011.
Os gastos com as internações nosocomiais também mostraram-se maiores no sexo feminino, quando na vigência das doenças respiratórias, os quais chegaram a R$ 134.159,07. No gênero masculino, a cifra chegou a R$ 75.965,75.
Com relação aos custos com morbidades relacionadas ao sistema digestório, o dinheiro gasto com o internamento hospitalar foi semelhante tanto para os homens, quanto para as mulheres, além de ter sido o menor custo financeiro, em relação aos dois outros grupos de doenças apresentados neste trabalho, apesar do grande número de casos tratados na faixa etária estudada. Os valores em reais, foram de R$ 77.638,10 e R$ 77.694,07, para homens e mulheres de forma respectiva.
O valor do custeio dos internamentos ocorridos no período de anos entre 2008 e 2011, para os três principais grupos de enfermidades citados, financiado pelo Sistema Único de Saúde, só no município de Arcoverde-PE, totalizou a quantia de R$ 670.540,82, ultrapassando mais seiscentos mil de reais.
Fonte: Ministério da Saúde – Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS).
Discussão
Os resultados encontrados neste trabalho demonstraram uma prevalência semelhante a outros trabalhos realizados com diferentes metodologias, relacionados à etiologia dos internamentos hospitalares em idosos.
Foram observadas, que as principais causas de internação hospitalar nos idosos de 60 a 69 anos de idade, no período pesquisado, no município de Arcoverde - PE são as doenças do aparelho circulatório, doenças do aparelho digestório e doenças do aparelho respiratório, respectivamente, corroborando com estudo semelhante, realizado por Barros e Santos (2008), que concluíram que as três principais doenças que levavam os idosos ao internamento hospitalar na cidade do Recife, eram em ordem, as doenças circulatórias, digestivas e respiratórias.
Outros dois aspectos importantes evidenciados no resultado desta pesquisa, são que os três grupos de doenças responsáveis pelos internamentos nosocomiais de maior frequência, representaram juntos, mais da metade dos internamentos realizados no período analisado, em relação às demais causas, reforçando assim, a importância desses grupos de patologias para os pacientes geriátricos, dados semelhantes foram encontrados no trabalho desenvolvido por Loyola Filho et al. (2004), onde as doenças dos aparelhos circulatório, respiratório e digestivo foram responsáveis por 60% das internações entre idosos, bem maiores do que os 38% entre a população mais jovem, entre a faixa etária de 20 a 59 anos e, que a doença cardiovascular, conforme afirmada de forma unânime por outros autores, assim como por Alves et al. (2011), é considerada a primeira causa de morbidade hospitalar nesta população.
A média de permanência de internação entre os idosos do sexo masculino e feminino divergiram para todos os três grupos de doenças enfatizados, sendo que as mulheres necessitaram de um tempo maior de estadia hospitalar que os homens do mesmo grupo etário. No entanto, Barros e Santos (2008) concluíram o oposto, relatando que em todas as faixas etárias, os homens requerem maior tempo de permanência que o gênero feminino.
As doenças pulmonares obstrutivas crônicas aparecem como a segunda causa de morte em idosos, após as doenças cardiovasculares, e, de certa forma, essas duas patologias podem se manifestar associadas nos idosos (COSTA, apud SANTOS 2007). Resultados semelhantes foram observados com este estudo, tendo em vista, que a maior taxa de mortalidade ocorreu para as doenças do sistema circulatório e respiratório, sendo este último, prevalente no sexo masculino, talvez pelo fato dos homens estarem mais vulneráveis aos fatores externos que levam ao desenvolvimento de agravos respiratórios. Apesar da alta taxa de internações por doenças que acometem o sistema digestório, a taxa de mortalidade mostrou-se bastante reduzida, se comparada com os outros dois grupos.
É sabido que os idosos consomem mais dos serviços de saúde, suas taxas de internação são bem mais elevadas e o tempo médio de ocupação do leito é muito maior quando comparados a qualquer outro grupo etário (GORDILHO, apud LOURENÇO et al., 2005). Mata e Jorge (2005), completaram, dizendo que apesar de numericamente significar pouco mais de 10% da população brasileira, os idosos representam um terço dos gastos de saúde, com tendência de crescimento desses custos. Corroborando com esses autores, no que diz respeito aos gastos com os internamentos, os resultados aqui apresentados, demonstraram um valor bastante elevado, dispensados pelo Sistema Único de Saúde.
Considerações Finais
Sabe-se que o aumento do número de pessoas idosas no país é cada vez maior, e tende a crescer como em outras partes do mundo. A maior expectativa de vida dos indivíduos é grande conquista para a população, em especial, para países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil. No entanto, causa também a mudança no perfil de adoecimento, tornando as doenças crônico-degenerativas com alta prevalência, o que por sua vez, exige do poder público, além de grandes custos, por ter um tratamento muitas vezes complexo e dispendioso, um preparo mais eficiente para lidar com tal situação.
Em decorrência da rápida mudança no perfil epidemiológico do país, as ações das políticas públicas voltadas para o tratamento destes agravos, apesar dos avanços que obtiveram ao longo dos anos, ainda são ineficazes, em virtude do alto número de doenças evidenciadas nesta pesquisa que poderiam ser prevenidas ou controladas de forma mais satisfatória na assistência primária de saúde, evitando os internamentos hospitalares, que requerem maior custo financeiro e causam descontinuação da rotina de vida desses idosos.
Todavia, outro fator que interfere no controle dessas patologias, está relacionado à cultura das pessoas, que na maioria das vezes, não procuram os serviços de saúde para prevenir o surgimento de doenças ou de complicações através de orientação, de ações simples de saúde e mudança nos hábitos de vida.
Cabe aos serviços de saúde pública do país, continuarem desempenhando e intensificando ações que atinjam e conscientizem uma ampla gama da população para que a qualidade de vida seja preservada ao máximo, com a prevenção de agravos, mas sem prejuízo no tratamento das doenças já instaladas.
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por Aneyson de Oliveira Moura
Enfermeiro, Especialista em Oncologia e Hematologia.
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