Complicações mamárias na amamentação: um campo para o cuidado de enfermagem

Assistência de enfermagem em saúde da mulher
Assistência de enfermagem em saúde da mulher

Enfermagem

23/09/2015

O leite materno é um alimento completo para o bebê até os seis meses de vida, supre as necessidades para o seu crescimento e desenvolvimento sadio, tendo ainda ações protetivas. (BRASIL,2007)


O ato de amamentar desencadeia uma série de vantagens: fortalece o vínculo entre mãe e filho, diminui o sangramento materno após o parto, reduz os riscos de câncer de mama e ovários, evita gastos financeiros, e ainda é um método natural de planejamento familiar (quando o bebê tem menos de 6 meses, é mantido em amamentação exclusiva, e sendo amamentado em livre demanda, durante o dia e a noite) (BRASIL,2006; BRASIL,2007;LEVY;BÉRTOLO, 2008).


Sabe-se que quando as mães são orientadas corretamente nos serviços de saúde amamentam melhor e por mais tempo, pois embora este ato seja natural, nem sempre é fácil. (BRASIL,2007)


As ações educativas podem ocorrer durante a gestação, no puerpério, e nos demais momentos em que se tiver contato com a mulher e seus familiares, nos diversos espaços sociais, como nas escolas durante a infância e adolescência, na consulta pré-natal e de puericultura, nas maternidades, e ainda nas suas próprias casas através das visitas domiciliares.


O Ministério da Saúde preconiza a dedicação dos profissionais ao incentivo e fornecimento de orientações para o sucesso do aleitamento materno ainda na gestação (BRASIL,2006). No que tange a enfermagem, acredita-se que esta categoria profissional, tanto por estar presente nos diversos espaços sociais ocupados por mulheres e crianças, durante suas diversas fases da vida, como escolas, unidades básicas de saúde, seus domicílios e maternidades, como por serem os profissionais que por suas atribuições mantêm o maior tempo de contato com a mãe e o bebê durante a internação no pós parto, podem contribuir enormemente tanto para a prevenção quanto para o tratamento das complicações mamárias durante a amamentação.


Os problemas com as mamas, durante a amamentação podem prejudicá-la, causando o desmame precoce, aqui serão apresentados as principais complicações no que tange a temática, de acordo com a literatura (BRASIL,2006; BRASIL,2007; BRASIL,2009; LEVY;BÉRTOLO,2008), e ainda orientações para seu manejo clínico, permitindo assim aos profissionais de enfermagem um olhar diferenciado na avaliação das puérperas, o que propiciará maior desenvoltura tanto para a prevenção, quanto para a identificação e tratamento destes agravos:


*FISSURAS OU RACHADURAS

Normalmente ocorrem pelo mau posicionamento do bebê durante a amamentação, para preveni-las deve-se evitar que o peito fique muito cheio e de passar pomadas e cremes nas mamas, e ainda investir no posicionamento correto do bebê no peito, durante a amamentação. Para tratá-las deve-se corrigir problemas com a pega do bebê, começar a amamentação pela mama sadia e depois dar a fissurada, expor as mamas aos raios de sol ou luz artificial (lâmpada de 40 watts a uma distância de 30 cm), passar o próprio leite materno na área da mama fissurada e ordenhar manualmente o leite excessivo para evitar o ingurgitamento mamário.

*INGURGITAMENTO MAMÁRIO

O ingurgitamento mamário é causado pelo acúmulo do leite nas mamas, o fisiológico, é discreto e traduz o efeito de “descida do leite”, e não requer intervenção. Já o patológico é representado pela distensão mamária, causando desconforto, podendo acompanhar febre e mal-estar, dificultando ainda a boa pega do bebê. Normalmente ocorre nas duas primeiras semanas após o parto, para evitá-lo, deve-se deixar o bebê mamar em livre demanda, e se as mamas estiverem muito cheias retirar o excesso do leite, através da ordenha mamária manual.


*MASTITE

A mastite é um processo inflamatório ou infeccioso, favorecida tanto pelos casos de acúmulo de leite nas mamas, como pela porta de entrada para micro-organismos provocados pelas fissuras, que pode culminar na infecção do tecido mamário, ficando a mama avermelhada, quente, com tumefação e dolorosa, podendo a mulher ter febre e mal-estar, sendo necessário para o seu tratamento medicamentoso o uso de antibióticos e/ou anti-inflamatórios. A mastite não contraindica a amamentação, se dá preferência pelo lado não infectado, e quando não tratada corretamente pode provocar um abscesso mamário.


*ABSCESSO MAMÁRIO

No geral, é decorrente de uma mastite prévia não tratada, ou tratada inadequadamente. Seus sinais clínicos são: dor intensa, febre, mal-estar, calafrios e presença de áreas de flutuação à palpação no local acometido. Requer intervenção rápida, consistindo em: drenagem cirúrgica, antibiótico e terapia, com interrupção da amamentação na mama afetada até instaurado o tratamento e drenado o abscesso, entretanto estimula-se a manutenção da amamentação na mama sadia.


*CANDIDÍASE

Consiste na infecção da mama por Candida sp, podendo atingir somente a pele do mamilo e da aréola, ou também os ductos lactíferos. Esta infecção é favorecida pela umidade e lesão dos mamilos, e uso pela mulher de antibióticos, contraceptivos e esteroides. Sua manifestação consiste em prurido, sensação de queimação nos mamilos que persiste as mamadas. A pele dos mamilos podem se apresentar hiperemiadas, brilhantes, irritadas e/ ou com descamações, os recém-nascidos é quem normalmente transmitem o fungo as mães, sendo comum apresentarem crostas brancas orais. O tratamento deve ser realizado simultaneamente pelo binômio mãe-filho com antifúngico, sendo ainda aconselhada medidas de higiene, como: enxugar os mamilos e secá-los após as mamadas, e expondo-os à luz diariamente.


A equipe de enfermagem capacitada para identificar problemas e complicações com as mamas, e ainda habilitada tecnicamente para atuar na prevenção e manejo das complicações mamárias durante o aleitamento materno, pode contribuir para além do sucesso da amamentação, sobretudo para a promoção da saúde da mulher e da criança, visto que o aleitamento materno promove melhorias na qualidade de vida da mãe e da criança, podendo implicar em redução nos índices de morbimortalidade materno e infantil.




REFERÊNCIAS

-BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Área Técnica de Saúde da Mulher. Pré-natal e Puerpério: atenção qualificada e humanizada. Brasília: Ministério da Saúde,2006.163p.


-BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Promovendo o Aleitamento Materno. 2ª edição. Brasília.2007.18p.


-BRASIL. Ministério da saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde da criança: nutrição infantil: aleitamento materno e alimentação complementar.Brasília: Editora: Ministério da saúde,2009.112p.


-LEVY, L.;BÉRTOLO,H. Comité Português para a UNICEF/Comissão Nacional. Iniciativa Hospitais amigos dos bebês. Manual de Aleitamento Materno. 2008

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Maria Beatriz  de Assis Veiga

por Maria Beatriz de Assis Veiga

Mestre e bacharel em enfermagem pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. Atualmente é enfermeira da maternidade e berçário do Hospital Universitário Gaffrée e Guinle e da Unidade de plantão Geral do Hospital Universitário Pedro Ernesto. Possui experiência na área de saúde da mulher, saúde da criança, saúde do adolescente e saúde da família

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