PRINCIPAIS RISCOS ENCONTRADOS PELOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM SEGUNDO A NR-32

Saúde do Trabalhador
Saúde do Trabalhador

Enfermagem

11/01/2016

PRINCIPAIS RISCOS ENCONTRADOS PELOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM SEGUNDO A NR-32: revisão bibliográfica¹

 

Fátima Regina Cividini²

Patricia Fernandes Barreto³

 

 

RESUMO

 

Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, com o objetivo de identificar os riscos encontrados pelos profissionais de enfermagem segundo a Norma Regulamentadora nº 32 (NR-32). Foram utilizados 15 publicações, entre estas, artigos publicados em revistas, dissertações de mestrado, livros e publicações do governo, no período de 2002 a 2011. Os artigos foram organizados segundo os riscos encontrados na NR-32: biológicos, químicos, físicos, mecânicos, ergonômicos e de acidentes. Identificou-se que os trabalhadores de enfermagem encontram em seu cotidiano dificuldades como: falta de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs); equipamentos em mal estado de conservação; falta de organização em seu setor de trabalho; pressão da chefia; e jornadas de trabalho exaustivas.

 

INTRODUÇÃO

 

No Brasil, o trabalho livre e assalariado ganhou espaço após a abolição da escravidão em 1888 e com a vinda dos imigrantes europeus para o País. Entretanto, as condições impostas aos trabalhadores eram ruins, o que gerou no País as primeiras discussões sobre leis trabalhistas. O atraso da sociedade brasileira em relação a esses direitos impulsionou a organização dos trabalhadores, formando o que viriam a serem, os primeiros sindicatos brasileiros (BRASIL, 2011).

De acordo com Brasil (2010) as primeiras normas trabalhistas surgiram no País a partir da última década do século XIX, caso do Decreto nº 1.313, de 1891, que regulamentou o trabalho dos menores de 12 a 18 anos. Em 1912, foi fundada a Confederação Brasileira do Trabalho (CBT), durante o 4º Congresso Operário Brasileiro. A CBT tinha o objetivo de reunir as reivindicações operárias, tais como: jornada de trabalho de oito horas, fixação do salário mínimo, indenização para acidentes, contratos coletivos ao invés de individuais, dentre outros.

Segundo Mauro et al., (2004) a saúde do trabalhador é compreendida como um conjunto de práticas teóricas interdisciplinares - técnicas, sociais, humanas e interinstitucionais, realizadas por diferentes atores situados em espaços sociais distintos e informados por uma mesma perspectiva comum. Em seus estudos, Martendal; Santos (2008) descrevem que a Norma Regulamentadora nº 32 (NR-32), publicada em 2005 pelo Ministério do Trabalho, tem como objetivo estabelecer os princípios básicos para implementação de medidas de proteção e prevenção à saúde e segurança dos profissionais da saúde.

Acredita-se que mudanças benéficas poderão ser alcançadas por meio da referida normatização, uma vez que procedimentos e medidas protetoras deverão ser realizados com vistas a promover segurança no trabalho e prevenção de acidentes e doenças ocupacionais (ROBAZZI; MARZIALE, 2004). O surgimento dessa norma ocorreu pela necessidade sentida pelos profissionais de saúde de uma legislação específica para esses serviços, que até então, eram tratados de forma fragmentada pelas várias NR e legislações existentes no país.

Conforme as pesquisas de Costa; Felli (2005), os trabalhadores de enfermagem, inseridos na produção em saúde, estão expostos a uma diversidade de cargas que são geradoras de processos de desgaste. A problemática no trabalho em saúde é acentuada aos que atuam em hospitais, uma vez que essa instituição é tipicamente insalubre. As características e as formas de organização e divisão do trabalho os expõem, ainda mais, pois são obrigados a permanecer nesse ambiente, durante toda sua jornada laboral e grande parte da vida produtiva. Esses processos originam-se na exposição às cargas impostas pela forma como esse trabalho insere-se na produção em saúde e no setor terciário da economia capitalista brasileira.

A implantação da NR-32 tem sido debatida quase que exclusivamente pelas organizações hospitalares, já que seu conteúdo expressa, em detalhes, aspectos relevantes e objetivos para a segurança e proteção do trabalhador hospitalar, passíveis de submissão a padrões técnicos e operacionais. Para a NR-32, entende-se como serviços de saúde qualquer edificação destinada à prestação de assistência à saúde da população, e todas as ações de promoção, recuperação, assistência, pesquisa e ensino em qualquer nível de complexidade (DAVID et al., 2009; BRASIL, 2011).

Diante de todo o contexto que envolve a saúde do trabalhador, surgiu o interesse em desenvolver um estudo bibliográfico relacionado aos riscos encontrados pelos trabalhadores de enfermagem. O enfermeiro do trabalho deve estar instrumentalizado para o processo de educação em saúde nesta área, para educar e orientar os profissionais da área da enfermagem sobre a importância do cumprimento da NR-32, usando a prevenção como arma para a diminuição da incidência de acidentes de trabalho e também para melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores de enfermagem.

Com o desenvolvimento deste estudo, pretendeu-se dar respostas à seguinte questão de pesquisa: Quais os principais riscos encontrados pelos profissionais de enfermagem em seu ambiente de trabalho segundo a NR-32? Para responder a esta indagação definiu-se como objetivo, conhecer os principais riscos encontrados pelos profissionais de enfermagem em seu ambiente de trabalho; identificar e descrever os principais riscos encontrados pelos profissionais de enfermagem em seu ambiente de trabalho.

 

 

MATERIAIS E MÉTODOS

 

Trata-se de uma pesquisa bibliográfica em 15 artigos publicados e indexados em banco de dados eletrônicos da Scientific Electronic Library Online (SCIELO), e de Universidades, em livros, dissertações de mestrado e publicações do governo referentes aos riscos que os trabalhadores de enfermagem são expostos no ambiente de trabalho e regulamentações acerca do assunto.

Como critérios de inclusão consideram-se: artigos, manuais e livros na integra, no idioma português, que abordem o tema proposto, publicados entre os anos 2002 a 2011. Serão excluídos: artigos, manuais e livros incompletos, no idioma estrangeiro, não abordem o tema proposto direta e/ou indiretamente.

A coleta de dados foi realizada no período de 10 a 27 de setembro de 2012, através das seguintes palavras-chave: Saúde do Trabalhador; Educação em Enfermagem; Norma Regulamentadora nº 32. Foram encontrados 25 publicações e selecionados apenas 15, de acordo com os critérios estabelecidos.

A partir da análise dos dados, emergiram as seguintes categorias: ergonômicos, mecânicos e de acidentes, riscos biológicos, riscos químicos, riscos físicos (SOUZA et al., 2008).

  

RESULTADOS E DISCUSSÃO

 

De acordo com Santos; Martendal (2008) a Organização Mundial do Trabalho desde a década de 1940 considera problemáticas as condições de trabalho dos profissionais da saúde. Os ambientes em que atua esse grupo ocupacional apresentam riscos, em especial biológicos, químicos e de acidentes.

De acordo com Souza et al., (2008) ao realizar atendimento hospitalar, os enfermeiros estão constantemente expostos a vários riscos durante a execução de suas atividades, principalmente por manusear diretamente o sangue e fluidos corporais de pacientes, potenciais portadores de doenças os quais são possíveis fontes de transmissão de patógenos.

Por mais que atualmente haja uma forte educação contínua nos ambientes de trabalho para que todos os colaboradores usem corretamente os Equipamentos de Proteção Individual (EPI’s) fornecidos pela empresa, ainda há um número importante de acidente de trabalho nas empresas.

 

2.1 RISCOS ERGONÔMICOS, MECÂNICOS E DE ACIDENTES

 

Os riscos ergonômicos e de acidentes de trabalho são influenciados pelas condições de trabalho, que seriam o conjunto de fatores composto pelas exigências da função, organização, execução, remuneração e ambiente ocupacional, capazes de determinar a conduta do trabalhador. O desequilíbrio entre as exigências da tarefa e as capacidades psicofisiológicas de respostas podem agravar a incidência de riscos adicionais ou potenciais, e proporcionar incidentes e/ou acidentes de trabalho (SANTOS; MARTENDAL, 2008).

Marziale; Rodrigues (2002) apontam dentre os riscos mecânicos, estão às lesões causadas pela manipulação de objetos cortantes e penetrantes e as quedas. O frequente levantamento de peso para movimentação; transporte de pacientes e equipamentos; postura inadequada; flexões de coluna vertebral em atividades de organização e assistência; podem causar problemas à saúde do trabalhador, tais como fraturas, lombalgias e varizes. Esses fatores causais estão relacionados a agentes ergonômicos, que são aqueles que incidem na adaptação entre o trabalho-trabalhador. São eles o desenho dos equipamentos, do posto de trabalho, a maneira como a atividade laboral é executada, a comunicação e o meio ambiente.

Cunha (2010) relata que a NR-32 traz a necessidade de treinamento dos profissionais de saúde e a disponibilidade de equipamentos em bom estado, que permitam esse trabalho sem provocar distúrbios osteomusculares. Com relação às cadeiras de rodas, manivelas de leitos, entre outros, as manutenções preventivas e corretivas se fazem necessárias, evitando-se esforços adicionais no momento do transporte de paciente, assim como o treinamento dos profissionais que lidam com os pacientes que apresentarem distúrbio de comportamento. Infelizmente é comum vermos equipamentos enferrujados, cadeiras de rodas e higiênicas cujas rodinhas não funcionam adequadamente e demandam grande esforço físico dos profissionais, ou não são seguros para o uso.

A NR-32 descreve que os equipamentos e meios mecânicos utilizados para transporte devem ser submetidos periodicamente à manutenção, de forma a conservar os sistemas de rodízio em perfeito estado de funcionamento. Os dispositivos de ajuste dos leitos devem ser submetidos à manutenção preventiva, assegurando a lubrificação permanente, de forma a garantir sua operação sem sobrecarga para os trabalhadores (BRASIL, 2011).

Outro fator preocupante, que está intimamente ligado ao risco de acidentes, é o estresse ocupacional, que de acordo com Jex (1998 apud SANTOS; MARTENDAL, 2008), deve ser entendido de acordo com três aspectos. O primeiro aspecto são os estímulos estressores, sendo o estresse ocupacional relativo aos estímulos do contexto organizacional, conhecidos como estressores organizacionais. Eles exigem respostas adaptativas por parte do trabalhador e que excedem sua habilidade de enfrentamento ou coping. O segundo aspecto concerne às respostas psicológicas, comportamentais e fisiológicas dos trabalhadores aos estressores organizacionais. Por último, há os estímulos estressores-respostas, é o impacto nos trabalhadores dos processos organizacionais com seus estímulos estressores.

De acordo com o autor supracitado, as consequências do estado físico e psicológico do trabalhador são: satisfação, conforto, carga de trabalho, fadiga, estresse, doenças e acidentes de trabalho. O excesso de carga horária e os turnos alternados identificados neste estudo de caso contemplam o que Jex (1998 apud SANTOS; MARTENDAL, 2008) descreve como um agente estressor ocupacional.

Oliveira (2005) descreve que o serviço noturno, um grande fator de estresse, acaba exercendo influência no ritmo de trabalho do organismo (ritmo biológico) interferindo diretamente no ciclo sono/vigília, ocasionando perturbações na vida familiar, tendências depressivas, problemas gástricos decorrentes das modificações horárias na ingestão de alimentos, alterações psíquicas (mau humor, tristeza, desânimo, estresse) e fisiológicas (distúrbios gástricos, cardiovasculares e do sono) para o trabalhador de enfermagem.

David et al., (2009) descreve que a desorganização nos processos de trabalho, na avaliação dos trabalhadores de enfermagem, associa-se, de modo especial, às relações entre colegas, chefias e clientes. Tais situações geram consequências diretas na saúde dos trabalhadores, evidenciadas na avaliação negativa da compatibilidade entre vida social e profissional e pode estar intimamente ligada a níveis crescentes de estresse e sofrimento no trabalho.

Balsamo; Felli (2006 apud CUNHA, 2010) apontam a necessidade de treinamentos e/ou reciclagens, objetivando normatizar as condutas frente aos procedimentos realizados, o que minimizaria os acidentes. Para a intervenção nessa realidade, torna-se necessário o estabelecimento de um plano de ação, baseado no diagnóstico das condições de trabalho que oportunizam a prevenção da exposição ao risco de acidentes em trabalhadores das diversas áreas do Hospital. Com a análise detalhada dos dados dos acidentes de cada instituição, medidas específicas de prevenção podem ser tomadas, os locais de maiores riscos apontados e dados compartilhados, colaborando na construção de conhecimento e dimensionamento do problema.

 

2.2 RISCOS BIOLÓGICOS

 

O acidente de trabalho, por exposição a material biológico, constitui uma constante preocupação para as instituições e trabalhadores da área de saúde, pois o ambiente hospitalar favorece a ocorrência desse evento, principalmente devido à elevada frequência de procedimentos invasivos, intensidade e dinâmica de trabalho (OLIVEIRA; GONÇALVES, 2010).

De acordo com Loureiro et al., (2009) risco biológico representa grande ameaça aos profissionais da área da saúde, sendo os profissionais de enfermagem os que têm maior contato com material biológico e consequentemente maior vulnerabilidade à aquisição de infecção por patógenos veiculados pelo sangue ou outros fluídos que podem estar potencialmente contaminados.

Brasil (2011) diz que em todo local onde exista a possibilidade de exposição a agentes biológicos, devem ser fornecidas aos trabalhadores instruções escritas, em linguagem acessível, nas rotinas realizadas no local de trabalho e medidas de prevenção de acidentes e de doenças relacionadas ao trabalho. As instruções devem ser entregues ao trabalhador, mediante recibo, devendo este ficar à disposição da inspeção do trabalho.

“Considera-se Risco Biológico a probabilidade da exposição ocupacional a agentes biológicos” (BRASIL, 2011, p. 610). O Ministério da Saúde considera os riscos biológicos como imensamente encontrados nos ambientes hospitalares e que podem variar de acordo com o setor de trabalho. A necessidade de proteção contra um risco biológico é definida pela fonte do material, pela natureza da operação, pelo experimento a ser realizado, bem como pelas condições de realização. Quando os agentes de contaminação são conhecidos, as normas e classificações existentes devem ser seguidas e estas regem os níveis de contenção adequados para o seu manuseio (CUNHA, 2010).

“A NR-32 considera agentes biológicos os microorganismos, geneticamente modificados ou não; as culturas de células; os parasitas; as toxinas e os príons[1]” (BRASIL, 2011, p.610). Dentre os biológicos, apresentam como mais comuns à Tuberculose Pulmonar, ccytomegalovirus (CMV), Hepatites Virais (B e C), Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (HIV) e Infecção Proveniente do HIV. O ferimento com materiais perfurocortantes no ambiente hospitalar potencializa a contaminação pelos agentes biológicos (OSÓRIO; MACHADO; MINAYO- GOMEZ, 2005 apud SANTOS; MARTENDAL, 2008).

Os riscos biológicos não se limitam ao corpo do paciente, podendo acontecer infestações nas instituições de saúde por ratos, baratas, formigas, moscas, pombos e até gatos, que são hospedeiros de germes e podem causar doenças. Há ainda os riscos oriundos da limpeza mal feita, equipamentos contaminados e do ambiente de trabalho como vasos de plantas e flores que podem se transformar em conglomerados de germes (BULHÕES, 1998 apud CUNHA, 2010).

Apesar da limpeza do ambiente de trabalho não ser responsabilidade dos profissionais de enfermagem, acredita-se que os mesmos deveriam ter noções básicas de como este trabalho é desenvolvido. Pois, deste ambiente limpo depende a saúde dos trabalhadores e clientes. A observação é peculiar da profissão de enfermagem, porém, muitos estão desatentos com relação à higienização do local. A forma como o trabalho de limpeza é realizado pode, consideravelmente, influenciar os índices de contaminação ambiental e de acidentes de trabalho (CUNHA, 2010).

Os trabalhadores que realizam a limpeza dos serviços de saúde devem ser capacitados, inicialmente de forma continuada, quanto aos princípios de higiene pessoal, risco biológico, risco químico, sinalização, rotulagem, EPI, EPC[2] e procedimentos em situações de emergência (BRASIL, 2011).

Para os casos de exposição aos agentes biológicos, a NR-32 estabeleceu condutas como diagnóstico, acompanhamento e prevenção de soroconversão e de doenças, descontaminação do ambiente de trabalho, tratamento médico e atendimento de emergência para os profissionais, além de informações sobre a prestação da assistência aos trabalhadores (protocolos de atendimento, dispensação de imunoglobulinas, vacinas, medicamentos, materiais e insumos especiais aos trabalhadores) (OLIVEIRA; GONÇALVES, 2010).

É primordial que todos os trabalhadores de saúde sejam vacinados contra doenças passíveis de prevenção, cujos microrganismos são amplamente encontrados nos ambientes hospitalares, principalmente em objetos perfurocortantes como o vírus da Hepatite B (CUNHA, 2010).

Cunha (2010) implica que a utilização dos EPI’s é fundamental para os profissionais da área da saúde que trabalham o tempo inteiro com manipulação de objetos perfurocortantes, secreções e líquidos corporais, num ambiente insalubre como o hospital. As normas de biossegurança e precauções padrão fornecem todas as diretrizes que devem ser seguidas pelos profissionais e instituições de saúde.

Segundo a NR-32 os empregadores devem disponibilizar nos locais de trabalho EPIs descartáveis ou não, em número suficiente, assegurando fornecimento imediato e ou sua reposição. Além disso, devem promover a capacitação dos trabalhadores para uso dos EPIs, cabendo aos trabalhadores não só a adesão aos mesmos, mas também a sua correta utilização. (LOUREIRO et al., 2009, p. 305). Os trabalhadores devem comunicar imediatamente todo acidente ou incidente, com possível exposição a agentes biológicos, ao responsável pelo local de trabalho, e quando houver, ao serviço de segurança e saúde do trabalho e a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes[3] (BRASIL, 2011).

A NR-32 relata que deve conter no Programa de Prevenção de Risco de Acidentes (PPRA)[4], previsto na Norma Regulamentadora nº 9 (NR-9), além da fase de reconhecimento, identificação dos riscos biológicos mais prováveis, em função da localização geográfica e da característica do serviço de saúde e seus setores, considerando fontes de exposição e reservatórios, vias de transmissão e de entrada, transmissibilidade, patogenicidade e virulência do agente, persistência do agente biológico no ambiente; avaliação do local de trabalho e do trabalhador, considerando a finalidade e descrição do local de trabalho, a organização e procedimentos de trabalho, a possibilidade de exposição, as medidas preventivas aplicáveis e seu acompanhamento (BRASIL, 2011).

O Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO), além do previsto na NR-7[5], deve comtemplar o reconhecimento e avaliação dos riscos biológicos, a localização das áreas de risco, a relação contendo a identificação nominal dos trabalhadores, sua função, o local em que desempenham suas atividades e o risco que estão expostos, a vigilância médica dos trabalhadores que estão expostos e o programa de vacinação (BRASIL, 2011).

A todo trabalhador dos serviços de saúde deve ser fornecido, gratuitamente, programa de imunização ativa contra o tétano, difteria, hepatite B e os estabelecidos no PCMSO. Sempre que houver vacinas eficazes contra outros agentes biológicos a que os trabalhadores estão, ou poderão estar expostos, o empregador deve fornecê-las gratuitamente. O empregador deve assegurar que os trabalhadores sejam informados das vantagens e dos efeitos colaterais, assim como os riscos a que estarão expostos por falta ou recusa da vacinação, devendo, nesses casos, guardar documento comprobatório e mantê-lo disponível à inspeção do trabalho (BRASIL, 2011).

A prevenção é o método mais eficaz para gerenciar os riscos biológicos. Trabalhadores devem ser educados sobre os riscos biológicos a que possam estrar expostos ocasionalmente, os tipos de exposições que colocam sua saúde em risco, a natureza e o significado de tais riscos, bem como o de primeiros socorros e acompanhamento de exposições potenciais (BIOSAFETY, 2007 apud CUNHA, 2010).

 

3.3 RISCOS QUÍMICOS

 

Cunha (2010) caracteriza o agente químico como todo elemento ou substância química nociva que pode ser absorvido pelo corpo humano, ou seja, pode penetrar no trabalhador pela pele (via cutânea), pela boca e estômago (via digestiva) e pelo nariz e pulmões (via respiratória).

Os riscos químicos são aqueles gerados pelo manuseio de uma grande variedade de substâncias químicas e também pela administração de medicamentos que podem provocar desde simples alergias até importantes neoplasias. Estas atividades são amplamente desenvolvidas dentro dos ambientes hospitalares pelos diversos profissionais de saúde, incluindo os trabalhadores de enfermagem. Os principais agentes encontrados nestes ambientes são as drogas antineoplásicas, os agentes esterilizantes, os gases anestésicos, entre outros e esses podem estar causando desde dermatites e problemas reprodutivos até neoplasias (BULHÕES, 1998; XELEGATI; ROBAZZI, 2003 apud CUNHA 2010).

As cargas químicas são introduzidas na área de saúde e na enfermagem, em seus diferentes estados como gases, vapores e líquidos para uso em esterilização, desinfecção de materiais, anestesias e tratamentos medicamentosos dos pacientes (SILVA, 1988 apud COSTA; FELLI, 2005). Dentre os químicos encontram-se os anestésicos, detergentes, esterilizantes, desinfetantes, solventes, agentes de limpeza, antissépticos, detergentes, medicamentos e drogas de risco (SANTOS; MARTENDAL, 2008).

A NR-32, sobre os todos os equipamentos utilizados para a administração dos gases ou vapores anestésicos, diz que devem ser submetidos a manutenção corretiva e preventiva, dando-se especial atenção aos pontos de vazamentos para o ambiente de trabalho, buscando sua eliminação (BRASIL, 2011).

No PPRA dos serviços de saúde deve constar inventário de todos os produtos químicos, inclusive intermediários e resíduos com indicação daqueles que impliquem em riscos à segurança e saúde do trabalhador. (BRASIL, 2011). A NR-32 ressalta a importância de ser mantida a rotulagem do fabricante na embalagem original do produtor químicos utilizados nos serviços de saúde. E é vedado o procedimento de reutilizar as embalagens de produtos químicos (BRASIL, 2011).

Os trabalhadores de enfermagem também identificaram sabões, hipoclorito de sódio, desinfetantes, éter, glutaraldeído, benzina, detergente, formol, óxido de etileno, PVPI, medicamentos em geral, anestésicos, quimioterápicos, óxido nítrico, poeira e látex de luvas como algumas substâncias de maior impacto na saúde, Esta exposição pode refletir em patologias: da pele, respiratórias, nervosas, órgãos do sentido, circulatórias, digestivas, imunológicas, neoplasias, do aparelho reprodutor e urinário (COSTA; FELLI, 2005 apud CUNHA, 2010).

A forma como o trabalho de enfermagem é organizado agrava os processos de desgaste dos trabalhadores pela exposição às cargas químicas. Essa exposição ocorre pela interação do trabalhador com substâncias químicas em salas mal ventiladas e espaços físicos inadequados, que são potencializadas por problemas com equipamentos, mistura químicas, ritmo acelerado, pressões das chefias, longas jornadas, uso inadequado de EPI e falta de medidas de proteção coletiva que possibilitam ou intensificam essa exposição (SILVA, 1996 apud COSTA; FELLI, 2005).

Nem sempre a exposição resulta em efeitos prejudiciais à saúde, os quais vão depender de fatores como o tipo e concentração do agente químico, frequência e duração da exposição, práticas e hábitos laborais e suscetibilidade do indivíduo (XELEGATI; ROBAZZI, 2003 apud CUNHA, 2010). As alterações à saúde são descritas foram lacrimejamento, reações alérgicas, náuseas e vômitos, não se mencionando outros problemas que podem ser ocasionados pelos produtos citados (XELEGATI et al., 2006 apud CUNHA, 2010).

Em seus estudos Costa; Felli (2005) apontam a falta de uma rotulagem adequada das substâncias químicas comercializadas, levando a deficiência de informações precisas sobre os riscos a que os trabalhadores estão expostos, o que contribui enormemente para que doenças ocupacionais e acidentes do trabalho a elas relacionados fiquem muitas vezes fora das estatísticas.

O empregador deve destinar local apropriado para a manipulação ou fracionamento apropriado de produtos químicos que impliquem riscos à segurança e saúde do trabalho. O local deve dispor no mínimo de (BRASIL, 2011):

  • Sinalização gráfica de fácil visualização para identificação do ambiente;
  • Equipamentos que garantam a concentração dos produtos químicos no ar abaixo dos limites de tolerância estabelecidos nas NR-9 e NR-15 e observando-se os níveis de ação previstos na NR-9;
  • Equipamentos que garantam a exaustão de produtos químicos de forma a não potencializar a exposição de qualquer trabalhador, envolvido ou não, no processo de trabalho, não devendo ser utilizado o equipamento tipo coifa;
  • Chuveiro e lava-olhos, os quais devem ser acionados e higienizados semanalmente;
  • Equipamentos de proteção individual, adequado aos riscos, a disposição dos trabalhadores;
  • Sistema adequado ao descarte.

 

3.4 RISCOS FÍSICOS

 

Ponzetto (2002 apud Cunha, 2010) relata que compõem o risco físico os seguintes agentes: calor, frio, umidade, pressões anormais, ruído, vibração, radiações ionizantes e não ionizantes. Já Santos; Martendal (2008) dizem que riscos físicos mais comuns no ambiente hospitalar são as radiações ionizantes e as vibrações oscilatórias.

Corroborando os autores supracitados, Brasil (1995 apud CUNHA, 2010) descrevem os principais agentes físicos encontrados no ambiente hospitalar: o ruído, o calor, o frio, radiações ionizantes e não ionizantes e pressões anormais. Embora os níveis de iluminação não sejam relacionados diretamente a problemas de saúde, sua análise é feita por estar relacionada a todas as atividades de trabalho.

Entende-se por radiações ionizantes os raios X, os raios gama, os raios beta, as partículas gama, os prótons e nêutrons. E, por radiações não ionizantes, a ultravioleta, a luz solar e artificial, o infravermelho, as microondas, a frequência de rádio e o raio laser. As variações atmosféricas são calor, frio, pressão atmosférica e vibrações oscilatórias, o ruído e as vibrações (BULHÕES, 1998 apud CUNHA, 2010).

Cunha (2010), em seus estudos, relata que a realização de exames de Raio-X dentro das enfermarias é uma prática muito comum, quando existe pacientes acamados e/ou ligados a equipamentos dificultando o transporte do mesmo até a área apropriada para exame. No hospital não deveria ter muito ruído, mas o que se nota no cotidiano é um universo sonoro de ruídos agravado por carro de curativo rangendo, aparelhos sonoros altos (televisão e som), celulares, campainha de telefones os setores com volume aumentado, vozes altas da própria equipe de saúde, e outros (VEIGA, 2007 apud CUNHA, 2010).

De acordo com o autor supracitado, os riscos físicos encontrados no ambiente de trabalho provocam desconfortos aos profissionais de saúde, em especial, a equipe de enfermagem pelo longo tempo dispensado à assistência. E por tal motivo foram analisados como fatores que podem gerar grande desconforto aos profissionais, juntamente com as condições de limpeza do local e presença de odores fétidos.

Com relação à iluminação, o ambiente de trabalho deve ser bem iluminado de forma a proporcionar boa visão e conforto, para que os profissionais possam executar suas atividades de forma adequada, assim como a temperatura ambiente deve ser agradável, proporcionando satisfação e boa saúde no trabalho (VEIGA, 2007 apud CUNHA, 2010). A questão da temperatura também ajuda a diminuir a proliferação de germes no ambiente de trabalho, principalmente num país tropical como o Brasil (CUNHA, 2010). A NR-32 prevê que os serviços de saúde devem atender as condições de conforto relativas aos níveis de ruído, as condições de iluminação, conforto térmico e manter os ambientes de trabalho em condições de limpeza e conservação (BRASIL, 2011).

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

A revolução industrial modificou a forma de produção e consequentemente, a forma de trabalho das pessoas. Inicialmente, o trabalho era precário e altamente propenso a causar acidentes, sem direito a uso de EPI, assistência médica em caso de acidentes e nem indenizações em caso de danos permanentes. De acordo com a evolução na forma de trabalho, surgiu a necessidade de se estabelecer normas e diretrizes, a fim de melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores e diminuir os acidentes de trabalho. Assim nascem as primeiras noções de Saúde do Trabalhador.

A enfermagem é uma profissão antiga, porém foi regularizada e estudada como ciência há pouco tempo. Os profissionais de enfermagem, por característica da profissão, estão expostos a vários riscos de acidentes, desde lesão por perfurocortantes até contrair doenças por contato com fluídos corpóreos contaminado.

A NR-32 veio suprir a necessidade de uma legislação específica para trabalhadores da saúde em geral, pois antes os trabalhadores eram regidos pelos fragmentos de outras normas. Esta NR traz medidas de prevenção específicas para aqueles que trabalham em instituições de saúde, orientando sobre os riscos encontrados e sobre como proceder em caso de acidentes e incidentes de trabalho. Os riscos encontrados são: biológicos, físicos, químicos, mecânicos, ergonômicos e de acidentes.

Vários fatores podem causar acidentes aos profissionais de saúde, porém a enfermagem é mais suscetível, pois é a única classe profissional que está intimamente ligado ao cuidado com o paciente e fica 24 horas dentro das instituições hospitalares e demais centros que funcionam dia e noite.

O risco biológico é aquele que o trabalhador corre quando entra em contado com microorganismos patógenos, podendo causar uma gama de agravos a sua saúde. O contato com fluído corpóreos contaminado sem o uso de EPI e acidentes com perfurocortantes são os acidentes mais comuns enquadrados nos riscos biológicos, porém alguns artigos também enquadram os acidentes com perfurocortantes como riscos físicos.

Os riscos ergonômicos, mecânicos e de acidentes foram citados em apenas um tópico por serem intimamente ligados. Jornadas de trabalho exaustivas e/ou noturnas favorecem o risco de acidentes. O estresse ocupacional também foi citado como um grande aliado para o risco de acidentes, pois um funcionário que está psicologicamente incapaz de exercer suas funções acaba diminuindo a atenção ao realizar procedimentos, podendo acidentar-se. Equipamentos em mal estado de conservação ou inadequados para uso causam um esforço excessivo por parte do trabalhador para seu manuseio, causando acidentes ou problemas ergonômicos.

O risco químico mais citado foi à falta de instrução sobre o uso adequado dos materiais químicos e uso por pessoas não capacitadas para tal. A falta de rotulagem e armazenamento em local indevido aumenta o risco de acidentes. A enfermagem deve ficar atenta a isso e por mais que não seja a responsável pela limpeza, pode ser afetada caso esta não seja feita de forma adequada.

Os riscos físicos encontrados nos artigos foram o ruído, as radiações ionizantes e não ionizantes, calor e frio, umidade. Os trabalhadores, por muitas vezes, não usam EPIs adequados, quando precisam manusear um paciente para realização de Raios-X, especialmente quando este não pode ser levado ao local do exame. Os ambientes, por muitas vezes, não tem equipamentos para manter a temperatura adequada, ou estes equipamentos estão em mal estado de conservação.

O cumprimento da NR-32 não é só benéfico para os colaboradores, que aumentam a qualidade de trabalho e de saúde, mas também para as empresas, que diminuem os custos com afastamentos, atestados e tratamentos de seus colaboradores com doenças ocupacionais, e podem investir mais em qualidade de vida para seus funcionários.

O objetivo deste artigo foi alcançado, visto que foram encontrados vários artigos comentando sobre os riscos que a equipe de enfermagem enfrenta em seu ambiente laboral. O risco mais encontrado nas publicações, e amplamente explorado é o risco biológico. O risco químico, físico, mecânico, ergonômico e de acidentes foram mais difíceis de encontrar. Deixo assim, a sugestão de que sejam propostos mais artigos explorando estes riscos, igualmente prejudiciais aos trabalhadores.

Enfim, os trabalhadores de enfermagem devem ser melhores capacitados e conscientizados sobre os riscos encontrados em seu ambiente laboral, e incentivados a usarem os EPIs necessários para exercerem suas atividades laborais, e, ao longo do tempo, esses acidentes diminuam e aumente a qualidade de vida desses trabalhadores que cuidam de nossa saúde e zelam pelo nosso bem-estar.

  

REFERÊNCIAS

 

MAURO, Maria Yvone Chaves; et al. Riscos Ocupacionais em Saúde. Revista Enfermagem UERJ. Rio de Janeiro, n. 12, n. 3, out., 2004. Disponível em: <http://www.facenf.uerj.br/v12n3/v12n3a14.pdf>. Acesso em: 10 set. 2012.

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[1]Príons: agregado supramolecular, composto de proteínas com capacidade de modificar outras proteínas. Príon não tem DNA ou RNA. Causam encefalopatia espongiforme bovina (vulgarmente conhecida como “vaca-louca”). Todas as doenças causadas por príons afetam o cérebro ou tecidos neurais, sem cura e fatais.

[2]EPC – Equipamento de Proteção Coletiva.

[3]CIPA: Comissão Interna de Prevenção de Acidentes, disposto na NR-5.

[4]PPRA: visa a preservação da saúde, através da antecipação, reconhecimento, avaliação e consequente controle da ocorrência de riscos ambientais existentes ou que venham existir no ambiente de trabalho, tendo consideração a proteção do meio ambiente e dos recursos naturais.

[5]PCMSO: elaborado e implementado, com objetivo de promoção e preservação da saúde do conjunto de seus trabalhadores. Tem caráter de prevenção, rastreamento e diagnóstico precoce dos agravos à saúde relacionados ao trabalho, inclusive de natureza subclínica, além da constatação da existência de casos de doenças profissionais ou danos irreversíveis à saúde dos trabalhadores.

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Fátima Regina Cividini

por Fátima Regina Cividini

Enfermeira, graduada pela UNISUL, 2011. Especialista em Enfermagem do Trabalho, UCDB/MS em parceria com o Portal Educação, 2014 MBA de Gestão em Centro de Material e Esterilização, INESP/SP, em andamento. Mestranda em Sociedade, Culturas e Fronteiras pela UNIOESTE/PR, em andamento

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