A estética da cicatrização de feridas cirúrgicas: a preocupação dos profissiona

Enfermagem

09/03/2016

 

A estética da cicatrização de feridas cirúrgicas: a preocupação dos profissionais que cuidam1

 

Shirley Rangel Gomes

Mestre em Enfermagem–UFF. MBAem Gestão Estratégicade Hospitais – FGV. Pós graduanda em Estética e Cosmetologia, Faculdade A Vez do Mestre. Especialista em Enfermagem do Trabalho, Faculdade Redentor. Graduada em Enfermagem e Obstetrícia – UFF.

prof.shirleyrangel@gmail.com

 

RESUMO

 

A preocupação com a estética de uma cicatrização e a possibilidade de formação de uma cicatriz que marque o indivíduo é uma grande preocupação dos profissionais que trabalham com cirurgias plásticas e gerais e dos que atendem em pós-operatório. Objetivo: Investigar as ações dos profissionais que cuidam de pessoas com feridas cirúrgicas que visem à estética da cicatrização. Metodologia: o estudo tem natureza qualitativa e exploratória com utilização de entrevistas estruturadas realizada por meio de Email Surveys, nos quais as perguntas foram enviadas aos participantes como uma mensagem de email convencional. As repostas recebidas foram analisadas da mesma forma que a pesquisa convencional. Resultados: recomendação em pré-operatório de drenagem e carboxiterapia. Uso de cremes hidratantes ou nutritivos, radiofrequêcia, LIP, peeling químico. Para o pós operatório: Massagem de Cyriax. Drenagem Linfática Manual. Endermoterapia. Ultra-som terapêutico e Carboxiterapia. Produtos como óleo de rosa mosqueta na cicatriz cirúrgica, associado a retirada os pontos o mais precocemente possível. Para finalização da cicatrização: Kelo cote, Cicatricure gel, Contactubex gel e Stimulen. Conclusão: As informações relevantes demonstram a preocupação dos profissionais com a melhor cicatrização possível baseada na escolha dos profissionais envolvidos no processo operatório.

Palavras chaves: Cicatrização; Estética; Feridas

ABSTRACT

The concern with the aesthetics of a healing and the possibility of forming a scar that marks the individual is a major concern of professionals working with plastic and general surgery and those who serve in the postoperative period. Objective: To investigate the actions of the professionals who care for people with surgical wounds aimed at aesthetics of healing. Methodology: The study is qualitative and exploratory nature with the use of structured interviews conducted by Email Surveys, in which the questions were sent to the participants as a conventional email message. The responses received were analyzed in the same way that conventional search. Results: recommendation for preoperative drainage and carboxiterapia. Use moisturizing or nourishing creams, the RF, IPL, chemical peel. For postoperative: Massage Cyriax. Manual lymphatic drainage. Endermotherapy. therapeutic and Carboxiterapia ultrasound. Products like rosehip oil on the surgical scar associated with withdrawal points as early as possible. For completion of healing: Kelo cote gel Cicatricure, gel Contactubex and Stimulen. Conclusion: The relevant information demonstrate the concern of professionals with the best possible healing based on the choice of the professionals involved in the operating process.

 

Key words: Wound healing; aesthetics; sores

 

1 O presente artigo foi extraído trabalho de conclusão do curso de Estética e Cosmetologia da Faculdade A Vez do Mestre

 

 

 

 

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1     INTRODUÇÃO

 

A estética do corpo tem sido discutida por vários especialistas e não especialistas como um objetivo primordial na sociedade atual. Muitas cirurgias plásticas têm sido realizadas na busca do “corpo perfeito”.

Entretanto, o indivíduo que busca a cirurgia plástica, além da estética também pretende melhorar a auto-estima. As vantagens são inúmeras, além de reparar alguma imperfeição natural podem reconstruir partes do corpo com dados causados por algum acidente.

Uma das desvantagens é o paciente imaginar que a cirurgia plástica faz milagres e não obter o resultado esperado. Outro senão para a realização da cirurgia plástica são as doenças pré existentes que interferem nos resultados, podendo comprometer a saúde do indivíduo. Portanto, os cuidados de investigação para a realização são imprescindíveis.

 

Os tipos de cirurgia plástica

A Cirurgia Plástica Reparadora tem como objetivo corrigir lesões deformantes, defeitos congênitos ou adquiridos sendo considerada tão necessária quanto qualquer outra intervenção. Na maioria das vezes, ela é inclusive mais complicada e exige mais do médico, já que demanda maior capacidade de adaptação por ser menos programável que a estética. Representa 73% dos procedimentos realizados no País.

A Cirurgia Plástica Estética tem o objetivo de melhorar a aparência, como, por exemplo, eliminar defeitos de pele, alterar o aspecto de uma cicatriz, a forma e o tamanho do nariz, da mandíbula ou das mamas, retirar o excesso de pele e de gordura do corpo e as rugas que surgem com a idade avançada ou a perda de peso. (BOSCOLI, 2012)

A Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP)descreve que a “Cirurgia plástica estética é um tipo de cirurgia plástica utilizada para remodelar as estruturas normais do corpo, principalmente para melhorar a aparência e a autoestima do paciente.” Enquanto que a Cirurgia plástica reparadora ou reconstrutiva é um tipo de cirurgia realizada nas estruturas anormais do corpo, cujas anomalias podem ser devidas a traumatismo, infecção, defeitos congênitos, doenças, tumores ou ainda no desenvolvimento. (MATOSO, s/d).

Contudo, mesmo a cirurgia plástica estética pode apresentar complicações especialmente se o indivíduo não seguir as recomendações no pré e no pós operatório.

As feridas são consequência de uma agressão por um agente ao tecido vivo e podem ser classificadas pelo tipo do agente causal, de acordo com o grau de contaminação, pelo tempo de traumatismo e pela profundidade das lesões, sendo que as duas primeiras são as mais utilizadas. (OLIVEIRA, s/d)

O tratamento das feridas é relatado com a cauterização para as feridas hemorrágicas (3000 anos a.C), sendo o uso de torniquete descrito em 400 a.C.; a sutura é documentada desde o terceiro século a.C. Na Idade Média, com o aparecimento da pólvora, os ferimentos tornaram-se mais graves. O cirurgião francês Ambroise Paré, em 1585 orientou o tratamento das feridas quanto à necessidade de desbridamento, aproximação das bordas e curativos. Lister, em 1884, introduziu o tratamento anti-séptico. No século XX, com a evolução da terapia aparecem a sulfa e a penicilina. (JORGE & DANTAS, 2003)

Apesar da tecnologia do tratamento das feridas encontrar-se altamente especializada atualmente, ainda permanece o desafio de melhorar o aspecto final de uma cicatriz. Conforme descreve Oliveira (s/d) uma cicatriz resulta da reparação da pele causada por acidentes, doenças ou cirurgia. Ela é uma parte natural do processo de reparação. Quanto maior o dano da pele, maior a chance de uma cicatriz ficar evidente.

De acordo com Pereira (2011) a reparação de um tecido lesionado é o esforço dos tecidos para restaurar a função e estruturas normais e vários fatores contribuem ou interferem para essa fase de remodelamento como o tipo de cirurgia, situação de urgência, patologia de base, condições clínicas do operado, manejo da ferida no pós-operatório, entre outros. Apesar da evolução do conhecimento do processo de cicatrização, ainda não é possível realizar uma incisão cutânea sem deixar uma cicatriz, pois ela representa a consequência de todo ato cirúrgico.

O conhecimento dos complexos eventos fisiológicos da cicatrização de feridas é de grande importância para o profissional. A reparação de feridas passa pelas seguintes etapas básicas: fase inflamatória, fase proliferativa (que incluem reepitelização, síntese da matriz e neovascularização) e fase de maturação. (TAZIMA, 2008)

O aspecto estético das cicatrizes é muito importante, pois a cicatriz é o que aparece em termos de resultado de uma cirurgia. A ocorrência de infecções, formação de coleções de liquido, formação de hematomas, rompimento dos pontos de fechamento da ferida são as complicações locais mais comuns de uma ferida cirúrgica. (BOSCOLI, 2010)

Vários fatores contribuem ou interferem para essa fase de remodelamento como o tipo de cirurgia, situação de urgência, patologia de base, condições clínicas do operado, manejo da ferida no pós-operatório, entre outros. Apesar da evolução do conhecimento do processo de cicatrização, ainda não é possível realizar uma incisão cutânea sem deixar uma cicatriz, pois ela representa a consequência de todo ato cirúrgico.

Como a assistência no pós-operatório nem sempre é realizada pelo cirurgião que realizou a intervenção, cabe aos outros profissionais as trocas de curativos e avaliação do processo de fechamento da ferida cirúrgica. Dessa forma, a escolha da melhor evidência no tratamento da ferida deve estar associada com a perspectiva do fechamento da lesão, com resultado mais estético possível, ou seja, numa cicatriz linear e fina. (RADWANSKI, 2010)

Para avaliar essas possibilidades, deve-se ter a preocupação com a estética desde o pré-operatório. Contudo, quando a cirurgia é realizada de urgência ou emergência, essa preocupação passa a ficar em segundo plano, considerando-se prioritário o ato cirúrgico em si que pode ser a diferença entre a vida e a morte do indivíduo.

Como consequência, muitas cirurgias resultam em cicatrizes hipertróficas ou na formação de um queloide. Com base nessa realidade, justifica-se a investigação da preocupação dos profissionais com a estética da cicatrização de feridas cirúrgicas e as evidências utilizadas para a minimização das complicações da cicatrização de feridas cirúrgicas.

 

Cicatrização: como o corpo trata suas feridas

Mesmo com a evolução da tecnologia do processo de cicatrização, ainda não é possível realizar uma incisão cutânea sem deixar uma cicatriz, pois ela representa a consequência de todo ato cirúrgico. Portanto, o planejamento da extensão e a localização da incisão, deve levar em consideração a possibilidade de haver uma cicatriz de má qualidade. (RADWANSKI, 2010)

Entretanto o corpo participa da reparação da ferida que passa pelas seguintes etapas básicas:

  • Fase inflamatória - com o sangramento, migram para a área lesionada plaquetas, hemácias e fibrina, que selam as bordas da ferida, ainda sem valor mecânico, mas facilitando as trocas. Forma-se o coágulo que estabelece uma barreira impermeabilizante que protege da contaminação. Ocorre também a liberação local de histamina, serotonina e bradicinina que causam vasodilatação e aumento de fluxo sanguíneo no local e, com aparecimento dos sinais inflamatórios como calor e rubor. A permeabilidade capilar aumenta causando extravasamento de líquidos para o espaço extracelular, e consequente edema. A resposta inflamatória é facilitada por mediadores bioquímicos que aumentam a permeabilidade vascular, favorecendo a exsudação plasmática e a passagem de elementos celulares para a área da ferida (histamina, serotonina, leucotaxina, bradicinina e prostaglandina). O pico de atividade dos polimorfonucleares ocorre nas primeiras 24-48 horas após o trauma, seguindo-se de um maior aporte de macrófagos durante os dois a três dias seguintes. (TAZIMA, 2008)
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    Fase proliferativa - sucede o período de maior atividade da fase inflamatória, sendo composta de três eventos importantes: neo-angiogênese, fibroplasia e epitelização. Esta fase caracteriza-se pela formação de tecido de granulação, que é constituído por um leito capilar, fibroblastos, macrófagos, um frouxo arranjo de colágeno, fibronectina e ácido hialurônico. Esta fase inicia-se por volta do 3º dia após a lesão, perdura por 2 a 3 semanas e é o marco inicial da formação da cicatriz. Nesta fase ocorre a produção do colágeno que é uma proteína de alto peso molecular, composta de glicina, prolina, hidroxiprolina, lisina e hidroxilisina, que se organiza em cadeias longas de três feixes polipeptídicos em forma de hélice, responsáveis pela força da cicatriz. O colágeno é o material responsável pela sustentação e pela força tensil da cicatriz, produzido e degradado continuamente pelos fibroblastos. A epitelização, terceira etapa da fase proliferativa, quando as células epiteliais migram, a partir das bordas, sobre a área cruenta, da ferida e dos folículos pilosos próximos, induzindo a contração e a neoepitelização da ferida e, assim, reduzindo a sua superfície. (JORGE & DANTAS, 2003)
  • Fase de maturação – inicia o processo de contração da ferida, por meio de um movimento centrípeto de toda a espessura da pele circundante, reduzindo a quantidade e o tamanho da cicatriz desordenada. Porém, se ocorre de forma exagerada e desordenada causa defeitos cicatriciais importantes por causa da diferenciação dos fibroblastos em miofibroblastos, estimulados por fatores de crescimento. Esta fase tem início durante a 3ª semana e caracteriza-se por um aumento da resistência, sem aumento na quantidade de colágeno. Há um equilíbrio de produção e destruição das fibras de colágeno neste período, por ação da colagenase; entretanto o desequilíbrio desta relação favorece o aparecimento de cicatrizes hipertróficas e quelóides. A fase de remodelagem das fibras de colágeno inicia com aumento das ligações transversas e melhor alinhamento do colágeno, ao longo das linhas de tensão. A fase de maturação dura toda a vida da ferida, embora o aumento da força tênsil se estabilize, após um ano, em 70 a 80% da pele intacta. A inclinação da curva de maturação é mais aguda durante as primeiras seis a oito semanas. (OLIVEIRA, 2012)

 

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Tipos de cicatrizes

 

De acordo com Tazima (2008) e Pereira (2011), existem vários tipos de cicatrizes: normotrófica (quando a pele adquire o aspecto de textura e consistência anterior ao trauma); atrófica (quando a maturação cicatricial não atinge o trofismo fisiológico esperado, surgindo, normalmente, por diminuição de substância tecidual ou sutura cutânea inadequada); hipertrófica (quando o colágeno é produzido em quantidade normal e a sua organização na deposição é inadequada, oferecendo aspectos não harmônicos, embora a cicatriz respeite o limite anatômico da pele); brida cicatricial (cicatrizes indesejadas localizadas nas regiões articulares que podem provocar limitações funcionais e diminuição na amplitude de movimento do segmento); queloide (decorrente da contínua produção de colágeno jovem devido à ausência de fatores inibitórios, podendo estar ligada a fatores raciais).

 

Cicatrização: como os profissionais tratam as feridas

 

A fim de que o indivíduo possa atingir um processo de cicatrização normotrófica, alguns cuidados são recomendados no pré operatório, que visam estimular a elasticidade cutânea dos tecidos nos planos superficiais e profundos, conseguido nos 30 dias que antecedem a cirurgia, por meio de: preparação prévia da pele para realização da cirurgia; hidratações locais (neste caso a cosmetologia será uma boa aliada); afinamentos (esfoliações suaves); manipulações do tecido por meio de massagens manuais; exercícios isométricos, buscando fortalecer a musculatura envolvida; estimulações eletroeletrônicas e microcorrentes; drenagem linfática manual, técnica clássica e consagrada, presente no pré e no  pós-operatório de qualquer cirurgia plástica; ionizações ou iontoforeses, como recurso potencializador de ativos cosméticos. (PEREIRA, 2011)

Nos dez dias que antecedem a cirurgia, os cuidados referidos são a higienização e limpeza da pele, tonificação com ativos calmantes e extratos vegetais, drenagem linfática manual (focando descongestionar vias linfáticas e reduzir a espessura do tecido), uso de máscara de ação descongestionante sem oclusão. (OLIVEIRA s/d). Contudo, variados processos assistenciais no pós operatório tem sido empregados para melhorar a resposta do individuo a cirurgia, com promoção de uma recuperação sistêmica mais harmoniosa, incluindo a cicatrização.

Radwanski (2010) avaliou a evolução das cicatrizes em uma população miscigenada, usando um produto contendo silicone gel de rápida secagem, em cicatrizes exclusivamente resultantes de cirurgia plástica. na fase de remodelação (entre a retirada das últimas suturas e o 3º mês de pós-operatório); os resultados descrevem significativa melhora nos seguintes parâmetros: prurido e “repuxamento”, endurecimento, elevação e vermelhidão. Concluiu que o uso de silicone gel em cicatrizes pós-cirurgia plástica é seguro e eficiente na prevenção de cicatrizes de má qualidade.

Oliveira (s/d) descreve algumas técnicas de melhora de cicatrizes hipertróficas, tais como a remoção cirúrgica da cicatriz, dermoabrasão,  Resurfacing a laser, Preenchedores de tecido (colágeno, ácido hialurônico e injeção de gordura), Enxertos e excisões com punch, Peelings químicos, Métodos compressivos, Criocirurgia, Injeções de corticosteróides, Interferon.

 

            Infecção em feridas cirúrgicas

 

Com relação ao tratamento da infecção, Trindade et al (2010) em estudo experimental, analisaram a ação do metronidazol em solução a 4%, tópico, em feridas com cicatrização por segunda intenção em ratos. Apesar de não haver diferença entre os grupos em relação à contração ferida, concluíram que o metronidazol, solução a 4%, na dose de 50mg/kg/dia, aplicado de forma tópica nas feridas com cicatrização por segunda intenção, facilita a epitelização periférica precoce, não interfere na contração da ferida e atrasa o aparecimento dos miofibroblastos.

Em tratamento de ferida cirúrgica de revascularização do miocárdio que apresentava complicação (a ferida esternal do paciente apresentava as seguintes dimensões: 26 cm x 14 cm x 15 cm e o leito da ferida continha 100% de esfacelo amarelo com 125 cm3 de drenagem purulenta coletada pelo reservatório do curativo V.A.C. durante as 24 horas anteriores); utilizou-se gaze seca impregnada com polihexametilino de biguanida a 0,2%, e, após o início do tratamento a ferida cirúrgica do paciente apresentou redução de aproximadamente 50% no seu tamanho e o leito da ferida foi modificado de 100% de esfacelo amarelo para 100% de tecido de granulação vermelha dentro de um período de sete dias. A presença de ferida cirúrgica limpa, bem granulada pode ter auxiliado o trabalho do Cirurgião Plástico e ter contribuído para o sucesso do procedimento de enxerto por avanço bilateral de flap miocutâneo do peitoral maior. (HUTTON, 2005)

Portanto, estudar as ações de profissionais na melhora da estética da cicatrização possibilita a reflexão dos profissionais sobre o assunto.

A preocupação com a estética de uma cicatrização e a possibilidade de formação de uma cicatriz que marque o indivíduo é uma grande preocupação dos profissionais que trabalham com cirurgias plásticas e gerais e dos que atendem em pós-operatório.

O cuidar da ferida de alguém vai muito além dos cuidados gerais ou da realização de um curativo. Uma ferida pode não ser apenas uma lesão física, mas algo que dói sem necessariamente precisar de estímulos sensoriais; uma marca ou uma mágoa, uma perda irreparável ou uma doença incurável. A ferida é algo que fragiliza e muitas vezes, incapacita. (JORGE & DANTAS, 2003)

Para os profissionais que cuidam de pessoas com feridas, como os enfermeiros especializados, o resultado não se remete somente a cicatrização da lesão, mas o que essa cicatriz pode representar para o indivíduo tratado. Logo, a relevância de pesquisar as ações dos profissionais que tratam essas feridas cirúrgicas, muitas vezes destinadas a correções de imperfeições, propicia a discussão dos cuidados também com a estética e não o mero “fechamento” de lesões.

Considerando o exposto objetivou-se investigar as ações dos profissionais que cuidam de pessoas com feridas cirúrgicas que visem à estética da cicatrização.

O referido estudo tem natureza qualitativa e exploratória. Segundo Minayo (2008), pesquisa qualitativa é a que se aplica no estudo da história, das relações, das representações, das crenças, das percepções e das opiniões, produtos das interpretações que os homens fazem a respeito de como vivem, constroem seus artefatos e a si mesmos, sentem e pensam.

Para Gil (2002), a pesquisa do tipo exploratória tem como principal finalidade ampliar, esclarecer e alterar o sentido de conceitos e ideias, tendo em vista, a formulação de problemas mais precisos que são desenvolvidas com o objetivo de propiciar uma visão geral, do tipo aproximativo, sobre determinado fato.

A utilização de entrevistas estruturadas foi realizada por meio de Email Surveys, nos quais as perguntas foram enviadas aos participantes como uma mensagem de email convencional. As repostas recebidas foram analisadas da mesma forma que a pesquisa convencional. (MENDES, 2009).

A pesquisa online para Freitas et al. (2004) in Mendes (2009) oferece uma série de vantagens sobre as demais pesquisas qualitativas. Segundo os autores, o pesquisador tem a possibilidade de utilizar recursos que, em um processo normal de pesquisa, não seriam possíveis. Além disso, o respondente, por sua vez, recebe estímulos de várias ordens, podendo ser visuais, sonoros etc., que o incentivam a participar.

O termo de consentimento livre e esclarecido foi por meio virtual, ou seja, à medida que o respondente reenviava o questionário respondido, o mesmo já autorizava a utilização das informações, com o respeito ao anonimato dos mesmos.

O questionário continha perguntas fechadas e abertas, e foram enviadas como anexo ao email, junto com o termo de consentimento livre e esclarecido. As respostas foram aguardadas pelo período de 20 dias a contar da data do envio prevista para 28 de dezembro de 2012. Após o recebimento, as respostas foram catalogadas com os dados quantitativos descritos em número de participantes e o perfil profissional dos mesmos. A descrição dos resultados foi baseada nos tópicos: perfil do profissional entrevistado, processo de trabalho no pré e pós operatório visando minimização da cicatriz.

 

2 RESULTADOS E DISCUSSÃO

 

A pesquisa virtual resultou em apenas cinco participantes, não atingindo um número desejável, entretanto, as respostas dos participantes demonstram que os mesmos apresentam critérios diferentes para tratar a cicatrização de feridas cirúrgicas. Os participantes foram três enfermeiros, um fisioterapeuta e um biomédico esteticista.

Quanto a especialidade dos mesmos, um especialista em dermato-funcional (fisioterapeuta), um enfermeiro em enfermagem em dermatologia, um em estomaterapia, um em Unidade de Terapia Intensiva e um biomédico esteticista.

Com relação ao tempo de formação, o fisioterapeuta entre 2 a 6 anos, os enfermeiros ( Enf 1)  01 com mais de 10 anos, o segundo (Enf 2) entre 2 e 6 anos, o terceiro (Enf 3) até 2 anos e o biomédico até 2 anos.

Quanto a atuação no pré operatório, o fisioterapeuta e o biomédico esteticista responderam que atuam, o que reflete as ações estéticas relacionadas ao preparo operatório das equipes. Quanto aos enfermeiros os mesmos atuam somente no pós operatório, seja a nível hospitalar ou ambulatorial, não relacionados a rotina estabelecida pela equipe. O atendimento é por livre demanda, especialmente quando apresenta alguma complicação.

 

Recomendações pré operatórias

 

De acordo com a conduta da fisioterapeuta, a mesma recomenda  “Drenagem linfática, a fim de prevenir edemas pós-operatórios. A Carboxiterapia no pré operatório tem como objetivo a melhora da vascularização de retalhos cirúrgicos. Orientação quanto ao uso de cremes hidratantes ou nutritivos, para um adequado metabolismo cutâneo, bem como manutenção de suas propriedades elástica da pele.”

A biomédica esteticista recomenda radiofrequencia, LIP, peeling químico”.  As recomendações de ambos os profissionais está de acordo com as recomendações de Pereira (2011) discutidas anteriormente.

           

Recomendações pós operatórias

 

Segundo a recomendação da fisioterapeuta, a mesma descreve que “utiliza técnicas como: Massagem de Cyriax: Liberar aderências e retirar possíveis nódulos.

Drenagem Linfática Manual (técnica em que são realizados movimentos com suavidade, baixa intensidade de pressão e ritmo constante, com o objetivo de reabsorver edema, hematomas e removendo impurezas do corpo). Endermoterapia (apresenta efeitos de hipervascularização, desfibrosagem, reestruturação do tecido conjuntivo, melhora do trânsito de líquido linfático e tissular e tonificação tissular). Técnica de liberação de tecido funcional (específica para pós operatório imediato e tardio que devolve a flexibilidade e a funcionalidade aos tecidos que ficam aderidos e com fibroses pela própria cicatrização pós operatória). Ultra-som terapêutico e Carboxiterapia.

A Enf1 recomenda óleo de rosa mosqueta na cicatriz cirúrgica, retirar os pontos o mais precocemente possível”.

O Enf2 recomenda “kelo cote” conforme orientação também da fisioterapeuta que utiliza o mesmo produto, que a mesma especifica como um gel de silicone transparente e auto-secante, que mantém o equilíbrio hídrico da pele, facilitando a regeneração de cicatrizes causadas por cirurgias, queimaduras ou traumas”. O Enf3 utiliza “Cicatricure gel pois reduz as cicatrizes hipertróficas. Utiliza também em áreas de cicatrização de queimaduras até segundo grau”. A fisioterapeuta recomenda como produtos  o “Contactubex gel, indicado para cicatrizes hipertróficas e queloidais, limitadoras de movimentos, incômodos após intervenções cirúrgicas, amputações, queimaduras e acidentes, retrações cicatriciais e ainda Placas de silicone em gel na cicatriz”.

As informações relevantes demonstram a preocupação dos profissionais com a melhor cicatrização possível, mas também as relações profissionais entre os membros da equipe e o cliente, pois o mesmo deve ser cuidadoso na escolha do profissional que irá realizar a cirurgia e o pós operatório.

 

3 CONSIDERAÇÕES

 

Apesar do número de profissionais entrevistados ser reduzido, a experiência da pesquisa virtual foi bastante satisfatória. Possivelmente a pouca participação ocorreu devido ao período de festas e férias de final de ano; esta técnica deverá ser utilizada em outro momento para melhor apreciação.

Com relação aos profissionais que responderam e atuam com a assistência de feridas cirúrgicas, seja no pré ou pós operatório, os mesmos estão na vanguarda do que melhor foi encontrado na revisão da literatura, portanto, considera-se imprescindível que os profissionais que atendem os clientes estejam atualizados para que realizem o diferencial no cuidado.

Neste trabalho não objetivou demonstrar preferência por nenhuma marca de produtos, a citação de referência foi apenas para considerar o produto que está sendo utilizado, visto que muitos cremes e soluções variam na formulação, não tendo uma base genérica global.

 

 

 

4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

BOSCOLI, Iversen Ferrante. Cicatrização e Cirurgia Plástica. Acesso em 30/04/2012. Disponível em http://www.cirurgiaesteticareparadora.com.br/cirurgia_estetica_cicatrizacao_e_cirurgia_plastica.php.

 

BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Comissão Nacional de Ética em Pesquisa - CONEP. Resolução 196/96 sobre pesquisa envolvendo seres humanos. Brasília, 1996, 24 p.

 

GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisas. 4ª Ed. São Paulo: Atlas, 2002.

 

HUTTON, Cheryl L. O Uso de Curativo com Gaze Antimicrobiana em uma Incisão Infectada de Cirurgia de Revascularização do Miocárdio. Este resumo foi apresentado na SAWC 2005.

 

JORGE, Silvia Angélica; DANTAS, Sonia Regina Pérez Evangelista. Abordagem Multiprofissional do Tratamento de Feridas. São Paulo: Atheneu, 2003. 378p.

MATOSO, Rogério. MAMAS AUMENTO (IMPLANTE SILICONE). Disponível em http://www.rogeriomatoso.com.br/ 

 

MENDES, Conrado Moreira. A PESQUISA ONLINE: potencialidades da pesquisa qualitativa no ambiente virtual. Acesso 01/04/2012. Hipertextus (www.hipertextus.net), n.2, Jan. 2009 Disponível em http://www.hipertextus.net/volume2/Conrado-Moreira-MENDES.pdf

 

MINAYO, Maria Cecilia de Souza. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 8ª ed. São Paulo: Hucitec; 2004.

 

OLIVEIRA, Marco Antônio. Dermatologia Clínica: Cicatriz.   Acesso em 30/04/2012.  Disponível em http://www.marcoantoniodeoliveira.com.br/cicatriz.php .

PEREIRA. Juliana Silva Vidal.  Introdução A Cirurgia Plástica E Reparadora. W.Educacional. Brasilia, 2011. 42p.

 

RADWANSKI, Henrique N. Silicone gel em cicatrizes de cirurgia plástica: estudo clínico prospectivo. Rev. Bras. Cir. Plást. 2010; 25(3): 428-33

 

TAZIMA, Maria de Fátima G.S.; VICENTE, Yvone Avalloni de Morais de Andrade;  MORIYA, Takachi. Biologia da ferida e cicatrização. Medicina (Ribeirão Preto) 2008; 41 (3): 259-64.

 

TRINDADE, Lilian Cristine Teixeira;  Biondo-Simões, Maria de Lourdes Pessole;  Sampaio, Cláudia Paraguaçu Pupo; Farias, Rogério Estevam; Pierin, Rodrigo  Jardim; Netto, Miguel Chomiski . Avaliação do uso tópico do metronidazol no processo de cicatrização de feridas: um estudo experimental . Rev Col Bras Cir. [periódico na Internet] 2010; 37(5). Disponível em URL: http://www.scielo.br/rcbc

 

 

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Shirley Rangel Gomes

por Shirley Rangel Gomes

Mestre em Enfermagem (2008), Universidade Federal Fluminense (UFF). MBA em Gestão Estratégica de Hospitais (2005), Fundação Getúlio Vargas (FGV). Especialista em Enfermagem do Trabalho, Faculdade Redentor Itaperuna (2012).Graduada em Enfermagem e Obstetrícia (1989) pela Universidade Federal Fluminense. Professora titular da Fundação de Apoio às Escolas Técnicas (FAETEC) desde 2002. Coordenadora do

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