Estudo avalia impacto dos genéricos sobre a economia

Farmácia

01/01/2008

Custo de remédios de referência e despesa com tratamentos de doenças diminuíram

Os medicamentos genéricos foram implantados no Brasil em 1999, em uma iniciativa polêmica devido à mal-sucedida experiência com medicamentos 'similares' no país. Mais de três anos depois, no entanto, a pesquisadora Marislei Nishijima, da Universidade de São Paulo, avaliou o impacto dos genéricos na economia do país e concluiu que a entrada desses medicamentos no mercado foi eficaz na redução dos preços dos remédios de 'marca'.

Embora a política de genéricos pareça relativamente simples -- introduzir remédios sem marca, mais baratos, que promovam a concorrência --, os resultados nem sempre são os esperados, pois dependem de fatores reguladores da economia. "Existem dois tipos de consumidor: o que procura melhor preço e o que é fiel a uma marca", diz Marislei. Com a concorrência dos genéricos, os laboratórios vendem menos e aumentam o preço de seus medicamentos para manter o lucro. "Quem for fiel à marca vai continuar comprando", ela conclui.

Isso ocorreu nos Estados Unidos, onde a política foi implantada em 1984 e só obteve bons resultados após alguns anos. A primeira experiência brasileira desse tipo foram os medicamentos similares, que diferiam dos genéricos porque tinham marca e não sofriam regulamentação específica do governo para atestar que seu efeito era igual ao do remédio 'de referência'. A pouca credibilidade junto aos médicos condenou os similares ao fracasso.

Para evitar que o mesmo ocorresse com os genéricos o governo criou o teste de bioequivalência -- que avalia se o medicamento é de fato eficaz para o fim ao qual se destina --, apontado pela pesquisadora como um dos principais motivos de sucesso do projeto, pois "regulamentação traz credibilidade". O governo também investiu em propaganda, em uma tentativa de esclarecer a população e sobretudo a classe médica, responsável pela decisão de consumo dos remédios -- ao menos na teoria.

Durante o estudo um fato chamou a atenção de Marislei: o anúncio da entrada dos genéricos -- antes de sua implantação -- aumentou a venda de medicamentos similares que tinham o nome do princípio ativo. "Isso indica que o número de pessoas que se automedicam pode ser significativo", explica. "Quem comprava os 'falsos genéricos' provavelmente estava mal-informado e não seguia orientações médicas."

A concorrência dos genéricos, que custam em média 60% do preço do medicamento 'de referência', levou à diminuição na despesa com tratamento de doenças. Apesar do sucesso, existem algumas falhas. "O controle de qualidade deveria ser contínuo, pois ela pode diminuir com o tempo, como se constatou nos EUA", diz Marislei. A perda de credibilidade decorrente poderia inviabilizar políticas semelhantes no futuro.

O objetivo do projeto só será plenamente alcançado quando os dados forem suficientes para mostrar se a população de baixa renda -- que antes dos genéricos consumia apenas 16% dos remédios no Brasil -- tem agora mais acesso aos medicamentos, o que de fato configuraria melhora na condição de vida dos brasileiros.


Fonte: Ciência Hoje on-line*

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