Impacto Da Interação Entre Plantas Medicinais E Medicamentos Na Saúde Humana

Impacto Da Interação Entre Plantas Medicinais E Medicamentos Na Saúde Humana
Impacto Da Interação Entre Plantas Medicinais E Medicamentos Na Saúde Humana

Farmácia

02/11/2012

O uso medicinal das plantas faz parte de uma tradição milenar da humanidade. A própria Organização Mundial da Saúde reconhece essa prática como um dos componentes da Medicina Tradicional (WHO, 2012). O fato de a planta estar tão inserida dentro da cultura dos povos, provavelmente colaborou para a construção do mito em considerar sua inocuidade, privilegiando apenas seus benefícios. Além dos riscos do uso de maneira isolada, há centenas de trabalhos relatando os danos à saúde causados pelo uso concomitante da planta medicinal com os medicamentos.

A associação do medicamento com a planta tem um interesse primário para o paciente de potencializar o efeito do medicamento. Essa é uma visão reducionista que não considera os efeitos da interação: poder aumentar, diminuir ou anular o efeito do medicamento em diferentes magnitudes.

No mercado mundial, e também no brasileiro, há uma variedade de produtos registrados a base de plantas medicinais sendo comercializados e que possuem numerosas interações com medicamentos. Plantas como ginco biloba (Ginkgo biloba L), erva de São João (Hypericum perforatum L.), equinácea (Echinaceae sp) ginseng (Panax ginseng C.A. Mayer) possuem variadas interações já documentadas na forma de casos ou estudos clínicos. O ginco biloba pode reduzir concentrações plasmáticas de omeprazol e ritonavir (Izzo, Ernst, 2009), a erva de São João pode reduzir a concentração sanguínea da digoxina (Chen et aal, 2011) e valeriana administrada junto com haloperidol pode causar inibição de enzimas hepáticas (Dalla Corte et al., 2008).

Além dessas interações envolvendo medicamentos sob prescrição médica, há ainda aqueles medicamentos conhecidos por "venda livre" que também possuem interações com plantas medicinais, como o aumento da hepatotoxicidade do paracetamol, caso seja administrado concomitantemente com a Kava (Piper methysticum G. Forst) (Abebe, 2002).

Todas esses casos testemunham diferentes e perigosas consequências para a saúde do paciente. Os mecanismos para a maioria das interações planta-medicamento não são totalmente conhecidos. Chen e colaboradores (2012) explicam que mecanismos farmacocinéticos e/ou farmacodinâmicos devem estar envolvidos nestas interações. Baseado no raciocínio colocado se percebe que é imperativo prevenir o evento da mistura planta-medicamento e o profissional da saúde possui papel relevante para o alcance desse objetivo.

A primeira ação de qualquer profissional da saúde é dedicar tempo para explicar aos pacientes dos possíveis riscos de misturar plantas medicinais com medicamentos; diante de um caso de interação deve ser ativo em notificar possíveis reações que sejam originadas dessa interação, fortalecendo o sistema de farmacovigilância para que este possa consolidar as informações produzidas e devolvê-las à sociedade. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária possui em seu site - www.anvisa.gov.br, formulário específico destinado a coletar notificações dos resultados clínicos das interações. A interação planta-medicamento é um problema de proporções mundiais (Skalli, Soulaymani, 2012).

O trabalho de prevenção e proteção da saúde deve ser desenvolvido principalmente pelos profissionais da saúde no sentido de reduzir a ocorrência desses eventos.
Referências
Chen XW, Serag ES, Sneed KB, Liang J, Chew H, Pan SY, Zhou SF. Clinical herbal interactions with conventional drugs: from molecules to maladies. Curr Med Chem. 2011;18(31):4836-50. Chen XW, Sneed KB, Pan SY, Cao C, Kanwar JR, Chew H, Zhou SF. Herb-drug interactions and mechanistic and clinical considerations. Curr Drug Metab. 2012 Jun 1;13(5):640-51.
Dalla Corte CL, Fachinetto R, Colle D, Pereira RP, Avila DS, Villarinho JG, Wagner C, Pereira ME, Nogueira CW, Soares FA, Rocha JB. Potentially adverse interactions between haloperidol and valerian. Food Chem Toxicol. 2008 Jul;46(7):2369-75.
Izzo AA, Ernst E.Interactions between herbal medicines and prescribed drugs: an updated systematic review. Drugs. 2009;69(13):1777-98
Skalli S, Soulaymani Bencheikh R. Safety monitoring of herb-drug interactions: a component of pharmacovigilance. Drug Saf. 2012 Oct 1;35(10):785-91.
WHO. World Health Organization. Traditional medicine. Disponível na url: http://www.who.int/topics/traditional_medicine/en/. Acesso em 02/11/2012.

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Alberto Malta Junior

por Alberto Malta Junior

Possui graduação em Ciências Farmacêuticas pela UFPB (1999), especialista em Assistência Farmacêutica pela ESP-CE e especialista em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde pelo NESC - Universidade Federal do Ceará. Escritor, atua como Professor na Faculdade de Medicina do Cariri - UFC, Professor na Faculdade de Farmácia da FJN e consultor em saúde pública.

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