Pano Branco: mitos e verdades

Pano Branco é a micose determinada por lesões hipocrômicas
Pano Branco é a micose determinada por lesões hipocrômicas

Farmácia

29/03/2013

Ir à praia ou passar um dia na piscina com amigos, ouvimos sempre a mesma exclamação: “peguei micose de praia!”. Essas manchas brancas são na verdade leveduras do gênero Malassezia que fazem parte da microbiota humana e são chamadas também impropriamente de pano branco.

Cientificamente esse problema dermatológico é conhecido como Pitiríase Versicolor, sendo um distúrbio da pigmentação cutânea causada por um fungo superficial muito difundido em todas as partes do mundo, porém é mais prevalente em regiões tropicais e subtropicais.

A Pitiríase versicolor apresenta essa denominação por possuir lesões dermatológicas de coloração variável (branca, rosa ou acastanhada). A designação versicolor vem do latim (versicolore) que significa várias cores, pois as lesões podem se apresentar hipocrômicas, hipercrômicas ou mais raramente eritematosa. É uma infecção superficial leve e crônica do extrato córneo. Tanto a invasão da epiderme quanto as respostas ao hospedeiro são mínimas, pois esses fungos fazem parte da microbiota normal da superfície da pele do homem.

No Brasil não existem dados oficiais do governo a respeito da PV, pois sua notificação no Sistema Único de Saúde (SUS) não é compulsória e nem se aplica medidas de controle, contudo, trabalhos científicos vêm sendo desenvolvido nessa linha de pesquisa ajudando a consolidar o perfil brasileiro.

Mitos:

A denominação “micose de praia” está relacionada porque as máculas são evidenciadas após a exposição solar, indicando a localização das lesões preexistentes. A razão pelo qual a área acometida pelo fungo se tornam mais visíveis após exposição solar, está na capacidade que as leveduras do gênero Malassezia têm de produzir o ácido azaleico, uma substância química que tem ação fotoprotetora. Este componente inibe a tirosinase, interferindo na melanogênese e como consequência deixando a área afetada pelo do fungo mais clara.

Outro mito relacionado com o aparecimento da Pitiríase versicolor é quando manchas claras aparecem em nossa pele e nossos avós ou pais correlacionam com parasitose (verme). Na realidade as manchas hiporpigmentadas não tem associação com os fungo da Malassezia, pois as lesões são causadas pelas absorção de vitaminas do organismo pelo parasita Ascaris lumbricoides.

Patogênese:

Ao invadirem as células queratinizadas do estrato córneo, os microrganismos são convertidas de sua forma leveduriforme (blastósporo) para a forma micelar, tornando-se patogênica. Essa conversão é devido a certos fatores predisponentes, os quais podem ser classificados como fatores endógenos ou exógenos.

Os fatores endógenos estão relacionados com elevada sudorese, má nutrição, avitaminoses, gravidez, diabetes, doença de Cushing, fatores hereditários. Dentre os fatores exógenos, são incluídas alta temperatura, alta umidade relativa do ar, exposição solar, oclusão da pele por roupas sintéticas ou cosméticos, corticoterapia prolongada, terapia parenteral, contraceptivo oral e uso de terapia imunossupressora

Morfologia das Espécies Malassezia:

Este gênero é composto por leveduras com parede celular espessa que constitui 26 a 37% do volume da célula. Os principais componentes da parede celular são: açúcares (70%), proteína (10%) e lipídios (15-20%), com pequenas quantidades de nitrogênio e enxofre.

Existem sete espécies do gênero Malassezia: M. furfur, M. pachydermatis, M. sympodialis, M. globosa, M. obtusa, M. restricta e M. slooffiae e estas requerem lipídios para seu desenvolvimento. A M. pachydermatis é a única que cresce em meios micológicos de rotina sem suplementação lipídica. Recentemente foram descritas seis novas espécies através de técnicas moleculares: M. dermatis, M. japonica, M. yamatoensis, M. nana, M. caprae e M. equina. Vale ressaltar que as espécies M. caprae e M. equina foram detectadas em caprinos e cavalos, sendo nomeadas por associação a esses animais, pois não se encontram totalmente caracterizada.

Embora as espécies de Malassezia sejam muito semelhantes entre si, elas podem ser diferenciadas por meio de critérios morfofisiológicos. Para essa diferenciação, as mesmas são cultivadas em meio de Dixon modificado entre 30 e 35°C, incubadas durante sete dias, permitindo uma melhor visualização e identificação das colônias.

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Juliano Oliveira Santana

por Juliano Oliveira Santana

Doutorando e Mestre em Genética e Biologia Molecular, especialista em Análises Clínicas e Diagnóstico Laboratorial, graduado em Farmácia. É membro da Sociedade Brasileira de Espectrometria de Massas. Trabalhou na MARS Center of Cocoa Science desenvolvendo projetos nas áreas de proteínas, polifenoloxidase e DNA.

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