Resistência fúngica em infecções hospitalares e suas causas

A infecção fúngica  está relacionada a fatores  associados  tanto  ao hospedeiro
A infecção fúngica está relacionada a fatores associados tanto ao hospedeiro

Farmácia

15/01/2014

A portaria no. 196 de 24 de junho de 1983 do Ministério da Saúde conceitua a infecção  hospitalar  como uma infecção  adquirida  após  a  internação  do paciente , que  se  manifeste  durante  a internação,  ou  mesmo  após  a  alta,  quando esta  puder ser relacionada com a  sua hospitalização (BRASIL, 1983).

No Brasil, o desenvolvimento e o fortalecimento de políticas voltadas para o controle  e prevenção das infecções nos serviços de saúde, por delegação é competência da ANVISA. O seu risco é determinado pela interação entre fatores epidemiológicos, grau de imunossupressão e exposição a fungos potencialmente patogênicos no ambiente hospitalar (BOW, 1998).

As infecções  fúngicas,  de  origem  hospitalar, passaram a ser de grande importância nos últimos anos ,  pelo  seu  aumento  progressivo  e  pelas elevadas  taxas  de  morbidade  e  mortalidade. Muitas dessas infecções são de origem endógena e  outras  podem  também  ser  adquiridas  por  via exógena, pelas mãos de profissionais da área da saúde,  infusos  contaminados,  biomateriais  e fontes inanimadas ambientais. (DINIZ, et al., 2005).        Unidades  de  terapia  intensiva  representam  um  ponto  de interface entre os mais graves pacientes, que recebem terapias múltiplas e agressivas, e  os  mais  resistentes  patógenos,  que  são  selecionados  pelo  uso  de  terapia antimicrobiana  prolongada.

Diversos  fatores  podem produzir  ingerências  nesses  mecanismos  de  defesa  e  predispor  os  indivíduos  a processos  micóticos  (TORRES-RODRÍGUEZ,  1996). A  neutropenia  decorrente  de  processos  patológicos  ou  induzida  por medicamentos  é provavelmente  um  dos  mais  importantes  fatores  de  risco  para  a aquisição  de  infecções  invasivas  (ANAISSIE,  1992). Na  verdade,  os  indivíduos  com  neutropenia representam  uma  população  heterogênea  com  uma  variedade de  aspectos epidemiológicos  que  determinam  o  nível  de  susceptibilidade,  tais  como  o  tipo  de doença de base (neoplasias sólidas ou hematológicas) e seu estado clínico (processo em  remissão  ou  progressivo),  tipo  de  tratamento  para  o  processo  de  base (quimioterapia citotóxica, radioterapia ablativa, corticoterapia antibioticoterapia de largo espectro), tipo de intervenção hospitalar/iatrogênica (grandes cirurgias, transplantes de órgãos  sólidos  e  medula  óssea,  cateterização,  nutrição  parenteral)  e  exposição ambiental. Como os  quimioterápicos  citotóxicos  afetam  todos  aqueles  tecidos com  alto  grau  de  replicação( pelos,  gônadas,  medula  óssea  e  células epiteliais do trato gastro-intestinal e genito-urinário)  mucosites e lesões ulcerativas da orofaringe, esôfago e intestinos induzidas por terapia citostática têm sido relacionadas à patogênese  das infecções oportunistas por fungos  colonizantes  em  pacientes  com  processos  oncohematológicos.

A infecção fúngica  ocorre  pela  inter-relação  de  fatores  associados  tanto  ao hospedeiro quanto ao fungo. Objetivamente, o fungo tem que ser capaz de superar o sistema  de  defesa  do  hospedeiro.  Para  tanto,  esses  patógenos  devem  possuir  a habilidade  de  crescimento  à  temperatura  de  37ºC,  aderência  e  colonização  de superfícies  e  órgãos,  adaptação  fenotípica  e  dimorfismo, produção  de  toxinas (endotoxinas)  e  enzimas  (proteases,  fosfolipases  e  oxi-redutases),  interação  com hormônios e sequestro de metais pesados (HENRIQUES et al., 2006; MOHAN-DAS & BALLAL, 2008; RAPPLEYE & GLODMAN, 2006; VARTIVARIAN, 1992).

Dentre essas infecções, aquelas produzidas por  Candida spp. são  as  mais  importantes  causas  de  morbidade  e  mortalidade  nos  pacientes hospitalizados, representando quase 90% de todos os processos fúngicos nosocomiais (BILLE et al.,2005; ROSA et al., 2008; RUHNKE & MASCHMEYER, 2002). O gênero Candida compreende 200 espécies de  fungos  que são leveduriformes,  apresentam polimorfismo e sobrevivem como comensais em sítios anatômicos, de acordo com o ambiente em que se encontram e a pressão ambiental exercida sobre eles. Em pessoas saudáveis faz parte da microbiata da Pele, Trato respiratório superior, Conjuntiva,Ouvido externo,Trato gastrointestinal,Uretra anterior e Genitália externa . A maioria das infecções disseminadas tem sua origem no trato gastrointestinal, contudo,  a  pele  e  o  trato  genito-urinário  podem  ser  também  fontes  de  infecção.

Este gênero produz vários fatores de virulência entre os quais podemos citar as: enzimas proteolíticas- que degradam a  fibronectina, queratina  e colágeno que facilitam a invasão do fungo ao tecido, aderência a superfície celular através das mananoproteínas, que são biomoléculas que promovem a aderência do fungo às células do hospedeiro ou à células ligantes. E a produção de fosfolipase, entre as espécies de Candida, apenas a albicans é capaz de produzir fosfolipase, essa enzima, localizada na superfície da levedura e na extremidade do tubo germinativo, atua na hidrólise de fosfolipídeos, dando origem a lisofosfolipídeos que causam dano à célula epitelial.

Dentre as espécies  de Candida  conhecidas, somente algumas poucas têm sido isoladas de casos  humanos. Nesse contexto, destacam-se C. albicans, C. dubliniensis, C. glabrata, C. guilliermondii,C.  krusei,  C.  lusitaniae,  C.  parapsilosis e  C.  tropicalis. Todas  essas  espécies  podem apresentar  manifestações  clínicas  semelhantes,  contudo,  a  gravidade  e  as  opções terapêuticas podem diferir, Candida spp.  são  parte  integrante  da  microbiota  e  sua  patogenicidade  resulta essencialmente  das  alterações  nos  mecanismos  de  defesa  do  hospedeiro   (COLOMBO & GUIMARÃES, 2003; PFALLER, 1994).

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Amanda Damasceno Leao

por Amanda Damasceno Leao

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