Resistência Microbiana em Microrganismos de Importância Clínica

A frequência de infecções por espécies de Candida tem aumentado nas últimas
A frequência de infecções por espécies de Candida tem aumentado nas últimas

Farmácia

26/06/2014

O aumento da resistência a antibióticos em populações bacterianas de origem hospitalar é um assunto que vem sendo bastante estudado por pesquisadores das indústrias farmacêuticas. Na verdade, diversas bactérias que antes eram sensíveis às substâncias utilizadas nos tratamentos clínicos, passaram a ser resistentes a quase todos os fármacos disponíveis no mercado, tornando-se micro-organismos multirresistentes.

Os primeiros casos de resistência aos antimicrobianos ocorreram entre os anos 1930-1940, logo após a introdução das primeiras classes de antibióticos, sulfonamidas e penicilina. Bactérias comuns, como estirpes de Staphylococcus aureus, tornaram-se resistentes a estas classes de antibióticos em velocidade recorde.

Com exceção das Enterobacteriaceae, as bactérias Gram-positivas são os micro-organismos isolados com maior frequência em amostras clínicas.  Dentre elas, Staphylococcus aureus constitui o patógeno humano mais importante e, apesar de fazer parte da microbiota humana normal, ele pode produzir infecções oportunistas significativas em condições apropriadas, além de intoxicações alimentares.

A princípio, a penicilina era o fármaco de escolha para o tratamento das infecções graves por S. aureus, mas atualmente 80% dos isolados mostram-se resistentes à penicilina devido à ação das β-lactamases. Depois, foi adotado o tratamento com penicilinas semi-sintéticas e resistentes à penicilinase, mas durante a década de 1980 foi constatado o aparecimento de cepas resistentes a essa classe de antibióticos. Essas cepas são denominadas MRSA (S. aureus resistente à meticilina) e representam um desafio para as instituições de saúde.

Outra espécie bacteriana bastante importante para a saúde pública é Pseudomonas aeruginosa, principal causa de infecções hospitalares entre os bacilos Gram-negativos não-fermentadores de glicose. Este é um importante patógeno humano que acomete, principalmente, pacientes imunossuprimidos, sendo considerado um patógeno oportunista, uma vez que, raramente, está associada a infecções comunitárias em indivíduos imunocompetentes.

A relevância de P. aeruginosa como um patógeno hospitalar também está associada em sua relativa resistência aos antibióticos e a suscetibilidade diminuída aos antissépticos e desinfetantes. Relatos de redução da suscetibilidade de P. aeruginosa aos antimicrobianos vêm sendo publicados no Brasil e em outros países, destacando-se a diminuição de sensibilidade aos antibióticos de maior espectro de ação, como os carbapenêmicos e as cefalosporinas antipseudomonas, que são as principais opções terapêuticas (FERREIRA e LALA, 2010).

A frequência de infecções por espécies de Candida tem aumentado nas últimas décadas, tornando a candidemia uma infecção presente nos hospitais e a resistência aos antifúngicos tem representado um grande desafio para a clínica médica. Atualmente, essas infecções representam o quarto lugar entre as adquiridas no ambiente hospitalar, sendo a espécie C. albicans a mais frequente, que é responsável por 50 a 70% de todas as infecções invasivas.

Os novos triazólicos, fluconazol e itraconazol, são comumente utilizados no tratamento das micoses. O desenvolvimento de resistência aos azóis precede o uso prolongado e repetido desses antifúngicos na terapêutica de pacientes com candidíase oral e esofágica e, dentre a população de Candida albicans, a resistência ao fluconazol pode chegar a 45% entre os indivíduos que receberam terapêutica prévia.

A ANVISA, através da RDC 44, de 26/10/2010, passa regulamentar a venda de antimicrobianos. Essa resolução foi um passo importante para o uso adequado desses remédios e, consequentemente, para a redução da resistência. Entretanto, não basta apenas ter o receituário médico, é preciso que ele esteja pautado no conhecimento sobre o patógeno. Hoje em dia ainda pode-se observar muitas prescrições médicas para antibióticos sem embasamento laboratorial. É necessário que a equipe médica entenda a importância da realização dos exames laboratoriais para o bom prognóstico. 

O uso indiscriminado desses medicamentos pode levar ao agravo do quadro clínico do paciente e dificultar o seu tratamento.

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Thárcia Karine de Santana Silva

por Thárcia Karine de Santana Silva

Bacharela em Biomedicina formada pela Universidade Federal de Pernambuco. Cursando MBA em Auditoria em Sistemas de Saúde na Faculdade Maurício de Nassau. Experiência com Análises Clínicas (Hospital da Polícia Militar de Pernambuco), Microbiologia e Produção de Antibióticos (UFPE).

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