A importância do trabalho do INCA para a tomada de decisões na saúde

Câncer - um grave problema de Saúde Pública
Câncer - um grave problema de Saúde Pública

Farmácia

27/08/2014

O câncer representa atualmente a segunda causa de morte no mundo. Responde por 20% dos óbitos na Europa, com mais de 3 milhões de novos casos e 1,7 milhões de óbitos por ano (WHOSIS, 2010). Constitui uma importante questão de saúde pública, tanto nos países desenvolvidos, como nos pa¬íses em desenvolvimento (Parkin et al., 2002; Levi et al., 2004), principalmente porque a prevenção pode reduzir a ocorrência em até 30% dos casos (WHOSIS, 2010) e alguns, diretamente relacionados à ocupação, como o mesotelioma (tipo de tumor que atinge a pleura), podem ser completamente preveníveis.


O câncer ocupacional é considerado uma forma de toxicidade retardada em seu curso clínico e em seu desfecho, devido à exposição a agentes químicos, físicos ou biológicos classificados como cancerígenos, presentes no ambiente de trabalho (Simonato; Saracci, 1983). Para a Occupational Safety and Health Administration (OSHA, 1981), é considerado um potencial cancerígeno ocupacional qualquer substância, combinação ou mistura de substâncias que causem aumento da incidência de neoplasias ou uma redução substancial no período de latência entre a exposição e o aparecimento da doença em humanos ou mamíferos, com resultado de exposição oral ou dérmica ou qualquer outra exposição que resulte na indução do tumor em um local distinto de onde ocorreu a exposição. Essa definição inclui qualquer substância cancerígena ocupacional potencial que é metabolizada por mamíferos.


Estas substâncias podem ser representadas por: metais, agrotóxicos, radiação, solventes orgânicos, poeiras entre outros e os tipos mais frequentes de câncer por exposição ocupacional são representados por: pele, pulmão, mesotelioma, bexiga, trato respiratório superior, hematológico, estômago e esôfago, fígado, pâncreas, mama e cérebro (sistema nervoso central).


Sempre que Diretrizes são lançadas na área da saúde, os profissionais sentem-se mais seguros nas suas tomadas de decisão em relação às mais adequadas terapêuticas e condutas frente ao paciente, bem como estratégias preventivas. E segundo Wünsch Filho (2012) bem declarou no editorial, o mérito principal das Diretrizes para a vigilância do câncer relacionado ao trabalho é de contribuir com os fundamentos estruturais para a vigilância das exposições ocupacionais a agentes cancerígenos no país e a sua publicação representa um marco não apenas para os que desenvolvem atividades de proteção à saúde dos trabalhadores nas instâncias do SUS (Sistema Único de Saúde), mas também para as políticas de prevenção do câncer na sociedade brasileira.


E prevenção, neste caso, sempre vai ser o melhor “remédio”, já que as intervenções num paciente com câncer são invasivas, doloridas e nem sempre efetivas, dependendo da gravidade da neoplasia ou da pouca resposta do paciente frente ao tratamento.

O INCA destaca-se pelo seu papel nacional no desenvolvimento de ações estratégicas de estruturação e implementação de políticas preventivas e de controle do câncer, bem como de disseminação de informações que contribuam para o estabelecimento de prioridades em termos de saúde pública. Exemplo disso está o lançamento das Diretrizes e das estatísticas lançadas pelo Instituto, que norteiam as ações em saúde.


Os dados de estimativa de incidência de câncer no Brasil neste ano são alarmantes. Estimam-se 68.800 casos novos de câncer de próstata para o Brasil, valores esses que correspondem a um risco estimado de 70,42 casos novos a cada 100 mil homens. Já entre as mulheres, são esperados 57.120 casos novos de câncer de mama, com um risco estimado de 56,09 casos a cada 100 mil mulheres. Em 2030, a carga global será de 21,4 milhões de casos novos de câncer, em consequência do crescimento e do envelhecimento da população, bem como da redução na mortalidade infantil e nas mortes por doenças por doenças infecciosas em países em desenvolvimento.


São dois exemplos em que os profissionais devem se questionar a todo o momento de que modo as ações podem ser melhoradas e condicionadas à prevenção. É necessário transformar as pesquisas e resultados que o INCA disponibiliza em atitude na saúde. Com certeza não teríamos índices tão altos de câncer se não pensássemos tanto em tratamento e sim, prevenção.


Ainda segundo Wünsch Filho (2012), a iniciativa é bem-vinda, necessária e de pronta utilidade para os que operam na linha de frente das ações de proteção à saúde do trabalhador. As neoplasias relacionadas ao trabalho têm grande potencial de prevenção, visto que, distintamente de outros fatores de risco para câncer, como o tabagismo, o controle das exposições cancerígenas ocupacionais é menos dependente de decisões individuais e pode ser garantido pela vigilância e pelas intervenções nos ambientes de trabalho. Políticas internas das empresas devem priorizar a gestão de risco dos seus trabalhadores, visando a minimização dos mesmos, oferecendo treinamentos constantes e todo o aparato de proteção individual e coletiva necessários.


O dia em que a maioria dos profissionais que trabalham com saúde e os empregadores de empresas que oferecem risco ao trabalhador pensarem de forma homogênea, no sentido de que políticas de prevenção sempre custarão menos que o tratamento e, obviamente, com menores sacrifícios para a população, o país começará a atingir os baixos e estáveis níveis invejáveis de incidência de câncer de outros países.
Bibliografias consultadas:

INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER JOSÉ DE ALENCAR GOMES DA SILVA. Coordenação Geral de Ações Estratégicas. Coordenação de Prevenção e Vigilância do Câncer Relacionado ao Trabalho e ao Ambiente. Diretrizes para a vigilância do câncer relacionado ao trabalho. Rio de Janeiro: INCA, 2012. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/inca/diretrizes_vigilancia_cancer_trabalho.pdf. Acesso em: 25 agosto 2014.


INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER JOSÉ DE ALENCAR GOMES DA SILVA. Coordenação Geral de Ações Estratégicas. Coordenação de Prevenção e Vigilância do Câncer Relacionado ao Trabalho e ao Ambiente. Estimativa 2014 – Incidência de Câncer no Brasil. Disponível em: http://www.inca.gov.br/estimativa/2014/. Acesso em: 27 agosto 2014.


Levi F, Lucchini F, Gonzalez JR, Fernandez E, Negri E, La Vecchia C. Monitoring falls in gastric cancer mortality in Europe. Ann Oncol. 2004; 15(2):338-45.


Parkin DM, Bray F, Ferlay J, Pisani P. Global cancer statistics, 2002. CA Cancer J Clin. 2005; 55(2):74-108.


Simonato L, Saracci R. Cancer occupational. In: Parmeggiani L, technical editor. Encyclopaedia of Occupational Health and Safety. 3rd ed. Geneva: International Labour Office; 1983. Vol. 1, p. 369-75.


Straif, K. The burden of occupational cancer (Editorial). Occupational and Environmental Medicine, v. 65, n. 12, p. 787-788, 2008.


WHO Statistical Information System (WHOSIS). Cancer [Internet]. [Denmark]: World Health Organization, Regional Office for Europe. Disponível em: http://www.euro.who.int/en/health-topics/noncommunicable-diseases/cancer. Acesso em: 27 agosto 2014.

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Dhebora Mozena Dall Igna

por Dhebora Mozena Dall Igna

Graduada em Farmácia pela UNIVALI (2006), especialista em Farmácia Magistral pela UFPR (2010) e mestra em Ciências da Saúde pela UNESC (2013). Já atuou profissionalmente nas áreas magistral e industrial nos setores de Produção, Controle, Garantia de Qualidade, Pesquisa e Desenvolvimento. Atualmente atua como docente pela UNIPLAC, pelo IFSC e pelo SENAC nas áreas de graduação e profissionalizante.

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