Farmacoterapia da Dor

Farmácia

09/01/2016

  1. INTRODUÇÃO A DOR

 

O conflito entre saúde e enfermidade sempre existiu para a humanidade, que sempre buscou maneiras de aliviar a dor provocada por diversos agentes de enfermidade. Na pré-história, o instinto de sobrevivência e a observação das atitudes de outros animais perante os mesmos problemas, fez com que esse ancestral humano buscasse em ervas diferenciadas e no uso de secreções próprias (como a saliva) para aliviar a dor (LUENGO, 2005).

Com o decorrer do tempo o homem foi aperfeiçoando o conhecimento do seu organismo frente às enfermidades e também sobre substâncias que auxiliavam ao combate da dor. Os egípcios já conheciam os efeitos benéficos do chá da casca e folhas do salgueiro para o combate da dor, antes mesmo do ácido acetilsalicílico ser isolado na Alemanha no século XIX e a partir daí ser o medicamento mais consumido no mundo.

Galeno em II d.C. descreveu suas observações sobre a anatomia humana e, por mais de mil anos essas observações foram consideradas sagradas, mas depois foram sendo propostas novas mudanças a partir da observação de cientistas como Andreas Vesalius entre outros, que questionaram o modelo de ciência adotado até então, que não questionava os postulados (LUENGO, 2005).

A Anatomia e a Fisiologia passaram a ser então intensamente investigadas e analisadas nas mais tradicionais escolas, buscando principalmente conhecer como se dava o processo saúde doença e como tratar as enfermidades que assolavam o mundo até então. Contudo esses conhecimentos não foram suficientes para o tratamento das doenças, pois além da precariedade dos estudos, havia ainda uma falta do conhecimento sobre saneamento básico e trato dos enfermos (e cadáveres) por esses pioneiros e pela própria população. Com isso surtos de peste bubônica, cólera, lepra (hanseníase), tuberculose entre outras doenças, mataram diversas pessoas, chegando a reduzir drasticamente a população de várias localidades do mundo.

Era necessária uma mudança na abordagem da terapêutica. O início dos estudos com microorganismos e como eles afetavam a atividade do organismo, principalmente as células, foi determinante para uma revolução na medicina, pois naquele momento percebia-se que mais importante que tratar a doença, era prevenir a mesma com medidas simples como saneamento básico, utilização de água pura e a limpeza dos ambientes (KATZUNG, 2006).

O estudo da atividade celular e dos tipos celulares envolvidos durante a injúria tecidual foi de extrema importância para a definição dos quadros de infecção e inflamação celular. A partir daí, estudos foram realizados visando elucidar quais eram os mecanismos responsáveis pela dor e como seria possível impedi-los ou pelo menos, amenizá-los (KATZUNG, 2006).

Com isso percebe-se a trajetória necessária para a formulação de uma farmacologia para a dor, que começa com anatomia e fisiologia, passa pela microbiologia e suas áreas (bacteriologia, parasitologia, etc) até a imunologia (analisando os tipos celulares envolvidos na injúria e o seu papel para a manutenção da homeostasia) até chegar ao segmento farmacoterapêutico mais adequado para cada tipo de dor.

O presente trabalho tem por objetivo fazer uma breve revisão sobre a farmacologia da dor, as principais ocorrências e quais as principais classes e itens mais relevantes acerca do tema.

 

  1. TRATAMENTO E SEGUIMENTO FARMACOTERAPÊUTICO DAS DORES

 

2.1  Cefaléias

 

Cefaléia é uma das queixas mais comuns na prática clínica, estimando-se uma prevalência anual de 90% nos homens e 95% nas mulheres. Cerca de 76% das mulheres e 57% dos homens tem, por mês, algum tipo de cefaléia (BIGAL et al, 1999).

Preocupa médico e família por ser um indicativo de doenças potencialmente graves, como infecções no sistema nervoso central (SNC), hemorragias intracranianas, tumores do encéfalo, hidrocefalia, etc. (GHERPELLI, 2002).

O Brasil possui um notável atraso na terapia de cefaléias. Em outros países utilizam-se medicamentos específicos para cefaléia, como compostos derivados da ergotamina e triptans, enquanto que os analgésicos e antiinflamatórios não hormonais são utilizados indiscriminadamente. A utilização de dipirona no país é outro fator que questiona a evolução da terapia para cefaléia, pois enquanto que no Brasil é uma das drogas de referência no combate a cefaléia, já é em vários outros países um fármaco em vertiginoso desuso, fato provocado especialmente pelos seus efeitos deletérios na medula óssea (BIGAL et al, 1999).

Bigal et al (1998) afirma que a dipirona via endovenosa é o tratamento mais prescrito como analgésico para tratamento agudo da cefaléia. Seu uso pode ser combinado com anti-eméticos, sendo esse o tratamento anti-álgico padrão das cefaléias.

Na infância, além da dipirona, é muito comum ainda no tratamento agudo da cefaléia a prescrição de paracetamol, ácido acetilsalicílico, ibuprofeno, naproxeno e diclofenaco, ou seja, antiiflamatórios não-esteroidais (AINES) (GHERPELLI, 2002).

O tratamento com antiinflamatórios esteroidais também pode ser eficiente em alguns casos (NEVES et al, 2005).

 

2.2  Dores Neuropáticas

 

Entende-se como dores neuropáticas aquelas iniciadas ou causadas por lesão primária ou disfunção do sistema nervoso, tanto central quanto periférico. Pode aparecer em diversas doenças crônicas, como o diabetes, em pacientes com câncer, pacientes que sofreram trauma mecânico (ex: amputação, cirurgia, tratamento de canal) (CHING & SIQUEIRA, 2000).

É uma ocorrência complexa e delicada de se tratar, pois junto ao trauma físico também estão envolvidas questões neurológicas e emocionais, necessitando-se muito cuidado na apuração da dor, mas também tomando o cuidado de não sobrecarregar o paciente com uma grande quantidade de medicamentos.

Para o tratamento são utilizados agentes que controlam a modulação da dor, atuando em neurotransmissores como serotonina e norepinefrina, assim como seus receptores. Antidepressivos, anticonvulsivantes, anestésicos e até mesmo acupuntura são utilizados no tratamento da dor neuropática.

Entre os analgésicos utilizados estão os compostos opiáceos, que tem como efeitos colaterais: sonolência, náuseas, vômitos, constipação, além do risco de abuso e dependência (levando-se em consideração o longo tempo de administração que as neuropatias requerem) e o tramadol, um analgésico que inibe a recaptura da serotonina, da norepinefrina e o seu maior metabólito ativo, um agonista da morfina (OLIVEIRA, 2005).

 

2.3  Dores Articulares

 

Dor articular ou artralgia é definida como a dor em uma ou mais articulações. É um sintoma comum a muitas doenças, sejam elas próprias da articulação (osteoartrite, artrose, artrite séptica, etc) como de outras doenças, como gripe, febre reumática, hepatite, varicela, etc.

Para evitar e até mesmo minimizar as dores, a realização de exercícios físicos e uma alimentação balanceada, sem excesso de proteínas e minerais, ajuda bastante. Fisioterapia e acupuntura também são bons aliados.

Corticóides são intensamente empregados em pacientes que apresentam artrite reumatóide, pois inibem a inflamação e são mais eficientes nesse ponto que os AINES. Terapia anti-citocinas, compostos anti-maláricos (como cloroquina e hidroxicloroquina), metotrexato, leflunomida, ciclosporina, sais de ouro, etc., também são utilizados (BRASIL, 2006).

 

2.4  Dismenorréia primária e dores abdominais

 

Dismenorréia é provavelmente a causa mais comum de queixa álgica de adolescentes e que persiste por muito tempo para várias mulheres. É provocada por prostaglandinas, que estimulam as contrações uterinas. Apesar de estar associada com o início dos ciclos ovulatórios, algumas adolescentes podem apresentar cólicas logo nos primeiros ciclos (que em geral são anovulatórios) ou sangramento disfuncional, associado a menstruação volumosa, com coágulos, por causa da anovulação.

Dismenorréia primária ou funcional aparece em torno do segundo ou terceiro ano, quando começam os ciclos ovulatórios.

Dismenorréia secundária está associada com endometriose, obstrução dos ductos de Muller, estenose ou ausência de colo uterino. A dor geralmente se inicia dois ou três dias antes da menstruação.

Pode vir acompanhada de cefaléia, insônia, fadiga, nervosismo, náuseas ou vômitos (ou ambos) e diarréia, além do desmaio ou vertigem. Algumas pacientes têm sintomas tão severos que impedem suas atividades escolares e/ou profissionais, impossibilitando o comparecimento às aulas e ao trabalho.

O tratamento consiste na administração de inibidores da prostaglandinas, como o ácido mefenâmica; analgésicos, como dipirona, ácido acetilsalicílico isolado ou com associações; antiinflamatórios como ibuprofeno, indometacina, piroxicam, nimesulida, etc. O uso de anticoncepcionais orais também demonstrou resultados eficientes na prevenção da dismenorréia (FREITAS, 2010).


          3. REFERÊNCIAS

BIGAL, M. E.; BORDINI, C. A.; SPECIALI, J. G. Protocolos para tratamento da cefaléia aguda, em unidade de emergência. Revista de Medicina, v. 32, nº 5, 2002. Disponível em http://www.fmrp.usp.br/revista/1999/vol32n4/protocolo_tratamento_cefaleia_aguda.pdf

 

BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE. Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas – Artrite Reumatóide. Disponível em http://189.28.128.101/portal/arquivos/pdf/pcdt_artrite_reumatoide_2006.pdf

 

FREITAS, J. R. Ginecologia. Disponível em http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/multimedia/adolescente/textos_comp/tc_19.html

 

GHERPELLI, J. L. D. Tratamento das cefaléias. Jornal de Pediatria, v. 78, supl. 1, 2002. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/jped/v78s1/v78n7a02.pdf

 

KATZUNG, B. G. Farmacologia: Básica e Clínica. 9ª edição, Guanabara Koogan. 2006. 

 

LUENGO, M. L. Uma revisão histórica dos principais acontecimentos da imunologia e da farmacologia na busca do entendimento das doenças inflamatórias. Revista Eletrônica de Farmácia, v. 2, n. 2, 64-75, 2002. Disponível em http://www.revistas.ufg.br/index.php/REF/article/viewFile/1951/1884

 

NEVES, J. F. N. P.; VIEIRA, V. L.; SALDANHA, R. M.; VIEIRA, F. A. D.; NETO, M. C.; MAGALHÃES, M. G.; NEVES, M. M. P.; ARAÚJO, F. P. Uso da hidrocortisona no tratamento e na prevenção da cefaléia pós-punção  da dura-máter. Relato de Casos. Revista Brasileira de Anestesiologia, v. 55, n. 3, 2005. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/%0D/rba/v55n3/en_v55n3a11.pdf

  

OLIVEIRA, A. S. Novas Perspectivas: Dor Neuropática. 2005. Disponível em http://www.saj.med.br/uploaded/File/novos_artigos/133.pdf

 

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Bruna Brasil Rodrigues Furtado

por Bruna Brasil Rodrigues Furtado

Farmacêutica generalista pela Faculdade Assis Gurgacz - FAG, especialista em Microbiologia Agroindustrial e Farmacologia. Atualmente aluna do mestrado em Ciências Farmacêuticas da UNIOESTE. Tem experiência na área de alimentos (pesquisa e indústria), indústria farmacêutica,docência, farmácia comunitária e saúde pública.

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