Movimentos do Método Pilates em Equipamentos de Musculação: efeitos e Resultados

Fisioterapia

26/06/2012

Todos sabem que a boa forma física tem como principais benefícios qualidade de vida e longevidade, além de flexibilidade, força muscular e condicionamento físico. Com a inatividade e conforto que a vida moderna propicia, seguido dos dias cada vez mais atribulados de afazeres, o corpo humano tem sofrido mudanças drásticas.

Dentre as consequências deste fato, destacam-se as dores na coluna com seus desvios de postura, acompanhados dos problemas cardiovasculares pela falta de condicionamento físico. O alemão Joseph Hubertus Pilates sabia disto. Não se conformando de ter nascido com problemas de saúde, buscou a melhoria de sua condição física através de seu fabuloso programa de exercícios físicos.

O Método Pilates é considerado um método de condicionamento físico que restaura o equilíbrio natural e foi desenvolvido para ser utilizado por qualquer pessoa: jovens, idosos, pessoas acidentadas, atletas profissionais. Não se trata de mais uma forma de exercício. O um método capaz de educar nosso corpo utilizando consciência e equilíbrio, dando mais aptidão ao indivíduo tanto para a vida diária como para a vida profissional, sendo um método de apoio na recuperação de várias patologias musculoesqueléticas e recuperação da funcionalidade de nossos movimentos de vida diária.

O método original de Joseph utilizava apenas exercícios de solo, sem uso de aparatos, além do Magic Circle, e grandes aparelhos de madeira e molas criados por ele mesmo. Com o passar do tempo, foram desenvolvidas outras escolas de Pilates (seguimentos) que foram fazendo algumas alterações e fazendo adaptações como o uso das bolas suíças, faixas elásticas, overballs (bolas menores), pesos e rolos. Com uma gama de variações, dificilmente duas aulas de Pilates ministradas por professores diferentes serão iguais.

Então por que poucos professores ensinam o método em sua originalidade? Simples e, por que não dizer, FUNCIONAL. Hoje sabemos muito mais sobre o corpo e muitos estudiosos no campo de Pilates, inclusive pupilos de Joseph, desenvolveram seus próprios programas e expandiram seu trabalho de uma forma mais exata e atual. Não há nada forçado em adaptar Pilates à bola, pois ambos estão associados à Fisioterapia e à funcionalidade dos movimentos. Todos os acessórios e adaptações possuem os seus objetivos, cada um com sua especificidade.
Mas, atualmente, um novo tipo de treino segue a linha do Pilates, inclusive a sua filosofia, mas nem todos os seus princípios. O Treinamento ou Exercício Funcional. O treinamento funcional não é uma novidade, afinal a funcionalidade do ser humano já foi uma questão de sobrevivência. Seguindo a linha histórica, na mitologia grega é observada a importância de uma plena funcionalidade para sucesso de desafios propostos, como os Jogos Olímpicos, na Grécia Antiga. Para melhoria da performance os atletas gregos desenvolveram equipamentos e métodos de treinamento específicos para superação de resultados. Esta prática, também foi aplicada na Roma Antiga, entre os gladiadores.

Na atualidade, o treinamento funcional mantém a sua essência como um método de treinamento físico, com a premissa básica de melhoria da aptidão física relacionada à saúde ou melhoria da aptidão física relacionada a performance e prevenção de lesões musculoesqueléticas. Tem como característica realizar a convergência das habilidades motoras fundamentais do ser humano para produção de movimentos mais eficientes.

A vantagem deste método de treinamento é a de atender tanto o indivíduo mais condicionado como o menos condicionado, criando um ambiente dinâmico de treino. Desenvolveu-se então um sistema de treinamento funcional focado nos movimentos fundamentais do homem primitivo e que são executados também no cotidiano do homem moderno. São eles os movimentos de: agachar, avançar, abaixar, puxar, empurrar, levantar e girar. Enquanto o Método Pilates se apoia nos princípios de concentração, controle de centro, Power House, fluidez, respiração, precisão, alinhamento, força e relaxamento, o Treinamento Funcional trabalha com as seguintes "Valências Físicas": Equilíbrio;  Força;  Flexibilidade;  Resistência;  Coordenação;  Velocidade.

Ao treinar o corpo humano, deve-se pensar que se trata de um sistema interligado. Cada músculo tem receptores para avaliar as posições relativas ao espaço e a todo o equilíbrio corporal. Eles estarão em comunicação, interligando informações para tentar produzir um dado movimento. Isso acontece desde que todos os sistemas funcionem em harmonia para as exigências corporais que um treinamento funcional e/ou o Método Pilates pedem, deixando o praticante livre de incômodos (dores articulares, ligamentar etc.) e melhorando as atividades do dia-a-dia, sendo FUNCIONAL.

O programa que J. Pilates desenvolveu tem mais de 500 exercícios diferentes, sendo que todos fortalecem, alongam a musculatura, melhoram a flexibilidade, promovem coordenação, além de proporcionar relaxamento, conscientização corporal. Tudo isso ainda é aliado trabalho respiratório e aos cuidados com a correção da postura. E, qual a diferença entre o exercício do Método Pilates realizado no equipamento Cadillac ser realizado no Cross Over utilizado na musculação? Sem falar nos movimentos de foot works realizados no Reformer que podem ser perfeitamente adaptados ao equipamento Leg horizontal.
Nos equipamentos de Pilates, os movimentos são coordenados por molas, cada uma com sua resistência física, determinada pelo seu comprimento e proximidade dos anéis. Isto causa um efeito agonista-antagonista, pois a resistência das molas resiste ao movimento na ida e exigem controle na volta. O mesmo ocorre com os equipamentos de musculação, pois a resistência das anilhas de peso causa o mesmo efeito das molas e o controle da volta do movimento pede um maior cuidado, para que as anilhas não batam e causem desconforto ao paciente (agonismo na ida e antagonismo na volta).

Para chegarmos a um resultado satisfatório e alcançar o objetivo deste método, mesclamos os princípios do Método Pilates com as valências físicas do treinamento funcional. O número de repetições fica em um patamar intermediário entre o Pilates e o treino funcional ou musculação, sendo, em sua maioria, 2 séries de 10 a 15 repetições cada, variando no grau de dificuldade de cada exercício. Assim, em exercícios que exigem maior força muscular, realiza-se apenas uma série de 5 a 8 repetições. Mas todos, logicamente, respeitando o limite de cada pessoa.

É neste e outros pontos que o Pilates nos equipamentos de musculação (batizado de Pilates Hard Core) difere da musculação convencional. O fato de respeitar os limites de cada indivíduo, tanto em valores de carga, repetições e amplitude de movimento. O exercício não precisa ser executado na carga máxima que uma pessoa pode suportar, não exigindo grande capacidade e exaustão do praticante com stress muscular. O correto são cargas submáximas para que os movimentos possam ser realizados com fluidez e perfeição, recrutando todas as fibras do músculo em questão. As cargas mais baixas também proporcionam o recrutamento da musculatura antigravitacional para o paciente manter-se em equilíbrio, também realizando um trabalho proprioceptivo.

A contração da Power House, ponto crucial do Método Pilates, também deve ser uma constante, acompanhada sempre da respiração, outro princípio máximo do método desenvolvido por Joseph em toda a sua genialidade. Outro benefício observado com a prática do Pilates Hard Core foi o emagrecimento e redução de medidas da região abdominal e quadris obtidos por algumas praticantes. A redução de peso pode ser explicada por diversos processos fisiológicos que ocorrem pelo exercício físico resistido. Dependendo da intensidade e da programação das séries de exercícios, pode-se acelerar a eliminação das gorduras durante o dia todo, e assim emagrecer mais do que os aeróbicos.

Para uma melhor compreensão, vamos explicar por que exercícios resistidos como a musculação "queimam gordura" mais que aeróbicos. Isto ocorre porque eles aceleram o metabolismo; assim, uma pessoa que possuem músculos mais desenvolvidos, queimará mais calorias do que outra, que não possui um mesmo desenvolvimento muscular. Cerca de 70% das calorias vão sendo eliminadas durante o dia, mesmo quando o corpo está em repouso. Em síntese, o indivíduo faz o exercício pela manhã e o efeito pode perdurar pelo decorrer do dia se o seu condicionamento físico for bom.
Já os exercícios aeróbicos beneficiam a capacidade cardiovascular e queimam os carboidratos ingeridos durante a alimentação. Finalizando a explicação do parágrafo anterior, uma pessoa que faz exercícios com resistência "queima" mais gordura do que uma que não faça essa atividade, pois os músculos da mesma são maiores e estes metabolizam depósitos de gordura mesmo enquanto a pessoa dorme ou faz as atividades do cotidiano. O metabolismo basal aumenta quando a capacidade física é maior.

As calorias que ingerimos na alimentação são consumidas pelos músculos, portanto, se eles estiverem desenvolvidos, irão consumi-las mais ainda, isto por que os músculos são responsáveis pelas variações do metabolismo, logo, quanto mais tonificados e desenvolvidos, mais rápido será o metabolismo e maior será o gasto calórico. E é a prática constante de exercícios com resistência que vai determinar se ela será mais eficiente do que os exercícios aeróbicos, pois estes oferecem uma queima momentânea, apenas no momento da sua prática.

A mescla da bola, bosu ou pranchas de propriocepção com os equipamentos de musculação traz um desafio a mais, exigindo alinhamento, precisão e força, mesclando princípios do treino funcional e do Método Pilates. Para que os novos exercícios fossem executados, foi necessária a adaptação de puxadores diferentes dos encontrados nos equipamentos de musculação, principalmente os de membros inferiores que devem ser mais largos e mais compridos. Alguns foram retirados do equipamento Cadillac do Pilates, sendo encaixados na Estação Multifuncional e no Cross Over. O equipamento de treinamento em suspensão também é utilizado nesta técnica. A variedade de exercícios também é vasta, sendo possível realizar várias aulas sem repetir o mesmo exercício, mesmo para grupos musculares diferentes.

Métodos e Resultados:
A comparação de resultados foi possível pela diversidade do trabalho realizado em meu estúdio e pela constante frequência de um grupo de clientes, que frequentavam o local desde a época em que eram utilizados equipamentos de estúdio de Pilates convencional. As mesmas clientes continuaram frequentando o estúdio, mas agora praticam a técnica que utiliza os equipamentos de musculação para os movimentos do Método Pilates. Para comprovar a eficácia da técnica compararam-se resultados obtidos por estas clientes em um período de dois meses de exercícios praticados de cada uma das técnicas.

As mesmas são mensuradas mensalmente. Pegamos resultados catalogados anteriormente e comparamos com os atuais, tomando-se o cuidado de ter critérios de seleção em relação às clientes escolhidas para o estudo. Foram selecionadas um grupo de 10 mulheres, entre as idades de 25 a 40 anos, que não fossem adeptas de dietas "da moda", que praticaram a técnica nos dois tipos de equipamentos, que fossem assíduas semanalmente e que frequentassem o local 3 (três) vezes por semana.
O critério dietas foi considerado, pois na técnica que utiliza equipamentos de musculação também se observou, além do aumento na força e massa muscular, uma diminuição nos depósitos de gordura localizada com um ligeiro emagrecimento das clientes, fato este que não ocorria quando as mesmas praticavam o método original nos equipamentos convencionais. Fazendo um comparativo das medidas corporais nos critérios citados anteriormente, as mulheres tiveram um aumento 27% maior em relação à força muscular com a prática em equipamentos de musculação. Estas também tiveram um aumento 15% maior em relação às medidas de circunferência de membros superiores e inferiores, significando o aumento de trofismo muscular, além da redução da circunferência de cintura e abdômen inferior em 20%.

Todas referiram à sensação de aumento de tônus muscular maior do que da prática anterior e roupas "mais folgadas", referindo-se ao emagrecimento e redução de peso obtido por algumas. Também não houve perda da flexibilidade/alongamento muscular, havendo a mesma melhora de dores de coluna provenientes de má postura. Também referiram que a prática atual é mais interessante e menos entediante, sendo sua prática constante mais fácil de ser levada. Assim, temos que a Técnica batizada de Pilates Hard Core traz maiores resultados em termos de ganho de força, tônus e trofismo muscular quando comparada ao Método em sua originalidade de equipamentos, também trazendo um complemento no aumento metabólico, sem perder o componente de melhora da postura e aumento da flexibilidade muscular vindos do Pilates original.

Sendo assim, sua prática é indicada para pessoas com um bom estado geral e que apenas desejam manter a boa forma física, como também para pessoas portadoras de disfunções musculoesqueléticas como desvios posturais, osteoporose, osteopenia, lombalgias e demais “algias” da coluna vertebral.

Bibliografia:
BOSCO, C. A Força Muscular: aspectos fisiológicos e aplicações práticas. São Paulo: Ed. Phorte, 2007.
CRAIG, C.. Pilates com a Bola. São Paulo, Phorte Editora, 2005. GALLAGHER, S. P.;
KRYZANOWSKA, R. Método Pilates de Condicionamento Físico. São Paulo, The Pilates Sudios do Brasil, 2000.
GOLDENBERG, L. & TWIST, P. Strength ball training: 69 exercises using Swiss balls and medicine balls. United States of America. Human Kinetics. 2002.
GUISELINI, M. Treinamento Funcional. Curitiba - junho, 2010. SOUZA, F. A. Pilates. Portal Educação Cursos à Distância. 2009