Confesso que tal assunto não me era preocupante, até chegar a maternidade, os vários relatos no consultório e a proximidade com o ambiente escolar; todos contribuíram para que eu me indignasse com o uso do salto alto por crianças. Isso mesmo, crianças que ainda estão em pleno desenvolvimento ósseo e motor são submetidas a “ditadura” feminina, digo decreto feminino, decreto pois “imperadores tiranos” por eles admirados são os primeiros a estamparem seus lindos rostinhos em sapatinhos e sandalhinhas de salto, e o pior de tudo é que este pacote vem recheado por um lindo brinquedinho, imagino eu para disfarçar a atrocidade.
O desenvolvimento estrutural do ser humano passar por várias etapas até alcançarmos plenas habilidades motoras na fase adulta, isso claro se não houver alguma doença congênita, ou um evento traumático que interfira nesse processo. Desse desenvolvimento quero salientar a formação das curvas da coluna e dos arcos dos pés, a formação primária das curvas vertebrais se dá na mais tenra idade quando começamos a engatinhar e arriscar os primeiros passos, mas irá perdurar por toda a vida uma vez que elas poderão se adaptar as mais diferentes necessidades que o nosso corpo é submetido. Não muito diferente acontecerá com os arcos dos pés, estes mais conhecidos já que sempre é observado e comentado pelos familiares quando do desenvolvimento dos primeiros passos do bebê: “Joãozinho tem pé chato”; os arcos têm como função absorver o impacto da passada bem como armazenar energia que servirá para impulsionar o próximo passo, podendo sofrer modificações – deformações de acordo com o terreno que andamos ou com o sapato que usamos.
Aí as mamães começam a entender minha preocupação com suas filhinhas e vislumbrar a dimensão do problema, mas eu gostaria que elas usassem o mesmo raciocínio consigo. Com o uso do salto alto mudamos o centro de gravidade – estabilidade do corpo, fazendo com que o peso distribuído antes ao longo de toda a sola do pé concentre-se agora na parte da frente, o que muda todo o funcionamento do pé (nem coloquei aqui ao sacrifício das atuais formas dos sapatos); além disso, a curva lombar tende a aumentar (talvez esse seja o grande trunfo do salto alto, deixam as mulheres com sensação de bumbum mais volumoso), e esse aumento será compensado por alguma outra região que diminuirá sua angulação. Percebemos então como o corpo precisa se ajustar – deformar a nos permitir belos desfiles de salto alto, agora imagine isso por horas a fio, dias, meses e anos, é inevitável que em algum momento o corpo reaja seja com dor ou lesão, tanto no pé, pernas quanto na coluna vertebral.
Não quero levantar uma bandeira ANTI-SALTO, apenas quero demonstrar que até para as mulheres adultas o salto alto trará modificações estruturais que devem ser observadas e minimizadas, seja com fisioterapia ou atividade física, e as crianças imaginem só o que aqueles inocentes corpinhos não são submetidos. O que mais me assusta e talvez seja esse o motivo da minha ladainha é que 80% das crianças que tenho observado com uso do salto alto já apresentam algum tipo de alteração postural. Ou seja, elas já tem um fator de predisposição de lesão vertebral (a má postura), e ainda são estimuladas pelos tiranos imperadores e consentidas pela fadas mamães madrinhas a acelerarem seu processo degenerativo, culminando na realidade dos consultórios de ortopedistas, fisiatras e fisioterapeutas o grande número de pessoas com lesões na coluna, joelhos e pés, cada vez mais graves e mais precoces.
Já nessas últimas linhas os pais dos meninos respiram aliviados já que os garotos estão livres deste alto inimigo, bem verdade, mas não terminarei sem pontuar outra preocupação, as roupas extremamente apertadas, situação que pode impor um padrão corporal não habitual e nocivo para meninos, meninas e adultos; só que este assunto é pra uma próxima oportunidade. Beijo no coração e até a próxima!
Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.
por Karine Demartini
Possui MBA em Saude Publica, formacao completa em Ginastica Holistica, Metodo Mckenzie e Coaching Integral Sistemico. Graduada em Fisioterapia desde 2003, trabalhou no grupo AMIL como fisioterapeuta da Unidade de Correcao Postural - UCP, docente e atuante nas disfuncoes do sistema musculoesqueletico e somatizacoes.
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