Fisioterapia em Reabilitação Visual

A Fisioterapia em Reabilitação Visual trabalha a propriocepção
A Fisioterapia em Reabilitação Visual trabalha a propriocepção

Fisioterapia

06/12/2012

A prática de Fisioterapia no Brasil surgiu no ano de 1919. Dez anos mais tarde, em 1929, instalou-se o primeiro curso técnico na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. A motivação principal para sua criação foi o grande número de portadores de sequelas da poliomielite.

Entretanto, a regulamentação da Fisioterapia como profissão de nível superior ocorreu, apenas, em 1969, com o decreto-lei 938. Como se pode ver a nossa profissão é nova por aqui. E talvez, por esse motivo, seja justificável o fato de as pessoas ainda ficarem surpresas quando falamos das diversas áreas em que podemos atuar. Ora, qual é o fisioterapeuta que nunca ouviu: "não imaginava que um fisioterapeuta fazia isto!". Pois bem, a fisioterapia é muito mais complexa do que se imagina.

Seguindo o raciocínio de Charles Colton, de que a má informação é mais desesperadora do que a falta de informação, este artigo tem como objetivo informar aos leitores sobre mais uma das diversas áreas de atuação da fisioterapia, ainda pouco conhecida pela população e até mesmo pelos profissionais: a Fisioterapia em Reabilitação Visual.

A deficiência visual é um impedimento total ou uma diminuição da capacidade visual decorrente da imperfeição dos órgãos ou do sistema visual, abrangendo cegueira e visão subnormal. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), é considerado portador de cegueira o indivíduo com acuidade visual igual ou menor de 3/60 (0,05), com a melhor correção óptica no olho de melhor visão, até ausência de percepção de luz, ou correspondente perda de campo visual no olho de melhor visão com melhor correção possível. A definição de baixa visão (ou visão subnormal) corresponde à acuidade visual igual ou menor do que 6/18 (0,3) e igual ou maior do que 3/60 (0,05) no olho de melhor visão com a melhor correção possível. A não ser que sejam disponibilizados recursos suficientes para a prevenção, a OMS prevê o crescimento da cegueira de um a dois milhões de casos por ano ao redor de 2020.

No Brasil, o número de cegos foi estimado em quatro a cinco mil pessoas por milhão de habitantes. Inúmeras são as causas de perda da capacidade visual; em geral, relacionam-se a fatores biológicos, sociais e ambientais, por vezes passíveis de serem evitados ou minimizados. Por este motivo, faz-se necessário uma maior interação entre médicos oftalmologistas e outros membros da equipe, a partir da qual os médicos ganhariam mais conhecimento sobre aspectos reabilitacionais da deficiência visual. Reforça esse argumento o fato de que o oftalmologista acredita não ser possível, atender esses pacientes sem unir ao atendimento clínico o reabilitacional, formando-se, assim, equipe multidisciplinar.

Como sabemos, o equilíbrio é extremamente importante para o corpo humano e a visão é um dos sistemas essenciais para o controle postural. Em condições normais, os órgãos da visão contribuem com 85% dos estímulos encaminhados ao cérebro para a realização da aprendizagem e desenvolvimento da locomoção e mobilidade. Os centros superiores do sistema nervoso captam informações dos receptores periféricos (sistema visual, somatossensorial e vestibular), dados da posição e do movimento do seu próprio corpo no espaço, que fundamentados nestes, planejam e executam uma resposta motora responsável pela estabilização postural. Como a criança com visão subnormal ou cegueira congênita é desprovida de conhecimento prévio, a falta de consciência destes caminhos sensoriais resulta em crianças com alterações da coordenação motora e problemas nas respostas cognitivas. Daí, a importância da intervenção fisioterapêutica adequada e precoce para habilitá-la e contribuir para uma melhor qualidade de vida.

A Fisioterapia em Reabilitação Visual basicamente trabalha a propriocepção, o controle postural, a fim de promover qualidade de vida e independência ao indivíduo, seja ele adulto ou criança. É importante lembrar que a responsabilidade de capacitá-lo para as atividades de vida diárias está em nossas mãos, e isso inclui o trabalho, que é considerado o "passaporte" para a inclusão dos indivíduos numa sociedade pré-existente, à qual é preciso se adequar para ser aceito.

Em 2005, o Instituto Ethos realizou uma pesquisa nacional para traçar o perfil da diversidade no mundo do trabalho. Ela é intitulada "Perfil Social, Racial e de Gênero das 500 Maiores Empresas do Brasil e suas Ações Afirmativas". Os resultados são animadores se levarmos em conta todos os tipos de deficiência. De 2003 para cá, houve um aumento significativo da participação de deficientes como um todo no quadro funcional - eles representavam 3,5% no levantamento anterior e, hoje, atingem uma fatia de 13,6%. Essa taxa se equipara aos 14,5% da população que apresentam alguma deficiência.


Mas, ao enxergar a questão pela óptica do deficiente visual, os números decepcionam: ele representa apenas 0,2% do total, perdendo de longe para portadores de deficiências múltiplas, com 12%. Essa é mais uma informação importante que deve servir de motivação aos fisioterapeutas para que, cada vez mais, busquem oferecer um serviço de qualidade, reabilitando, capacitando o deficiente visual, como é nosso dever. E para que lutem cada dia mais pela inclusão de seus pacientes e, por que não, amigos.

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Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Jamile Caroline Garbuglio de Araujo

por Jamile Caroline Garbuglio de Araujo

Fisioterapeuta, pós-graduanda em Reabilitação Cardiovascular no Hospital Israelita Albert Einstein. Em 2010, teve um artigo publicado na Revista Perspectivas Médicas. Em 2011, seu projeto de Iniciação Científica foi aprovado e apresentado nos Congressos FeSBE (Federação de Sociedades de Biologia Experimental) e CONIC (Congresso de Iniciação Científica).

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