08/10/2014
Introdução
As doenças que envolvem o tubo neural são responsáveis por um número considerável
de pacientes a serem tratados com fisioterapia. Dentre essas doenças, encontramos a
mielomeningocele, que é uma forma de disrafismo espinhal, ocasionada por falha na
fusão dos arcos vertebrais posteriores e displasia (crescimento anormal) da medula
espinhal e membranas que a envolvem, provocando uma deficiência neurológica
(sensitiva e motora) abaixo da lesão que pode gerar paralisias e hipoestesias de
membros inferiores [Vinck et al., 2009; Thompson, 2009].
Essa patologia é a segunda maior causa de deficiências crônicas do aparelho locomotor
em crianças. Tem a etiologia desconhecida pela maioria dos autores, mas estudos
recentes associam fatores como: genética, ambiente e nutrição [McLone, 1996; Fletcher
et al., 2005; Lindquist et al., 2009].
Os sintomas dependem da localização e do grau de extensão da medula espinhal, se
manifestam através de alterações motoras, sensitivas, tróficas e esfincterianas como
diminuição da força muscular, paralisia flácida, hidrocefalia, incontinência dos
esfíncteres do reto e bexiga [Dias, 2005; Vinck et al., 2006; Lindquist et al., 2009].
O prognóstico está ligado ao nível de lesão e se agrava com a presença de hidrocefalia,
deformidades da coluna ou lesões adicionais. O diagnóstico pode ser feito ainda
intrauterinamente, o que aumenta as chances de tratamento. Servem de exames
complementares: radiografia simples, tomografia computadorizada e ressonância
magnética; que identificam malformações anatômicas [CDCP, 2004].
O tratamento engloba uma equipe multidisciplinar, pois os problemas decorrentes não
podem ser tratados isoladamente. Há a necessidade de um tratamento cirúrgico para
fechamento da lesão, implantação de um shunt ventrículo-peritoneal para drenar o
líquido cefalorraquidiano do ventrículo lateral ao peritônio, onde será reabsorvido
[Hetherington et al., 2006; Ausili et al., 2008].
Tratamento
Abordaremos o tratamento fisioterapêutico, de elevada importância na recuperação dos
sintomas instalados, que tem como objetivos, promover independência funcional,
prevenir deformidades secundárias, prevenir úlceras de decúbito, prevenir deficiências
cognitivas secundárias, corrigir deformidades, promover aprendizado das habilidades
motoras, ajustes posturais, deambulação independente ou treinamento do uso de cadeira
de rodas, fortalecimento muscular, enfim, promover qualidade de vida durante as fases
de desenvolvimento dessa criança [Ausili et al., 2008].
A anamnese deve ser realizada com todo o cuidado e atenção, para promover um
tratamento precoce e atrativo à criança. Ao avaliar uma criança com esta patologia,
deveremos abordar larga possibilidade de testes, como, teste muscular manual para
determinar a extensão da paralisia motora; avaliação da amplitude de movimento para
identificação de possíveis contraturas presentes; teste de reflexos em que se verifica a
presença de atividade reflexa normal e a integração de reflexos primitivos e suas reações
Avaliação da Abordagem Fisioterapêutica no Tratamento de Paciente Pediátrico Portador de
Mielomeningocele
Fabiana Azevedo Santos
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Rev. de Saúde, Vassouras, v. 1, n. 1, p. 01-06, jan./mar., 2010
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mais maduras; avaliação do desenvolvimento funcional para verificar se há
componentes normais de postura, padrões de movimento e mobilidade; avaliações
perceptivas e cognitivas que abrangem escalas próprias relacionadas à idade da criança
[Greve et al, 2001; Verhoeff et al., 2006]
O tratamento deve começar rapidamente e ser dividido de acordo com as fases do
indivíduo.
Período neonatal - É importante o fisioterapeuta avaliar a sensibilidade, motricidade,
postura em repouso, movimentos ativos, anormalidades, deformidades e reflexos, para
programar um programa de reabilitação adequado, pois o desenvolvimento do paciente
tende a ficar prejudicado, devido ao fato de a criança permanecer em hospitais, para
fazer as cirurgias necessárias. Logo, os estímulos são importantíssimos e devem ser
feitos diariamente, até pela mãe, que ao carregar a criança de maneira correta, começa a
estimular o controle cervical. Nessa fase, as deformidades mais esperadas são o pé
equino varo e a luxação congênita de quadril. Uma das deformidades mais graves,
encontrada em grande número nos lactentes, é a cifose que se manifesta desde o
nascimento, na região correspondente à espinha bífida, e se agrava enquanto a criança
cresce, acima da cifose se desenvolve a lordose compensatória. Qualquer movimento
presente deve ser observado, estimulado, e se houver qualquer sensação nos membros
inferiores, isto pode ser usado para estimular o movimento, através da palpação e
toques. Os movimentos de membros superiores podem ser iniciados assim que a criança
responde e exercita o estiramento da cintura escapular, que é gradativamente
introduzido [Mancini et al., 2002].
Período Pré-escolar - O fisioterapeuta deve pesquisar os grupamentos musculares
ativos para ter conhecimentos dos músculos que poderão utilizar para promover a
independência e de quais recursos precisará. A criança deve ser estimulada diariamente
e colocada em todas as posições para promover desenvolvimento das demais
musculaturas. As dificuldades de percepção, função de mão e indiscriminação de
lateralidade são responsáveis também por dificultar a deambulação, portanto, estratégias
devem ser implementadas, como, colocar a criança em posição ortostática, ainda que a
marcha não seja atingida. A abolição da sensibilidade nem sempre corresponde à
deficiência da motricidade, costuma ser difícil determiná-la exatamente, e acarreta dois
problemas: risco de traumatismo dos tecidos moles, devido à incapacidade de perceber
dor, temperatura e pressão e perda das informações e da retroalimentação normalmente
transmitidas pelos diversos órgãos dos sentidos [Lopes et al., 2009].
Período Escolar - A criança pode preferir usar a cadeira de rodas para facilitar seu
deslocamento, e desse modo, cabe ao fisioterapeuta ensinar-lhe as habilidades
necessárias para a sua independência. Outra questão a ser discutida é a incontinência de
reto e bexiga, pelo fato de a bexiga nunca se esvaziar completamente, o que resulta em a
urina começa a gotejar e a criança não perceber, se isso ocorrer, deve-se treinar a criança
para a realização da drenagem vesical. O treinamento da evacuação também é bem
sucedido, pois o paciente passa a ser capaz de evacuar em intervalos regulares [Long
and Cintas, 2009].
Avaliação da Abordagem Fisioterapêutica no Tratamento de Paciente Pediátrico Portador de
Mielomeningocele
Fabiana Azevedo Santos
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Adolescência - Nessa fase, os problemas associados à coluna vertebral voltam a
preocupar e passa a ser necessário o uso de órteses [Stokes, 2000].
Fase adulta - Nessa fase, os profissionais que acompanharam o paciente até aqui,
passam apenas a espectadores e realizam algumas orientações e adaptações, quando
necessárias [Stokes, 2000].
Conclusão
A mielomeningocele permite às crianças atingir a fase adulta, logo, é de extrema valia
uma equipe multidisciplinar, para proporcionar qualidade de vida e amenizar os danos a
que estão suscetíveis. O desempenho motor da criança paraplégica deve ser considerado
como sendo adaptativo e residual e não como deficiente. Muitas Pesquisas seriam
favoráveis na buscar de adaptações mais eficazes para certos músculos e conse
aprendizagem dos comportamentos adequados.
Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.
Fisioterapeuta formada pela Universidade Gama Filho em 2003, Pós-graduada em Fisioterapia Neurofuncional em 2005 pela Universidade Gama Filho, iniciação científica em Neurofisiologia pela UERJ em 2009, Metodologia do Ensino Superior pela Fundação Getúlio Vargas em Junho de 2010 e atualmente cursando a atualização da Pós-graduação em Neurologia pela PROFISIO.
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