21/10/2015
Introdução: O bruxismo tem se tornado uma preocupação crescente nos últimos anos devido ao seu impacto negativo na qualidade de vida e também por ser considerado importante fator de risco para as disfunções temporomandibulares. Objetivo: Verificar a associação entre bruxismo e qualidade de vida em acadêmicos de fisioterapia de universidade privada em Manaus-AM. Metodologia: Realizou-se um estudo transversal, quantitativa e exploratória, com a participação de 732 universitários entre 18 a 54 anos (24,4±5,9), sendo que o gênero feminino predominou com 79,9% da amostra. Para a avaliação da presença de disfunção, bruxismo e avaliação da qualidade de vida, cada entrevistado respondeu ao questionário do Índice Anamnésico de Fonseca e de Qualidade de Vida –SF36. Resultado: Dentre 732 participantes, mais de 63,0% apresentavam algum sinal e/ou sintoma de disfunção temporomandibular e a prevalência do bruxismo em 37,7%. Foi significativo (p<0,0001) que o bruxismo está diretamente associada com os níveis de disfunção temporomandibular, apresentando um maior comprometimento na qualidade de vida em mulheres com bruxismo, sendo que no domínio da dor em ambos os gêneros com bruxismo apresentaram uma qualidade de vida mais baixa. Conclusão: Existe relação quando o bruxismo se faz presente em ambos os gêneros, havendo perda na qualidade de vida.
INTRODUÇÃO
Segundo a Academia Americana de Dor Orofacial, a disfunção temporomandibular (DTM) é definida como um conjunto de distúrbios que envolvem os músculos mastigatórios, a articulação temporomandibular (ATM) e estruturas associadas1.
As DTM´s são caracterizadas por dores musculoesqueléticas, distúrbios nos movimentos mandibulares padrões, e/ou prejuízo no movimento funcional. A dor é a característica mais comum da DTM, e algumas vezes a maior razão para o paciente buscar tratamento2.
Considerando que a DTM pode apresentar um quadro de dor crônica e, que esta condição exerce uma grande influência no comportamento social e no estado psicológico, torna-se importante analisar o impacto desse parâmetro na qualidade de vida de indivíduos portadores dessa disfunção. De acordo com a severidade da DTM, o indivíduo pode ver-se impossibilitado de exercer suas atividades rotineiras e ter necessidade de tratamento específico o que gera custos aos serviços de saúde, ausência no trabalho e redução na produtividade3,4.
O bruxismo tem se tornado uma preocupação crescente nos últimos anos devido ao seu impacto negativo na qualidade de vida e também por ser considerado importante fator de risco para as disfunções temporomandibulares. Pode causar desgaste nos dentes e, em casos mais graves, traumas dentários4 e alterações respiratórias5.
No bruxismo manifestam-se os ruídos articulares durante a abertura e/ou fechamento da mandíbula, diminuição na amplitude dos movimentos mandibulares, sensação de tamponamento nos ouvidos, dores e lacrimejamento nos olhos, dificuldades na fala e na deglutição6.
A patogênese do bruxismo é considerada multifatorial, envolvendo componentes miogênicos e artrálgicos, sendo que alguns fatores como má oclusão, desarranjos internos, sensibilidade miofascial e distúrbios psicológicos podem estar envolvidos. Considerando-se a grande variedade de sinais e sintomas e o aspecto multifatorial da etiologia das DTM´s, torna-se adequado que as possíveis causas sejam analisadas para a formulação de um diagnóstico preciso7.
Hábitos parafuncionais como o bruxismo são considerados importantes dentro dos fatores etiológicos das DTM´s, mas, para um melhor entendimento do seu papel na manifestação dos sintomas, devem ser estudados separadamente8. Uma das consequências comuns dessas condições é o aumento da tensão provocada por elas nos músculos mastigatórios, relacionado com o aumento do tônus muscular.
Estes hábitos podem também contribuir para o aparecimento de lesões na coluna cervical e estruturas relacionadas. O sintoma do bruxismo que é uma força moderada de apertamento dos dentes está fortemente relacionado com sinais e sintomas da articulação temporomandibular9, sugerindo assim, o comprometimento da qualidade de vida dos pacientes.
Devido ao comprometimento físico e mental provocado pelo bruxismo, a avaliação do impacto na qualidade de vida dessas pessoas merece uma atenção especial. Estudos afirmam que pacientes com bruxismo têm características clínicas comuns com portadores de outros tipos de doenças crônicas, como níveis elevados de intensidade de dor, distúrbios comportamentais e psicológicos10.
É aceito que a qualidade de vida é afetada pela dor crônica, sendo assim, a dor crônica da DTM, no caso o bruxismo, afeta diretamente a qualidade de vida11. Além disso, dor crônica é umas das principais causas de afastamento das pessoas à suas ocupações diárias no Brasil. No entanto, além deste custo financeiro, há de se considerar os custos sociais que incluem o sofrimento pessoal dos pacientes, o efeito incapacitante da dor, a influência negativa que atinge o físico e o mental do indivíduo, interferindo em sua qualidade de vida, no relacionamento familiar e social.
Embora existam razões para acreditar que as DTM´s e outras condições dolorosas da face causem algum impacto na qualidade de vida, apenas um pequeno número de estudos documenta o uso de questionários específicos ou mesmo de ferramentas multidimensionais aplicados a estes pacientes12,13,14. Assim, o objetivo deste estudo foi verificar a associação entre bruxismo e qualidade de vida em acadêmicos de fisioterapia de universidade privada em Manaus-AM.
METODOLOGIA
O presente estudo caracterizou-se de natureza transversal, quantitativa e exploratória, com a participação dos voluntários na pesquisa por meio da assinatura no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. No qual, deu-se o início após análise e aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa pelo Comitê Humana, sob protocolo n.º 642.831.
Participaram 732 universitários regularmente matriculados no curso de Fisioterapia de universidade privada de ensino da cidade de Manaus-AM, do 1º ao 10º período, de ambos os gêneros, com idades entre 18 e 54 anos. Excluindo voluntários que não estavam matriculados no curso de fisioterapia, idade inferior à 18 anos, e os que não estavam de acordo com TCLE e metodologia realizada.
Os acadêmicos passaram por uma entrevista inicial que consistia na obtenção de informações sobre a idade, gênero, turno e período do curso. Para a avaliação da presença das DTM e avaliação do estado de qualidade de vida (QV), cada entrevistado respondeu à dois questionários: o Índice Anamnético de Fonseca (IAF)15 e a Versão Brasileira do Questionário da Qualidade de Vida –SF36, por Ciconelli e Ferraz16.
O IAF serve para avaliar a severidade dos sintomas da DTM, sendo composto por 10 questões a respeito de hábitos parafuncionais, presença de dores na ATM, enxaqueca, ranger e apertar os dentes (bruxismo) e outros aspectos. Para cada pergunta marcou-se uma opção de resposta entre as três possíveis: Não (0 pontos), Às vezes (5 pontos) e Sim (10 pontos); e ao final da soma das respostas obtinha-se o escore de ausência de DTM (0-15), DTM leve (20-40), DTM moderada (45-65) ou DTM severa (70-100).
O Questionário da Qualidade de Vida –SF36, é um questionário contido por onze perguntas em relação à percepção individual de saúde, comparando seu estado de saúde atual ao ano anterior, bem como possíveis dificuldades em realizar atividades de vida diária, e se esta dificuldade relaciona-se à sua saúde física, grau de dor corporal nos últimos dias e a interferência desta em suas atividades diárias. O cálculo dos escores transforma o valor das questões em oito domínios, sendo eles: capacidade funcional, limitação por aspectos físicos, dor, estado geral de saúde, vitalidade, aspectos sociais, aspectos emocionais e saúde mental. A soma dos pontos obtidos corresponde para cada voluntário uma variável de 0 (zero) a 100 (cem), onde 0 é pior, e 100 é o melhor escore, determinando seu grau de qualidade de vida.
Após as informações coletadas, os dados foram colocados em planilhas do programa Excel 2010 e a análise estatística foi organizada sob forma descritiva, com valores de média, mediana e desvio padrão para as variáveis continuas, através do teste de Kolmogorov-Smirnov com correção de Lillifors. No entanto, como trata-se de uma amostra representativa, direcionado a amostras grandes, validou-se a confiabilidade da aplicação dos testes da Anova e t-Student. A comparação das variáveis categóricas entre grupos independentes foi realizada pelos testes Qui-quadrado de Pearson ou Exato de Fisher e a análise da linearidade entre as variáveis contínuas foi verificada pelo coeficiente de correlação de Spearman.
Os dados foram analisados com o IBM SPSS Statistics, versão 20. (SPSS Inc., Chicago,IL, EUA, 2010), sendo consideradas diferenças estatisticamente significativas p<0,05.
RESULTADOS
A amostra foi composta por 732 alunos, sendo que o gênero feminino constatou a maior parte da amostra, 79,9% (n=585). A idade entre os universitários variou de 18 a 54 anos, com média de 24,4 (±5,9), com maior concentração dos alunos nas idades de 20 a 25 anos, 49,7% (n=364).
Sobre o grau de DTM, 43,4% (n=318) foram caracterizados com grau leve, 14,3% (n=105) DTM moderada e 5,6% (n=41) com DTM severa e 36,6% (n=268) não apresentaram DTM.
Através do questionário de Fonseca foi visto que a prevalência de bruxismo na amostra foi de 37,7% (n=283) podendo variar entre 36,9% a 40,5% (IC95%). O bruxismo não se mostrou associado entre os gêneros (p=0,950), onde a presença deste mostrou-se semelhante tanto no sexo feminino, 38,8% (n=227), quanto no sexo masculino, 38,1% (n=56).
Quando o bruxismo foi comparado ao grau de DTM, foi detectada associação estatística significativa (p<0,0001), apontando que a ausência de bruxismo mostrou-se relacionada a ausência de DTM, 50,8% (n=228), enquanto que, a presença de bruxismo mostrou-se diretamente associada com os níveis de DTM leve, 49,8% (n=141), moderado, 23,7% (n=67) e severo, 12,4% (n=35). Esta análise de associação significativa entre bruxismo e DTM, foi complementada pela estimativa de risco para a presença de bruxismo, ou seja, o risco de bruxismo em alunos com DTM leve excede mais de 4,5 vezes, DTM moderada em mais de 10 vezes e DTM severa acima de 33 vezes ao risco de um aluno sem bruxismo.
Avaliando a QV entre sexo e em relação ao bruxismo, verificou-se que no grupo com ausência de bruxismo as médias no sexo masculino mostraram-se mais elevadas quando comparadas ao sexo feminino, sendo que as diferenças não se mostraram significativas apenas no domínio dos aspectos físicos. Quanto as comparações no grupo com bruxismo, as médias mantiveram-se mais elevadas no sexo masculino, mas sem diferenças significativas nos domínios dos aspectos sociais, estado geral de saúde e aspectos emocionais. Desta forma, no grupo sem bruxismo as diferenças na QV mostraram-se mais expressivas que no grupo com bruxismo. Cabe salientar que, há evidencias de que o bruxismo deve estar interferindo na QV dos domínios aspectos geral de saúde, bem como, nos aspectos emocionais, pois no grupo sem bruxismo estas relações mostraram-se significativas.
No que se refere as comparações entre grupos com e sem bruxismo, verificou-se que para a QV geral, ocorreu diferença significativa no sexo feminino (Sem bruxismo: 66,9±15,6 vs. Com bruxismo: 63,4±16,2; p=0,009), situação esta que não se configurou no sexo masculino (p>0,05), ou seja, as mulheres com bruxismo apresentaram um maior comprometimento na qualidade de vida.
No domínio da dor, tanto no sexo feminino (Sem bruxismo: 63,8±21,7 vs. Com bruxismo: 58,4±21,9 p=0,003), quanto no masculino (Sem bruxismo: 76,9±18,4 vs. Com bruxismo: 67,3±19,7 p=0,004), o grupo com bruxismo apresentou uma qualidade de vida mais baixa. Ainda em relação aos escores de dor, quando comparados entre os sexos, os resultados apontaram média mais elevada no sexo masculino, tanto no grupo sem bruxismo, quanto no grupo com bruxismo. No entanto, chama-se atenção para o fato de que no grupo sem bruxismo a diferença entre as médias para o escore de dor alcançou 13,1 pontos, enquanto que, no grupo com bruxismo a diferença foi menor, 8,9. Ou seja, o grupo sem bruxismo entre as médias de homens e mulheres, indicou que a diferença na qualidade de vida é mais elevada, enquanto que, no grupo com bruxismo a diferença foi menor indicando que tanto homens quanto mulheres estão se mostrando afetados pelo bruxismo. Embora a qualidade de vida para a intensidade de dor tenha sido maior no sexo masculino, quando o bruxismo se faz presente tanto o sexo masculino quanto o feminino perdem quanto a qualidade de vida para a dor.
Na QV referente aos aspectos sociais, ocorreu diferença significativa no sexo feminino, no entanto no sexo masculino (p>0,05) a presença de bruxismo não apresentou diferenças relevantes na QV. O sexo feminino, também apresentou uma pior qualidade de vida no grupo com bruxismo no aspecto emocional, enquanto que, no sexo masculino as diferenças entre os escores médios deste domínio não se mostraram representativos.
DISCUSSÃO
A DTM possui etiologia multifatorial17, que podem ser decorrentes de hábitos parafuncionais como o bruxismo, ou seja, o apertamento dos dentes que causa tensionamento da musculatura mastigatória, transtornos da coluna cervical, cefaléias e outros sintomas, são considerados importantes dentro dos fatores etiológicos18, abrangendo elementos funcionais, anatômicos e psicossociais19. Estudos evidenciam que tais desordens interferem na qualidade de vida e atividades diárias, levando a um efeito negativo na função social, na saúde emocional, e no nível de energia20.
De acordo com Pereira et al21, Froitman em 1931, identificou a relação do bruxismo com problemas dentários ligados a movimentos mandibulares anormais. E existem relatos de que a existência do bruxismo é tão antiga quanto à do próprio homem, e que citações bíblicas já faziam referências ao hábito de ranger os dentes.
Este mesmo estudo de Pereira21, o bruxismo pode ser cêntrico (ato de apertar) e/ou excêntrico (ato de ranger); diurno e/ou noturno; consciente ou inconsciente. Considera-se como bruxismo primário aquele que é idiopático, e secundário, ao que ocorre na presença de desordem neurológica ou psiquiátrica (doença de Parkinson, depressão, esquizofrenia), ou seguido do uso crônico de certas drogas22. Freqüentemente se manifesta de forma inconsciente durante o sono, embora a parafunção diurna esteja relacionada à concentração mental ou às atividades de extremo esforço físico23.
Nos estudos de Gesh et al24, realizado com homens e mulheres de 20 a 79 anos de uma região da Alemanha, demonstrou-se que os sinais e sintomas da disfunção não são totalmente associáveis com a idade, ou seja, todos estão suscetíveis a apresentar DTM sem levar em consideração a idade.
Já para MAZZETTO et al25 realizou um estudo com 54 indivíduos diagnosticados com DTM, com idade entre 16 a 65 anos, no qual não foi encontrada correlação entre a idade e a severidade da DTM, todavia foi observada tendência de maior severidade em adultos jovens (25-50 anos).
Porém outro estudo26, onde se objetivou avaliar os riscos de bruxismo na população geral, mostrou que a prevalência de diagnóstico de bruxismo do sono (5,8%) foi mais alta em indivíduos com idades entre 19 e 44 anos e a menor prevalência foi encontrada em idosos (isto é, sujeitos ≥ 65 anos).
Em um estudo realizado por Gonçalves, Toledo e Otero27, composto por 592 escolares de ambos os gêneros, com idade de 4 a 16 anos, também não foram encontradas diferenças entre os gêneros em relação a presença de bruxismo.
Em um outro estudo28 realizado em 218 universitários com o questionário de Fonseca, houve uma porcentagem menor de voluntários classificados como sendo livre de DTM. A porcentagem de voluntários classificados com DTM leve foi significativamente maior do que a de voluntários com outro nível de severidade da DTM (severo, moderado e não-DTM). Quanto a DTM sozinha, 53,21% dos indivíduos apresentaram algum grau da doença, 35,78% tinham DTM leve, 11,93% moderada e 5,5% grave. Em relação ao gênero e grau da DTM, 40,62% dos homens apresentaram algum grau de DTM contra 63,11% das mulheres.
Num estudo bibliográfico realizado por Cunali et al.29, com a tentativa de associar bruxismo noturno com DTM, a pergunta que surgiu foi: quem tem bruxismo tem mais chances de ter dor por DTM? Essa questão parece encontrar explicação no estudo30, em que os autores avaliaram 30 pacientes com dor miofascial mastigatória diagnosticados pelo Reseach Diagnostic Criteria (RDC/TMD), e 30 indivíduos assintomáticos que compuseram o grupo controle, sendo todos submetidos a exame polissonográfico. Um dado interessante e que levanta questionamento, é que desses 60 indivíduos, 58 se queixaram de apertamento diurno. Segundo os autores, o apertamento diurno provavelmente seja o fator de risco mais importante para DTM, e deva ser sempre considerado.
Em um estudo já supracitado26, com uma amostra de 13.057 pacientes, onde 1161 tinham bruxismo, levando em consideração o risco do bruxismo com DTM, esta população apresentou características associadas com bruxismo e foram relatadas por 54,4% dos indivíduos. Mais especificamente, 23% dos indivíduos relataram que eles precisavam de tratamento dentário por causa de seu bruxismo, 8,1% afirmaram que tinham desconforto de seus músculos da mandíbula ao despertar, e 23,3% disseram que o bruxismo foi alto o suficiente para ser ouvido pelo seu parceiro de cama. Neste estudo ainda, os autores relatam que o bruxismo é um dos riscos para o desenvolvimento de anormalidades temporomandibulares. Ainda, com esses achados, é perceptível a interferência na QV dos indivíduos com bruxismo, e também para seus parceiros.
No que diz respeito a qualidade de vida e bruxismo, na pesquisa31 realizada em policiais, sem ser significativa a profissão dos mesmos, foi avaliada prevalência de bruxismo em 394 policiais selecionados onde 198, entre estes, apenas 64,6% estavam cientes da presença desta parafunção. A presença de estresse emocional foi registrada em 45,69% deles, e entre os policiais estressados quase metade (48,3%) relataram ranger os dentes durante o sono e / ou acordado, encontrando-se associação significativa (P = 0,0004) entre a presença de estresse emocional e bruxismo.
Em uma edição do Jornal Italiano de Saúde Pública, em 2009, foi publicado uma pesquisa de Roberto et al32, sobre a mensuração da qualidade de vida com o questionário -SF-36 em pessoas acometidas com DTM, onde houve uma relação inversamente proporcional entre estas variáveis, que nos mostra que quando a DTM está em menor grau ou ausente, maior é a QV do indivíduo. Ainda nesta amostra, as piores percepções no questionário SF-36, foi encontrado que em relação aos domínios de dor (50,01) e aspectos emocionais (64,32). Em consideração a idade dos indivíduos, os que tinham idade mais avançada apresentaram pior QV. Os valores mais altos observados aqui foram de capacidade funcional (80,09) e aspectos sociais (68,78).
Já neste estudo foi observado os domínios em relação a dor com média de 70,35, estado geral de saúde 59,65 e capacidade funcional 85,3. Tendo assim uma semelhança entre o pior domínio, que ainda é a dor; porém observou-se outro domínio onde está incluso o estado geral de saúde, sendo este o mais baixo dos escores, e em ambos (dor e estado geral de saúde) são mais baixos nas mulheres da amostra.
Pacientes que apresentam bruxismo e dor miofascial, mostram que a dor é a mais intensa em indivíduos com bruxismo do que os que tem dor miofascial, mesmo que a dor não fosse a queixa principal dos pacientes com bruxismo. Ambas as condições traziam redução na qualidade de vida, embora os pacientes com dor, oriunda do bruxismo ou dor miofascial, se mostram ser muito mais afetados. O fato de que a dor de bruxismo foi pior na parte da manhã sugere que é, possivelmente, uma forma de dor muscular pós-exercício. A dor miofascial, que foi pior no final do dia, então é provável que tenha uma etiologia diferente33.
Numa edição de 2013, pela The Gerodontology Society, um estudo34 avaliou a prevalência de dor de cabeça e dor orofacial em 505 adultos e 385 idosos, onde mais da metade da população tinha dor (45,3% dos adultos e 56,6% dos idosos); 10,6% dos indivíduos apresentavam bruxismo e 10,2% tinham dor de dente, portanto, tanto adultos quanto idosos com dor apresentaram comprometimento das atividades diárias devido à dor. A prevalência de dor de cabeça e dor facial foi de 55,5%, sendo que a dor de cabeça foi mais prevalente (p <0,001) no grupo de adultos em comparação com o grupo de idosos e o bruxismo foi associada com dores de cabeça, dores de dentes, dor facial e fadiga para o rosto.
CONCLUSÃO
Fica claro a intima relação existente do bruxismo com a qualidade de vida, e que esta parafunção interfere principalmente nos domínios de aspecto geral de saúde e emocionais, e o mesmo quando presente nos indivíduos mostra-se uma qualidade de vida bem menor do que os indivíduos que não o possui.
Desta forma, é proposto que esta comunidade em questão busque um melhor conhecimento do transtorno que podem estar sendo acometido, e também os profissionais para que conheçam medidas de prevenção ou até mesmo possíveis tratamentos. Poucos estudos são realizados com esta população em questão, sendo assim necessários mais estudos, para que possam aprofundar resultados e considerações a respeito deste tema.
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Autores:
Joelma Magalhães da Costa
Glauria Marina Lima Penalber
Erivaldo Facundes da Silva
Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.
Graduada em Fisioterapia; Especialização em Acupuntura; Especialização em Fisiologia Humana; Titulo de Especialista em Traumato-Ortopedia; Mestre em Ciências da Reabilitação, Na Linha de Pesquisa em Avaliação e Reabilitação das Disfunções do Sistema Estomatognático - ATM; Participa e atua em cursos, congressos, pesquisas e projetos referentes ao Sistema Musculoesquelético, ATM e Dor Orofacial.
UOL CURSOS TECNOLOGIA EDUCACIONAL LTDA, com sede na cidade de São Paulo, SP, na Alameda Barão de Limeira, 425, 7º andar - Santa Cecília CEP 01202-001 CNPJ: 17.543.049/0001-93