Alterações e/ou disfunções posturais em crianças e adolescentes em fase escolar

Peso das mochilas
Peso das mochilas

Fisioterapia

05/02/2016

INTRODUÇÃO

 

Sabe-se que a promoção da saúde é “o processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria de sua qualidade de vida e saúde” (CARTA DE OTTAWA, 1986, p.11-8). Programas educativos agem sobre os riscos comportamentais, que podem ser modificados, pois, em parte estão sob o controle das pessoas (BUSS, 2000, p. 166-77). Neste sentido, constata-se a importância da parceria entre a saúde e a educação para a construção de um indivíduo que participe de suas mudanças. Por esse motivo, tem-se buscado estudar a saúde escolar no que diz respeito às alterações posturais de crianças e adolescentes.

A fisioterapia tem importante papel no meio escolar, pois estudantes desenvolvem maus hábitos e alterações posturais que, em longo prazo, podem gerar limitações funcionais. Considerando que as escolas são locais ideais para a realização de ações que favoreçam o adequado desenvolvimento físico e motor de crianças e adolescentes, compreender melhor a relação entre dor musculoesquelética e os fatores a ela relacionados permite ao fisioterapeuta aplicar os recursos que lhe são disponíveis em intervenções com escolares, de modo a favorecer a informação e prevenção nesses locais, além do diagnóstico precoce e encaminhamento à terapêutica específica (PEREIRA et al., 2013, p. 342-400).

Postura pode ser definida como uma posição ou atitude do corpo, o arranjo relativo das partes do corpo para uma atividade específica, ou uma maneira característica de alguém sustentar seu corpo (KISNER, 1987). A boa postura é um bom hábito que contribui para o bem-estar do indivíduo. A estrutura e a função do corpo provêm o potencial para se atingir e se manter uma boa postura (KENDALL et al, 1995). Brunnstrom (1954) descreve que boa postura é aquela em que as articulações que suportam peso estão em alinhamento e o mínimo de ação muscular é necessário para mantê-la ereta.

Em contrapartida, a má postura aumenta o estresse sobre elementos corporais, e o distribui para estruturas menos capazes de suportá-lo, provocando mudança no centro de gravidade e, em consequência, alterações posturais e dor (DETSCH, 2005). Os problemas posturais comumente aparecem com o crescimento, em decorrência dos comportamentos de risco adotados para a coluna vertebral, como a utilização indevida das mochilas e a má postura ao sentar (DETSCH et al., 2007, p. 231-238).

A investigação de alterações posturais, bem como das variáveis que podem se relacionar a essas condições são de extrema importância, pois, permite a detecção precoce de possíveis alterações e a adoção de estratégias preventivas. Nas fases da infância e da adolescência, ocorre a aceleração do crescimento e, sabendo que as variações de postura estão também associadas aos estágios de crescimento, esses períodos são importantes para intervenção e diminuição das condições predisponentes ao aparecimento dos problemas posturais (LEMOS et al., 2012, p. 781-788).

Portanto, o objetivo desta revisão é identificar, de forma sucinta, as principais alterações e disfunções posturais que acometem crianças e adolescentes em fase escolar.

 

METODOLOGIA

 

Para essa revisão foram consultadas as bases de dados MEDLINE, SciELO, LILACS e PubMed, utilizando-se a combinação das seguintes palavras: Reeducação postural. Escolares. Postura corporal. Alterações posturais. Promoção da saúde. Foram incluídos somente artigos originais publicados nas línguas inglesa e/ou portuguesa, e com período de publicação entre os anos de 2010 a 2014.  

 

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

 

Foram encontrados doze artigos que abordavam direta ou indiretamente no corpo do texto os temas: dor musculoesqueléticas e/ou alterações posturais em crianças e adolescentes. Desses doze artigos, todos são originais, sendo dez em português e dois em inglês.

Acredita-se que as posturas inadequadas adotadas por escolares em sala de aula e/ou em casa podem levar ao desequilíbrio na musculatura e consequentemente a uma memória postural errônea, a um ciclo de mecanismos adaptativos, produzindo alterações morfofuncionais na postura podendo ou não levar as disfunções posturais.

Segundo Noll et al. (2013) há uma alta prevalência de hábitos posturais inadequados ao sentar para escrever e para utilizar o computador, sentar em um banco, além de pegar objeto no solo, principalmente porque os escolares tendem a permanecer por muito tempo na posição sentada em frente ao computador e à televisão.

Diversas alterações são possíveis de serem encontradas em escolares, destacando-se a dor, desvios na coluna e posturais como cabeça rodada ou inclinada, elevação do ombro e da pelve, joelho valgo ou varo, além de cabeça em prostração, alterações da coluna torácica, ombros anteriorizados, pelve em anteroversão, joelhos em semiflexão ou hiperextensão, e pés cavos ou planos (RODRIGUES; YAMADA, 2014. p. 437- 45).

A prevalência de dor musculoesquelética é relatada por 51,1% dos escolares. As regiões mais acometidas são: pernas, coluna, braços e ombros, aumentando com a idade e com a prática de atividade física (PEREIRA et al., 2013, p. 342-400). E os desvios posturais mais prevalentes são hipercifose dorsal em 16,6% dos casos, 27,9% apresentam hiperlordose lombar e 33,2% atitude escoliótica. Alunos do sexo feminino apresentam 47% menos chances de ter hipercifose dorsal em relação ao masculino (BUENO; RECH, 2013. p. 237-242).

    Segundo Graup et al. (2010) as alterações posturais sagitais na coluna lombar e fatores associados correspondem a 53,8% de desvios, sendo que 90,9% corresponderam à retificação da curvatura lombar, acometendo mais o sexo masculino e os fatores associados às principais causas de dor lombar são: à prática de esportes ou atividades vigorosas e a permanência durante longos períodos de tempo na posição sentada.

Em contra partida Junior et al. (2011) destaca que em escolares há uma prevalência de 8,8% de desvios laterais e 2,4% de gibosidade, além de escoliose em portadores de assimetrias de ombros e ilíacos. Porém, não há influência do peso, altura e índice de massa corporal para a prevalência de escolioses.

Lemos et al. (2012) destacam que se faz necessária estratégias efetivas que melhorem os níveis de aptidão física de escolares, tendo em vista que fatores associados como: o sexo feminino, baixos níveis de força, resistência abdominal, baixa flexibilidade e mobilidade lombar são associados negativamente à hiperlordose lombar em crianças e adolescentes em fase escolar (LEMOS et al., 2012).

Quanto ao peso das mochilas os valores recomendados são de até 10% do peso corporal. Alunos utilizam majoritariamente a mochila nas costas com apoio sobre os dois ombros, não havendo diferença entre meninos e meninas ou entre as faixas etárias. O peso médio do material escolar foi de 5,46% do peso corporal, sendo que 8,5% dos alunos transportam mais de 10% do peso corporal. Ações no âmbito da comunidade escolar devem ser realizadas com o objetivo de propor alternativas para diminuir a prevalência de escolares transportando uma carga que pode ser nociva a sua saúde (RITTER; SOUZA, 2011).

 Torna-se urgente e necessário consolidar cultura de promoção da saúde na escola, bem como construir ambiente educacional saudável (CATALAN et al., 2011). Os programas preventivos proporcionam aumento no nível de conhecimento dos estudantes. A aquisição de conhecimento é o primeiro passo para a adoção de hábitos posturais saudáveis e para a prevenção de dores na coluna vertebral (FOLTRAN et al., 2011).

 A realização de educação postural para alunos promove o conhecimento de comportamentos posturais saudáveis e modificação de algumas posturas e hábitos escolares e simultaneamente mudanças positivas na adoção de postura adequada dos pés na posição sentada e, nas atividades de vida diária, mudanças na posição ao ver televisão, dormir, pegar objetos no chão e costume de ler e/ou escrever na cama (BENINI; KAROLCZAK, 2010).

Toledo et al. (2011) relatam ainda sobre os efeitos do método da Reeducação Postural Global em escolares com diagnóstico de escoliose torácica não estrutural, submetidos ao método, os quais apresentaram melhora do quadro de re­tração e estiramento de forma global dos músculos da estática; correção da acentuação das curvas, por intermédio da tração e liberação do bloqueio respiratório

Os achados confirmam a necessidade de intervenções por parte dos profissionais de saúde e educação, buscando corrigir hábitos inadequados de postura corporal, os quais, com o tempo, podem se agravar e causar danos irreversíveis (BUENO; RECH, 2013).

 

CONCLUSÃO

 

Conclui-se que há uma alta prevalência de alterações e disfunções posturais em escolares acometendo principalmente a coluna vertebral, o que poderia ser identificado através de políticas públicas de saúde em parceria com educação, assim como com a implantação e efetivação de Programas de Educação Postural, como o Programa Saúde na Escola do governo federal. Deixando evidente a necessidade da inserção do profissional fisioterapeuta, qualificado, para atuar nas escolas prevenindo e intervindo de forma precoce.

 

 

 

 

REFERÊNCIAS

 

  1. BENINI, J.; KAROLCZAK, A.P.B. Benefícios de um programa de educação postural para alunos de uma escola municipal de Garibaldi, RS. Fisioterapia e Pesquisa, v. 17, n. 4, p. 346-51, out/dez.2010.
  2. BUENO, R.C.S.; RECH, R.R. Desvios posturais em escolares de uma cidade do Sul do Brasil. Rev Paul Pediatr., v. 31, n. 2, p. 237-42, 2013.
  3. BUSS P.M. Promoção da saúde e qualidade de vida. Cienc. Saúde Coletiva. v. 5, n. 12, p. 163-77, 2000.
  4. BRASIL. Ministério da Saúde. Promoção da saúde: Carta de Ottawa; Declaração de Adelaide, Declaração de Sundsvall e Declaração de Bogotá. Fiocruz, p. 11-18, 1986.
  5. BRUNNSTROM S. Center of gravity line in relation to ankle joint in erect standing. Phys Ther Rev., n. 3, p. 109-15, 1954.
  6. 6.     CATALAN, V.G.; SOUSA, N.P.; ABDON, A.P.V.; FALCÃO, C.S.V.; CATRIB, A.M.F. Percepção corporal de adolescentes em ambientes escolares. Fortaleza: Rev Bras Promoç Saúde, v. 24, n. 4, p. 390-5. out./dez., 2011.
  7. DETSCH C. Prevalência de alterações posturais em escolares do ensino médio de São Leopoldo (RS), Brasil [dissertação]. São Leopoldo: Universidade do Vale do Rio dos Sinos, 2005.
  8. DETSCH, C.; LUZ, A.M.H.; CANDOTTI, C.T.; OLIVEIRA, D.S.; LAZARON, F.; GUIMARÃES, L.K. Prevalência de alterações posturais em escolares do ensino médio em uma cidade no sul do Brasil. Rev Panam Salud Publica. v. 21, n. 4, p. 231-8,  2007.
  9. FOLTRAN, F.A.; MOREIRA, R.F.C.; KOMATSU, M.O.; FALCONI, M.F.; SATO, T.O. Effects of an educational back care program on Brazilian schoolchildren’s knowledge regarding back pain prevention. Rev Bras Fisioter., 2011.
  10. GRAUP, S.; SANTOS, S.G.; MORO, A.R.P. Estudo descritivo de alterações posturais sagitais da coluna lombar em escolares da rede federal de ensino de Florianópolis. Rev Bras Ortop., v. 45, n. 5, p. 453-9. 2010.
  11. JUNIOR, J.V.S.; SAMPAIO, R.M.M.; AGUIAR, J.B.; PINTO, F.J.M. Perfil dos desvios posturais da coluna vertebral em adolescentes de escolas públicas do município de Juazeiro do Norte – CE.  Fisioter Pesq., v. 18, n. 4, p. 311-6. 2011.
  12. KENDALL, F.P.; MCCREARY, K.E.; PROVENCE, P.G. Músculos: provas e funções. São Paulo: Manole, 1995.

13. KISNER, C.; COLBY, L.A.A. Exercícios Terapêuticos. São Paulo: Manole, 1987.

14. LEMOS, A.T.; SANTOS, F.R.; ARAUJO, A.C., Hiperlordose lombar em crianças e adolescentes de uma escola privada no Sul do Brasil: ocorrência e fatores associados. Cad. Saúde Pública, v. 28, n. 4. p. 781-8, abr. 2012.

15. NOLL, M.; CANDOTTI, C.T.; TIGGEMANN, C.L.; SCHOENELL, M.C.W.; VIEIRA, A. Prevalência de hábitos posturais inadequados de escolares do ensino fundamental da cidade de Teutônia: Um estudo de base populacional. Rev. Bras. Ciênc. Esporte, v. 35, n. 4, p. 983-1004, out./dez. 2013.

16. PEREIRA, D.S.L.; CASTRO, S.S.; BERTONCELLO, D.; DAMIÃO, R.; WALSH, I.A.P., Relação da dor musculoesquelética com variáveis físicas, funcionais e alterações posturais em escolares de seis a 12 anos.  Braz J Phys Ther.,  v. 17, n. 4, p.  392-400. July-Aug.  2013.

17. RITTER, A.L.; SOUZA, J.L. Transporte do material escolar por escolares da Rede Municipal de Ensino Fundamental de Porto Alegre - RS. R. bras. Ci. e Mov., v. 19, n. 4, p. 51-9.  2011.

18. RODRIGUES, P.L.; YAMADA, E.F. Prevalence of postural alterations in students of Basic Education in the city of Vila Velha, Espírito Santo state, Brazil. Fisioter Mov., v. 27, n. 3, p. 437-45. jul/set. 2014.

19. TOLEDO, P.C.V.; MELLO, D.B.; ARAÚJO, M.E.; DAOUD, R.; DANTAS, E.H.M. Efeitos da Reeducação Postural Global em escolares com escoliose. Fisioterapia e Pesquisa, v.18, n.4, p. 329-34, out/dez. 2011.

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Francisca Jerbiane Silva Costa

por Francisca Jerbiane Silva Costa

Graduanda do curso de Fisioterapia na Faculdade do Vale do Jaguaribe - FVJ

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