DISFUNÇÃO DA ARTICULAÇÃO SACRO-ILÍACA: AVALIAÇÃO E TRATAMENTO FISIOTERÁPICO.

Fisioterapia

13/02/2016

INTRODUÇÃO:

 

A Disfunção da Articulação Sacroilíaca (DASI) é um termo utilizado para descrever a dor sobre ou ao redor da Articulação Sacroiliaca (ASI), sendo relacionada com cerca de 15% até 30% das dores na coluna lombo-sacra de jovens e adultos. (RAMIREZ & LEMUS, 2010); (SEMBRANO et al, 2011).

Há evidências que a DASI possa produzir dor ao longo da mesma distribuição do nervo isquiático semelhante a uma hérnia de disco lombar. (CUSI, 2010)

Essa disfunção pode ser causada por diversas alterações estruturais e/ou patológicas do corpo humano, como por exemplo, nas discrepâncias de comprimento de membros inferiores, nos encurtamentos de grandes e pequenos grupos musculares do tronco ou quadril, nas escolioses, nas artrodeses da coluna lombar, na espondilite ancilosante, na osteoartrite de quadril, entre outras. (SEMBRANO et al, 2011).

A ASI possui uma anatomia complexa que parece favorecer a disfunção. Anatomicamente, a articulação é constituída por dois compartimentos: o superior sindesmótico e o inferior sinovial, que acarreta uma maior mobilidade do osso ilíaco em relação ao sacro, o que torna aquele mais suscetível à lesões em relação a este, devido a maior mobilidade. (MAGEE, 2002). No que concerne aos ligamentos, estão localizados tanto anterior quanto posteriormente à articulação e são os mais fortes do corpo humano, os quais em conjunto com um grupo de músculos, como por exemplo, os multifidus, os eretores da coluna, os glúteos: mínimo, médio e máximo, os piriformes, os retos femorais, os isquiotibias, os iliopsoas, os grandes dorsais, os retos abdominais, os oblíquos externos e internos do abdome, os transversos do abdome e o diafragma, a assegura uma grande estabilidade quando estão biomecanicamente equilibrados. Esses grupos musculares citados não interferem diretamente na articulação em questão, mas podem modificar a biomecânica normal e favorecer a DASI. (RIBEIRO, SCHMIDT, WURFF, 2003). Em relação à inervação, anteriormente são inervadas por raízes oriundas de L3 a S2 e posteriormente de L5 a S2. Entretanto essa inervação é altamente variável, o que contribui para os diferentes padrões de dor existentes na ASI.

Desta forma, a DASI pode ser um desafio quanto à avaliação e tratamento fisioterápico, sendo poucos os trabalhos que abordam a relevância dos testes provocativos da ASI, a fim de verificar se são confiáveis quando utilizados na avaliação da dor lombo-sacra, e mais escassos ainda os trabalhos que abordam a reabilitação dessa disfunção.

 

OBJETIVO:

 

Desta Forma, o objetivo do trabalho foi verificar quais os tratamentos fisioterápicos mais utilizados e os testes provocativos de dor mais confiáveis na avaliação na DASI.

 

METODOLOGIA:

 

Foi realizada uma breve revisão de literatura em bases eletrônicas como a PubMed, MEDLINE, SciELO e LILACS compreendendo publicações de 2003 até 2015 com as palavras chaves: “sacroiliac joint dysfunction”, “physiotherapy”, “evaluation”, “treatment”.  Os títulos e os resumos dos trabalhos foram analisados por um examinador, que obtive na íntegra sete estudos clínicos considerados pertinentes ao tema. 

 

RESULTADOS:

 

Todos os artigos analisados colocam os testes provocativos de dor da ASI como boa ferramenta para verificar se a dor é de origem da ASI. Para tal, os testes mais utilizados e confiáveis foram: o Patrick-FABER, o Gaenslen, o thigh thrust, o thrust do sacro, a compressão e a distração da sacro-ilíaca.

Por conseguinte, no tratamento fisioterápico estão indicadas técnicas manuais focada na ASI como a manipulação e a mobilização além de exercícios de estabilização da musculatura profunda da coluna e pelve.

 

DISCUSSÃO:

 

Sembrano et al (2011) e Cusi (2010) relatam os seguintes testes em seus trabalhos o Patrick-FABER, o Gaenslen, o thigh thrust, o thrust do sacro, a compressão e a distração da sacro-ilíaca e concordaram que um único teste provocativo não foi capaz de diagnosticar a DASI. Por conseguinte, determinaram que a DASI estava presente nos pacientes que obtiveram 3 ou mais testes positivos. Desta forma, faz-se necessário a aplicação de vários ou de todos os testes já citados para ser diagnosticada a disfunção.

Ramirez & Lemus (2010) encontrou que a frequência de DASI foi em torno de 35,8% em seu estudo, o que corrobora com os estudos, que utilizaram o padrão-ouro para o diagnóstico dessa disfunção o qual consiste na injeção intra-articular de anestésico guiada por fluoroscopia. Isto sugere que é possível diagnosticar a DASI utilizando testes provocativos, os quais podem diminuir ou evitar a utilização de procedimentos invasivos. Ainda segundo esses autores foram encontrados encurtamento da musculatura isquiotibial em todos os indivíduos com DASI, o que pode sugerir um tratamento que englobe o alongamento dessa musculatura na prática fisioterapêutica.

Essa prática deve ter como objetivo um programa de exercícios para corrigir o desequilíbrio muscular. Os extensores e rotadores externos do quadril devem ser fortalecidos. Já a musculatura do isquiotibial, do reto femoral e do iliopsoas deve ser submetida aos exercícios de alongamento. (RIBEIRO, SCHMIDT, WURFF, 2003). Também como forma de tratamento para restaurar a biomecânica articular é utilizada manipulação e mobilização da coluna lombar e ASI. (MARINZECK, 2007). Em gestantes, para a diminuição da instabilidade articular, devido ao aumento da relaxina e possível laxidão ligamentar da ASI podem ser empregado o uso dos cintos pélvicos como coadjuvante ao tratamento. (MARTINS & SILVA, 2005); (RIBEIRO, SCHMIDT, WURFF, 2003).

Para Cusi, 2010 o tratamento deve ser iniciado com um programa de exercícios que trabalhe a musculatura profunda do corpo, como os músculos do assoalho pélvico, transverso do abdome e multifidus.

Segundo Mepereza, 2014 não existem evidencias conclusivas que favoreça a manipulação e/ou mobilização das vertebras e articulações em relação aos exercícios de estabilização da coluna e pelve, como tratamento de escolha para proporcionar melhorias efetivas em pacientes com dor lombo-sacra.

 

CONCLUSÃO:

 

Portanto, no tratamento da disfunção, é importante que a biomecânica ideal seja restaurada, de modo que o tecido mole lesado, que pode ser responsável pelo estímulo doloroso, possa ser restaurado. O tratamento fisioterápico da ASI pode incluir mobilização e/ou manipulação articular e estabilização da cintura pélvica e coluna vertebral por meio de exercícios terapêuticos.

Já as consultas bibliográficas mostraram que o diagnóstico embasado em testes provocativos seja a melhor forma de avaliação da disfunção da articulação sacroilíaca, uma vez que é confiável desde que não seja utilizado um único teste.

 

REFERÊNCIAS:

 

CUSI, M. F. Paradigm for assessment and treatment of SIJ mechanical dysfunction. Journal of Bodywork & Movement Therapies. Sydney, v. 14, n. 2, p. 152-161, Apr. 2010.

MAGEE, D. J. Avaliação Musculoesquelética. 4.ed. São Paulo: Manole, 2005.

MARINZECK, S. Articulação Sacroilíaca: Parte I – Aspectos Morfo-funcionais e disfunção. Terapia Manual, 2007. Disponível em <http://www.terapiamanual.com.br> Acesso em: 05 fev. 2015.

MARTINS, R. F.; SILVA, J. L. P. Prevalência de dores nas costas na gestação. Rev. Assoc. Med. Bras.,  São Paulo,  v. 51, n. 3, p. 144-147, June  2005 

MEPEREZA, A., Effects of spinal manipulation versus therapeutic exercise on adults with chronic low back pain: a literature review. J Can Chiropr Assoc, Toronto, v. 58, n. 4, p. 456-466, August, 2014.

RAMIREZ, C. R.; LEMUS, D. M. C. Disfunção da articulação sacro-ilíaca em jovens com dor lombar. Fisioter. mov. (Impr.),  Curitiba,  v. 23, n. 3, p. 419-428, Sept.  2010 .

RIBEIRO, Sady; SCHMIDT, Andre Prato; WURFF, Peter van der. Sacroiliac dysfunction. Acta ortop. bras.,  São Paulo ,  v. 11, n. 2, p.  118-125,  Apr.  2003 .

SEMBRANO, J. N., et al. Diagnosis and treatment of sacroiliac joint pain. Current Orthopaedic Practice, California, v.  22, n. 4, p. 344-350, July/August 2011.

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Denise Aparecida de Sá Bataquim

por Denise Aparecida de Sá Bataquim

Possui Graduação em Fisioterapia pela Universidade Estadual Paulista - UNESP (2010) e Especialização em Fisioterapia Aplicada à Ortopedia e Traumatologia pela Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP (2015). Atualmente é Fisioterapeuta Instrutora de Pilates e atua, principalmente, reabilitando patologias da coluna, joelho e ombro. É membro efetivo do GEFICAM (Grupo de Estudos de Fisioterapia de Campinas) desde 2015. Além de possuir experiência em atendimentos fisioterápicos domiciliares desde 2010.

Portal Educação

UOL CURSOS TECNOLOGIA EDUCACIONAL LTDA, com sede na cidade de São Paulo, SP, na Alameda Barão de Limeira, 425, 7º andar - Santa Cecília CEP 01202-001 CNPJ: 17.543.049/0001-93