Para o indivíduo, a capacidade de se comunicar de forma eficiente, ou seja, sendo entendido por seu interlocutor com fluência e eficácia, é fundamental para uma autoestima saudável. Assim quando algo compromete sua habilidade de comunicação é natural que ocorram sintomas como estresse e ansiedade, comprometendo ainda mais a fluência da fala deste indivíduo.
Quando nos deparamos com situações que de alguma forma diferem daquilo com o que estamos habituados, comumente taxamos isto como sendo uma alteração. Mas aqui fica minha pergunta, podemos chamar de gago alguém que, como se diz popularmente, "tropeça" nas palavras? Estudos revelam que aproximadamente 80% das pessoas apresentam algum grau de gagueira. Com estes dados em mãos vamos, a partir daqui passar a chamar a tão temida e conhecida gagueira de disfluência, nome hoje comumente utilizado para se caracterizar indivíduos que apresentam algum tipo de alteração na fluência de sua fala.
Tal nomenclatura não deve ser aplicada, nos casos de gagueira propriamente dita. Durante o processo de desenvolvimento de fala, por volta dos 3 anos de idade a criança pode apresentar algum tipo de disfluência. Normal nesta fase onde a criança está estruturando sua linguagem, a disfluência não deve ser vista com negligência nem tampouco deve ser supervalorizada, para que se possa distingui-la da gagueira do desenvolvimento.
Em termos de linguagem existe uma importante diferença entre disfluência e gagueira do desenvolvimento. Crianças que apresentam alterações na emissão de letras (fonemas) e sílabas, particularmente nas primeiras letras ou sílabas tendem a desenvolver gagueira, enquanto que crianças que apresentam disfluência, podem cometê-la em palavras ou frases inteiras e até mesmo disfluir sem gaguejar.
Por este motivo iremos elencar aqui algumas das características apresentadas na gagueira do desenvolvimento em contraponto à disfluência:
1. O primeiro quesito diz respeito à frequência da disfluência que ocorre em maior número na criança com gagueira do desnevolvimento;
2. A gagueira e a disfluência aparecem em semelhantes faixas etárias;
3. Outra diferença é quanto a evolução, que nos casos de gagueira do desenvolvimento as ocorrências podem agravar-se, redimir espontaneamente ou assumir um quadro intermitente quando cessam temporariamente voltando em outro momento. Nas disfluências a tendência é de que elas vão sendo amenizadas até desaparecerem;
4. Na gagueira, temos um componente involuntário, onde não depende da vontade da criança em gaguejar, enquanto na disfluência pode haver um certo grau de controle;
5. Nas crianças que gaguejam observa-se tensão muscular podendo ser facial e/ou corporal e movimentos corporais associados à gagueira, tais movimentos podem agravar-se com o tempo e desenvolvimento da gagueira. Já nas crianças com disfluência, tal processo não é observado;
6. A impaciência com sua dificuldade de falar e a dificuldade em manter contato visual com o interlocutor é comum em crianças que apresentam gagueira do desenvolvimento, algumas até desistem de falar;
7. A falta de coordenação entre fala e respiração também é comum nas crianças com gagueira do desenvolvimento, o que não ocorre nas crianças disfluentes, que mesmo nos momentos em que esta ocorre apresentam uma respiração normal e regular.
Na manifestação de tais sintomas é imprescindível que se procure um fonoaudiólogo, o profissional que saberá qual conduta assumir, a fim de que se faça um correto diagnóstico de uma disfluência comum da infância ou gagueira do desenvolvimento para que a criança possa ser devidamente tratada o mais precocemente possível.
Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.
por Marina Almeida de Sá
Formada em Fonoaudiologia pela Universidade Metodista de Piracicaba, Marina Almeida Seber atua nas áreas de linguagem com enfoque na comunicação, voz e motricidade orofacial com aperfeiçoamento em fonoaudiologia estética Método MZ.
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