Mecanismos de controle da voz

Diferença na qualidade vocal
Diferença na qualidade vocal

Fonoaudiologia

20/02/2013

Todos temos várias vozes, ou seja, usamos diferentes qualidades vocais de acordo com a situação em que estamos, dependendo do interlocutor a quem nos dirigimos e de acordo com o nosso estado físico e emocional. Assim, nossa voz em casa é diferente da voz no trabalho; a voz com que nos dirigimos às crianças é diferente da usada quando conversamos com nosso cônjuge; e, quando estamos tristes ou felizes, nossa voz também demonstra esse sentimento. Podemos modificar nossa voz e fazê-la mais fina, mais grossa, mais forte, mais fraca, mais rouca, mais limpa, mais nasal e mais melosa. Essa possibilidade de controle de todas essas variáveis nos mostra o quanto esse sistema é flexível. Apesar de toda essa possibilidade de variação vocal, possuímos um padrão básico que nos identifica.

Para modificar a frequência da voz, ou seja, o seu tom, em mais agudo (fino) ou grave (grosso), podemos lançar mão de uma série de recursos. O principal recurso para agudizar um som é alongar as pregas vocais, mas também podemos usar maior tensão nos músculos da laringe, ou fazer as próprias pregas vibrarem mais rapidamente. Na verdade, usamos todos esses mecanismos, dependendo da situação de fala. Portanto, nos sons agudos as pregas vocais estão mais longas, mais tensas e fazem um maior número de ciclos vibratórios por segundo. Já nos sons graves elas estão mais curtas, menos tensas e seus movimentos são mais lentos, realizando um menor número de ciclos vibratórios por segundo.

Quando queremos mudar a intensidade da voz, ou seja, fazê-la mais forte (alta) ou mais fraca (baixa), também podemos usar recursos diversos. O principal mecanismo para produzir uma voz mais forte é aumentar a pressão de ar que vai ser sonorizado, controlando sua saída pela laringe, por meio de maior tensão das pregas vocais. Assim, sons mais intensos são produzidos com maior pressão de ar, maior tensão e fechamento mais firme das pregas vocais. Por outro lado, sons mais fracos são emitidos com menor pressão de ar, pregas vocais mais relaxadas e menos próximas entre si.

Finalmente, quando queremos mudar a qualidade da voz, ou seja, produzir uma voz mais rouca, mais clara, mais sensual, mais melosa, mais autoritária ou mais afetiva, modificamos todo o trato vocal, não somente o modo como produzimos a fonação, ao nível das pregas vocais, mas também como trabalhamos esse som básico nas caixas de ressonância. Todos somos capazes de produzir vários tipos de vozes, o que é um bom sinal de saúde vocal e psicológica, pois significa que realizamos diferentes ajustes com nossas estruturas e que estamos sintonizados com nosso interlocutor.

Nossa voz é uma das projeções mais intensas de nossa personalidade, uma representação muito forte do que somos; porém, um fato muito curioso é que quase ninguém gosta de ouvir a própria voz num gravador. Quase sempre achamos nossa voz gravada diferente e geralmente chata. Algumas pessoas apresentam muita dificuldade de se identificar numa fita gravada, contudo reconhecem imediatamente o outro, na mesma situação de gravação.


Na verdade, nós nos escutamos de um modo um pouco diferente do que os outros nos escutam. Em outras palavras, a percepção de nossa voz é diferente da percepção que os outros têm de nossa voz. Tal fato deve-se a uma série de fatores. Em primeiro lugar, o som de nossa própria voz chega até nossos ouvidos por dois caminhos: por via externa, quando nossa voz sai pelos lábios e/ou nariz e as ondas sonoras propagam-se pelo ar, atingindo nossas orelhas, transmitindo-se para os ossículos, destes para os nervos auditivos e, finalmente, chegando ao cérebro; e por via interna, quando as ondas sonoras põem em vibração nosso corpo, principalmente os ossos da cabeça e do pescoço, levando o som diretamente para a orelha. Assim, ouvimo-nos por via externa e interna, o que deixa nossa voz mais grave (grossa). Os outros nos ouvem apenas por via externa, não recebendo a informação por via interna e, portanto, percebem nossa voz como mais aguda. Uma outra razão pela qual a percepção da própria voz é muito diferente da voz gravada é de ordem psicológica. Projetamos em nossa voz uma série de desejos e mitos sobre o que gostaríamos de ser, sobre o que pretendemos ser, mas ao ouvir essa voz resta somente a realidade física, que nem sempre corresponde ao nosso desejo.

Assim sendo, se queremos saber mesmo como é a nossa voz, devemos nos ouvir sem restrições, numa fita gravada, e analisar o tipo da voz e o impacto que ela causa no ouvinte.

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Colunista Portal - Educação

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