Permacultura como ferramenta de gestão ambiental para habitações sustentáveis

Ferramenta de Gestão Ambiental em habitações sustentáveis
Ferramenta de Gestão Ambiental em habitações sustentáveis

Iniciação Profissional

08/05/2014

INTRODUÇÃO

Em decorrência do contexto atual de degradação de todos os compartimentos do meio natural, somados à crise educacional no ensino formal de base, é necessário rever os conceitos e práticas relacionados ao modelo de vida predominante, baseado no consumismo exacerbado. Esses modelos adotam como princípio o consumo desenfreado dos recursos ambientais para satisfazer a felicidade, onde significa que a realização social e pessoal enquanto cidadão deve passar pela aquisição cada vez maior (e mais rápida) de bens de consumo. As tentativas de realizar essa condição de cidadania baseada nos bens materiais, influenciadas pelas propagandas, acabam formando sociedades que valorizam em demasia os valores materiais, deixando os valores humanistas em segundo plano.


De acordo com o cientista Milton Santos, o CONSUMO é o grande FUNDAMENTALISMO do mundo contemporâneo, baseado na globalização.


O contexto explanado define uma relação direta entre felicidade e consumo, utilizando a propagando para incutir esse ideal de vida na consciência coletiva. Assim, a realização social só tem sentido enquanto realização como consumidor, o que restringe as capacidades humanas de produzir e exigir melhorias socioambientais. Este trabalho apresenta uma proposta de como realizar práticas produtivas menos impactantes aos recursos ambientais, considerando conceitos, técnicas e fundamentos filosóficos baseados em uma concepção diferente do modelo atual de realização social.


O modelo predominante provocou um desajuste socioambiental, visto que a capacidade de suporte dos ambientes, em diversas escalas (local, urbana, planetária), tem sido cada vez mais ultrapassada, apresentando vários momentos de colapso, com saturação de sistemas de armazenamento de lixo, por exemplo. É preciso que o enfoque das atividades valorize de forma igual e integrada, a tríade da sustentabilidade, sociedade (economia) e meio ambiente.


A revolução industrial alavancou a produção de produtos que utilizam matérias-primas e energia em grande escala nos processos de extração e produção desses produtos. Além de gerar resíduos nos processos, produz mais lixo no descarte desses, quando não são mais úteis aos consumidores. As embalagens desses produtos colaboram ainda mais para o aumento de resíduos, diminuindo a vida útil dos aterros sanitários.


O modelo de construção civil convencional ocupa o solo de forma equivocada. Além de ser excessivamente poluidor, emprega materiais precedidos de minério (uma das atividades humanas mais agressivas ao meio ambiente). O uso abusivo de cimento e de outros materiais, como as tintas resinadas intensifica a problemática dessas construções.


As habitações não são condizentes com os aspectos naturais locais. Deslocamento de massas de ar, níveis de precipitação, posicionamento do sol, incidência de luz, sombreamentos, fertilidade do solo, não são consideradas no planejamento de edificações convencionais.


A situação presente é composta por todos esses aspectos, resultando em enormes problemas ambientais e socioeconômicos. A queima de combustíveis fósseis está colocando em vulnerabilidade as condições climáticas desestabilizando muitos ecossistemas. Acidentes ambientais causados por empresas renomadas no mercado petrolífero são muitas vezes irreversíveis ao meio afetado.


Para reverter o quadro contextualizado nos parágrafos acima, é necessário, entre outras medidas, rever valores e práticas predominantes.


A gestão ambiental surge à luz da necessidade de se buscar um profissional qualificado, que seja capacitado para planejar e gerir projetos que reduzam o uso de matéria e energia, logo, com redução de custos financeiros, além de buscar a qualidade ambiental. Essas exigências têm sido cada vez mais requisitadas pelas instituições que fiscalizam a qualidade ambiental em todos os processos de produção, como também pelos clientes que procuram adquirir produtos que garantam essa qualidade. Diversos selos de certificações foram criados e implantados para garantir a qualidade oferecida no produto ou serviço.


PERMACULTURA, ORIGENS E DEFINIÇÕES

Os aspectos naturais da Austrália contextualiza o desenvolvimento da Permacultura em seu país de origem.
Segundo Moffi (1976), a Austrália é um país com uma considerável expansão territorial situado no hemisfério sul, banhado pelos oceanos Pacífico e Índico. Vastas planícies, desertos e baixas montanhas ocupam uma grande área do território australiano.


Grande parte de seu território são áreas de climas áridos e semiáridos, além de solos pobres, água e outros recursos ambientais pouco abundantes. Portanto, o país apresenta baixo potencial natural para as atividades agrícolas. Estas condições naturais pouco favoráveis a cultivos agrícolas associados às técnicas de produção que causam a degradação dos solos foram os fatores que motivaram o desenvolvimento do método da Permacultura pelos australianos Bill Mollison e David Holmgren, no início da década de 1970.


O Método Masanobu6 foi outro aspecto importante para o surgimento da Permacultura. Seus criadores adquiriram o conhecimento do método de Masanobu Fukuoka, um agricultor fitapatologista japonês que utilizava bolas de sementes em reflorestamentos de zonas com tendência a desertificação (MORROW, 2010).


Bill Mollison havia trabalhado para a CSIRO (Organização para a Pesquisa Científica do Reino Unido) durante muitos anos como cientista no setor de Vida Silvestre. Mollison sempre foi oposição aos sistemas políticos e industriais convencionais. (MOLLISON e SLAY, 1991 apud, SANTORO, 2010).


Conforme Mollison e Slay (1991), os dois australianos uniram-se e desenvolveram métodos de trabalho que resultou na criação de um sistema sustentável agrícola. A partir disso começaram a ensinar esses métodos na Universidade da Tasmânia na década de 1970.

O surgimento da Permacultura como método para o manejo agrícola amparado pela ecologia uniu conhecimentos ancestrais e tradicionais com as tecnologias de ponta, que posteriormente foram expandidos ao desenvolvimento de sistemas mais complexos em habitações humanas sustentáveis a partir do aproveitamento dos recursos ambientais locais sem que esses não sejam degradados e extintos.


Apesar de a Permacultura utilizar técnicas conhecidas, a interconexão entre elas em um sistema é o que difere dos métodos convencionais empregados nos dias de hoje (MORROW, 2010).


Os aspectos que definem a Permacultura estão ancorados aos meios bióticos e abióticos regionais como também o comportamento humano relacionado ao modo de vida adequado aos recursos ambientais locais, representados por designs que interpretam cada elemento integrado a um sistema cíclico, observando a interdependência entre eles.


De forma mais clara, a definição dada por Holmgren (2007), um dos fundadores da Permacultura é:

[...] De forma mais precisa, vejo a Permacultura como o uso do pensamento sistêmico [...]. Para tanto, deve reunir diversas ideias, habilidades e modos de vida os quais devem ser reinventados e desenvolvidos com o objetivo de nos tornar capazes de prover nossas próprias necessidades, ao mesmo tempo em que aumentamos o capital natural para futuras gerações (HOLMGREN, 2007, p.3).


Morrow (2010) em seu livro Earth User´s Guide in Permaculture, define a Permacultura como “uma ciência de design ecológico aplicado e assim como todas as ciências, você precisa de algum conhecimento e habilidade”. Ela completa dizendo que “é um caminho alternativo à extinção das espécies animais e vegetais, à redução dos recursos não renováveis e ao sistema econômico destrutivo” (MORROW, 2010).


Pode-se dizer que a permacultura está em conformidade com o artigo 225 da Constituição Federal, uma vez que essa assume o compromisso de conservar e preservar os recursos ambientais disponíveis.


Outra importante definição de Permacultura apresentada é:
[...] uma forma de cultura permanente, por meio de design de sistemas ecológicos, onde se procura observar, analisar e transcrever os padrões da natureza, integrando ambientes naturais com construções ecológicas, energias renováveis, produção de alimentos orgânicos e educação para uma vida sustentável (RICIARDI, 2006, p.2).


Mollison e Slay (1991 apud MORROW, 2010) definem a Permacultura como "[...] design de comunidades humanas sustentáveis. É uma filosofia e uma abordagem do uso da terra que inclui estudos dos microclimas, plantas anuais e perenes, animais, solos, manejo da água e as necessidades humanas em uma teia organizada de comunidades produtivas”.


PRINCÍPIOS E ÉTICAS PERMACULTURAIS


Conforme Legan (2007) Bill Mollison compreende três bases para que a ética permacultural seja estabelecida:

1. O cuidado com o planeta Terra deve ser base de toda atividade humana;

2. O cuidado com as pessoas e as demais espécies que habitam o planeta Terra estabelece o respeito intrínseco pela vida;

3. A partilha dos excedentes deve servir ao planeta e às pessoas.



PRINCÍPIOS DE DESIGN PERMACULTURAL

Para Holmgren (2007), o design permacultural está ancorado nos modernos ramos da ciência. “Os conceitos abordados nas disciplinas como a ecologia de sistemas, geografia da paisagem e a etno-biologia têm sido adaptados aos princípios de design”.


David Holmgren adota doze princípios de design a partir da organização da diversidade que compõe a permacultura. Holmgren afirma que os conteúdos dos princípios diferem conforme cada permacultor (HOLMGREN, 2007).


Observar e interagir, é o primeiro princípio, exige observação cautelosa dos padrões para que esses sejam integrados e inter-relacionados.


Captação e armazenamento de energia é um princípio fundamental para manter o fluxo de energia dentro de um sistema que almeja a sustentabilidade. Obter rendimento é necessário para a eficiência no trabalho. A boa alimentação deve ser mantida e partilhada a todos para que o desenvolvimento local seja próspero. Outro princípio valioso trata da auto-regulação do design permacultural, possibilitando o equilíbrio e segurança em um sistema, ficando menos vulnerável por algum tipo de intervenção que possa comprometer seus padrões (HOLMGREN, 2007).


Os serviços e recursos renováveis devem ser valorizados conforme Holmgren (2007). Esses serviços são oferecidos a partir dos solos, das águas, das plantas e animais vivos sem a necessidade em consumi-los. O exemplo que Holmgren (2007) ilustra, é o de uma árvore: ao usar a madeira ela necessitará ser derrubada, mas o contrário ocorrerá se o uso for a sua sombra para manter o local com temperatura mais amena. Aves como as galinhas, são utilizadas na permacultura na preparação do solo para o plantio de hortaliças, por exemplo.


Reduzir desperdícios também é sugerido por David Holmgren como um princípio de design permacultural. Mollison (1998 apud HOLMGREN, 2007) define a ideia de que a substância poluidora é “um produto ou subproduto de qualquer componente do sistema que não está sendo usado de maneira produtiva por qualquer outro componente do sistema”.


No sétimo princípio, os detalhes de um sistema são observados a partir do design de padrões. O provérbio utilizado por Holmgren (2007), “às vezes as árvores nos impedem de ver a floresta”, conota que os detalhes tendem a conduzir o desvio da observação à natureza do sistema, ou seja, quanto mais detalhes forem observados de forma isolada, mais difícil torna-se a compreensão do todo.
A integração ao invés da segregação é um princípio abordado por Holmgren. A importância desse princípio gera dois aspectos positivos nos estudos da permacultura:

• • Cada elemento exerce muitas funções: as galinhas, por exemplo, além de produzirem ovos, são usadas para preparar canteiros para o plantio de hortaliças ciscando e defecando no solo. Somam para o controle biológico de alguns insetos na cadeia trófica;


• • Cada função importante é apoiada por muitos elementos: um bom exemplo pode ser atribuído ao controle biológico de pragas. Plantas antagônicas inibem o surgimento e proliferação de pragas. Sementes de Melia azedarach, podem ser utilizadas como repelente natural. Esses elementos exercem praticamente a mesma função no sistema.


Soluções pequenas e lentas fazem parte dos princípios de design. Holmgren (2007), afirma que “os sistemas devem ser projetados para executar funções na menor escala, que seja prática e eficiente no uso de energia para aquela função”.


Diversidade é visto por Holmgren (2007) “como resultado do equilíbrio e da tensão existente na natureza entre variedade e possibilidade de um lado, e de produtividade e força do outro”. Este princípio está alicerçado na diversidade como fator primordial para manter o equilíbrio do sistema. Possíveis ameaças e intervenções que possam levar o sistema em declínio são controladas pela diversidade.


Valorizar as bordas e os elementos marginais é um princípio pontuado por David Holmgren. As bordas de lagos, rios e mares são propícias para o desenvolvimento de algas e plantas, uma vez que as bordas rasas permitem a incidência de luz solar contribuindo para o crescimento desses vegetais. Em algumas situações, Holmgren (2007) “vê a borda como uma oportunidade ao invés de um problema [...]”. Usar a criatividade respondendo às mudanças é o último princípio adotado por Holmgren (2007). Ele exemplifica a sucessão ecológica na recuperação de áreas degradadas. Espécies leguminosas de crescimento rápido são introduzidas como fixadoras de nitrogênio no solo além de oferecer condições para o surgimento de outras espécies. A retirada correta dessas leguminosas para o uso em rações e energia completa o manejo do sistema.


Todos esses princípios aplicados ao design permacultural contribuem no desenvolvimento sustentável de um sistema. Segundo MORROW (2010) com a aplicação dos princípios é possível manipular correntes de ar e água, evitar problemas com escala e proporção, infestação de sementes, captar e armazenar água e energia, implantação de Sistemas Agroflorestais (SAF’s) entre outros.


DESIGN ECOLÓGICO

A permacultura estabelece uma relação direta entre a ecologia e sistemas habitacionais humanos. O design ecológico permite inter-relacionar essa relação à medida que os desenhos sejam desenvolvidos a partir do conhecimento ecológico dos ecossistemas. O design possibilita a preservação da diversidade genética, respeitando o nicho-ecológico de cada espécie para a sustentabilidade energética e transformação de matéria nos ecossistemas (MORROW, 2010).


O design em sistemas fechados respeita os padrões dos ecossistemas naturais, mantendo a integração paisagística. Mantém fluxo de energia, controle biológico de pragas, ciclagem de nutrientes e cadeia trófica equilibrada. Para Morrow (2010), “um bom desenho permacultural maduro se aproxima de um sistema fechado”.



REDES, NÓS E CONEXÕES
Apesar de ser uma nova ciência que surgiu em 2004, têm sido adotada para desenvolver sistemas complexos comparados aos ecossistemas naturais. Morrow (2010) sugere uma frase que exprime as novas ideias de redes: “Na vida, nós podemos ir de um mundo onde tudo é desconectado para um mundo onde tudo é conectado”.


Por exemplo, em um sistema agroecológico é fundamental manter todos os componentes naturais em equilíbrio.


Experiências em controles biológicos com plantas companheiras, plantas antagônicas e insetos, são desenvolvidas a partir de nós e conexões. Os nós são representados por plantas que atraem insetos que se alimentam de outros, que dependem desses para manter o equilíbrio populacional de ambos. Neste caso as conexões são representadas pelos insetos predadores de outros. Se qualquer um dos componentes do sistema for retirado, esse entrará em caos e declínio.


FLUXO DE ENERGIA NOS ECOSSISTEMAS

O fluxo de energia é constante em um ecossistema. A luz solar é a fonte de energia primária, consumida pelos vegetais através dos cloroplastos existentes nas células das plantas para a produção de seu próprio alimento. As organelas fotossintetizantes são capazes de transformar luz solar em energia química como os açúcares e carboidratos. Como todos os seres vivos necessitam de energia para sobreviver, àqueles que não produzem alimentos, como os animais, exigem a necessidade de consumir alimentos que contêm energia do sol (RICKLEFS, 1996). A proporção de energia necessária para a manutenção de um organismo vivo é relativamente proporcional à sua biomassa. A transformação de energia além de liberar calor, libera também dióxido de carbono e água (MORROW, 2010).


CICLAGEM DE NUTRIENTES
Um exemplo clássico de ciclagem de nutrientes é o comportamento das folhas das árvores que são depositadas naturalmente ao solo, são consumidas por microrganismos, e transformadas em nutrientes para o solo que por sua vez são absorvidas através dos sistemas radiculares das plantas, que um dia retornarão ao solo mantendo o ciclo.


Outro aspecto importante a ser considerado, é identificar o local onde se encontram os elementos na natureza. Morrow (2010) exemplifica o ferro, uma vez que ele pode estar presente na corrente sanguínea de um organismo ou em uma rocha, sendo que a disposição depende dos estados físicos em que o ferro se encontra.


O desequilíbrio é provocado pelos excedentes de matérias dispostas e não são recicladas pela natureza. O descontrole de entrada e saída de matéria e energia em um sistema provoca danos consideráveis à natureza.
PERMACULTURA PARA HABITAÇÕES SUSTENTÁVEIS
A Permacultura exige uma mudança de comportamento humano à luz do atual modelo de vida da grande massa populacional do planeta. O novo paradigma agrega princípios alternativos, com uma nova postura em relação ao próprio indivíduo e com a sociedade. Segundo KRZYZANOWSKI (2005 apud SANTORO, 2005) esse novo conceito comunitário, por ele chamado de comunidades intencionais, desenvolvido a partir da permacultura, iniciou-se no mesmo momento em que o movimento hippie ganha peso. Desde então a permacultura sofre preconceitos por um grande número de pessoas, que consideram os permacultores como “hippies ou ecochatos”, vivendo de subjetividade, perdendo a objetividade.


PERMACULTURA NA PRÁTICA

A partir de diversos conhecimentos de culturas ancestrais e tradicionais, do manejo da natureza, da tecnologia moderna e da visão sistêmica, é possível desenvolver ambientes habitacionais integrados à natureza, alicerçados na equidade e sustentabilidade.


A permacultura integra todos os fatores que influenciam nas questões de moradia, alimentação, aproveitamento de água e energia, associados ao uso sustentável dos recursos ambientais.


A permacultura atribui técnicas de construção ecológica, normalmente chamadas de bioconstrução, captação e armazenamento de água de chuva, distribuição, tratamento e reuso de água, sistemas agrícolas a partir da agroecologia, composteiras, barreiras naturais de som e vento, sistemas de inibição de queimadas, construção de lagos para criação de peixes e patos, aproveitamento de resíduos orgânicos para obtenção de gás natural a partir de biodigestores entre outras técnicas necessárias para o manejo adequado do sistema com um todo.


Todas as técnicas integradas e inter-relacionadas em sistemas habitacionais mantêm o equilíbrio no fluxo de matéria e energia dentro de um sistema fechado, semelhante a um ecossistema.


Morrow (2010) sugere algumas tarefas principais para desenvolver propriedades fundamentadas na permacultura, com a elaboração de um inventário do terreno a partir dos itens a seguir:

• • Pontos estratégicos como locais encharcados ou secos;
• Direção predominante de deslocamento de massas de ar;
• Sombreamento e iluminação natural durante as quatro estações do ano;
• Áreas suscetíveis a queimadas nas épocas de estiagem;
• Corredores de transição da fauna;
• Presença de nascentes e tantos outros aspectos importantes devem ser levantados e detalhados.
Todo trabalho deve ser registrado regularmente a fim de analisar os dados e tomar devidas decisões.


PERMACULTURA E TÉCNICAS EM BIOCONSTRUÇÃO

Devido à degradação ambiental em escala global, surgiu a necessidade de erguer edificações ecologicamente corretas.
A bioconstrução ou construção natural permite que as estruturas erguidas pelo homem perturbem menos os ambientes do que as formas convencionais adotadas nos dias atuais. Dessa maneira, a obra deve ser visualizada como um todo. Um design característico deve ser elaborado em conformidade com o contexto ambiental local.


Segundo o Caderno de Educação Ambiental, Habitação Sustentável, da Secertaria de Meio Ambiente (SMA), a construção civil brasileira consome cerca de 40% dos recursos ambientais e é responsável por aproximadamente 60% do resíduo sólido urbano, além de utilizar madeiras em larga escala, normalmente extraída de forma indevida, sem critérios técnicos e legais. Conforme Soares (2008) aproximadamente 1/4 da madeira extraída são utilizados nas obras, 2/5 de energia e 1/6 de água potável são destinados às construções, evidenciando que este é um setor produtivo que consome grande quantidade de recursos ambientais.


A permacultura apresenta uma série de técnicas que contribuem para a construção de habitações a partir de materiais reutilizados e matéria prima local, além de desenvolver métodos de reaproveitamento e reuso de água e captação de energia em uma habitação. A incidência de luz natural diminui o uso de energia elétrica e as correntes de ventos proporcionam agradável sensação térmica.


Para Lengen (2004), em seu Manual do Arquiteto Descalço, a casa serve para nos proteger das condições climáticas, portanto devem ser planejadas adequadamente.


É importante ressaltar que mesmo com a tendência ecológica dos materiais usados pela construção civil, a dificuldade ainda é grande devido ao custo que o consumidor não se dispõe em investir pela sustentabilidade dos produtos.


O investimento no imóvel pode chegar a 30% a mais do convencional. Uma solução para isso é a negociação entre as empreiteiras e os fornecedores de insumos, sem esquecer que a mão de obra especializada também eleva o custo de investimento.


As construções devem utilizar recursos locais para a edificação das obras. Podem ser utilizados recursos como fragmentos de rochas, barro, bambu e eucalipto, ou então materiais reutilizáveis, como pneus e garrafas plásticas na construção de paredes.


Existem diversas técnicas que permitem a realização de obras adequadas às condições locais, sem que os ambientes sejam degradados, inclusive o contexto paisagístico do local.


“O bom design permacultural pressupõe um atento e cuidadoso processo de observação e levantamento de dados, informações e características do local” (SINDEAUX, 2008).


Segundo Sindeaux, a essência do design permacultural está nas conexões entre os diversos componentes do sistema, otimizando o uso dos recursos de maneira que o resíduo ou produto das atividades de um elemento supra as necessidades do outro. Tal conexão simula a teia de relações e interdependência que um ecossistema possui.
TELHADO VERDE
O telhado verde tem sido adotado nos modelos de habitações sustentáveis por permitir diversas vantagens. Promove melhorias estéticas, microclimáticas, e diminuem o escoamento de águas pluviais (SMA, 201).


Nas grandes concentrações urbanas as ilhas de calor são frequentes. Esse fenômeno ocorre devido a condições atmosféricas, influência de diversas fontes de calor existentes, e ausência de vegetação.


Tanto os benefícios privados quanto os públicos são suficientes para justificar a adoção dessa técnica.


Conforme o caderno de Habitação Sustentável SMA (2011), um estudo foi realizado em Nova Iorque, onde a implantação de 50% de telhados verdes na cidade reduziu a temperatura entre 0,1 e 0,8°C, comprovando também que 80% da água pluvial foram captados pelos telhados verdes, comparados com os 24% dos telhados convencionais.



IMPORTÂNCIA DA EFICIÊNCIA ENERGÉTICA NA PERMACULTURA
Segundo a SMA (2011) a eficiência energética pode ser entendida como “a obtenção de um serviço com baixo custo de energia. Portanto um edifício é mais eficiente energeticamente que outro quando proporciona as mesmas condições ambientais com menor consumo de energia”.


A SMA (2011) afirma que as edificações consomem mais energia que os outros setores e segundo os dados do Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica – PROCEL e da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), o chuveiro elétrico é responsável por 22% do total de energia elétrica no País.


A energia elétrica é um dos grandes responsáveis pelas emissões dos Gases de Efeito Estufa (GEE’s) devido sua geração depender ainda de combustíveis fósseis nos países que mais utilizam energia elétrica.


O aumento da eficiência energética somado à diminuição do seu consumo e a substituição dos combustíveis fósseis por renováveis é a forma de diminuir os malefícios atuais.


Uma das barreiras é o custo inicial ser alto, fazendo com que os consumidores não queiram se responsabilizar, além daqueles que possuem baixa renda, não tendo condições de arcar com o referido custo.


Fica cada vez mais evidente no cenário brasileiro a necessidade do incentivo ao uso de tecnologias complementares para a geração hidrelétrica. A SMA (2011) afirma que “o uso de energia solar e de arquitetura bioclimática tem mostrado técnicas economicamente viáveis para os problemas de redução do consumo de energia no setor residencial brasileiro”.


No planejamento de uma residência com princípios permaculturais, a iluminação natural deve ser um aspecto importante e estratégico para melhorar eficiência energética. Portanto devem ser planejadas, segundo o percurso do sol e dos ventos, as janelas, as portas e outras possíveis entradas de ar e de luz.


SOLUÇÕES PARA RESÍDUOS SÓLIDOS


Um modo de vida pautado nos princípios éticos da permacultura deve buscar, entre seus objetivos máximos, a produção nula de resíduos inorgânicos. Portanto a redução do consumo de embalagens e outros materiais descartáveis deverá ser anterior à questão do tratamento dos resíduos. (SINDEAUX, 2008, p. 38)


De acordo com Sindeaux (2008), separar corretamente o lixo para que sua coleta seja facilitada e principalmente reduzida é prioridade na questão de solução para os resíduos. Todo resíduo reciclável, como papel, plástico, metal e vidro deve ser separado e acondicionado em coletores apropriados, instalados em locais estratégicos com a finalidade de facilitar o processo de coleta e destinação.


Os resíduos orgânicos podem ser aproveitados nos processos de biodigestores para a produção de biogás, e compostagem para obter adubo.


O consumo consciente é o um fator considerável para manter um sistema habitacional sustentável. Diminuir o consumo de produtos industrializados reduz a produção de embalagens. O consumo consciente amparado pela teoria do pensamento sistêmico compreende o ciclo de todo processo de industrialização dos produtos que são consumidos.


Capra (2006) em seu livro Alfabetização Ecológica, diz que “o desequilíbrio dos ecossistemas reflete um desequilíbrio anterior da mente, tornando-o uma questão fundamental nas instituições voltadas para o aperfeiçoamento da mente”.


A educação ambiental é fundamental para construir novos paradigmas a partir de oficinas de meio ambiente fundamentadas na alfabetização ecológica. A permacultura é acima de tudo um modo de vida onde os valores e conceitos convencionais são revistos.
PERMACULTURA E ÁGUA

A questão da água é fundamental para a manutenção de um sistema habitacional, uma vez que o uso irracional desse recurso ocasiona desperdício e contaminação.


A permacultura oferece técnicas de uso e reuso eficiente da água com o cuidado de manter o ciclo contínuo. Para isso é preciso adotar alguns princípios, como pontua Morrow (2010), “viva dentro do seu orçamento local de água – não use mais de que a da chuva”.


O design permacultural de um sistema hídrico exige uma complexidade de fatores para reproduzir o uso racional da água. A coleta, o abastecimento, o tratamento, a distribuição, o uso e o reuso devem ser planejados e representados no design. Conforme Morrow (2010), um fator importante é assegurar que exista duas ou mais fontes de água para o uso diário na alimentação.


A partir da coleta, a água é distribuída para o sistema conforme a necessidade de cada componente. A água pode servir para irrigação de hortas e jardins, para lavar quintais, direcionada para lagoas de tratamento, para uso nos vasos sanitários caso o sistema não tenha banheiros alternativos que não utilizem água.


Armazenar água em biomassa é uma forma de mantê-la circulando o máximo possível dentro de um ecossistema. Os vegetais retém uma considerável quantidade de água. Segundo Morrow (2010), cada árvore contém aproximadamente 85% de água em sua biomassa. Essa água, ora está retida nos vegetais, ora liberada nos processos de evapotranspiração. Frutas, carnes, fibras e tantos outros alimentos também constituem água em sua biomassa.


TRATAMENTO BIOLÓGICO DE ÁGUA
A permacultura adota sistemas que utilizam plantas para filtrar a água quanto aos aspectos físicos e químicos. Segundo Morrow (2010), “para usar sistemas mais compreensivos, é preciso construir filtros biológicos que imitam os mangues”.
As águas cinza20 das casas são lançadas em tanques com vegetações apropriadas para cada faze do processo de filtragem.



SANITÁRIO SECO
Para Timmermann (2003), o banheiro seco é um sistema que trata os dejetos humanos sem o consumo de água, a partir da construção de uma câmara impermeável onde esses resíduos orgânicos são misturados com serragem, produzindo a compostagem para que futuramente seja usada como adubo.


É recomendado após seis meses o revezamento da câmara e quando a segunda atingir outros seis meses, a primeira terá um ano de compostagem no depósito e então poderá ser encaminhada para um minhocário (TIMMERMANN, 2003).


PRODUÇÃO DE ALIMENTOS A PARTIR DA AGROECOLOGIA
Conforme Petersen (2009), a agroecologia sustenta conceitos e métodos que conduzem as práticas agrícolas a partir da integração com o ecossistema local. Espécies são introduzidas no sistema em meio ao contexto ecológico local, desenvolvendo agroecossistemas.


De acordo com Altieri (1998 apud, SALIM, 2009), a produção sustentável a partir da agroecologia, parte do equilíbrio entre solo, plantas, luz solar, microfauna e outros organismos. Diferente dos sistemas de monocultura que agridem o solo, expondo-o ao tempo, sendo contaminado por fertilizantes químicos e agrotóxicos.


Sistemas agroecológicos adotam a adubação verde no processo de fertilização do solo. Utilizam plantas de crescimento rápido com sistemas de rodízio de culturas a fim de incorporar quantidades grandes de matéria orgânica ao solo. A introdução de espécies leguminosas no sistema faz com que o Nitrogênio seja fixado ao solo melhorando suas condições naturais (SALIM, 2009).


A agroecologia utiliza diversas técnicas que possibilita a ocupação natural da biodiversidade a fim de recuperar áreas degradas. Plantio de mudas em ilhas de alta diversidade, a fim de gerar núcleos capazes de atrair outras espécies para que o local seja habitado, a transposição de chuvas de sementes, os poleiros artificiais em locais estratégicos para atrair pássaros, a transposição de solo, serapilheira e galharia, são técnicas de nucleação que visam à recuperação, conforme Resolução SMA 47/03.


Os sistemas agroecológicos além de possibilitar práticas de hortas orgânicas, recuperam os solos, aumentam a biodiversidade e promovem o desenvolvimento sustentável. Uma vez que agricultores familiares aprendem as técnicas, acabam beneficiando a riqueza de nutrientes no solo, e muitas vezes criando cooperativas ou associações para comercializar o excedente dos produtos cultivados.


A permacultura envolve os sistemas agroecológicos em meio a contextos locais, sem que haja desperdício de solo, água e sementes. Os diferentes modelos de hortas se diferenciam dos sistemas convencionais. Hortas em forma de mandalas, canteiros suspensos são desenvolvidos utilizando materiais reaproveitados como pneus, entulhos, monitores velhos de computadores, televisores, e tantos outros para a estrutura física dessas.
Os espirais de ervas e temperos também são confeccionados nos sistemas agroecológicos.


As hortas mandalas são sugestões cabíveis no planejamento agroecológico. A partir de padrões, os permacultores desenvolvem hortas, canteiros e espirais em formatos criativos.


Os padrões adotados nas hortas mandala são condizentes a um microecossistema, ou seja, sistema em ciclo fechado permitindo o equilíbrio no fluxo e transformação de matéria e energia, sem que os nutrientes sejam perdidos, devido a eventos climáticos como os ventos, as chuvas e o calor.


As hortas mandala possibilitam o plantio de diversas culturas distintas, mantendo o equilíbrio ecológico de espécies invasoras, ou mesmo a cooperação na troca de matéria e energia, polinizadores dispersando pólen e diversos outros fenômenos ecológicos.


A permacultura oferece soluções economicamente viáveis. A criatividade do permacultor é fundamental para desenvolver pequenos e grandes projetos a partir de materiais reutilizados e recursos locais.


Projetos de jardins comestíveis são introduzidos na agroecologia, uma vez que sejam pesquisadas quais são as flores e quais são as partes que podem ser consumidas (IPEMA, 2004).


Segundo IPEMA (2004) os jardins comestíveis associam os aspectos paisagísticos às necessidades diárias no consumo de temperos, chás, verduras, frutas e outras plantas.


A QUESTÃO DOS VENTOS

Projetos de quebra-ventos permitem associar diversos benefícios às comunidades alternativas, capazes de modificar o microclima, inibir o alastramento de incêndios, além de manter mais umidade no sistema, minimizando erosões e assoreamentos (MORROW, 2010).


Em uma habitação sustentável é essencial coletar dados de movimentação do ar para que a casa seja edificada conforme necessidades térmicas. Por exemplo, em uma situação na qual são diagnosticadas massas de ar em menores temperaturas com deslocamento no sentido oeste durante o verão, logo o design da casa deverá considerar janelas, portas e venezianas direcionadas nessas condições. Medidas como essa dispensam o uso de determinados aparelhos movidos à energia elétrica.


Os benefícios promovem melhores condições de proteção ao solo, captação e economia de energia, temperaturas adequadas aos animais, proteção das plantas e mantém a umidade necessária no terreno (MORROW, 2010).

PERMACULTURA E SOLUÇÕES PARA CONTROLE DO FOGO
Locais com ocorrência temporária de incêndios são frequentes. Conforme Mollison (1981), a vegetação no topo de morro tem uma considerável fragilidade em sistemas de vales, principalmente com plantações de espécies de pinheiros e eucaliptos, por terem característica de acumularem matéria orgânica seca.
Na região do Vale do Paraíba, os aspectos geomorfológicos e os plantios de monoculturas de eucaliptos, deixam a região vulnerável ao alastramento de queimadas, muitas vezes causadas pelos agricultores locais. Essa teoria está de acordo com as explanações de Bill Mollison, descritas em seu artigo Permacultura no Controle do Fogo (1981).
A permacultura oferece soluções no controle do fogo, portanto atende um dos requisitos do SGA, que prevê medidas contra acidentes, neste caso as queimadas.
A permacultura emprega algumas técnicas simples no controle de incêndios. Mollison (1981) sugere ter aproximadamente “trinta metros de sistemas não combustíveis entre a casa e a floresta”. Plantas que disponibilizam pouca matéria orgânica no solo, que possuam alto teor de cinzas e folhas que se decompõem mais facilmente, são sugeridas por Bill Mollison.
Sombrear o local onde se planeja criar bancos de terra, introduzir espécies arbóreas que contenham elevada concentração de água e ao queimar produzam muita fumaça preta para barrar a radiação, são opções oferecidas por Mollison.
Dispositivos simples são incorporados às casas. As calhas costumam acumular folhas de árvores e essas folhas são combustíveis para o fogo. A sugestão de Mollison (1981) é instalar uma chapa de metal entre o telhado e a calha.

PLANEJAMENTO SUSTENTÁVEL, DESIGN PERMACULTURAL
Os setores são definidos a partir da compreensão de todos os fatores externos que possam interferir no sistema habitacional. Incidência de luz solar, deslocamento de massas de ar, níveis de precipitação, poluição oriunda de indústrias ou centros urbanos, ocorrência de incêndios e outras catástrofes naturais são características que devem ser consideradas pelo design.
O zoneamento é caracterizado como o planejamento ambiental de um SGA aplicado aos modelos habitacionais sustentáveis. É a partir da setorização relacionada às condições climáticas locais, somado aos aspectos físicos do terreno, que o design permacultural estabelece onde e como serão instalados todos os componentes que irão compor o sistema.
Conforme Riciardi (2007 apud SANTORO, 2010), “o conceito de zonas trata do manejo de energia, principalmente, em relação ao trabalho humano e à movimentação de água e nutrientes”. Portanto, as atividades humanas mais frequentes devem ficar mais próximas da casa.
As atividades que não requer tanta atenção podem ficar mais distantes. Para Mollison e Slay (1991, apud SANTORO, 2010) é importante implantar em todas as zonas, componentes de captação de água e energia a partir das cotas de curvas de níveis mais elevadas do terreno.
Geralmente no design permacultural são estabelecidas seis zonas contando com a zero.

As respectivas zonas são:

• • Zona 0 – é o local onde ocorrem mais atividades, ou seja, mais frequentado, como casas, escolas e oficinas. As edificações devem obedecer os conceitos de bioconstrução em relação ao emprego dos materiais utilizados na construção, coleta e armazenamento de água e energia, iluminação e ventilação natural, considerando os aspectos ecológicos locais (VIEIRA, 2006 apud SANTORO, 2010). No caso de diversas habitações em um mesmo terreno, pode existir mais de uma Zona 0.


• • Zona 1 – a Zona 1 é o local frequentemente utilizado a partir da Zona 0. Na palestra conduzida pelo permacultor Orlando Rivera (2011)26 afirmou que a Zona 1 deve conter a produção de alimentos, poupando energia ao consumidor. Exemplo: na alimentação de hortaliças, a fim de adquirir energia dos vegetais, a horta deve estar próximo da casa, caso contrário a energia que o consumidor desperdiçará para colher o alimento distante, não tornará viável seu cultivo. Jardins, animais de pequeno porte e árvores frutíferas que são utilizadas com frequência, são introduzidos na Zona 1 (VIEIRA, 2006 apud SANTORO, 2010).


• • Zona 2 – segundo Vieira (2006 apud SANTORO, 2010) a Zona 2 é um local mais distante a partir da Zona 1. Para compor essa zona pode-se introduzir elementos que exijam menos a presença humana para o manejo em relação à Zona 1. Árvores frutíferas de médio porte devem compor a Zona 2. Projetos de quebra-ventos são implantados possibilitando diversos benefícios ao sistema. Os fortes ventos podem danificar hortas, promover o acúmulo de poeira e resíduos, perda de umidade e nutrientes do solo. A permacultura oferece sugestões de prevenção desses desgastes ocasionados pelos ventos com a implantação de quebra-ventos na Zona 2, assegurando proteção a Zona 1.


• • Zona 3 – a Zona 3 é destinada para fins comerciais, introduzindo culturas para esses fins, com o objetivo de gerir recursos financeiros para o aprimoramento do SGA implantado no conjunto de habitações em ciclos fechados. Conforme Vieira (2006 apud SANTORO, 2010), animais e vegetais que não necessitam de periodicidade diária de manejo são mais adequados para essas áreas. É importante lembrar que a coleta e armazenamento de água e energia são fundamentais para manter o sistema em atividade constante. As valas de infiltração são sugestões para armazenar e distribuir água para essas culturas.


• • Zona 4 – nessa área, plantar florestas de alimentos e empregar o uso sustentável de recursos ambientais, são sugestões oferecidas na permacultura. Projetos de plantio de árvores para extrativismo, com manejo ecológico correto, no uso da madeira em bioconstruções na própria propriedade ou até mesmo para fins comerciais, são característicos de ocupação da Zona 4 (VIEIRA, 2006 apud SANTORO, 2010).


• • Zona 5 – para Vieira (2006 apud SANTORO, 2010), na Zona 5 a presença humana é quase nula, permitindo a sucessão ecológica natural das florestas.


Nessas áreas podem ser implantadas reservas legais, determinadas pelo Código Florestal estabelecido pela Lei Federal nº 4.771/1965.


O pensamento sistêmico é princípio fundamental para o planejamento do zoneamento, uma vez que esse prevê a conexão de todos os elementos que compõem o sistema, possibilitando, por exemplo, o uso de dejetos de um elemento por outro.


A água coletada por um componente é distribuída a outros, servindo aos demais e retornando ao ciclo para ser utilizada novamente. Esses conceitos orientam para o desenvolvimento do design permacultural para que não haja desperdício de matéria e energia.


PERMACULTURA NO SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL PARA HABITAÇÕES SUSTENTÁVEIS


O planejamento e o gerenciamento de habitações a partir do design permacultural consideram a cadeia produtiva que um sistema habitacional sustentável necessita. A Permacultura oferece soluções ecológicas para que todos os processos sejam compatíveis com a capacidade de suporte dos recursos ambientais locais.


A permacultura pode adotar o Ciclo de Deming, aplicado à gestão ambiental para habitações sustentáveis. O ciclo de Deming é uma ferramenta valiosa empregada na ISO 14.001, para a melhoria contínua da qualidade ambiental dos produtos ou serviços. Esta ferramenta é composta por seis etapas que podem ser aplicadas a partir das éticas e técnicas permaculturais.


• • Política Ambiental – representa os anseios subjetivos e objetivos às questões ambientais da ecovila, ou seja, o modo de vida baseado nos princípios filosóficos ecológicos que conspiram sustentabilidade. A permacultura atende esse item composto no ciclo de Deming a partir das éticas permaculturais estabelecidas na flor da permacultura;


• • Planejamento Ambiental – a permacultura planeja a construção de ecovilas a partir da setorização do terreno, considerando todos os fatores bióticos e abióticos contextualizados prevendo possíveis impactos ambientais positivos e negativos. Definidos os setores, estabelece então o zoneamento e os elementos que serão introduzidos no sistema habitacional com seus respectivos objetivos em interdependência a outros, prevendo resultados coletivos que convergem para um único objetivo principal, a sustentabilidade;


• • Implantação e operação do SGA – todos os elementos implantados corretamente no sistema exigem conhecimento de técnicas distintas. O permacultor é um profissional que está sempre buscando soluções alternativas que reduzam o consumo de matéria e energia. Projetos que evitam acidentes e desastres naturais são possíveis por intermédio da utilização de técnicas utilizadas na permacultura;


• • Verificações e ações corretivas – verificar, analisar e monitorar faz parte do manejo ecológico no sistema habitacional. Irregularidades são corrigidas por controles biológicos e soluções alternativas prevendo baixo custo a partir de materiais residuais, muitas vezes do próprio sistema.


• • Análise crítica – a análise crítica no modelo de Deming, é responsabilidade somente da alta administração, que avalia o resultado final de todo processo e toma as devidas decisões. Já na permacultura, a análise crítica é responsabilidade de todos os moradores ou de alguns nomeados a serem representantes e tomadores de decisões.


A permacultura elenca todos os componentes do ciclo de Deming, portanto com propriedade teórico-metodologico, o ciclo possibilita a implantação do SGA em habitações sustentáveis visando sempre na melhoria contínua.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este artigo responde positivamente a proposta em adotar a permacultura como ferramenta de gestão ambiental para habitações sustentáveis, uma vez que todas as etapas do Ciclo de Deming, ou seja, política ambiental, planejamento ambiental, implementação do sistema, operação, monitoramento, ações corretivas e análise crítica, podem ser aplicadas a partir dos princípios, éticas e técnicas empregadas pela permacultura. Essas técnicas devem estar em conformidade com conceitos de desenvolvimento limpo. Todos os elementos introduzidos em um sistema permacultural são analisados. Os processos de extração e industrialização de cada material e seus possíveis resíduos e dejetos são avaliados, para que esses não provoquem algum desequilíbrio no sistema.


Os materiais e ferramentas utilizados na permacultura devem proceder de fontes confiáveis, geralmente certificados, que garantam a legalidade e o compromisso com a atividade socioambiental, e aos alternativos, que muitas vezes são extraídos da própria região.


Coleta, armazenamento e distribuição de água e energia, banheiros secos, filtragem biológica e reuso de água, composteiras e biodigestores correspondem a uma série de Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL’s) que garantem a melhoria socioambiental contínua em sistemas habitacionais.


A bioarquitetura prevê a redução no custo de matéria prima durante o processo de construção das habitações. Iluminação e ventilação natural são itens relevantes que compõe uma casa sustentável, uma vez que ao analisar o comportamento da posição do sol e a direção de massas de ar, pode-se desenhar e edificar um imóvel com princípios ecológicos, reduzindo o uso de aparelhos elétricos para esses fins.


A bioconstrução sugerida pela permacultura prevê a utilização de matéria-prima local, respeitando os respectivos aspectos climatológicos e geomorfológicos da região sem que esses modifiquem os ciclos ecológicos, responsáveis pela manutenção dos ecossistemas.


Quebra-ventos naturais são implantados a fim de diminuir a entrada de poluentes no sistema, inibir a disseminação de espécies invasoras e manter umidade, nutrientes e bancos de sementes no solo.


Dispositivos que controlam queimadas são implantados nos sistemas habitacionais sustentáveis a partir de técnicas adotadas pela permacultura.


Sistemas agroecológicos e agroflorestais são adotados. Além de produzirem alimentos sadios não empregam pesticidas e adubos químicos. O excedente do cultivo pode ser revertido em outros benefícios através do mercado de troca. Esses sistemas prevê a recuperação de solos degradados através de técnicas em nucleação e sucessão ecológica.


Com a permacultura é possível alcançar e manter a tríade do desenvolvimento sustentável (econômico, social e ambiental). O desenvolvimento econômico é sustentado pela redução no uso de água e energia, comercialização de alimentos e artesanatos. Cursos e oficinas em permacultura também podem gerar recursos.


A questão social também é beneficiada pela permacultura, uma vez que todos os envolvidos na comunidade podem participar de diversas atividades culturais. A satisfação e prazer em residir em locais integrados à natureza possibilitam sensações de bem estar.


O meio ambiente é base de todo o processo de implantação e desenvolvimento das habitações sustentáveis. O solo é recuperado, a biodiversidade é atraída, a água é preciosa, a energia é poupada e toda a forma de vida é respeitada.
Bill Mollison, um dos fundadores da permacultura sugere: “O cuidado com o planeta Terra deve ser base de toda atividade humana”, e a partir dessa perspectiva, todos os habitantes do planeta podem viver em integridade com a natureza.


Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Fulvio de Souza Pelli

por Fulvio de Souza Pelli

Gestor Ambiental: - Projetos socioambientais; - Desenvolvimento de moeda sustentável; - Coordenador e educador em projetos de educação ambiental; - Agroecologia interdisciplinar; - Desenvolvimento de jogos cooperativos multidisciplinares; - Projetos em Permacultura; - Mercado Verde de CRAs; - Gestão Ambiental de propriedades rurais; - Consultoria e assessoria ambiental.; - Educador.

Portal Educação

UOL CURSOS TECNOLOGIA EDUCACIONAL LTDA, com sede na cidade de São Paulo, SP, na Alameda Barão de Limeira, 425, 7º andar - Santa Cecília CEP 01202-001 CNPJ: 17.543.049/0001-93