03/03/2016
Ivo Carraro*
“Seu gato, qual desses três caminhos eu pego para sair daqui?”, a menina pergunta. E o gato diz: ‘’aonde você quer ir?’’. ‘’Não sei’’, ela responde. ‘’Então pega qualquer um’’. Não precisa conhecer a história de Alice no País das Maravilhas para entender o recado. É muito difícil um vestibulando encontrar motivação para estudar se não sabe sequer a profissão que pretende seguir.
A Universidade Federal do Paraná (UFPR) recebe, aproximadamente, 50 mil inscritos por ano, no vestibular. Cerca de 5 mil são classificados. Desses, quase mil estudantes desistem do curso nos dois primeiros anos. Isso acontece na Federal, instituição que não envolve questões financeiras – ou seja, mais de 95% dos que desistem é porque não gostaram do curso e querem mudar o rumo de suas vidas.
Em mais de 15 anos de curso pré-vestibular, notei que muitos alunos voltavam, com o argumento de que não gostaram da graduação escolhida. Mas quando eu perguntava “o que você vai fazer”, eles respondiam “não sei. A primeira decepção foi grande e custou caro – e o medo de errar novamente o leva à insegurança. A insegurança leva à falta de foco e motivação – e aí vira uma bola de neve.
Fiquei intrigado com esses números e resolvi buscar uma solução. Estudei psicologia e desenvolvi um método de orientação profissional, baseado na neurociência, para direcionar esses jovens. São mais de mil alunos atendidos, todos os anos, gratuitamente. E o resultado é perto de 95% de acerto, comprovado com acompanhamento por dois anos depois da entrada na faculdade.
A regra na escolha da profissão é a seguinte: primeiro, escute seus pais – eles sabem o que é melhor para você. Segundo, faça o que você sabe. Cresceu a vida inteira vendo seu avô construir prédios? Vai ser engenheiro. Sua família tem um hospital? É claro que você vai ser médico! Terceiro, se você gosta de matemática, vai ser engenheiro ou administrador. Se gosta de história, vai fazer Direito. Se prefere biologia, será médico, farmacêutico ou agrônomo. Certo? Errado!
Os pais, muitas vezes, agem errado, de forma inconsciente. Talvez porque eles queiram, de uma forma até psicanalítica, que o filho realize um desejo que eles não conseguiram realizar. No dia da formatura, o jovem recebe o canudo e aponta para a plateia, onde está a família. Isso pode dizer duas coisas: “duvidou de mim, né? Mas estou aqui!” - ou pior – “toma, isso aqui é teu. Agora, vou cuidar da minha vida”. Escuto muito, quando o aluno faz a orientação comigo, monta um projeto de vida e diz: “o meu pai precisa saber disso, minha mãe precisa saber disso, você me deu uma autorização para dialogar com eles, uma segurança de que eu posso seguir esse meu caminho”.
Mas a receita para a escolha da profissão não é tão simples como dividir entre exatas, humanas e biológicas e optar por um dos cursos oferecidos, baseado nas disciplinas que mais lhe agradam. Esse é um bom começo, mas não é tudo. Com esse parâmetro, podemos conduzir o estudante para uma atividade de acordo com a sua inteligência. Há uma lei da neurociência que diz: ‘’eu sou hoje o que o meu cérebro é naquilo que se transformou pela prática”. Por exemplo, ninguém aprende a nadar ou andar de bicicleta, lendo. São habilidades que se desenvolvem. Então o jovem direciona a sua inteligência para uma atividade e desenvolve essa inteligência porque ele gosta daquilo que faz - e essa inteligência expande. A prática é a educação – e a educação é mostrar caminhos.
Para isso, eu peguei um caderno e uma caneta e fui a campo falar com profissionais bem-sucedidos - médicos, engenheiros civis, advogados, jornalistas, biólogos, professores - e perguntei o que um jovem deve ter como característica pessoal para se transformar em um profissional bem-sucedido como eles. Que prática o jovem deve ter? E todos eles me disseram: ‘’para ser um profissional bem-sucedido, precisa gostar da profissão’’.
Então busquei na neurociência as leis do cérebro, para que isso pudesse me ajudar, e uma dessas leis é a motivação. O que é a motivação? Se você fez algo na vida e deu certo, gostou, o cérebro diz: “faça de novo, para ter esse prazer novamente”. Tem uma região no cérebro chamada de sistema de recompensa, que usa um neurotransmissor chamado de dopamina - e quando se faz algo prazeroso, essa região enche de dopamina e vem a sensação de prazer.
Por isso, apresento aos estudantes uma lista de atividades de cada profissão, aleatoriamente, para que assinalem apenas as que lhe parecem prazerosas. Isso pode ser feito em casa, com a orientação de um adulto. Existe outra lei do cérebro que diz o seguinte: “entre dois caminhos a seguir, o cérebro prefere o mais prazeroso”. E ele vai apontar qual o seu caminho.
*Ivo Carraro é orientador educacional do Curso Positivo, professor de matemática, psicólogo e autor do livro “Profissões: pais preocupados, filhos inseguros”.
Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.
Celso Maurício Hartmann
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